Capítulo 21 - Tartarugas
Beatriz acordou cedo, encontrou a mãe na cozinha preparando o café da manhã. Enquanto a ajudava a mãe perguntou:
– Seus amigos chegam hoje?
Mesmo achando a pergunta estranha, Beatriz respondeu sorridente:
– Acredito que sim, não sei ao certo o horário. Pelo o que a Mari me disse, não falou com o irmão ainda.
– Virão apenas eles 3?
Aquilo estava mais parecendo um interrogatório, se perguntava de onde tinha surgido esse interesse de Nicole em saber quem mais estaria ali como eles!
– Não, além deles virão o namorado da Mari, e uma amiga minha.
Sem se dar conta sorriu de orelha a orelha ao falar que a tal amiga que a minha mãe não conhecia, estaria ali também. Ato esse que não passou despercebido por Nicole. Que como a filha mais velha também estava com dúvidas se a advogada tinha ou não voltado com a ex esposa. Despreocupada perguntou:
– Eu conheço essa tal amiga?
Percebendo a cautela com a qual a mãe perguntou, se deu conta que ela estava achando que Marcella tinha sido convidada para passar o final de semana com eles.
– Não teria sido melhor perguntar o obvio?
– Que seria?
– Essa tal amiga é a sua ex esposa? – sorriu.
– Você entendeu a pergunta. Agora pare de enrolar e responda.
– Não se preocupe, ela não foi convidada.
– Graças a Deus. – sussurrou para si.
– Disse alguma coisa?
– Nada! – Apesar de nunca ter tido nenhum problema com Marcella, passou a olhar a nora com outros olhos depois que ela casou com sua filha. Beatriz parecia uma mulher sem vida própria após o casamento, só fazia o que a esposa queria e quando ela queria. Até para visita-los tinha que ser na companhia dela. Sair com os amigos era algo quase inexistente também. Não entendia bem o porquê desse comportamento da filha, se tantas foram as vezes que encontrou a nora em alguns lugares com amigos, sendo que sabia que Beatriz estava em casa sozinha. – Filha, posso te fazer uma pergunta?
– Claro.
– Sente falta da Marcella?
Aquilo sim era uma verdadeira surpresa. Sua mãe nunca fora de se intrometer em suas relações, quanto menos fazer perguntas desse tipo.
– Bom, – terminou de arrumar a mesa e encarou a mãe: – confesso que já senti muita. Agora não mais. Estou reaprendendo a viver sem ter alguém para “proteger”, digamos assim, 24h por dia. Qual o real motivo por trás dessa pergunta mesmo?
– Uma dúvida que surgiu. Lembro que ficou arrasada com o fim do relacionamento de vocês e agora menos de ano depois você fala que está namorando, fiquei com medo de que estivesse fazendo isso para esquecê-la.
– Calma aê, – sorriu fazendo a mãe olhá-la intrigada – não estou namorando. Estou no processo de conhecer a moça ainda, se der tudo certo durante o final de semana, quem sabe não vire namoro. Mas, uma coisa é certa, ainda não é namoro.
– A patinha está enrolando a moça, mainha. – Yasmin chegou na cozinha cumprimentando-as com um beijo no rosto.
– Bia! – Nicole a repreendeu com o olhar.
– Mentira dela, para de armar Min. Vou acabar apanhando por conta dessa sua brincadeirinha.
– Ficou com medo, não é! – Gargalhou.
Elas ficaram por ali conversando sobre como Beatriz deveria se comportar para que ao final do fim de semana ela pudesse pedir Sophia em casamento. As ideias de Yasmin de como deveria ser o pedido oficial era uma mais maluca que a outra.
Não demorou muito para que o pai, o cunhado e a sobrinha da advogada se juntassem a eles. O café da manhã em família não poderia ter sido melhor. Vendo a família reunida naquela algazarra, sua mente viajou rapidamente para a pessoa que ela estava querendo que aceitasse ocupar aquele lugar vazio ali na mesa.
– Patinha, terra chamando – estalou os dedos na frente de seus olhos – Bia, acorda!
– O que aconteceu com ela? – seu pai perguntou.
O cunhado que estava ao lado dela, tocou seu braço, e nenhuma reação, só quando ele tentou tirar de suas mãos a xícara que a advogada segurava, foi que ela voltou de sua viagem com Sophia.
Percebendo que todos a olhavam com surpresa, perguntou inquieta: – O que houve gente?
– Cunhada, – tentava conter o riso – nós que perguntamos. O que houve contigo?
– Nada, ué. – afirmou envergonhada.
– Conta pra gente patinha, somos sua família, não vamos te julgar. Onde esteve enquanto te chamávamos?
Yasmin estava se divertindo com tudo aquilo, a cara de “não faço ideia do que está acontecendo” de Beatriz era a melhor do mundo.
– Desculpa gente, não prestei atenção na conversa de vocês.
– Isso já percebemos, filha. – Nicole respondeu tentando conter o riso como o genro fez anteriormente.
– Vocês estão deixando a Bia envergonhada, melhor mudarmos o assunto! Vamos na praia hoje?
– Puxa saco é um caso sério, deixa a gente curtir com a Bia, Rafa. Não é sempre que podemos desfrutar disso. – Piscou para a irmã que bufou.
– Titia quero ver as tortugas. – Ingrid falou chamando a atenção de todos.
– Salva por um triz, maninha.
– Ô meu amor, chama a sua mamãe, ela adora esses passeios.
– Nem vem, você que fica ligando para ela pra falar de tartarugas, eu já a trouxe para a Bahia. Pode levar ela para vê-las, ou então ela vai passar a próxima semana toda falando delas, que queria ter visto, que está com saudade e tudo mais.
– Por favorzinho titia, – a garota pediu fazendo bico de peixinho – bora.
– Não resisto a essa carinha fofa, – puxou a sobrinha para um abraço apertado – vamos sim, meu amor. Deixa a chata da sua mamãe aí. Ela vai cuidar do almoço com a vovó.
– Para, nem vem com essa. Você fugiu da limpeza ontem prometendo que cuidaria do almoço hoje.
– Se não percebeu, eu tive um imprevisto. – Bagunçou os cabelos da sobrinha – Preciso levar a Ind ao Tamar com urgência. Vamos escovar os dentinhos para sair amor?
– Ebaaaa, bora titia.
– Você deu corda, agora vai me ajudar no almoço.
– Mainha, me libera. A patinha não faz nada, quer só ficar batendo perna.
– Se tivesse aceitado sair com sua filha, sua irmã seria obrigada a me ajudar com o almoço, mas você cedeu a vez.
– Ind, eu te levo para ver as tartarugas, tá.
– Quero ir com titia Bia – falou abraçada ao pescoço da tia.
– É Yasmin, sinto dizer que essa batalha você perdeu. – Terminou de tirar a mesa do café com o auxílio do genro – Nosso serviço está feito, agora vamos passear um pouquinho – beijou a esposa e se despediu das filhas e da neta.
– Até mais tarde amor! – sorrindo beijou a esposa e a filha, deu um aceno de mão para a sogra e a cunhada e saiu com o sogro.
– Como sou uma pessoa muito justa, não acho certo vocês ficarem em casa cozinhando enquanto mais da metade da população da casa no momento vai passear. Vamos todas ver as tartarugas e almoçamos por lá mesmo.
– Até que não é uma má ideia.
– Gente, conheço aquele Tamar de trás pra frente, toda vez que venho para cá tenho que ir lá, já estou enjoada.
– É pegar ou largar, você escolhe! – Beatriz disse desafiante.
– Eu vou com vocês. Yasmin, se quiser você fica aqui cozinhando.
– Desisto, se não posso com vocês, me junto não é mesmo.
Já no Projeto Tamar o passeio não poderia ter sido melhor. A menina estava encantada como se fosse a primeira vez que estivesse indo ali. Olhava atentamente comentando sobre tudo o que via. Beatriz estava se divertindo muito, adorava a sobrinha, tiraram muitas fotos pelo local, quando o passeio estava terminando, postou uma foto no status do WhatsApp e guardou o aparelho.
A manhã entretida com a sobrinha a fez esquecer do “bom dia” de todos os dias, que ainda não tinha chegado em específico naquela sexta de Sophia.
Marcaram de encontrar os rapazes em um restaurante para almoçar, Ind estava maravilhada com o passeio e as conversas giravam em torno das tartarugas e das peripécias dela.
Fim do capítulo
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