Tempestade por Ana Pizani
Capítulo 10 - Surpresas
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Ah, o dia seguinte. Que caos se instalou naquele apartamento numa manhã linda e quente.
Luíza havia chegado de viagem às seis da manhã e não fez questão nenhuma disfarçar isso. Sem fazer ideia do que havia acontecido na noite anterior, abriu portas e janelas gritando e pulando nas camas de todo mundo com um sorriso lindo.
_ Aline, acorda! Vamos, saudade de tomar o seu café quentinho!
Aline levantou sem – graça na cama de Débora com uma Rosa com os braços cruzados e cara fechada. Rosa estava na porta do quarto parada. É claro que Luíza já havia a acordado.
Pobre, Luíza! Se ela soubesse as onças que estava prestes a enfrentar.
Aline passou por Rosa sem nem sequer olhá-la. Entrou na cozinha seguida pelas outras garotas. Enquanto fervia a água, Luíza contava as novidades da viagem rápida, mas bastante agitada.
_ Vocês tinham que ver o lugar da festa. Maravilhoso! Nunca havia ido a um casamento assim. Três dias de festa sem parar. Eu não sabia mais o que beber ou comer. Não saí da piscina porque parecia que havia dois sóis naquele céu de tanto calor.
O silêncio era gutural.
Aline serviu o café para todas e sentou-se para comer um pão. Nem precisou terminar de sentar para escutar a voz de Rosa:
_ Senta no colo de Débora, Aline, Não precisa se fazer de rogada.
Aline nem conseguiu falar nada, não teve tempo. Débora tomou-lhe as dores.
_ Ora, faça-me o favor. Que papelão este que você escolheu para si, Rosa. Deixe de ser tão ridícula. Primeiro você finge ser minha amiga e agora na primeira oportunidade, trans* com a Aline.
Luíza engasgou com o café e Aline a segurou pelos braços enquanto ela tossia. Ficou vermelha, sem entender nada e assim que conseguiu falar, soltou:
_ Quem transou com quem?
_ Luíza, não foi nada disso que você está pensando. _ Aline tentava segurar a rédea da situação, mas não conseguia. _ Enquanto você esteve fora eu e a Rosa meio que ficamos.
_ Ficaram? Mas a Rosa é hetero ou era? Aline, você parece uma feiticeira.
Aline riu, só mesmo Luíza para conseguir fazer piada daquele caos.
_ Não é motivo para piadas, Luíza, isso foi uma traição dessa falsa para comigo. Ela sabe que eu amo a Aline e sabe que eu estou não estou com ela ainda por causa desses mil problemas que eu tenho na família.
_ Para de desculpas, Débora, se você amasse mesmo a Aline estaria com ela como eu estive ontem e olha, foi maravilhoso. Sério mesmo. E ao contrário de você, eu estou apta a assumir uma relação com ela.
Luíza levantou-se da mesa com a xícara na mão:
_ Parem agora mesmo com essa guerra ridícula. Vocês deveriam se envergonhar. Se há um problema para ser resolvido, com toda a certeza iremos resolver, mas não assim. Nos conhecemos há unos quinze anos, sei lá e não será por causa de um problema amoroso que vocês irão destruir tudo. Sinceramente, acho melhor vocês pararem agora mesmo senão eu vou sair dessa casa e não volto mais.
Débora e Rosa pararam de discutir e ficaram olhando atônitas para uma Luíza pra lá de brava. Aline sentiu-se super mal por causa daquele clima todo e não sabia como agir. Teve vontade de sumir dali naquele momento.
_ Desde aquela época na escola, por causa daquele garoto que vocês duas pegaram e queriam namorar eu não me lembro de uma discussão daquelas. O nível era outro, não envolvia tantos detalhes e tanta baixaria. Vocês conseguiram se superar. E olha, Aline, sinceramente, que caos você causa hein? Eu não posso ficar fora três dias que você pega todo mundo da casa. Meu Deus!
Aline quis rir, mas se segurou. Sabia que Luíza falava brincando com ela, mas ainda assim estava consciente da sua responsabilidade naquela confusão e por isso, resolveu soltar uma notícia que estava louca para contar há tempos:
_ Eu vou me mudar.
_ O que?_ Rosa quase gritou.
_ Como assim? _ Débora quis saber.
_ Eu estou pensando nisso há tempos e surgiu uma vaga num pensionato aqui nesta rua, naquele prédio ao lado da padaria. E por isso eu fechei o negócio com o dono de lá há alguns dias e estava para contar, mas esperando a Luíza voltar e as coisas se acalmarem.
_ E você acha que essa situação é alguma coisa calma para essa notícia? Ninguém aqui gostou disso, ainda mais com esse incêndio inteiro acontecendo dentro desta casa. _ Luíza estava muito triste.
_ Eu sei disso, meninas, sei que não querem, eu também não queria, mas desde o meu lance com a Débora eu comecei a pensar em me mudar. Não sei se vão me entender, mas agora com esse lance com a Rosa acho que vai ficar quase que impossível conviver aqui. Não quero causar mais dano para vocês, só Deus sabe o quanto eu sou grata por tudo e nem sei como retribuir tudo o que vocês fizeram por mim. E afinal de contas, eu estou me mudando de casa, não de cidade. Ainda continuarei aqui e vocês também poderão me visitar, certo?
Débora não sabia o que dizer. Agora isso. Logo agora que ela começava a pensar que poderia assumir aquela relação, que poderia se olhar ao espelho sem sentir vergonha de si mesma, Aline estava caindo fora.
_ Olha, Aline, eu não estou satisfeita com essa situação, mas também não queria estar na sua situação. Sou amiga das duas de forma igual e você hoje pertence a esse ciclo de amizade, mesmo que tenha pegado todo mundo e de alguma forma eu saí ilesa.
Todas riram. Luíza conseguia descontrair o ambiente mais hostil do mundo.
_ Eu acho que vai ser melhor para todas nós. Eu também preciso desse tempo para mim, para ajeitar a minha vida. Com a minha formatura batendo à porta, não posso vacilar. Preciso arrumar um emprego melhor, de preferência na minha área e quem sabe um dia, vocês possam me visitar na minha casa própria, não é mesmo? Ainda vamos continuar nos vendo, só que com menos freqüência.
Aline abraçou Luíza e apertou a mão de Rosa e Débora. Foi até o quarto arrumar suas coisas enquanto pedia um Uber. Não demorou para terminar de arrumar, já que tinha poucas coisas.
Odiava despedidas, mas foi obrigada a fazê-lo. Abraçou novamente Luíza, Rosa e por último, Débora.
Elas a acompanharam até o carro e entraram quando o carro já estava longe.
Fim do capítulo
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