O dia amanheceu nublado e frio na capital baiana, fazendo Sophia voltar a pensar se ia mesmo para a praia. Não sabia ao certo o motivo, mas estava com uma euforia interna, como se algo lhe apertasse o peito.

No trabalho foi um problema atrás do outro, parece que tudo tinha resolvido dar errado naquele dia, nem conseguiu parar para almoçar. Quando enfim terminou seu expediente estava exausta. Olhou o celular e tinham várias chamadas perdidas de Romero, que já tinha mandado recado para ela por Manu, pedindo para que ligasse para ele.

– Qual o problema?

– Enfim você apareceu! Porque não me atendeu?

– Gato, aquilo lá estava uma loucura hoje, acabei de sair, estou exausta.

– Sinto ser estraga prazer, mas vi por aqui que ainda não arrumou nada, você tem duas horas para chegar em casa, arrumar suas coisas e ficar pronta para sair.

– Sério? – perguntou cansada – Achei que ainda ia conseguir dormir um pouquinho quando chegasse.

– Nem sonhando. Mari adiantou a viagem e me falou cedo, mas te liguei mil vezes e você não atendeu, poderia ter ao menos se preparado psicologicamente. Ela quer sair daqui no máximo as 16h30.

– Acabei de perder o ônibus, que maravilha! Não vou me irritar, – respirou fundo – quando chegar em casa vejo o que faço. Onde você está?

– Desculpa amiga, não queria te fazer perder o buzu. Tô em casa.

– Não foi culpa sua, saí me arrastando da academia. Nem cheguei no ponto ainda, ele passou por mim. Prepara alguma coisa para eu comer, por favor. Estou morrendo de fome.

– Pode deixar. Qualquer coisa me liga.

Beatriz voltava do passeio com a família com a sobrinha dormindo em seu colo. Aproveitou que foi levar a garota para o quarto e resolveu dormir também, estava cansada e sabia que se voltasse para perto da irmã e da mãe elas inventariam alguma novidade para fazerem.

– Ei, bora folgada, acorda. – Yasmin falava fazendo cocegas na irmã.

– Me deixa dormir, Min. – agarrou o travesseiro dizendo ainda sonolenta: – Sai daqui.

– Tudo bem, – levantou sorrindo: – vou deixar a Sophia voltar para Salvador, já que a anfitriã dela está ocupadíssima para recebe-la.

Essas palavras tiveram o poder de acordar a advogada que sentou na cama dizendo apressada:

– Volta aqui. Que história é essa, você está brincando, não é?

– Até poderia estar, mas...

Yasmin foi interrompida por uma Mari agitada que entrou no quarto gritando:

– Você é louca, como é que nos convida e ao invés de ficar esperando vai dormir. Só você mesmo viu Bia.

Diante da agitação da amiga a única coisa que conseguiu dizer foi:

– Quem veio com você?

Mari olhou de Yasmin que deu de ombros, para Beatriz, balançou a cabeça inquieta respondendo:

– Olha, amiga, eu estou bem. Fiz uma boa viagem, e pegamos esse temporal que está caindo agora aqui, desde que saimos da capital.

– Temporal, sério, nem sabia que estava chovendo.

– Talvez não saiba porque está trancada neste quarto com as janelas fechadas e embaixo desse lençol – Yasmin puxou o lençol para irrita-la.

– Para de criancice, tirou a tarde para me encher foi? – levantou fingindo uma leve irritação. – Mari, estou esperando a sua resposta.

– Seria mais bonito perguntar se a Sophia veio comigo, não acha?

– Pode ser, mas não me referi a ela somente.

– Pra cima de mim Bia, para com isso. Tá toda cheia de não me toque desde que entrei aqui. Bom, a garota está lá embaixo, sua mãe acabou de servir uma belíssima mesa de café da tarde para nós, e se não fosse a Min, você ainda estaria aí babando esse travesseiro.

– Porque vocês não falaram logo que ela estava aqui? – levantou de um pulo correndo para o banheiro.

Yasmin e Marília se divertiam com a pressa dela em se fazer apresentável para receber Sophia.

– Vão mesmo ficar me gastando? – perguntava enquanto passavam pelo corredor que dava acesso a cozinha.

– Quero ver como será esse reencontro! – a irmã disse gargalhando sendo acompanhada por Marília que não parava de rir desde que saíram do quarto.

Depois da “corrida” para estar ali, não tinha como voltar atrás, agora era levantar a cabeça, afastar os pensamentos ruins e curtir o final de semana. Estava decidida, se Beatriz não tocasse no assunto “ex”, ela também não tocaria, ao menos não em meio ao final de semana, quando voltassem para Salvador resolveria isso.

Os pais de Bia a receberam com muito carinho, se sentiu muito bem na presença deles e se perguntou por onde andava sua anfitriã, quando viu uma garotinha que muito lembrava ela correndo pela casa com um ursinho nas mãos.

– Ei pequena, tudo bem? – perguntou sorrindo enquanto se aproximava da criança.

– Tudo. – a menina a olhou interessada e não demorou a perguntar: – Quem é você?

– Eu sou Sophia, – se ajoelhou diante da pequena estendendo a mão – e você, como se chama? Seu amiguinho tem nome?

– Eu sou Inguid e ele – balançou o ursinho nos braços apertando os dedos de Sophia – é o peludo.

Sophia sorriu diante da empolgação da menina.

– Que lindo o seu nome. O peludo também tem um nome muito bonito. Vocês são amigos a muito tempo?

– Titia Cella deu ele a eu a um tempão. – fez um gesto abrindo os braços para mensurar o tempo em que ela tinha a pelúcia.

– Aí está você, – pegou a neta no colo – sua vó está procurando vocês duas. – Sophia olhou assustada para Pedro. Que sorriu com o olhar que recebeu dela. – Ind, – segurou a mãozinha da neta – você sabia que essa moça é amiga da tia Bia?

– Titia Bia, eba.

– Sophia, minha esposa nos espera na cozinha. Me acompanhe por favor.

Na cozinha, Nicole os esperava com uma belíssima mesa de café da tarde, apesar do avançar das horas. Não demorou muito e Renato se juntou a eles, conversavam amenidades quando o interfone tocou, Pedro levantou para atender e não demorou muito para Douglas e Daniela se juntarem a eles.

O olhar de Daniela era de indignação, e não tentou esconder o que ia a mente:

– Então você teve mesmo a audácia de vir. Quanta cara de pau, hein. Nunca imaginei isso de você Sophia.

Nicole lhe dirigiu um olhar confuso, assim como o próprio Douglas, que puxou o braço da mulher delicadamente para lhe chamar atenção, porém, alguém foi mais rápido que ele.

– Assim como você, ela foi convidada por mim. Mas agora estou começando a duvidar que tenha feito o certo ao fazer isso. – Beatriz disse sorrindo.

A cozinha era pura tensão, todos se mantinham calados, vendo o dialogo das duas mulheres.

– Desculpa, Bia. – sorriu envergonhada – Não sabia que estava aqui.

– Imaginei mesmo isso. Mas fique você sabendo que não tolero destrato, pior ainda dentro da casa dos meus pais. Portanto, seja educada com os meus convidados, ou então serei obrigada a te convidar a se retirar.

Beatriz falava sorrindo, como se estivesse comentando alguma coisa simples com uma amiga apenas. Sophia olhava a cena admirada, imaginava que a postura de Daniela tivesse a ver com o “apoio” dela a ex esposa de Bia.

– Olha Bia, não precisa me tratar assim. Se tem alguém errado nisso tudo aqui é você. Desculpa, mas a Marcella não merece essa sua canalhice.

Sophia viu Marília encostar na amiga, que apenas segurou sua mão e a olhou balançando a cabeça.

– Caso não se lembre, Marcella é minha ex esposa. Logo, não estou sendo canalha com ninguém. Além do mais, convidei vocês para nos divertirmos aqui. Não para falar do passado, o que passou, passou. Vamos nos concentrar no presente, ou melhor, nessa linda mesa que mainha preparou para nós. – beijou os cabelos da mãe e se dirigiu a Sophia beijando seu rosto enquanto dizia baixinho no seu ouvido: – Desculpa ter te feito passar por esse desconforto.

Sophi retribuiu o beijo com um lindo sorriso, Bia sentou ao seu lado ajudando-a se servir. Depois de alguns minutos a advogada começou a falar que tinha passado tanto tempo os esperando que acabou dormindo. Os presentes se aprofundaram no assunto e logo o clima estava leve com todos sorrindo, ou melhor, quase todos, hora ou outra Daniela ainda fuzilava a garota com o olhar, mas mesmo assim ela não se sentia inibida, Beatriz estava ao seu lado, e depois do que viu mais cedo, com toda certeza, ela não deixaria Dani destratá-la novamente.

Fim do capítulo