Certo, se Charlotte queria me deixar sem palavras naquele momento, ela havia conseguido.

       - Esse colar é a única herança que restou dos meus falecidos pais – Charlotte começou a falar e eu ouvia tudo sem saber o que dizer.

       O que tínhamos ainda era recente. Como é que, naquela época da viagem, ela sabia que iria me amar?

       Várias dúvidas passaram a surgir em minha cabeça após aquela revelação.

       - E sua falecida esposa, você não a amava? – Perguntei.

       Charlotte sorriu, demonstrando que já esperava por aquela pergunta.

       - Sempre fui apegada a esse colar. E não dei a Cecília. Sim, eu a amava, muito – Mesmo sem motivos para isso, eu senti uma pontinha de ciúmes. Ouvir que Charlotte amava outra mulher não me agradou – Mas eu sempre fui apegada a esse colar. Era a única lembrança que tinha dos meus falecidos pais.

       - Então por que você me deu? – Deslizei as pontas de meus dedos naquele fino metal, pois percebi que estava com algo que era muito importante para minha amada.

       - Ganhei esse colar quando havia perdido tudo que tinha, era uma herança de família dos meus falecidos pais. Quando Cecília faleceu, eu resolvi que iria dar ele a quem me desse a vida de volta... que me desse um motivo para acordar todas manhãs com um sorriso. E você fez isso comigo, Margareth, me deu uma nova chance de amar e um sentido para minha vida... algo que pensei que nunca iria acontecer.

       - Eu não sei o que dizer – Fiquei muito sem graça diante de tudo que havia escutado.

       Charlotte deu um fraco sorriso e se aproximou de mim, fazendo eu olhar em seus olhos.

       - Eu tive muito medo de te perder... de não poder dizer o que sentia por você, pois você sempre entendeu as coisas muito errado – Charlotte disse as últimas palavras com desagrado.

       - Você nunca demonstrou sentir algo por mim. Não tinha como eu ser adivinha – Tentei me defender.

       - Realmente não tinha, mas não precisava tomar atitudes tão precipitadas- Charlotte começou e percebi que iríamos acabar discutindo.

       - Para, não vamos começar.

       - Está bem! – ela começou a olhar em direção a um pequeno corredor – Não quero começar o nosso namoro com uma discussão.

       - Nem eu – Falei e senti uma mão macia segurando a minha.

       - Eu quero você em minha vida, Margareth. E a última coisa que desejo é te magoar de alguma forma.

       - Perdão pelas más atitudes que tomei – Disse sincera, pois eu havia errado demais.

       Poderia ter resolvido a minha situação com Charlotte a menos tempo, no entanto, eu havia ficado inerte a tudo.

       - Não vamos mais falar sobre isso... vamos deixar o que passou para lá e começar a viver o agora – seus braços envolveram minha cintura e nossos corpos ficaram colados.

       - E como você quer começar a viver o agora? – provoquei.

       Charlotte soltou uma gargalhada muito gostosa nesse momento.

       E eu, como sempre, fiquei muito boba. Amava ver aquela mulher sorrindo.

       - Bom... podíamos começar nos amando muito – Revelou olhando intensamente em meus olhos.

       Não sei exatamente quanto tempo levamos para chegar no quarto de Charlotte.

       Só sei que chegamos a aquele lugar e logo comecei a ser despida.

       Eu não reparei na decoração, em nada.

       Ali só tive certeza de algo, havia uma cama, pois todos os quartos têm uma cama. Bom… é o que penso.

       Enquanto sentia os seus lábios tocando a minha pele. Charlotte pressionou o meu corpo contra a parede e começou a tatear algo sobre um móvel.

       Eu fiquei me perguntando o que ela tanto procurava, no entanto, só fui saber quando uma música começou a tomar conta do ambiente.

       Era uma música muito romântica.

       Parecia perfeita para o momento em que estávamos vivendo.

       Algo que eu admirava em Charlotte era o seu gosto musical.

       A melodia invadia a minha mente e logo passava a ser sentida por meu corpo.

       A letra parecia descrever o que sentíamos pela outra.

 

       - Eu te amo – Charlotte disse essa frase ao parar de me beijar e encarar os meus olhos com intensidade.

       Antes de dizer qualquer coisa, eu fiquei reparando em como ela estava com os cabelos desalinhados e ainda continuava linda.

       - Eu te acho a mulher mais linda desse mundo– Disse e ela sorriu um pouco sem jeito - Também te amo - Me joguei em seus braços empurrando seu corpo em direção a cama.

       Quando caímos sobre o colchão, rimos e em seguida ficamos em silêncio diante da outra.

       Parecendo reparar em cada traço da outra.

 

       O interessante de você amar alguém é que você acha tudo mágico... perfeito.

       Eu estava achando isso naquele momento.

       Só por estar com Charlotte, eu já achava aquele momento perfeito e a última coisa que eu desejava era que ele acabasse.

       Olhava para ela afim de eternizar cada feição em minha mente.

       Aquela mulher havia se tornado a minha namorada.

       Por incrível que pareça, a mulher mais mandona da cidade me queria da mesma forma que eu a ela.

 

       15 dias depois

 

       Às 8:00 horas, como de costume, eu cheguei ao World. Eu estava bem, muito feliz. Meu namoro com Charlotte estava indo muito bem.

       Desde o jantar é que passei a dormir na casa dela com frequência.

       A noite anterior não havia sido diferente. Dormi com ela e chegamos no World juntas.

       Ainda não havíamos falado sobre o nosso relacionamento com os outros funcionários.

       Só Arnold e Priscila que sabiam, no entanto, eu estava notando meus colegas de trabalho me tratando de uma forma muito estranha.

       Eu sempre pegava alguém olhando para mim com estranheza.

       Nesses momentos, eu sempre me perguntava se estava tendo algum problema com minha roupa.

       No entanto, eu nunca chegava a alguma conclusão.

       - Será o que deu em todo mundo?

       Estava sentada em minha cadeira e comecei a me perguntar um pouco alto demais.

       - Como assim? - Arnold que estava em sua mesa, ao meu lado, pareceu confuso.

       - Sei lá, sempre pego alguém olhando para mim – Fiquei tentando pensar em algum motivo para isso e cheguei a única conclusão cabível- Você falou para eles?

       Estreitei o meu olhar para meu amigo e ele revirou seus olhos.

       - E precisa contar, Margareth? – Meu amigo nessa hora só faltou colocar as suas mãos sobre a cintura – Você vive na sala dela. Fazendo não sei o quê... chegam juntinhas. Você nem tira mais essa cara de bobona apaixonada quando tá perto dela e agora acha que alguém precisa contar?

       Realmente Arnold estava certo.

Charlotte e eu estávamos dando bandeira demais.

       - Será que Charlotte vai ficar chateada com isso? – Indaguei preocupada e Arnold voltou a revirar o olho.

       - Concordo com o que dizem por aí.

       - Como assim? – Fiquei confusa.

       - Margareth, às vezes você só enxerga o que quer ver – Olhou para Charlotte que apareceu toda deslumbrante na nossa frente conversando com Priscila       – Tenho certeza que Charlotte já está sabendo dos rumores e se ela não falou nada contigo, quer dizer que ela não se importa.

       - Mas ela tinha medo disso? – comecei a me lembrar das últimas conversas com minha amada.

       - As pessoas mudam de ideia, Margareth, e Charlotte pode ter percebido que o importante é o que vocês sentem pela outra e não o que os outros pensam ou deixam de pensar.

       Após a fala de Arnold, eu fiquei muito pensativa. Será mesmo que Charlotte sabia de tudo?

       Fiquei com aquela dúvida em minha cabeça, mas não tive como tirá-la.

       Eu não ia poder me encontrar com Charlotte por aqueles dias.

       Havia começado os preparativos para a festa de aniversário do World que seria no final de semana e o senhor Borges queria Charlotte lhe ajudando a organizar tudo.

       O jeito era esperar passar a tal festa para conversarmos sobre isso de todos já estarem desconfiando de nós.

 

 

       Às 18:00 horas, eu saí do World. No final do expediente não havia visto mais Charlotte. Com certeza, ela estava com o senhor Borges.

       Eu poderia estranhar esse apego todo do senhor Borges com minha amada. No entanto, isso não acontecia, pois sabia que ele só tinha admiração por ela.

       - Já comprou sua roupa para a festa? – Priscila me indagou.

       Estava dando uma carona para ela, já que seu carro havia quebrado.

       - Não e não faço ideia do que vestir – Disse sincera e Priscila pareceu muito surpresa.

       - Não creio que a namorada da editora-chefe quer aparecer na festa feito uma mendiga - Priscila fez cara de espanto.

       - Você sabe que não tenho jeito para essas coisas - Disse um pouco sem jeito.

       Eu sou mulher, mas não tenho jeito nenhum com roupas… maquiagens... sei lá.

       - Então vamos mudar o nosso percurso- minha amiga disse decidida.

       - Como assim? - Realmente não estava entendendo o que estava acontecendo.

       - Vamos ao shopping comprar um vestido para você - Deu uma pausa - e não vamos comprar qualquer vestido…vamos comprar o VESTIDO, pois é para deixarmos Charlotte babando nessa festa.

       Sim, compramos o tal vestido.

       Não me senti nada confortável nele.

       Priscila que havia escolhido.

       De acordo com ela, eu iria chamar a atenção de todos naquela festa.

 

 

 

 

       - Onde é que está a minha filha? - meu pai indagou ao me ver descendo as escadas quase que me segurando para não cair, pois ainda sentia dificuldade para andar de saltos.

       Era a noite da festa.

       Eu estava muito ansiosa e insegura, pois a minha roupa era diferente de tudo que já havia usado.

       Na verdade, eu estava muito diferente.

       Estava usando uma maquiagem mais marcante e meus cabelos estavam levemente ondulados.

       - Ficou tão feio assim? - perguntei preocupada e meu pai veio até mim.

       Ofereceu a sua mão para que eu pudesse descer os últimos degraus.

       - Você está linda - Disse e notei os seus olhos brilhando - Tenho certeza que será a mais bela da festa.

       Com a fala de meu pai, eu fiquei muito sem graça.

       - Muito obrigada, pai, mas acho que o senhor está exagerando.

       Falei e comecei a me lembrar da minha imagem que estava refletida no espelho do meu quarto.

       Após me arrumar, eu me encarei no espelho.

       Eu não era o tipo "mulherão ", mas naquele dia, eu estava abusando da sensualidade.

       Isso me deixava muito sem jeito, pois eu não costumava mostrar esse lado mais sensual no meu dia a dia.

       Algo que me deixava insegura com relação a roupa que estava usando, era a fenda do lado direito de meu vestido.

       A cada passo que dava, a minha perna ficava ainda mais a mostra.

       - Filha, eu tenho certeza que a Charlotte não vai querer te deixar sozinha por nenhum segundo – Meu pai disse me despertando.

       Em resposta, eu apenas sorri.

       Desejava muito que ele estivesse certo, pois iria chegar a festa desacompanhada, já que a minha companhia era quem costumava chamar a atenção de todos para si e no momento, não podia demonstrar o que sentia por mim.

       “Ela disse que hoje seria diferente. Será o que ela irá fazer?” – Pensei ao sair de minha casa.

 

 

 

       Não demorei muito para chegar ao local da festa, mas queria que tivesse demorado mais.

       Eu estava muito ansiosa.

       Acho que sou uma pessoa ansiosa demais.

       Quando me deparei com a entrada da festa, eu senti vontade de voltar de onde estava.

       Haviam muitos jornalistas conhecidos e pessoas em volta da entrada.

       E eu, bom... eu estava sozinha e todos não paravam de olhar para mim.

       Comecei a achar que eu não deveria ter aceitado a ajuda de Priscila.

       - Nossa, que beldade é essa aqui na entrada? ­– James, o marido de meu amigo, indagou, despertando minha atenção.

       - Cadê a Margareth que trabalha comigo? – Arnold indagou surpreso.

       Olhei para eles um tanto sem graça.

       É, naquela noite, eu estava muito diferente mesmo.

Meu amigo e seu marido estavam lindos usando aqueles ternos pretos.

       - Santa Priscila fez o milagre – Priscila apareceu acompanhada por Mel. Minha amiga parecia muito orgulhosa.

       - Sério isso? – Arnold indagou tentando confirmar o que nossa amiga havia dito.

       - Sim – Disse um pouco sem jeito.

       Eu não era acostumada a ter todo mundo olhando para mim.

       Neste momento, meu olhar se encontrou com o de Mel.

       Ela estava linda – usava um vestido azul longo e seus cabelos estavam soltos - parecia muito feliz ao lado de Priscila.

       Fiquei feliz por ela, pois era uma pessoa muito legal e merecia ter ao seu lado uma pessoa que gostasse mesmo dela.

       - Você está linda, Margareth – Mel comentou e depois olhou para sua amada.

       Priscila não parecia estar nem um pouco desconfortável com essa situação, então, eu também não fiquei.

       - Vamos entrar – Arnold e James me ofereceram os seus braços- Quero ver a toda poderosa babando por você na frente de todo mundo – Todos riram.

       Segurei no braço deles e começamos a andar em direção a entrada.

       Eu fiquei entre eles dois.

       A cada passo que eu dava, eu sentia a ansiedade tomando ainda mais conta de mim.

       De repente, eu dei uma desequilibrada e eles me seguraram.

       - Calma, minha querida – James disse simpático.

       Olhei para Arnold.

       Ele não tirava o sorriso do rosto.

       Não sei, mas parecia que meus amigos estavam me levando para o altar.

       Arnold parecia tão orgulhoso.

       Entramos naquele imenso salão e ficamos perto da entrada.

       Eu estava tentando de alguma forma encontrar Charlotte no meio daquela multidão de pessoas.

       O que me deixou muito impaciente, pois não consegui encontrá-la.

       - Calma – Arnold pousou sua mão sobre meu ombro e me fez olhar para uma determinada direção – Olha!

       Era Charlotte, ela estava de costas para mim...

       Seus cabelos cacheados estavam soltos e bem volumosos.

       Seu vestido era preto, parecia ter um pouco de brilho, mas não sabia se era isso mesmo no momento, pois tinha certeza que meus olhos estavam brilhando só por ver aquela mulher.

       Ao vê-la ali tão linda, meu coração começou a bater mais forte. Eu não conseguia mais disfarçar o que sentia por aquela mulher no momento.

       - Calma, também não precisa babar assim – Arnold comentou e eu dei um tapinha em seu ombro.

       Não queria concordar com meu amigo, mas eu só estava faltando babar mesmo.

       Charlotte era muito linda.

       Muito linda mesmo.

       Fiquei lhe encarando por um bom tempo, na esperança de ser notada, mas ela parecia muito ocupada conversando com um homem.

       Acho que era algum jornalista conhecido dela e do senhor Borges.

       Já havia ido para lá sabendo que Charlotte não poderia me dar muita atenção. Sabia que não poderia esperar muita coisa, mas mesmo já imaginando como seria, eu tinha esperanças de ser diferente do que havia pensado.

       De repente, ela notou a minha presença, sua feição que antes parecia ser muito séria agora parecia bem mais leve.

       Ela estava conversando com o desconhecido, mas, no momento que ela me viu, o homem pareceu ficar falando sozinho.

       Charlotte começou a me olhar de uma forma intensa.

       A minha pele se arrepiou com isso.

       Ela não precisava me tocar para conseguir mexer comigo.

       Ficamos nessa troca de olhares por um bom tempo.

       Eu queria muito que ela viesse até mim. Charlotte estava linda demais.

       Desejava ter a sua atenção somente para mim naquela noite, mas as coisas não pareciam que iriam acontecer da forma como eu queria.

       O homem pareceu lhe chamar e isso fez Charlotte volta a direcionar a atenção para ele.

       Pronto, isso fez eu ficar sentida.

       - Mesmo isso daqui sendo uma festa, Margareth, ela tem que trabalhar dando atenção as pessoas – Arnold disse tentando de alguma forma me consolar.

       - Eu sei – Tentei me conformar, mesmo sabendo que não iria conseguir fazer isso tão facilmente, pois eu queria muito Charlotte.

 

 

 

 

       Depois de um tempo, a festa começou a ficar muito animada. No entanto, não podia dizer o mesmo de mim.

       Meus amigos já haviam começado a dançar com seus pares e eu fiquei em meu canto somente bebendo e vendo Charlotte passar de um lado para o outro acompanhada por alguém.

       Eu não estava nem um pouco chateada com minha amada, pois via que ela não estava gostando nem um pouco daquela situação.

       Toda vez que alguém a chamava para conversar, ela ficava ainda mais séria.

       Sim, eu passei boa parte da festa lhe olhando.

       Charlotte estava muito linda, não conseguia parar de olha-la.

       - Confesso que custei a acreditar que fosse verdade – Estava tomando uma das bebidas que um garçom passou oferecendo quando uma voz conhecida chamou minha atenção.

       Era Agatha...

       Nunca achei que aquela mulher pudesse um dia falar comigo.

       Até fiquei surpresa.

       - Vocês estão mesmo juntas, né? – Ela indagou quando percebeu que eu nem tinha o que falar com ela.

       - Não sei do que está falando – Eu não queria conversa com aquela mulher.

       Ela então sorriu... Aquela mulher conseguia ser cínica sem muito esforço.

       - Você não sabe, mas acho que o jornal todo sim... E bom, tenho certeza que não vai ficar bem para vocês – Ela então chamou um garçom até nós e pegou um dos copos que estava na bandeja; ingerindo todo o líquido em seguida – Charlotte pode até estar com você, mas duvido muito ela te assumir aqui.  Você e nada são quase a mesma coisa, Margareth, você não tem nada a oferecer a ela. Com certeza é um passatempo.

       - Você está é com inveja – Comecei a me irritar com aquela mulher.

       - Inveja? – Sorriu com sarcasmo – Inveja eu tenho é daquela mulher que está com Charlotte – Direcionamos nosso olhar para Charlotte e uma outra jornalista muito conhecida em nosso meio. A mulher era muito linda e Charlotte parecia muito bem na sua companhia – De você, eu só sinto pena, pois nunca poderá ficar ao lado de Charlotte como aquela mulher.

       Agatha disse e depois saiu.

       Acho que ela só havia ido até mim para tentar me abalar.

       E bom... havia conseguido.

       Após Agatha ir ficar com quem suspeitei ser seu marido, eu fiquei lá parada somente observando Charlotte conversando com a tal mulher.

       Charlotte estava sorrindo muito, isso de alguma forma me deixou com muito ciúmes e achando que talvez Agatha pudesse estar certa.

       A mulher que eu gosto nunca ficaria comigo ali como estava com aquela mulher.

       Charlotte notou meus olhares insistentes sobre ela.

       Eu não consegui me controlar nesse momento, uma lágrima escorregou pela minha face.

       Notei a feição de Charlotte começando a ficar preocupada.

       Como não queria incomoda-la, eu comecei a andar em direção a saída.

       Eu não queria mais ficar naquele lugar.

       Como ainda sentia dificuldade para me equilibrar, meus passos não conseguiam ser rápidos. Nisso, alguém me acompanhou antes de eu chegar até onde meu carro estava estacionado, e eu passei a sentir uma mão macia tocando meu braço.

       - Para onde você está indo?

       Era Charlotte...

       Eu não consegui dizer nada, pois estava tentando engolir meu choro.

       - O que houve, Margareth? – Ela perguntou e eu tentei não olhar para ela – Olha para mim – Pediu carinhosa.

       - Eu não te mereço – falei e meu choro passou a vir de uma forma descontrolada.

       - Margareth, de onde você tirou essa barbaridade? – Charlotte me abraçou e eu coloquei minha cabeça sobre seu ombro.

       - De nenhum lugar – Não quis falar sobre a conversa que havia tido com Agatha – Eu estou dizendo a realidade... eu não te mereço... Eu não sou nada perto de você – Passei a soluçar e ela me abraçou forte nesse momento.

       - Nunca mais volte a dizer isso – Ela segurou minha cabeça com suas mãos e me fez lhe olhar em seus olhos – Você é uma mulher incrível, Margareth.

       - Incrível o quê, Charlotte? – Me afastei.

       Meu peito esquerdo parecia doer muito.

            Uma dor que não era física, era muito maior do que isso.

            - Não tenho nada para te oferecer... Você é a editora-chefe do World e eu sou uma simples jornalista tentando sobreviver em um meio de tanta gente boa – virei de costas para ela e desabafei.

            Eu não tive coragem de dizer aquelas palavras lhe olhando nos olhos.

            Charlotte nada disse.

            Ficou em total silêncio.

            Até cheguei a pensar que ela estava concordando com o que havia dito.

            Isso fez eu chorar ainda mais.

            - O que preciso fazer para você acreditar que sinto muito orgulho da namorada que tenho – Charlotte me abraçou por traz – Você é linda, inteligente, carinhosa, uma filha incrível, uma namorada maravilhosa... Quer que eu fale mais adjetivos para definir você?

       Fiquei em silêncio.

       Meu corpo passou a tremer de tanto nervosismo e Charlotte me abraçou ainda mais forte.

       - Você é a mulher mais linda dessa festa... não estava mais aguentando te ver e não poder te dizer isso – Deu uma pausa – Eu te amo, Margareth, nunca duvide disso.

       - Mas eu sou...

       - Não diga mais nada se for na intenção de mudar a imagem que tenho de você – Ela disse e eu me calei.

       Ficamos então em silêncio.

       Estávamos na rua, Charlotte abraçada a mim.

       Conhecidos passavam e ela não parecia ligar.

       - Não tem mais medo de alguém nos ver juntas? – Indaguei.

       Charlotte riu.

       - Medo do quê? Todos já sabem, Margareth, não temos mais nada a esconder.

       - Mas você não queria que ninguém soubesse.

       Fiquei muito confusa.

       - Besteira, olha aqui – Virei de frente para Charlotte – Sabe qual é meu medo, Margareth? É te perder... não ligo mais para o resto.... para o que as outras pessoas vão pensar, pois já perdi tempo demais tentando esconder o que sinto e vejo agora que, todo esse tempo, eu podia ter sido muito feliz e eu não sabia.

            - Desculpa, como sempre, eu só vi o que eu queria ver – Disse envergonhada.

            - Tudo bem – Ela sorriu e segurou em minha mão – Vamos voltar para a festa?

            - Ah não!

            Não queria mais voltar para aquele lugar... eu iria ficar sozinha. Não queria mais ficar assim.

            - Prometo que vai ser diferente – Ela ofereceu o seu braço para mim e sorriu.

            - Diferente como? – Segurei em seu braço.

            - Surpresa, meu amor, surpresa – Sorrimos para a outra e começamos a andar a passos lentos até a entrada.

            No caminho, nós nos deparamos com várias pessoas.

            Charlotte começou a me apresentar como sua namorada.

            Fiquei tão são jeito, pois eu estava com Charlotte... Ela estava comigo.

            As pessoas olhavam surpresas... Não por eu estar namorando Charlotte, mas por ela estar me apresentando a todos como sua namorada.

            - Você não tem medo? – Perguntei quando ela decidiu dançar comigo.

            Ela segurou firme em minha cintura, puxando meu corpo para mais perto do seu.

            Neste momento, notei que todos na festa nos olhava.

            Meus colegas de trabalho...

Senhor Borges que não parecia nada surpreso por nos ver juntas...

            Agatha, aquela cínica...

            Arnold batia palmas todo orgulhoso.

            As pessoas no salão abriram um espaço para que nós duas pudéssemos dançar.

            Minhas pernas tremiam... Nunca havia chamando tanta atenção como naquele momento.

            - Não tem medo? – Perguntei quando ela juntou ainda mais nossos corpos.

            Ela riu... eu insistia demais naquela pergunta.

            Charlotte parecia não ligar para nada que estava acontecendo ao nosso redor.

            - Você já sabe qual é o meu maior medo... Acho que não preciso mais repeti-lo.

            - Então...

            - Não precisa dizer mais nada.

            Me calei e só passei a sentir o meu corpo sendo guiado por ela.

            Tudo que estava acontecendo parecia ser um sonho e eu não estava querendo acordar.

            Nos beijamos...

            Comecei a ouvir as pessoas batendo palmas, mas não foi isso que fez o meu coração bater mais forte, foi o que ouvi no meio de tudo isso.

            - Te amo, Margareth, você é a minha paixão secreta que hoje resolvi revelar a todos.

 

 

       Fim ^^

 

 

 

 

 

Fim do capítulo