Enquanto Beatriz dormia o sono dos justos, Sophia se virava inquieta em sua cama. Depois de perder as contas de quantas vezes já tinha apertado as pálpebras na tentativa de pegar no sono. Levantou, puxou a porta do quarto com tanta fúria que quase fez a amiga sair correndo de medo da sala.

– Que susto você me deu, aff.

– Desculpa, não sabia que ainda estava acordada.

– Cheguei tem pouco tempo e sentei aqui enquanto comia um sanduiche. – mostrou o lanche a ela – Quer um?

– Não, estou sem fome. – Abraçou uma almofada se jogando triste no sofá.

A amiga percebendo seu desanimo perguntou preocupada:

– O que você tem?

– Nada. – deu de ombros, já estava levantando, mas foi detida por Manu que segurou seu braço gentilmente.

– Esse teu cenho franzido diz outra coisa. Vamos, fala.

– Melhor irmos dormir. Preciso descansar, dormi pouco na noite passada.

– Sô, eu te conheço. Sei que alguma coisa não está certa. Falando nisso, porque foi mesmo que me pediu para atender aquela ligação mais cedo?

Percebeu naquele momento que por mais que tentasse não conseguiria fugir da amiga tão fácil assim, além do mais, estava mesmo precisando conversar.

– Não estava preparada para falar com a Bia naquele momento.

– Essa Bia é a mesma que nos apresentou na boate, não é?

– É sim.

– Mas não foi com ela que você dormiu ontem e que te mandou flores hoje por ter saído daqui sem te dar tchau? – perguntou sorrindo, tentando chegar a uma conclusão plausível.

– Sim, ela mesmo. É que sei lá, tá tudo muito estranho.

– Estou um pouco confusa, até eu sair do trabalho hoje você estava certa de que ia viajar amanhã, não importava o horário. E agora está com essa indecisão. O que está acontecendo realmente?

Sophia narrou para a amiga a estranha conversa que teve com Daniela, horas antes de pedir para que ela atendesse a ligação de Beatriz. Manuela escutou atentamente o que amiga dizia, inclusive o relato do momento em que o convite aconteceu por parte de Bia, coisa que ela já tinha escutado algumas vezes antes, mas sabia que a amiga estava insegura quanto ao próximo passo que deveria dar.

– Olha, sei que não está numa situação confortável mediante a tudo o que acabou de me contar, mas precisa tomar uma decisão. Ou então vai viver com essa dúvida sabe-se lá até quando. Precisa decidir logo.

– Opa, alguém falou em decidir? Espero muito que seja o que vamos almoçar amanhã. – Gargalhou se jogando no sofá em que a irmã estava tirando seu par de tênis.

– Para de ser espaçoso cara, vai tirar esse tênis pra lá, vai.

– Parece que alguém não namorou hoje. – Disse debochado – E então, falem-me da tal decisão, o que está acontecendo aqui para vocês estarem com essas caras de bunda?

– Você só fala besteira, nunca vi igual. Se não percebeu, estamos tendo uma conversa séria aqui. Se não vai ajudar, também não atrapalha.

– Credo, tu ch*pou limão foi gata! Sophizinha meu amor, diga-me o que está acontecendo por favor.

– Estava contando a Manu que estou com dúvidas se realmente devo levar o lance com a Bia a frente.

– Ué, mas tu não ia viajar para encontrá-la no final de semana, mudou de ideia foi? – Perguntou surpreso.

– Pois é, ela voltou do trabalho com essa ideia.

– Você tá fazendo pouco caso porque não lhe contei da visitinha que a Dani recebeu na academia hoje.

– Peraê, volta a fita. – fez um gesto inquieto com as mãos – O que a Dani tem a ver com a tua decisão de continuar ou não seu lance com o peixão?

– Pelo o que pude perceber hoje a tarde, ela é super amiga da esposa da Bia e deu a entender que eu estou sendo só um passa tempo.

– Poupe-me, Dani é nossa amiga, deve ter falado da boca pra fora. – Romero acrescentou se concertando no sofá.

– Ela é amiga de vocês, lembrem-se disso. Nos damos bem, mas não somos amigas. E hoje tive plena certeza disso, ela só faltou dizer para eu cortar relações com a Bia, porque ela já tinha dona. Sem falar que a própria esposa da referida, Beatriz, esteve lá hoje para ver a amiguinha dela, e por sinal é uma mulher muito grossa, totalmente diferente da Bia, credo.

– Uou, essa parte você não me contou. – Manu disse surpresa roendo as unhas da mão – A coisa tá ficando séria então. Qual o sobrenome que ela usou?

– Que pergunta mais boba Manu, parece que é maluca. A gente lá tem que ligar pra isso, temos que saber se a Sophi tá entrando em uma enrascada ou não, isso sim é importante agora.

– Tá, faz sentido o que você disse. Mas como vamos saber disso?

– Ainda não sei, deixe-me pensar... – puxou o celular do bolso – Como é o nome mesmo da irmã do Douglas?

– Marília. – Sophia respondeu mesmo sem entender o porquê da pergunta – O que vai fazer?

– Stalkear – mostrou o celular a elas com o perfil do Instagram da moça aberto – a Mari!

– O que isso tem a ver com o que precisamos saber?

– Nada! – Sorriu sem deixar de olhar para a tela. Manuela e Sophia se olhavam sem entender ao certo o que ele estava fazendo, ele parou de falar e elas já estavam inquietas. Sophia não aguentava mais aquela espera muda, estava levantando quando enfim ele voltou a falar: – Nem pense em levantar daí, estou acabando aqui e precisamos terminar nossa conversa.

– Você não sai desse celular, eu vou dormir.

– Também acho, faz meia hora que estamos plantadas aqui malmente respirando e você não fala nada. – a irmã disse irritada.

– Pronto, – colocou o aparelho de lado ainda sorrindo – terminei, quer dizer, maninha, tem como você ajustar a escala da Sophi, tipo, ela folgar amanhã e trabalhar no próximo sábado ou então ela trabalhar pela manhã, mas tem a faculdade né. Bom, vejam isso. O importante é que a Beatriz está realmente falando a verdade sobre estar separada e que já te arranjei companhia para ir pra praia.

– Que papo é esse? – Sophia perguntou incrédula.

– Conta tudo, como soube? Até eu estou curiosa agora.

– Bom, estava ali stalkeando a Mari até ela ficar on, mandei um direct pra ela me identificando como amigo da cunhada dela e seu, – fez um sinal com a mão na direção de Sophia – claro. Bati um papo com ela sobre a Bia e a tal ex, que ela deixou bem claro que detesta, e não pensem que ela usou meias palavras para isso, ela disse lá com todas as letras, palavras dela – pegou o celular ao lado e começou a ler: – “eu a detesto, não, elas não estão mais juntas tem um tempo, falei com minha amiga a pouco e ela quer muito que a Sophia vá ao seu encontro. Inclusive até me ofereci para leva-la caso ela queira”. – Deixou o aparelho de lado novamente – Acho que agora vocês entenderam tudo o que eu disse, né! E Sô, se você não for, é realmente muito besta, não perderia uma mulher como aquela jamais, e olha que eu nem gosto da fruta.

– É Sophi, o Rô foi na fonte da descoberta. Agora a decisão é sua.

Ela os olhou por alguns minutos organizando em sua mente tudo o que havia escutado de Romero, sabia que precisava arriscar o sim ou o não. Sorriu fraco perguntando:

– Vai poder mudar meu horário amanhã Manu? Falaram mais cedo no grupo da faculdade que a professora tá doente, logo, não terei aula, posso trabalhar de manhã, assim fico a disposição do horário de saída da Mari.

– Então você vai, uhuuuu – falaram juntos Romero e Manuela, fazendo uma algazarra com a amiga que ainda estava temerosa quanto a sua decisão.

– Sandra me pediu para trocar o horário dela amanhã, eu ia descer do escritório para a recepção, para não ficar com uma recepcionista a menos, mas agora não temos mais problemas, considere seu horário alterado já. – puxou a amiga para um abraço apertado – Estou torcendo por você.

– Obrigada gente, agora vou tentar dormir. Boa noite – beijou os dois e voltou para o quarto.

Ainda estava apreensiva e receosa por tudo o que tinha acontecido até ali, desde o momento em que seu olhar cruzou com o de Bia na casa de Dani até a última ligação que fizeram mais cedo. Sua mente lhe dizia para ter cautela, seu coração dizia para seguir sem medo. A quem deveria obedecer? Adormeceu com essa pergunta sem resposta em seus pensamentos.

Fim do capítulo