.
Peixes e tubarões
Jake, o legista havia acabado de me entregar o laudo da necrópsia do slogan ambulante do Nirvana. O que me deixou extremamente irritada, já que isso era para ter saído no dia. Mas também tinha minha parcela de culpa por não fazer anotações.
Porém, estava lendo a droga do laudo antes de interrogar o maior suspeito (e de acordo com as anotações feitas na péssima caligrafia de Jake) nosso assassino.
Era tipo quando, você esquecia que tinha trabalho em grupo no colégio e lia tudo minutos antes da apresentação. Era mais ou menos isso.
Peguei dois copos de café e me encaminhei para a fila que me esperava no vidro da sala de interrogatório.
O homem sentado com uma mão algemada à mesa, tamborilava os dedos com uma expressão entediada. Sua pele era clara, os cabelos pretos untuosos e a barba por fazer.
— Soraya , precisamos que faça ele falar – Grunhiu o Sr. Carter. Coçou a barriga gorda e ajeitou a gola da camisa social de leopardo.
Saco de banha preguiçoso...
— Sophie – Falei entredentes. – Sei o meu trabalho.
Sam, sorriu envergonhado. Como quem pede desculpas pela grosseria e arrogância, desse pedaço de bosta que chamávamos de chefe.
— Ele é Tomáz Petrovisky. – Falou. – O executor.
Assobiei. Agora sim as coisas ficam divertidas.
Fechei a pasta ocre, onde miutos antes eu lia o laudo, e enfiei embaio do braço.
— Boa sorte – Sussurrou Dante.
Entrei na sala.
O homem ergueu a cabeça quando fechei a porta e sentei à sua frente. Empurrei um copo de café em sua direção, coloquei a arma, e a pasta de arquivos sob a mesa. Tirei o gravador do bolso e apertei o play.
Seus olhos me encaravam. Olhos frios, loucos. Ele exalava uma aura de morte e frieza que faria o sangue de qualquer um congelar.
O Joker do Batman, pareceria um palhacinho de aniversário perto daquele cara.
— Uma modelo vai me interrogar? Sério? – Falou com escárnio. A voz era rouca, gélida.
— Além de assassino, o senhor também faz stand-up? – Retruquei ácida.
Pegou o café e deu um gole sustentando meu olhar.
— Não matei ninguém. – Respondeu.
Abri o arquivo e coloquei cinco fotos do cadáver uma do lado da outra.
— O fã número um do Nirvana aqui... – Apontei a primeira foto – Morreu sozinho, então?
— Coisas estranhas acontecem – Deu de ombros. Bebeu mais um gole.
— Certo, mas, antes de tentar um novo método de homicídio, certifique-se de não tremer tanto... – Coloquei a foto do antebraço do cadáver com o hematoma e o pequeno furo ampliado – Ou então... – Puxei o saquinho lacrado com a agulha e balancei à sua frente – Ela vai se quebrar. E se tentar tirá-la desesperadamente sem luvas... Bom, suas digitais estão aqui.
Seu sorriso sumiu. Os olhos queimavam de ódio.
— Vamos lá, Tom, ou melhor Tommy? Você sempre foi tão meticuloso . Sei que não usa drogas, você não tem nenhum dos sinais típicos. Era empolgação, não era? Era a primeira vez que matava assim, por isso tremeu tanto? – Sorri docemente.
Ele se manteve em silêncio.
— Essa brincadeira não adianta comigo. Aqui você é apenas um peixinho abandonado pelo cardume. E eu sou o tubarão faminto.
Ele socou a mesa derramando gotas quentes do seu café pela madeira.
— Você não sabe com quem está brincando. – Sussurrou colérico.
— Você também não, Nemo. – Sussurrei de volta.
Ele me encarou como se estivesse pensando qual parte de mim ele cortaria primeiro.
— Façamos um acordo. – Propus. – Sei que ele era um delator. Pra quem passava informações?
Ele me encarou.
— Que tipo de acordo?
— Prisão perpétua por homicídio qualificado, mas, se for bonzinho, pode ficar 30 anos e recorrer à condicional ou domiciliar com 10 anos cumpridos.
— Ou...?
— Cadeira elétrica, pelotão de fuzilamento, câmara de gás... Temos muitas opções abertas. – Dei de ombros. Era um blefe. Um péssimo blefe. Se ele conhecesse um pouco sobre história americana, saberia que a pena de morte foi banida em 1714. Torci muito para que ele não soubesse.
Ele respirou fundo.
Sorri, tentando não mostrar que eu estava mentindo descaradamente.
— Você sabe o que fazemos garotinha? Importação e exportação de armas, drogas, pessoas, órgãos e sabe-se lá mais o quê. Tudo vendido pelo mercado negro. Lucramos muito, muito dinheiro, mas o Senhor Lackart ali... – Indicou a foto com a cabeça – Cometeu um erro feio. Somos um grupo não muito grande o que aumenta nosso lucro pessoal. Ele arrumou um espião, para tentar foder o Reed e levar todo o dinheiro e mercadoria.
" Não faço a mínima idéia de quem seja, mas é conhecido. Sorrateiro, cauteloso. Apelidaram-no de Hermes, senhor dos ladrões. Dizem que poderia ser o próprio deus. Nova York já pertence à Reed, e cada bairro de destaque é comandado por um de nós, mais íntimos dele."
Ergui uma sobrancelha.
— Nomes.
— Tenho total imunidade?
Respirei fundo para não socar a cara dele.
— Tem, peixinho, anda logo com isso.
Ele coçou a barba com a mão livre.
— Bruce comanda o Brooklyn. Eric chefia o Queens. São os mais chegados à ele.
— Preciso saber de mais alguma coisa?
Ele olhou nos meus olhos e um brilho divertido estava ali.
— Agora o peixe é você. – Sussurrou rouco.
Desliguei o gravador e saí da sala.
— Toma – Joguei o gravador para Dante – Tá tudo aqui. Faz o relatório por mim?
— Claro, pode voltar pra garota do bar – Sorriu malicioso.
Estaquei.
— Como você...?
— Eu disse que descobriria não disse?
Revirei os olhos.
Uma mão tocou meu ombro. Virei bruscamente.
— Ah! Luke! – Falei surpresa.
Ele sorriu torto. Os cabelos cor de areia estavam penteados com gel como sempre, o terno preto como piche impecável.
— Sophie, Dante como vão? Vim avisar que estou no caso de vocês. O FBI me deu permissão e temos bons recursos.
Franzi a testa.
Odiava a intromissão dos federais, mas Luke era diferente. Gentil, humilde. Coisa que nenhum dos homens de preto são. Sem contar que, já tivemos um lance há anos atrás, isso é, antes que eu entrasse para a polícia ou sequer conhecesse a demônia da qual não irei pensar no nome. Com o tempo, ele superou e hoje nos dávamos super bem. Mesmo com a correria do trabalho sempre que possível marcávamos de sair.
— Certo. Nossa parte já está feita, mas esse quero acompanhar de perto. As coisas estão ficando interessantes por aqui. – Respondi.
Dante bufou.
Antes que Luke pudesse responder meu celular tocou.
Piper.
— Tenho que ir – Balbuciei já correndo. Ouvi Dan rindo atrás.
Passei por todos dando empurrões e me atirando para a saída.
— Ei! – Tentei controlar minha respiração ao atender o telefone. Saí da delegacia, o sol da tarde bateu em meu rosto me cegando.
Ouvi seu riso melodioso.
— Você fica linda correndo.
Fim do capítulo
.
Comentar este capítulo:
Maryana
Em: 01/09/2019
Acho a história interessante parei de ler pela Sam pra das postagens mas vejo que vc regularizou as atualizações
Voltarei a acompanhar muito bom até aqui
Parabéns
Resposta do autor:
Ei obrigado mesmo por ler! Demorei um pouco para postar poque só consigo pelo notebook, e a preguiça não deixou eu sei sou uma inútil etc
Hoje mesmo fializo!
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]