Capitulo 10

Cris

Depois da conversa que eu tive com a Mih, parece que vendas caíram dos meus olhos. Quando a Gabi entrou no elevador, eu prendi a respiração. Ela estava linda, cheirosa e muito... gostosa, não consegui não deseja-la.

Estava tudo indo muito bem, minha mãe falando das suas experiências, ensinando à todos que estava ali. Ela terminou seu sermão e o Dr Aroldo toma a tribuna.

-Guardem bem esta noite, vocês ouviram a lenda do bisturi. Essa mulher é a melhor que já conheci! Muito talentosa e de uma sabedoria invejável.  Está no sangue, meu amigo Eugênio soube fazer. Dr Aroldo foi amigo do meu avô, era amigo da minha mãe e um grande professor com quem eu aprendi muito.

-Queria ter o mesmo gene familiar dos Gomes. Quero convidar aqui pra dar uma palavrinha a menina que se tornou uma mulher muito talentosa. Eu já fiquei nervosa, não queria ser chamada lá, mas como ele chamou... teria que ir. E é um talento só! Virou pra minha mãe e disse: não é verdade? Minha mãe confirmou efusiva. Ele olhou pra mim e me chamou. Sobe aqui Dra Hellen Cristine Schultz.

Subi ao palco, ele me abraçou e disse:

-Esta menina aqui, agora mulher, é um talento só. Desde pequena eu a via com um livro na mão. Sempre muito curiosa...perguntava sobre tudo o que ela não entendia relacionado a medicina, eu achava engraçado, ela corria por aquele hospital e queria saber de tudo. Quem a conhece, conhece o trabalho dela, sabe quais os números negativos e positivos da sua atuação como neurocirurgiã, é de se impressionar!  acompanho sempre e pasmem: esta menina aqui tem em seus registros de, em cada dez cirurgias uma dá errado e muitas vezes esse erro se dá pelo paciente. Olhei pra minha mãe, olhei pra Gabi tinha certeza que eu estava vermelha. Peguei o microfone que me foi entregue.

-Boa noite, o Dr Aroldo exagerou. Sorri meio sem graça. Umas coisas ele disse de forma integra: sempre fui muito curiosa em relação a medicina, sempre foi minha paixão. Não me imagino sem um bisturi, um estetoscópio, cheiro de hospital... não me imagino sem. Sorri.

-Me perguntaram o que mais me fascina na minha profissão; eu disse: tudo! Não consigo separar o que eu não gosto, porque gosto de tudo.  Os ouvintes riram. Olhei pra Gabi; ela estava fascinada, mordi os lábios. Eu estava ciente de que queria ela, eu pensava nos prós e contras, mas eu a estava desejando. Me assustei. Aquilo nunca tinha acontecido antes... eu era um ser humano normal, é lógico que eu apreciava a beleza em outras mulheres! Nunca fui de comer ninguém com os olhos, desde que estou com a Alê, eu sempre fui fiel; a infidelidade não faz parte de mim, mas a Gabi estava provocando um turbilhão dentro de mim. Parecia um furacão... Um furação chamado Gabrielle!

-Em relação ao meu histórico de cirurgias, tenho uma explicação: todas as vezes que entro numa sala de cirurgia, eu entro com um pensamento: pra mim é só mais uma cirurgia, mas pra família dáquele que está na mesa, pra ser operado é o único filho, o único pai, a única filha, a única mãe, a única vó, vô... eu entro com o pensamento de que o paciente não é um numero pra família, ele é único! Por mais que se tenham mais filhos, aquele é único. E quando dá errado pra mim seria estatística, pra família não.

Enquanto a médica falava, Gabi estava fascinada.

-Quer um lenço? Perguntou Karla.

-O que? Ela não ouviu a pergunta da amiga.

-Você está babando. Disfarça que já tá dando na cara.

-Estou dando tanta bandeira assim? perguntou com os olhos fitos na médica.

-Sim, está.

-Não consigo parar de admirar. Ela está linda... nossa!

-Espera, isso foi o que? Você suspirou. Rio da cara da amiga.

-....

-Você está comendo a médica com os olhos! Karla viu desejo nos olhos da amiga, nunca a tinha visto olhando daquele jeito pra alguém.

-Claro que não, só estou admirando.

A loira termina seu discurso, vai até onde estava o dr Aroldo e sua mãe. Cumprimenta os que estavam com eles e dá um abraço gostoso no médico; estava com saudade dele. Beijou o rosto da mãe e a chamou para apresentar a Gabi.

-Deixa eu roubá-la só um pouquinho aqui. Disse olhando para o médico.

Gabi

Quando vi que a Cris estava trazendo a Dra Patrícia em nossa direção, eu quase tive um treco.

-Mãe, esta é Gabrielle Alcântara sua fã e esta é Karla, as duas são estudantes de medicina. Eu estava surda? Ouvi direito? Ela falou mãe? Olhei pra cara da Karla e me deu vontade de perguntar isso que se perguntei internamente, mas olhando pra cara da Cris e vendo aquele lindo sorriso, não precisei pedir confirmação pra minha amiga, eu tinha ouvido aquilo mesmo. A mulher que me inspirou e me fez escolher a medicina era mãe da mulher por quem eu estava apaixonada. Caramba, como o mundo é pequeno!

-Prazer Gabrielle! Ela falou me dando três beijinhos no rosto.

-A sra não imagina a satisfação em conhece-la. A sra é minha inspiração, quem me fez querer com todas as minhas forças a medicina.

-É muito gratificante saber que inspiramos pessoas para fazerem coisas boas! Alguém a chamou e ela teve que ir. Tchau querida, foi um prazer conhece-las! Disse e saiu.

-E aí, você gostou da surpresa? Me perguntou Cris com um sorriso travesso nos lábios.

-Você poderia ter me falado! Olha, estou tremendo; mostrei minhas mãos pra ela. Ela gargalhou e eu senti vontade de beijá-la ali mesmo.

-Queria te fazer uma surpresa. Ela falou ainda rindo. Esta mulher me faz sentir coisas que eu jamais experimentei, mas estou doidinha para experimentar todas as sensações possíveis com aquela mulher!

-Eu ouvi direito quando você a chamou de mãe?

-Sim. Dra Patrícia Gomes é minha mãe. Ela abriu um sorriso.

-Por que você não me falou? Eu iria adorar saber.

-Bem, eu gosto que me conheçam primeiro, depois eu falo minhas origens; tenho um motivo pra isso, as pessoas associam muito o NOME com tudo o que você faz.

-Ah, então você é a filha anônima da Dra Patrícia?

-Aquela que os fãs da minha mãe não gostam, porque sempre rejeita qualquer ligação com ela. Ela falou um pouco ressentida. Nós estávamos em pé no salão da faculdade tomando o suco que nos serviram.

-É. Concordei, pois era isso que todos achavam, que ela era arrogante e não gostava de vínculo com a mãe.

-Está pronta para ouvir a história? É grande, mas estou disposta a contar.

-E eu a ouvir. Disse já esperando ela começar.

-Então, meus pais são médicos, meu avô era médico, minha irmã é médica, meu irmão está na faculdade de medicina... Família Gomes, família de médicos! Minha mãe é, como você sabe, mundialmente conhecida, meu avô também. Todos os médicos ligados ao meu avô, são segundo os críticos obrigados a serem muito bons na sua área. Minha irmã quase desistiu de ser médica por isso. Exigiam mais do que ela podia e quando ela não dava muito mais do que ela podia, ela era rechaçada, pelos professores, pelos alunos. Se ela fizesse algo bom era porque ela era filha da Dra Patrícia. Ela quase não aguentou a pressão.

-Nossa! Eu disse assustada. Ela continuou...

-Um dia ela chegou em casa chorando da faculdade e disse para os meus pais que ela não cursaria mais medicina, ela iria trancar a faculdade. Eu presenciei a cena... foi bem triste. Meus pais conversaram com ela pra ela não trancar e terminar, por que era o sonho dela. Eu fui ao quarto dela mais tarde; não consegui dormir eu era nova ainda. Entrei, ela estava chorando e eu me sentei na cama e disse: eu quero ser igual a mamãe e quero ser igual a você, não desiste! Vocês são minha inspiração! Ela não queria que eu desistisse, já que ela falou que sabia que eu seria uma grande médica, mas não queria que eu passasse pelo que ela estava passando. Então adotei o nome do meu pai Schultz. Hellen Cristine Gomes Schultz e me desvinculei do nome Gomes. Foi triste, mas eles não queriam que eu desistisse.

-Nossa, como as pessoas são horríveis!

-Pois é. Por este motivo que eu uso o Schultz do meu pai. Era inegável a admiração que ela tinha por sua mãe. Era injusto falar diferente daquilo, como as pessoas falavam. Dr Aroldo a chamou, ela ficou um tempo lá conversando com eles e umas pessoas foram falar com ela, ela dava atenção à todos. Eu só a admirava.

-Amiga, para que tá feio já! Karla ralha com minha cara.

-Eu estou apaixonada! Isso me assusta, nunca senti isto por alguém.

-Aproveita, amiga. A doutora está na sua também. Olhei pra cara dela e perguntei toda insegura:

-Você acha? Minha amiga não conseguiu responder, pois a Cris chegou nos chamando para irmos embora.

-Já estava ficando tarde, podemos ir embora?  Ela perguntou.

-Sim, podemos. Respondi.

A mãe dela estava conversando com um monte de gente, ela já tinha se despedido dela, aí nós fomos embora. Deixamos a Karla em casa e seguimos pra nossa. Conversamos mais sobre como era chato, meio que ter que esconder suas origens. Pude perceber que ela amava muito a família, descobri que ela tem um irmão, o caçula, descobri também que ela é louca por criança. Ela falou com tanto carinho do sobrinho dela... Pedro, já amei. Chegamos, subimos. Ela toda fofa me pergunta se eu gostei da surpresa, eu disse que amei. Chegando no meu andar eu me lembro de um livro que ela iria me emprestar e pergunto se podia pegar hoje.

-Claro, vamos lá! Ela abriu a porta, pediu pra eu entrar. A espero na sala e ela vem com o livro. Esse livro é ótimo. É de um fisioterapeuta que teve que cuidar do filho que se acidentou. É muito bom! Ela fala. Eu me viro pra ir embora, ela me acompanhou até a porta e eu disse:

-Vou adorar ler. Obrigada pela noite, foi incrível! Eu disse já na porta, mas estava bem perto dela ainda.

 -O livro é lindo, tem uma história fantástica. E não foi nada, eu estava te devendo. Ela sorri e eu não aguento... a proximidade estava me matando. Ela olhando dentro dos meus olhos e eu olhando nos dela... ela desviou o olhar dos meus e mirou minha boca, era tudo o que eu precisava. Nos beijamos. Que beijo, que boca, que maciez. Fiquei até mole com aquele beijo. Foi mágico! As minhas mãos estavam no rosto dela, os corpos colados, pois ela me puxou pela cintura com as mãos. Meu deus, eu poderia morrer naquele beijo, mas como tudo que é bom dura pouco... meu celular toca.

-Oi mãe. Eu estava ofegante.

-Oi, fiquei esperando você me mandar mensagem dizendo que chegou. Você não chegou ainda?

-Cheguei sim, mãe.

Fim do capítulo