Capítulo 9

 

 

Cris

 

Cheguei com um sorriso no rosto. Eu tinha até me esquecido da briga com a Alê. Fui tomar banho e ler um livro. Meu celular tocou, era uma mensagem da Gabi:

 

-Boa noite, espero que você esteja se sentindo melhor.

 

-Claro que estou! Você me levou pra tomar sorvete; tenho que estar melhor! rsrsrs

 

-Ah, é verdade! Sorvete é tudo de bom!

 

-Sim, mas a companhia tem seu valor.  Obrigada, foi muito bom me distrair. Falei com sinceridade.

 

-Estou sempre as ordens, Cris! Mandou carinha de prestativa. Eu ri desse gesto dela. Gabi era fofa, inteligente, dócil... poderia enumerar muitas qualidades nela. Lembrei do beijo dela no meu rosto e que foi bem no cantinho da boca, acredito que foi um acidente, não creio que ela quisesse me beijar. Ela ficou tão nervosa que saiu rapidamente do elevador. Rsrsr.. achei engraçado o nervosismo dela. Ela me chamou de Cris e eu nem fiquei brava. Odiava quando me chamavam assim, mas ela eu não liguei.

 

 Não vi mais a Alê, ela mandou mensagem se desculpando na madrugada de segunda-feira, só vi quando acordei pra ir trabalhar, ela disse que não daria pra passar em casa, porque surgiu um imprevisto em NY e teria que ir direto de lá. Eu ficaria muito brava a tempos atrás, mas curiosamente não fiquei.

 

Cheguei no hospital e minha amiga não estava na minha sala. Conferi a agenda com minha secretária e fui em busca da Mih. Chego na sala dela e ouço vozes alteradas.

 

-O que está acontecendo aqui? Pergunto assim que vejo minha irmã e a Mih discutindo.

 

-Não é nada. Falou Julia, olhando com cara feia pra Michelle e saiu

 

-O que aconteceu desta vez? Perguntei me sentando. As duas não se davam de jeito nenhum, eu não entendia o motivo.

 

-Não foi nada. Como foi seu final de semana? Respondeu e me perguntou, mudando de assunto.

 

-O sábado foi bom, no domingo Alê e eu brigamos... ela queria que eu fosse viajar com ela, mas eu tinha compromisso. Ela teve a coragem de dizer que eu sou assim porque quero, que eu mando tanto quanto a Julia e um monte de outras coisas. Que sou o que sou por causa da minha família. Falei indignada.

 

-Que FDP! Cara, não sei como você aguenta isso, eu já teri...

 

-Tá bom Mih! Somos pessoas diferentes.

 

-Ok. Você não sabe quem eu encontrei no shopping sábado. Falou mudando de assunto.

 

- Não faço ideia!

 

-Seus vizinhos!

 

-A Gabi?

 

-Sim. Ela o irmão e a Karla.

 

-Nossa, ela nem me falou nada ontem.

 

-Você e ela se viram ontem?

 

-Nos vemos quase todos os dias. Por que o espanto? Moramos no mesmo prédio, um andar de diferença. Falei sem entender aquele ar de surpresa.

 

-Foi lá no prédio mesmo?

 

-Sim, na verdade fomos tomar um sorvete. Eu estava chateada por ter brigado com a Alê, me encontrei com ela, ela disse que iria me animar. Ela me levou pra tomar sorvete. Sorri ao se lembrar

 

-Uau! Nunca imaginei ouvir isto e ver você assim por outra mulher.

 

-Foi só um sorvete! E além do mais ela é uma menina. Não tem nada a ver o que você disse.

 

-Qual é Hellen? As vezes penso que você é inocente demais ou cega, pra não ver as coisas!

 

-Como assim?

 

-Você já se deu conta de que está apaixonada por essa garota?

 

-APAIXONADA?! Você está doida ou só pode ter bebido!

 

-Hellen, é sério! Você só fala nessa menina, não tem um dia sequer que você chegue aqui e não fala no nome dela. E preciso te dizer: ela não é nenhuma menina não, é uma mulher!

 

-Ela só tem 17 anos, eu sou casada e amo minha esposa. Endoidou foi?! Não posso ficar admirada por conhecer uma menina da idade dela que seja educada, responsável, madura, inteligente?

 

-Se você está dizendo, eu vou confiar na sua palavra. Mas coloque uma na sua cabeça: Gabi não é nenhuma menina, é uma mulher e parece que sabe muito bem o que quer!

 

Saí da sala da Michelle, ela estava doida. Eu não estava apaixonada pela Gabi, aquilo era só admiração. Eu confesso que a admirava... uma menina de 17 anos responsável como ela?! Era um achado... fiquei pensando nisto até Aline anunciar a primeira consulta daquele dia.

 

No fim do dia passo na sala da minha mãe e ela me convida para uma palestra que ela daria numa faculdade privada. Logico que aceitei e foi impossível não pensar na Gabi, ela iria adorar conhecer a Dra Patrícia Gomes.

 

-Tem ingressos sobrando, mãe? pode conseguir algum ingresso?

 

-Sim, claro querida. De quantos você precisa?

 

-Um pra mim e dois pra uma menina lá do prédio, ela é sua fã. já leu todos os seus livros mais de uma vez. Dei pra ela o: bisturi, meu melhor presente. Era o único que ela não tinha.

 

-Claro que posso conseguir, passa aqui na minha sala amanhã cedo que te dou. Ah, e pra você nem precisa. O Dr Aroldo Brandão que é o organizador da palestra.

 

-Vou adorar vê-lo de novo; estou com saudade dele. Dr Aroldo era um homem incrível. Uma sabedoria invejável e muito humilde, amava o que fazia. Aprendi muito com ele. Iria adorar este evento.

 

-Oie, reunião em família e esqueceram de me convidar? Disse Julia assim que entrou na sala.

 

-Deixa de ser ciumenta, você não foi esquecida, só é muito ocupada! Eu disse Lembrando que minha irmã levava aquele hospital nas costas. Era séria, muito respeitada pelos colegas de trabalho... só tinha uns arranca-rabo com a Mih. Mandava e desmandava, era super responsável com todos ali. Juh era casada, tinha um filho, Pedro... o meu gorduchinho! Amava aquele garoto, estava precisando ir vê-lo.

 

-Nem me fale! Disse ela entregando uns papeis pra mamãe assinar.

 

-Acho que vou na sua casa este final de semana, quero ver o Pedro.

 

-Vai sim, ele vai adorar, não para de chamar ”tia Helhem”. Sorrimos e ela saiu.

 

-Também preciso ir. Deu um beijo no rosto da minha mãe e fui pra casa.

 

Cheguei em casa e me joguei no sofá. Pensei: se a Alê estivesse aqui, ela com toda a certeza não me deixaria nem chegar perto do sofá antes de tomar banho. Liguei pra ela, ela não pode atender. Fiquei pensando na conversa que tive com a Mih mais cedo... depois de quebrar a cabeça pensando, resolvi deixar aquilo pra lá. Mandei mensagem pra Gabi falando da palestra, mas não disse que era Dra Patrícia Gomes e minha mãe que seria a palestrante.

 

-Claro! Quando é? Ela perguntou assim que fiz o convite.

 

-Vai ser na quarta, você tem algum compromisso? Ela pensou pra responder.

 

-Na verdade tem o jogo de quarta-feira que meu irmão e os meninos jogam, mas vou com você. Vou adorar a palestra, conhecimento nunca é demais!

 

-Tem certeza? Os meninos não vão ficar chateados por você não ir no jogo?

 

-Não, eles sabem que eu não deixaria de ir a um evento sobre medicina à ir num jogo que eu vou sempre. Sem chances! Rsrsrs

 

-Então tá! Tenho mais um ingresso, se quiser convidar mais alguém... fique a vontade!

 

-Vou chamar a Karla pra ir.

 

-Excelente! Amanhã te entrego os ingressos. Boa noite. Me despedi.

 

Estranhamente fiquei feliz por ela querer levar a Karla e não o namorado.

 

 

Gabi

 

 

Passei contando os dias para esta palestra. Karla estava animada também, eu estava mais ainda, já que eu estaria com a Cris bem perto. Ela mandou mensagem falando a hora que sairíamos, pegaria a Karla em casa, por isso nos adiantamos um pouquinho. Estava de frente pro espelho preocupada se estava exagerado demais a minha roupa, maquiagem, cabelo... estava enlouquecendo já.

 

-Eita! Calma aí ow! Você não vai casar não. Disse meu irmão ao entrar no meu quarto depois que bateu na porta.

 

-Tá muito exagerado? Estou muito simples? Tá muito vulgar? Aiiii... estou nervosa!

 

-Para, você está linda! Tá nervosa a toa! Disse meu irmão me tranquilizando. Mas como pra homem é tudo a mesma coisa, liguei pra mamãe. Já havia falado pra ela do convite para uma palestra sobre medicina, só não falei quem me convidou.

 

-Mãe, pode falar agora? Perguntei meio desesperada.

 

-Claro meu amor, o que houve? A voz da minha mãe estava aflita, ela ficou preocupada com o meu desespero.

 

-Não aconteceu nada de mais mãe! A tranquilizei. Vou fazer chamada de vídeo, pode ser?

 

-Sim Gabi! Ainda aflita. mas calma um pouco...  liguei.

 

-Como estou? Tá muito exagerado? A maquiagem está boa? eu passei o perfume que você me deu. Estava desesperada.

 

-Meu amor, você está linda! Minha mãe chamou meu pai pra ver. Olha como está a Gabi, amor.

 

-Nossa, uma princesa. Você está se arrumando pra alguém? Meu pai perguntou sério.

 

-Claro que não pai! Desconversei, tinha certeza que eu fiquei vermelha. É que eu vou num evento importante. Pra ter ideia, o Dr Aroldo Brandão é o organizador.

 

-Você está maravilhosa, minha querida. Não chegue tarde e muito cuidado, tá? Disse minha mãe.

 

-Sim mãe, vou tomar cuidado e te mandou mensagem assim que chegar. Bjs. Amo vocês!

Me convenceram que eu estava bonita, com aquela roupa. Estava com um vestido creme, quase rosinha bebê, mas era creme. Uma sandália preta de salto alto fino. Uma bolsa de mão, cor do vestido e uma maquiagem leve. Estava bonita. Eu estava me arrumando pra ela, eu sabia disso. Cris manda mensagem dizendo que estava descendo. Falei que também iria descer.

 

Entrei no elevador e quase infarto. Que mulher! Meu deus! Simplesmente linda!  os cabelos estavam presos num penteado de princesa, o vestido vermelho cor de sangue em contraste com a pele, a maquiagem forte. A roupa dela estava o oposto total da minha. Eu senti coisas jamais sentidas até aquele momento. Eu... estava... excitada?!

 

-Boa noite Gabi! Disse ela toda sorridente. Tá tudo bem? Perguntou com cara de dúvida e eu fui entender que eu viajei nela esse tempo todo que estava descrevendo o quanto ela estava linda e pior, na frente dela.

 

-Ah... boa noite! Me desculpe, você está linda. Estava pensando como você consegue ficar ainda mais linda. Ela ficou vermelha e eu viajei de novo. Mas desta vez fui mais rápida na minha viagem. Tá bom, parei!

 

-Obrigada. Ela riu sem graça. Você deve não ter se olhado no espelho de novo.

 

-Por que? Tá ruim? Ta sujo? Desesperada de novo.

 

-Não! Ela sorri e completa: Você está linda! acho que foi a primeira vez que vi aquele olhar dela, não soube definir, mas era quente. Ela desviou o olhar e fomos em silêncio depois que ela falou aquilo.

 

Entramos no carro e ela cheia de mistério.

 

- Você não vai falar mesmo né? Perguntei olhando pra ela.

 

-Não, é uma surpresa, se eu falar, deixa de ser surpresa!

 

Chegamos na casa da Karla, ela estava na portaria. Acenei pra ela e ela veio ao nosso encontro.

 

Nos cumprimentamos e seguimos para o evento. Chegando no local percebi que tinha alguns fotógrafos na entrada da faculdade que era onde aconteceria a palestra. Ela disse pra Karla e eu entrarmos na frente e esperar na portaria. Não entendi o porque na hora, mas depois que ela desceu do carro eu entendi que por ser esposa de uma celebridade, ela também era alvo de paparazzo.

 

Ela toda fofa, posa pra foto e entra. Nos encontramos na portaria e entramos. O lugar estava lindo. A palestra aconteceria no auditório da faculdade. Percebi algumas cadeiras bem próximas do palco, e ela se encaminhando pra lá. Nós a acompanhamos. Sentamos e eu não pude acreditar quando anunciam a palestrante:

 

-Neste momento eu peço a todos os que se coloquem de pé e recebam com muitas palmas a Dra Patrícia Gomes.

 

Eu olhei pra Cris e ela com um lindo sorriso nos lábios estava me olhando também. Ela assovia, bate palma, entra no alvoroço junto com toda a plateia alí presente. Percebi que ela era tão fã da médica quanto eu.

 

-Boa noite à todos! Dra Patrícia cumprimenta. Agradeço o carinho de todos vocês. Aroldo, meu amigo e grande professor. Meu muito obrigado pela oportunidade de poder passar pra esses jovens um pouco do conhecimento que adquirimos nos longos anos de carreira que temos...

 

A Cris estava prestando atenção em cada palavra que a Dra Patrícia falava. Aprendi muito, queria ter gravado, mas queria absorver tudo o que ela estava falando, toda a experiência dela.

 

 

Fim do capítulo