Capítulo 29
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 29
Fernanda entrou no elevador e ficou olhando para os botões dos andares. Sabia que não devia ir ao apartamento de Natália, mas não podia permitir que Alicia se aproximasse dela. Era o seu amor que estava em jogo.
Num impulso, Fernanda apertou o botão do andar térreo e se recostou na parede do elevador.
Assim que as portas se abriram no saguão do prédio, ela saiu do elevador, cruzando o chão de mármore a passos largos em direção a calçada.
-- Sabe de uma coisa, vou ligar para o hospital e descobrir o número daquela piranha. Vou lutar pelo o que é meu.
Fernanda pegou o celular e estava ligando para o hospital, quando uma mão segurou o seu braço com violência.
-- Até que enfim resolveu sair sozinha. Faz dias que espero por essa oportunidade.
A psicóloga empalideceu. A expressão furiosa daquele rosto a assustava. Nunca sentira tanto medo em sua vida. Era só isso que Fernanda sentia naquele instante: medo.
-- GOOOOOLLL!! -- o narrador gritou a plenos pulmões.
Verônica e Alicia se olharam desanimada.
-- Você falou que hoje seria de goleada -- disse Verônica, dando um tapa em sua própria coxa.
-- Deveria né, mas esse time tá uma bosta! A defesa só sabe entregar o jogo e o ataque chuta, chuta e não consegue fazer gol -- disse Alicia, irritada -- Só pode dar nisso: Joga como nunca, perde como sempre.
-- Termina o primeiro tempo! -- informou o narrador.
Verônica pegou o copo com cerveja e deu um gole.
-- Enquanto o técnico, conversa com os jogadores no intervalo, a gente bem que podia... -- ela ouviu a campainha tocar e pousou o copo na mesa de centro para atender a porta -- Seja lá quem for, vou dispensar e já volto.
Verônica abriu a porta e ficou encarando o rapaz parado a sua frente como uma estátua.
-- Quem é você? -- ela perguntou, franzindo a testa.
-- Clé... Clé... Clé...
O rapaz de olhos vidrados mal conseguia dizer o nome. Alicia levantou a cabeça e ao ver que era Cléo, deu um pulo do sofá e correu até ele.
-- O que é que você está fazendo aqui? -- Alicia estava preocupada. Não sabia o que pensar -- Responde Cléo.
-- As luzes, os objetos... -- ele falava coisa com coisa.
Alicia franziu a testa levemente, passou a mão pelos cabelos e disse, depois de engolir em seco:
-- Há algo errado em meu apartamento -- ela se aproximou de Verônica com o semblante muito sério -- Desculpa, mas vou ter que ir.
-- Tudo bem -- a moça demonstrou decepção -- O campeonato é longo, não vai faltar outra oportunidade.
Alicia deu uma piscadinha para ela e saiu fechando a porta atrás de si.
-- Se for uma armadilha para a Fernanda me bater, você vai se ver comigo -- ameaçou a médica.
Cléo estava chocado demais para conseguir falar alguma coisa. Tremendo, ele respirou fundo tentando conter o seu medo e abriu a porta do apartamento para a médica.
Passando por ele, Alicia entrou, olhou ao redor e então se voltou para fitá-lo com os olhos arregalados.
-- Meu Deus! -- murmurou.
As luzes apagavam e acendiam sozinhas, a porta da cozinha fechava e abria fortemente. Objetos caídos pelo chão da sala, na maioria quebrados. Yuki latia desesperado, olhando para o nada.
-- A co...co...zinha tá pi... pior -- Cléo estava horrorizado.
Alicia foi até a cozinha. As cadeiras estavam amontoadas e os armários com as portas abertas.
Alicia foi até ele, segurou-o pelos ombros e o olhou nos olhos.
-- Fernanda? Aonde está a Fernanda?
-- Eu disse para ela que você tinha ido até o apartamento da Natália.
-- Seu louco! -- Alicia o soltou e então caminhou pela cozinha, virando-se de braços cruzados. Frio. Ela estava sentindo muito, muito frio -- Eu disse para você inventar uma mentira qualquer, mas tinha que ser logo essa?
-- Foi o que me veio à cabeça. Aiiii... -- Cléo se abaixou para se defender de um prato jogado contra ele.
-- Ela estava muito nervosa?
-- Você pode perceber o humor da pessoa pelas mãos, por exemplo, se estiver com a mão espalmada no meio da sua cara, é porque está bem nervosa -- Cléo se desviou de mais um prato -- Vamos sair daqui!
-- Vamos -- disse Alicia, passando por ele a caminho da sala -- Precisamos ir atrás da Fernanda e impedir que ela se encontre com a Natália.
Alicia pegou a chave do carro, mas quando estavam se encaminhando para a porta, um porta-retratos foi arremessado contra eles. O objeto se espatifou contra a parede e teria provavelmente a ferido se ela não tivesse se abaixado.
Intrigada e desconfiada, Alicia esfregou as mãos nos jeans e olhou para Cléo.
-- Tem algo muito errado aqui. Não sei porque, mas esse Espírito está querendo nos dizer algo.
-- Não vou ficar para descobrir... Aiiii... -- um pequeno enfeite de mesa foi arremessado em sua cabeça -- Vamos sair daqui, tem uma assombração nesse apartamento -- Cléo pensou um pouco antes de continuar: -- Meu Deus! Isso é um Poltergeist! Um Poltergeist! -- ele deu um puxão violento em Alicia -- Venha para a luz, docteur! Você vai ser engolida pela televisão.
A médica balançou a cabeça e cruzou os braços, aquele frio teimava em não desaparecer.
-- Cala a boca e senta no sofá -- disse ela, sem encará-lo diretamente.
Cléo sentou-se no sofá ao lado da poltrona de Alicia. Ela procurou não perder a calma.
-- Eu sei, Cléo, que todos esses fenômenos são assustadores e você está apavorado.
-- Apavorado? Eu estou todo cagado! Você agiu com se tudo fosse a coisa mais natural do mundo. Isso é um Poltergeist, mulher!
-- Não é a coisa mais natural do mundo, mas também não é motivo para desespero. Algo de ruim está acontecendo com a Fernanda e uma entidade está querendo nos avisar.
-- O Espirito da Thais?
-- Pode ser.
-- Mas, pensei que essas coisas fossem feitas por Espíritos maus ou demônios.
-- Para se entender melhor o Poltergeist, podemos traduzi-lo do alemão "Polter": Ruido e "Geist": Espírito. Esta designação originou-se da crença de que os fenômenos observados seriam provocados por espíritos desencarnados.
-- E, não é?
-- Quando um objeto é posto em movimento, levantado ou atirado para o ar, não é que o Espírito o tome, empurre e suspenda, como o faríamos com a mão. O Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinado com o do médium, e o objeto, momentaneamente vivificado desta maneira, obra como o faria um ser vivo, com a diferença apenas de que, não tendo vontade própria, segue o impulso que lhe dá a vontade do Espírito.
-- Você está querendo dizer que o Espirito não pode fazer isso sozinho?
-- Há muitas controvérsias a respeito. Kardec afirmou parecer necessária a intervenção, voluntária ou involuntária, de uma pessoa dotada de uma aptidão especial para a produção desses fenômenos, ainda que existam casos em que o Espírito parece agir sozinho.
Cléo olhou para ela desconfiado.
-- O que está querendo dizer? Não estou entendendo.
-- Estou dizendo que esse Espirito está usando você para chamar a minha atenção!
-- Eu? -- ele arregalou os olhos -- NÃO! -- Cléo se jogou no chão -- Você lembra o que aconteceu com a Carol Anne Freeling no filme "Poltergeist"?
-- Deixa de ser bobo e se levanta -- Alicia o puxou pelo braço -- Essa história é fruto de ficção. As ocorrências Poltergeist parecem estar ligadas à presença de determinada pessoa que habita ou frequenta o local dos eventos. Podemos chamá-la de "agente" ou "sujeito" Poltergeist.
-- Como pode isso? Eu não sou um médium.
-- Todos somos médiuns. Todo mundo nasce com um dom mediúnico específico. O segredo está em termos que descobrir qual é o nosso tipo específico de mediunidade para que possamos evoluí-la. Apesar de mais aflorada em alguns e mais escondida em outros. Qualquer pessoa pode desenvolvê-la.
-- Estou com medo -- ele coçou a nuca, respirou fundo e encarou Alicia.
-- Em um outro momento voltaremos a esse assunto, agora, temos que focar na Fernanda. Vamos até o apartamento da Natália. Estou muito preocupada, esse encontro pode dar morte.
-- Vamos!
Saíram do apartamento o mais rápido possível. Quando chegaram na portaria foram abordados pelo porteiro.
-- Dona Alicia! -- ele aproximou-se, um pouco ansioso -- Pode ser apenas coisa da minha cabeça, mas, está tudo bem com a dona Fernanda?
Alicia deu um passo à frente.
-- Por que está perguntando isso?
-- A dona Fernanda passou por aqui muito nervosa e, quando a vi pela última vez, ela estava entrando em um Sandero vermelho acompanhada por um homem.
Alicia se virou para Cléo.
-- Será que era o motorista do Uber?
-- Acho que sim, docteur. Ao menos ela disse que chamaria um.
Alicia ficou mais tranquila.
-- Obrigada, Émerson -- disse ela de maneira gentil. Émerson era uma simpatia, sempre de bom humor e com um sorriso nos lábios rechonchudos -- Vamos, Cléo -- Alicia estendeu uma das mãos na direção da porta.
Saíram do prédio rapidamente, e ao se verem na calçada correram em direção ao estacionamento para pegar o carro.
Assim que ouviu o som da descarga, Suelen abriu um pacotinho de sais para reidratação oral e jogou todo o conteúdo dentro de um litro de água mineral.
-- Como você está? -- perguntou a enfermeira quando Juliana entrou na cozinha.
-- Diarreia já é ruim, imagina com tosse -- sentou-se, com um suspiro.
-- Eu juro que vou me vingar daquela Paquita do capeta -- encheu um copo com soro e entregou para a namorada.
-- Não! -- ela balançou a mão -- Deixa pra lá. Não esqueça que foi a gente quem conspirou contra ela -- Juliana bebeu o líquido e fez uma careta de nojo -- Coisa horrível!
Suelen puxou uma cadeira e sentou-se próximo a ela.
-- Verdade -- concordou -- Mas, foi uma puta sacanagem. Tenho vontade de quebrar aquela carinha bonitinha dela.
-- Faz isso e a Fernanda te arrebenta. A Alicia é o docinho dela.
-- Argh! -- sua expressão era cômica -- Docinho! Que coisa mais ridícula.
Juliana empurrou sua cadeira para trás e levantou-se.
-- O meu namoro com a Fernanda durou apenas um dia -- disse, com um sorriso.
Suelen olhou espantada para ela.
-- Não vamos seguir com o plano? -- sentada, olhava para Juliana, decepcionada.
-- Tá louca? Aquela mulher fala com Espíritos -- ela respondeu, com uma voz que demonstrava medo.
Suelen dirigiu a ela um olhar zombeteiro.
-- Não acredito que você está com medo dessa besteira! -- disse ela, incrédula e riu.
-- Você finge que é corajosa, mas não dorme com os pés pra fora da cama com medo de vir um fantasma puxar.
-- É diferente -- Suelen abaixou a cabeça e por alguns instantes ficou olhando para as mãos, como se estivesse envergonhada, depois balançou firmemente a cabeça -- Tá certo -- engoliu em seco, sem ter como rebater aquele argumento -- Mas, poxa, tinha tudo para o nosso plano dar certo!
-- E deu, Su. A doutora morre de ciúmes da Fernanda. Eu percebi isso assim que me apresentei como namorada dela -- Juliana suspirou e cruzou os braços, sem parar de fitá-la -- Não temos porque continuar com a farsa.
Suelen franziu a testa, como se não houvesse concordado, depois balançou a cabeça derrotada.
-- Tudo bem. Não vou insistir.
-- Acho bom! Num dia tão desagradável como esse, o que mais quero agora é deitar e dormir tranquilamente.
-- Tem razão -- Suelen concordou, com um suspiro desanimado -- Vamos dormir.
Foi com o coração aos saltos que Alicia apertou a campainha da porta do apartamento de Natália. Depois dos últimos acontecimentos, corria o risco de levar um belo de um corridão.
Natália abriu a porta sabendo quem era.
-- Já se arrependeu? Tinha certeza de que você viria assim que pensasse melhor na besteira que fez.
-- Natália -- ela falou de forma mansa -- Deixe-me entrar. Quero conversar com você.
-- Só conversar? -- o tom de ironia era indisfarçável.
-- Natália, por favor! É sério.
Natália deu um passo atrás. Alicia nunca implorava por nada, muito menos para ela. Devia estar mesmo desesperada para pedir desse jeito.
-- Entra -- ela caminhou graciosamente para o centro da sala, o cabelo dourado e o rosto bonito apresentavam traços de surpresa e curiosidade.
Alicia entrou na sala e olhou ao redor, desconfiada, como se não esperasse encontrá-la sozinha.
-- Onde ela está?
-- Ela quem? -- Natália não tinha a menor ideia a quem ela se referia.
-- Fernanda! -- Alicia gritou, sem paciência.
Natália levou alguns minutos para se concentrar no que Alicia dizia.
-- Você só pode estar de brincadeira -- ela riu -- Ah, esqueci. O nosso último encontro foi tão maravilhoso que nos tornamos amicíssimas. Passamos a tarde tomando chá e comendo biscoitos e bolo. Foi maravilhoso! Colocamos todas as fofocas em dia.
Os olhos de Alicia brilharam mais verdes ainda. Continuava aparentando calma, embora soubesse que Natália era capaz de tirá-la fora do sério em questão de segundos.
-- Ela não está aqui?
-- Por que tem tanta certeza de que a Fernanda estaria aqui? -- indagou com frieza, encarando-a.
-- Porque ela avisou que viria -- Alicia lançou um olhar mal-humorado em direção a médica, enquanto caminhava nervosa pela sala.
-- Se quiser pode olhar dentro do freezer, seria o lugar que ela estaria caso tivesse vindo me procurar.
Alicia olhou para Natália, levantando levemente as sobrancelhas.
-- Acredito -- Alicia falou séria enquanto caminhava até a porta -- Acho melhor eu ir andando. Só estou perdendo o meu tempo. Boa noite, Natália.
Natália deu de ombros com uma indiferença que estava longe de sentir.
Cléo esperava no carro ainda pensando em seu dom mediúnico.
-- Como eu não percebi antes. Poderia ter usado os meus poderes para expulsar todo mundo de casa.
Alicia entrou e bateu a porta do carro com força.
-- Não sei se choro ou se dou risada -- ela estava sem fôlego. Seu peito estava apertado e os nervos agitados -- Ela não está aqui! E agora?
-- Agora, só nos resta partir para a segunda opção.
-- Suelen -- afirmou Alicia, girando a chave na ignição em seguida, dando partida rumo ao bairro de Madureira.
Fonte:
Fim do capítulo
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rhina
Em: 25/08/2019
Olá
Boa noite
Puxa .....Fernanda passando perigo......
Cléo quase pira. ......mas quem não......
Médium........todos somos......cada um deu sua parcela basta descobrir qual.......bem eu não descobrir a minha mas também eu fugi antes de terminar meu curso de médium
Rhina
Resposta do autor:
Bom dia, rhina!
Sua fujona! Kkk...
Quem sabe um dia você resolva voltar, né!
Beijos. Até.
perolams
Em: 23/08/2019
Vixe, quando Alicia chegar na casa de Suelen e descobrira farsa vai ser uma confusão das brabas. E esse sumiço de Fernanda? Não tem como pensar em alguém além de Salomão.
Resposta do autor:
Bom dia!
O Salomão é o primeiro suspeito, mas por que? É o que saberemos hoje.
Beijos. Até.
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Mille
Em: 23/08/2019
Aí Vandinha
O "bom moço" sequestrou a Nanda, espero que a Alicia possa encontra-la logo.
O Salomão está louco obsessivo pode armar para forçar a Fernanda a casar com ele e os pais dela ainda dara apoio ao canalha.
Bjus e até o próximo capítulo um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Olá Mille!
Eita que essa familia não desiste, não é mesmo?
O que estarão aprontando dessa vez?
Beijos. Até mais.
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NovaAqui
Em: 23/08/2019
Acho que era o ex! E se for deve estar possuído. Espero que ele não leve Fernanda para casar com ele obrigada
Olha! Eu ri muito aqui com essas loucas.... kkkkk
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá NovaAqui!
Será que o Salomão ressuscitou das cinzas? É o que veremos.
Vamos continuar rindo!
Beijos!
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