Capítulo 31
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 31
Fernanda colocou as mãos no rosto. Sua vista começou a escurecer e um zumbido muito forte lhe pressionou os ouvidos. Tudo ficou escuro, não conseguia nem enxergar a mãe a sua frente.
Ela perdeu os sentidos e desmaiou. Sua cabeça tombou para trás, seu rosto ficou totalmente pálido. A cor dos lábios sumira.
-- Salomão! -- Matilde chamou pelo genro e ele imediatamente apareceu na sala -- Ela desmaiou.
-- Eu avisei que isso poderia acontecer -- o rapaz sentou-se e puxou-a para mais perto, de modo que Fernanda apoiasse a cabeça em seu ombro. Começou a bater levemente nas mãos e no seu rosto. De nada adiantou, pois ela parecia continuar inconsciente -- Fernanda!
Mais uma vez Matilde pensara só em si própria. Chocara Fernanda de maneira tão brutal que ela perdera os sentidos.
-- Não deveria ter dado a notícia dessa forma. Devia tê-la preparado.
-- Que comentário mais tolo! -- disse Matilde -- Nanda tem que aprender a ser forte. A morte é fenômeno natural e não significa perder, mas ganhar.
-- Não sei, não -- disse Salomão, com seriedade. Matilde seria capaz de transformar num inferno a vida de qualquer pessoa.
Aos poucos a respiração de Fernanda voltava ao normal e ela finalmente abriu os olhos e pôde ver que Salomão a observava.
-- Saia de perto de mim -- ela berrou, sentindo certa repugnância -- Nunca mais toque um dedo sequer em mim.
-- Por que todo esse ódio? Eu só quero ajudar.
Fernanda nada respondeu. Não queria prolongar a conversa. Ainda atordoada, ela seguiu o rapaz com os olhos enquanto ele caminhava até o sofá.
-- Como está o papai? -- perguntou a psicóloga, dirigindo-se à mãe.
Matilde aproximou-se dela, com um copo na mão.
-- Beba isso, Nanda, vai te fazer bem -- disse oferecendo-lhe o copo.
Fernanda tinha vontade de atirar aquele copo com água em cima dela, mas se conteve. Ela tremia dos pés à cabeça, até o copo balançava.
-- Como está o papai? -- repetiu, começando a ficar irritada com os rodeios da mãe.
-- Nada bem, como você mesma viu nos resultados dos exames.
-- Ele sabe que está com câncer? -- ela perguntou, com um suspiro desanimado e lágrimas nos olhos.
-- Não. E não quero que conte para ele -- disse Matilde, examinando a filha com seriedade -- Seu pai não vai suportar ouvir que tem pouco tempo de vida.
-- Saber a verdade é um direito dele -- ela enterrou o rosto nas mãos -- a mentira é sempre perniciosa, qualquer que seja a circunstância. Ele precisa saber, para se preparar.
-- Seu pai está espiritualmente preparado para partir a qualquer hora. Ele sempre fez o que era reto aos olhos do Senhor. Confiou e não deixou de segui-lo e de guardar seus mandamentos. Não precisa de uma notícia ruim para se preparar.
-- Eu também sou da mesma opinião -- disse Salomão, Fernanda levantou a cabeça.
-- Você não tem o direito de dar palpites. Nem da família você é!
Matilde ergueu os ombros, num movimento que revelava sua irritação.
-- Não há necessidade de agir como se você fosse a única a sofrer, Nanda. Não está sendo fácil para nós também.
-- Quanto tempo? -- Fernanda estava se sentindo completamente desanimada e derrotada.
-- Quanto tempo o que? -- Matilde observou os grandes olhos da filha cheios de lágrimas e sua expressão suavizou.
-- Quanto tempo de vida?
Matilde sentou-se e colocou uma almofada sobre o colo. Virou-se de lado, evitando olhar para ela.
-- Dois meses, quem sabe três, o médico não tem como precisar.
-- Não há algum tratamento, terapia, cirurgia, radioterapia, que possa ser realizado? -- perguntou Fernanda, ainda esperançosa.
Matilde balançou a cabeça lentamente de um lado para o outro.
-- O câncer de cólon se espalhou para outros orgãos. É um câncer muito agressivo.
Fernanda abaixou os olhos para esconder a intensa emoção neles estampada. Por que tinha que ser assim? Doía demais! Era difícil acreditar que isso estava acontecendo.
Quando conseguiu controlar suas emoções, Fernanda olhou para a mãe, desconfiada.
-- Por que você pediu para o Salomão me trazer? Aposto que não foi só para me dar a notícia e manter a família unida nesse momento tão difícil. Essa atitude tão bonita não combina com você.
Matilde olhou de relance para Salomão. Depois, levantou-se para andar pela sala.
-- Você sabe que o sonho do seu pai é entrar com você na Igreja. Ele já tinha até conversado com o Pastor sobre isso -- ela suspirou fundo -- Tadinho!
Uma expressão totalmente atônita cruzou o rosto de Fernanda.
-- Por favor, Nanda. Eu imploro. Permita que ele pelo menos morra feliz -- disse Matilde, cheia de expectativa.
O coração de Alicia batia furiosamente e sua garganta estava seca. Agora não duvidava que era mesmo Salomão quem tinha raptado Fernanda. O homem descrito pelo porteiro só podia ser ele. Mas por que viera procurar por ela? O que queria? Havia algo muito esquisito nessa história.
Como sabia que ela estava no seu apartamento? Havia somente uma resposta para essas indagações: Ele a estava seguindo.
-- Tem certeza de que foi Salomão quem pegou a Fernanda? -- Cléo entrou no carro e Alicia sentou ao seu lado, fechando a porta em seguida.
-- Quase absoluta. O porteiro descreveu a pessoa e parecia ser Salomão. Disse também que o carro era um Sandero. Lembra?
-- É ele sim -- afirmou Suelen, com convicção -- A descrição bate certinho com ele. Baixinho, terno e gravata, magro...
-- Resumindo -- disse Cléo -- Tão feio, que quando vai tirar uma selfie, tem que desativar o antivírus.
-- Você quem disse isso -- Suelen deu um tapinha no ombro de Alicia e apontou para a rua a esquerda -- Vocês já foram chamados de feio por uma criança? Dói né.
-- Criança não mente. Uma dica: Se você ver uma criança te reparando muito e sem piscar o olho, saiba que você é muito feio -- comentou, Juliana -- Fecha a janela, Cléo. Tá um vendaval aqui atrás.
Cléo se virou e olhou para ela.
-- A gente cuida do cabelo com tanto amor e carinho, pra depois ele crescer, ficar rebelde e sair por aí armado.
Suelen deu uma gargalhada.
-- Eu disse pra você não lavar os cabelos e ir dormir!
-- E como eu ia imaginar que sairia de casa a essa hora da noite? -- Juliana deu um sorriso bastante irônico ao falar.
Alicia parou no sinal vermelho e olhou para Juliana pelo retrovisor.
-- Não pensem que eu engoli esse namoro de vocês duas.
-- Nem eu docteur. Antes eu botava a mão no fogo pelas pessoas. Hoje eu quero jogar as pessoas no fogo.
-- Então olha aqui! -- Juliana puxou Suelen pelo pescoço e lhe deu um beijaço na boca -- Viu? Ainda duvidam?
Cléo puxou Alicia pelo pescoço e também lhe deu um beijo na boca. A médica reagiu abruptamente, empurrando o rapaz.
-- Arghn! Urgh! Que nojo! -- Alicia passou a mão pela boca.
-- Viram? Isso foi um beijo técnico -- disse Cléo -- Esse beijo de vocês não prova nada. Isso é história pra boi dormir.
-- Colóquio sonolento para gado bovino repousar.
-- É isso aí, docteur. Podem tirar o cavalinho da chuva.
Alicia balançou a cabeça, concordando.
-- Retirar o filhote de equino da perturbação pluviométrica.
Suelen deu uma risada debochada.
-- Quantos boquetes a boca do Cléo já não fez! Eca!
Alicia fez uma careta de nojo. O sinal abriu, exigindo que ela prestasse atenção no tráfego.
-- Para onde agora, Suelen?
-- Próxima a esquerda, no fim da rua.
Fernanda tomou um banho, lavou os cabelos, tentando relaxar. Mas pensar em sua vida a deixava deprimida. E o pior, sentia-se impotente diante dos fatos.
-- Sinto muito -- Salomão falou, sem saber o que mais poderia dizer.
-- Pare de se desculpar. Não é culpa sua. De qualquer forma, obrigada, pela preocupação -- Fernanda ergueu uma sobrancelha de maneira irônica.
-- Oh, Fernanda, por que você não dá valor ao que eu sinto?
Fernanda abaixou os olhos. Sabia que eles a denunciariam. Lutava para esconder seus sentimentos. Por que tinha que amar logo Alicia? Por que não conseguia superar aquele sentimento? Por que os céus permitiram que a médica entrasse na sua vida e a transformasse em uma pessoa tão infeliz?
-- Lamento muito -- disse, abruptamente. Salomão sentia o gosto amargo do amor não correspondido. Situação que ela mesma estava vivendo -- Eu sei que amar e não ser amado, dói demais!
-- Você tem alguém muito especial, não é mesmo? -- perguntou, rouco.
-- Muito especial -- confessou.
-- Vocês estão juntos?
Fernanda deu de ombros; não queria ter aquela conversa.
-- Vou para cama. Boa noite, Salomão.
-- Também já vou me deitar. Durma bem, Fernanda.
Alicia estacionou o carro junto à calçada. Havia um carro parado em frente ao prédio, reconheceu imediatamente o automóvel: pertencia à Salomão.
-- E agora? -- a médica olhou para as mulheres sentadas no bando de trás -- Se ao menos ela atendesse o celular.
-- Já tentei várias vezes, só cai na caixa postal -- afirmou Suelen.
Alicia soltou o cinto de segurança e abriu a porta do carro para sair.
-- Eu vou. O Salomão não me conhece, pode ser mais fácil se aproximar dela -- a médica colocou uma perna para fora -- Esperem aqui.
-- Será que não é perigoso? -- perguntou Juliana, preocupada -- Ele pode estar armado, sei lá. Você acha que conhece as pessoas, e depois elas te surpreendem.
-- A Pomarola tem razão, docteur. Toma cuidado com o cara -- advertiu Cléo.
-- Prometo tomar -- Alicia acenou para todos e saiu às pressas do carro.
Fernanda não conseguia dormir. Foi até a cozinha, abrindo a geladeira, tirou uma jarra com suco de laranja, encheu um copo e sentou-se. Seus pensamentos iam e vinham e não a levavam a nada. Já tinha pensado no assunto à exaustão. Afirmara para a mãe que se casaria com Salomão conforme o programado. Pelo pai faria esse sacrifício, daria a ele essa alegria.
O interfone tocou, ela se levantou com um nervoso sobressalto.
-- Quem será a essa hora? -- perguntando a si mesma, foi atender -- Alô -- murmurou com o coração disparado.
-- Sou eu.
Apenas duas palavras, mas com a habilidade de fazê-la tremer de emoção.
-- Oi -- Fernanda respirou fundo -- Suba.
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Fim do capítulo
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rhina
Em: 02/09/2019
Olá
Boa noite
Verdade mesmo que Fernanda vai se casar......e para deixar o pai feliz por está em vésperas de fazer a viagem eterna???????
Neste casamento não coloco meus lindos e sensuais pezinhos!
Me recuso aceitar tamanha burrice da Fernanda .....pronto falei
Rhina
Resposta do autor:
Olá!
Nem eu Rhina.
Pensa na felicidade da dona Matilde!
Será que esse casamento sai ou não?
Beijos.
Christina
Em: 01/09/2019
Essa mãe da Nanda, que horror! Ela tá claramente fazendo chantagem emocional com a filha. Espero que a Nanda não desista de lutar pela a Alicia
Resposta do autor:
Olá.
Infelizmente, pessoas assim existem de montes por ai. Egoistas, hipocritas e falsas.
Mas, nunca esqueça que o amor sempre vence. Até mais.
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Brescia
Em: 01/09/2019
Boa tarde mocinha.
Essa aí não é uma mãe, e uma senhora fanática e egoísta. Já se viu , querer casar a filha só para não ter a sua reputação manchada. Estou aqui torcendo para que a Alícia se declare logo e tire essa ideia maluca da Fé.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Olá
Estamos bem próximos disso, Alicia não tem outra escolha.
Quem sabe ainda essa semana!
Beijos.
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Mille
Em: 01/09/2019
Ola Vandinha
Poxa a Fernanda caiu na armadilha da mãe e do bundao. Espero que a Alicia a faça mudar de idéia.
Bjus e até o próximo capítulo, um ótimo domingo
Resposta do autor:
Olá Mille
Por amor ao pai, ela vai até se sacrificar. Vamos ver o que a turma vai aprontar.
Beijos.
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NovaAqui
Em: 01/09/2019
Não acredito na mãe da Fernanda! Ela está mentindo, eu acho
Agora é Nanda e Alicia! Espero que os espíritos de luz possam ajudar as duas mesas momento. Será que Thais vai dar o ar da graça?
Cléo e Suelen são impossíveis. Nem nos momentos de tensão as duas não ficam sérias rsrs
Boa semana para você
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá.
Toda ajuda nessa hora é bem vinda. Essa semana é decisiva. Aguarde.
Beijos.
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