-Oi - minha voz saiu fraca - seus olhos subiram até encontrar os meus… Senti um frio na barriga, Elise poderia estar diferente, mas o efeito que ela tinha sobre mim ainda era aquele mesmo de anos atrás. Ela semicerrou os olhos.

- Como me achou- travou a mandíbula - o que você quer? - Disse ela num tom ríspido que me feriu de imediato. 

 -Eu vim te ver - Ignorei a primeira pergunta.  Ela virou a cabeça em direção a entrada da creche, como se verificasse se alguém estava nos vendo, voltando rapidamente a cabeça em minha direção. - eu precisava… - antes de eu continuar Elise agarrou meu braço fortemente e me puxou pra um canto da esquina, e não me soltou mesmo eu reclamando.

-Agora fale - disse ela num tom frio, soltando meu braço.

-Eu… - não sabia o que falar, de todas as reações que eu imaginei, aquela era a pior de todas - Eu precisava muito te ver … eu não consigo mais ficar longe de você, realmente não sei mais o que fazer.

- Olha, Victoria… - Era raro ela me chamar assim - Eu não sei se você entendeu bem, mas o que a gente teve no Brasil foi apenas uma noite. Eu deixei claro isso pra você. - A frieza daquelas palavras era horrível.

-Eu sei, mas eu não consigo mais evitar, você não sai da minha cabeça. - Elise riu de deboche, mas eu vi em seus olhos um certo desespero, ela se virou e olhou em direção a entrada da escola.

-Você não acha que é um pouco tarde pra isso? - toquei em seu braço e ela se virou em minha direção encolhendo o braço, como se fugisse do contato. 

-Nunca é tarde pra reconhecer os erros, e eu estou aqui na sua frente pra pedir perdão. O que eu fiz foi imperdoável, eu te deixei sozinha quando você mais precisou, mas eu estou aqui pra corrigir isso.

-Victoria, eu não estou mais sozinha, e você sabe disso, e  o tempo já se encarregou de fechar essas feridas, se quer o meu perdão você o tem...

-Eu não quero só o seu perdão... Eu quero você! - falei com toda coragem que ainda tinha em mim, ela apenas franziu o cenho, inflou as narinas com irritação.

-Como você é egoísta! Não vê que eu consegui me recuperar, e agora que tá tudo bem você aparece na minha vida de novo? Será que você não está satisfeita? Você tem sua vida, seu trabalho, assim como eu também tenho a minha vida, meu trabalho e minha família. Por favor, me deixe em paz, deixa eu viver! - Elise se virou rapidamente e começou  a andar em direção da entrada da escola. Fiquei alguns segundos sem reação, eu realmente não sabia o que fazer, ver ela saindo era a última coisa que queria, corri em sua direção e agarrei seu braço novamente, puxando pra virar em minha direção.

-Eu ainda não terminei, você não tá entendendo! - Eu disse já num tom meio alterado.

-Não Victoria, você que não está entendendo, agora por favor solta meu braço, as pessoas estão começando a olhar pra nós. - Algumas crianças já saiam da escolinha, acompanhado com os pais e alguns professores, olhei no fundo dos olhos dela, eu sabia que aquela era minha última cartada.

- Por favor… Não faz isso comigo… Eu te amo! - Ela arregalou os olhos e por alguns segundos eu vi que ela ainda sentia o mesmo por mim, eu pude ver aquele mesmo fogo ardendo, e a gravidade que me puxava pra ela, por apenas alguns segundos…

-Quem é essa, Mamãe? - A pequena menininha loira surgiu por trás de Elise e puxava sua calça, tinha uma expressão de medo e um toque de curiosidade, Elise deu um leve salto de susto, mas incrivelmente ajustou sua postura, voltando a expressão séria e até um pouco ameaçadora.

-Não chega perto, Joy essa moça é uma psicótica, vem dá o braço pra mãe. - Aquilo foi como um tapa no meu rosto. A expressão de medo tomou conta do rosto delicado da menina, que quase que de imediato abraçou Elise, que agarrou e a suspendeu. As duas saíram, eu fiquei inteiramente congelada.  Joy de vez em quando olhava pra trás, meio que pra certificar que eu não estava seguindo. 

Não sei quantos minutos fiquei ali, até vê-las sumir, eu poderia ir até a casa dela e obrigar ela conversar comigo, dizer a mulher dela que ela tinha sido traída, fazer com que elas se separassem, eu não sei. Entrei no carro e comecei a pensar em todas as possibilidades, quando lembrei do rosto de medo da menininha.

-Meu Deus, no que estou pensando? Eu sou um monstro! - Eu não podia fazer aquilo, Elise agora tinha uma filha, uma esposa. O que deu na minha cabeça de andar meio mundo pra ver o que eu já sabia? - Como eu sou idiota! - coloquei a mão na testa ainda cortada e as lágrimas desceram sem eu permitir. Não havia mais nada a ser feito.

_x_

Devia ser umas três da manhã, não sabia mais, eu havia bebido mais que a conta, nem sabia em qual bar eu estava mais, já era o segundo da noite, disso eu lembrava, também me lembrava de vários homens dando em cima de mim, e uma mulher de biquini dançando no pole-dance.

-Mas que porr* é essa? - Lembro de ter falado isso e dado uma bela risada, aquilo era grotescamente lindo, mas eu não conseguia muito ter o domínio das minha ações. Meu telefone tocou, atendi direto.

-Oi Vic!- a voz feminina falou.

-Oi quem fala? - minha voz enrolada demorou a completar a frase.

-Sou eu - disse a voz em português e nítida de Carol - Não acredito que você está bêbada nesse estágio, com quem você está? - Sorri descontroladamente

-Ela tem uma filhinha, Carol! linda, e a mulher dela e linda pra caralh*!

-Vic! Vic! Me escuta! onde você está?

-hahaha eu não sei! tem uma mulher dançando de biquini na minha frente, ué ela tirou a parte de cima! ahahaha

-Puta que pariu! Victoria, manda sua localização agora que eu vou mandar alguém te pegar.

-Mas por quê aqui tá maravilhoso - A dançarina rebol*va bem na minha frente.

-Ai meu Deus! só manda a droga da localização agora! - Ela disse num tom autoritário.

-ok senhora general! - desbloqueei a tela do celular e mandei a localização, não sei bem se certo, afinal tava tudo meio errado, não sei se desliguei o telefone, ou não, mas a visão daquela mulher tava muito mais interessante que uma conversa com a Carol  na minha mente ébria. continuei a beber, e eventualmente não sei o que aconteceu, só quando acordei num local totalmente estranho era uma quarto de motel, minha cabeça estava terrivelmente pesada.

-Porr*!!! O que eu fiz? - tirei o lençol que me cobria e vi que estava sem nenhuma roupa. - Caralh*! Caralh*! - Olhei em volta não havia ninguém ao redor, na janela o sol parecia estar a pino. Levantei rápido e minha cabeça girou, e eu senti uma ânsia enorme de vomitar, corri pro banheiro, mesmo meio trôpega e vomitei no vaso.Como aquilo era horrível. Ouvi a porta do quarto abrir e fechar.

-Merda! Merda! - uma silhueta atravessou a porta e ficou me encarando. Virei lentamente meu corpo enquanto escondia meus seios e partes íntimas, por alguns segundos eu vi os leves reflexos de Elise se metamorfosear nos traços de outra pessoa conhecida…

-Estou começando a pensar que você precisa entrar nos Alcoólicos Anônimos - falou ela estendendo um saco, onde reconheci minhas roupas.

-Chris?! o que você está fazendo aqui???  

Fim do capítulo