– Me chamou para sair pra ficar com essa cara de boba mesmo? Tá com cara de apaixonada.

– Você está muito curiosa para o meu gosto. – mais uma vez conferiu o celular e nem um sinal de Sophia.

– Está me dando uma agonia você olhando esse celular de segundo em segundo. – puxou o aparelho das mãos de Bia. – Deixa a mulher respirar um pouquinho, vai.

– Afff! Que enjoo, me deixa.

– Olha como fala comigo, garota. – disse séria. – Eu ainda sou sua irmã mais velha, me respeita, agora fala, quem é a vítima da vez? Imagino que não seja a ex, além de você ter negado mais cedo, ela também mandou mensagem perguntando se estava contigo hoje.

– O que? Desenrola essa história aí, vai.

– Primeiro, – tomou um gole do seu copo lentamente – a cerveja está geladíssima, ótima! Sim, você fala o que eu quero saber, depois conto o que rolou com a tua ex.

– Curiosa é pouco pra você. Ela me ligou também, – Yasmin a olhou intrigada – rejeitei todas as chamadas, não precisa me olhar assim.

– Enfim! – levantou as mãos em sinal de agradecimento – Já tinha passado da hora de você parar de deixar ela esfregar a felicidade da nova relação em sua cara. Besta como você é, ainda dava espaço para que ela fizesse isso constantemente.

– Obrigada pelos elogios, também te amo muito, querida irmã!

– Disponha. – gargalhou perguntando: – Vai demorar muito para contar sobre a nova vítima?

– Para de se referir a ela assim. Desse jeito parece até que estou fazendo mal a garota.

– E quem sabe se não é isso mesmo?

Encarou a irmã séria: – Por quem me tomas, Yasmin?

– Por uma boba apaixonada, que até outro dia cultuava as memórias da ex esposa biscate em casa.

– Oi? – perguntou intrigada – Me diz uma coisa, desde quando você criou esse ranço da Marcella mesmo? Porque até onde eu saiba, a senhora gostava muito da sua cunhada querida – imitou a voz da irmã ao dizer as últimas palavras.

– Fique sabendo que não tenho essa vozinha fininha! Quanto a sua pergunta, passei a ter ranço dela desde o momento que começou a brincar com os sentimentos da minha patinha, – apertou as bochechas de Bia a deixando irritada – ao meu ver, tudo o que ela fez foi muito errado.

– Cada um tem uma concepção de certo e/ou errado, Min, nossos pais nos ensinaram isso muito bem.

– Por isso falei que ao meu ver tudo o que ela fez foi errado. A começar pela separação. A mulher estava o tempo todo contigo, foi incapaz de dizer que já tinha dado entrada nos papeis do divórcio, mandou um cara que você nunca viu na vida lhe falar isso, para, muita loucura da parte dela isso. Não me olha assim, é apenas o que eu penso, e só estou falando agora, porque você estava de luto pelo fim da relação e ninguém podia falar nada dela que você se magoava inteira.

– Estou tão comovida com os seus pensamentos sobre mim, que nem vou dormir hoje.

– Deveria ter falado tudo isso naquele final de semana que mainha me fez largar tudo para vir ficar contigo, e você malmente saía do quarto para comer.

A essa altura Beatriz já gargalhava com os olhos lacrimejando, estava se divertindo com as caras e bocas que a irmã fazia ao falar do seu antigo casamento. Sabia que se aquilo tivesse acontecido antes, com certeza teriam brigado feio, detestava que se referissem a Marcella com aquele desdém que Yasmin estava empregando naquela conversa.

– Sim, acho que já chega de falar dela, não é mesmo! Cansei, já pode mudar o foco da conversa.

– Ótimo, era isso mesmo que eu queria ouvir. – Sorriu ao ver o celular da irmã tocando ao seu alcance, na tela aparecia a foto de uma bela moça sorrindo, olhou o nome e atendeu sob protestos de Bia: – Oi Sophia! Tudo bem?

– Tudo. – sentiu o tom de estranheza na voz da garota.

– Olha, como percebeu, não é a Beatriz, – ainda sorrindo tentava evitar que a irmã tirasse o celular de suas mãos – pode ficar tranquila porque sou irmã dela, tá. Meu nome é Yasmin, estava curiosa para saber o que tanto fazia minha irmã não parar de olhar o celular, por isso, confisquei o aparelho dela.

– Ah, sim, é... – deu uma pequena pausa antes de voltar a falar – Melhor ligar depois, não quero atrapalhar.

– Não se preocupe. – Olhou para a irmã dizendo séria: – Para Beatriz, estou em uma ligação, se comporte. – Tirou a mão do auto falante do aparelho continuando: – Perdão, como dizia, você não atrapalha. Então, que dia você virá para a praia?

– Era sobre isso mesmo que queria falar com a Bia, mas... é. Não sei.

– Estou te achando um pouco inibida, olha, não precisa ficar assim comigo, quero muito te conhecer e não vou aceitar um não como resposta a um convite que suponho que minha irmã já tenha feito antes. Se você quiser ela vai te buscar, tá. E outra, ela está bem ansiosa pela sua chegada.

– Yasmin! – Beatriz falou brava.

– Ouviu, está louquinha para falar contigo ela. – gargalhou – Bom, foi uma grande satisfação falar contigo, te espero aqui, tá. Vou passar para a minha irmã chata, preciso atender outra ligação, até mais, querida.

Entregou o celular a irmã e atendeu o seu.

– Oi, Sophi. Desculpa a loucura da minha irmã, não imaginei que ela fosse te atender dessa forma.

– Tudo bem, Bia! Só fiquei assustada, por um momento achei que fosse sua esposa.

– Você quis dizer, ex esposa, eu imagino. – não queria ficar falando de Marcella com Sophia, estava mais interessada em saber como ela estava, e se iria mesmo ao seu encontro no final de semana. – Desculpa ter saído sem te acordar, não queria incomodar. Você está bem?

– Não se preocupe com isso, fiquei assustada, confesso, quando acordei e não te encontrei, mas entendi o seu motivo, falando nisso, muito obrigada pelas flores, são as minhas preferidas. Apesar de cansada, estou bem sim. Liguei para agradecer e saber se ainda devo ir ao seu encontro.

– Claro, estou à sua espera, e como a louca da minha irmã disse, se quiser vou te buscar.

– Não te daria tanto trabalho assim. Nem faz sentido na verdade. Encontrei com o Douglas a pouco na academia e ele me ofereceu carona, disse que vai amanhã, só não sabe ao certo o horário por conta da escala da Dani.

– Não seria trabalho nenhum, viagem rápida, é só você me dizer o horário que quer vir que eu irei ao seu encontro...

Foi interrompida por Sophia que disse séria:

– Não, Bia. Nem pense nisso!

Sentindo a diferença no tom de voz de Sophi, ela perguntou preocupada:

– Está mesmo tudo bem?

– Unhum! – respirou fundo dizendo em seguida: – Desculpa, não tive um dia muito fácil hoje, e ainda perdi o ônibus estando apenas a alguns passos do ponto. Melhor eu ir, não quero te tratar mal sem necessidade.

– Tudo bem então. Sinto em não poder fazer nada para te ajudar.

– Você já ajudou muito falando comigo, só preciso descansar mesmo. Quanto a minha ida para aí, a gente vai vendo, tá. Boa noite, até mais, beijo.

– Beijo, fica bem.

Beatriz ficou olhando para o aparelho em suas mãos sem entender o que tinha acabado de acontecer. Parecia que ela tinha acabado de falar com outra Sophia. O que será que tinha acontecido? Se perguntava exatamente isso quando sentiu um toque na mão.

– Terra chamando. O que houve, porque está com essa cara?

– Sophia estava estranha, e não achei a justificativa dela plausível para tal.

– Faro de advogada agora não, por favor. Será que ela não gostou da brincadeira que eu fiz?

– Não creio que tenha algo a ver com isso, mesmo porque, quando liguei para ela mais cedo foi uma outra pessoa que atendeu também. E nem por isso ao falar com ela eu dei chilique.

– Nem estão namorando e já estão assim, nossa. – olhou intrigada para a irmã: – Quer dizer, o que é que vocês têm mesmo?

– Estamos apenas nos conhecendo. E depois dessa ligação, nem sei se continuaremos a fazer isso.

Continuou conversando com a irmã sobre o que estava “vivendo” com Sophi e logo foram para casa, Nicole mandou mensagem para elas lembrando que as esperava para jantar. Apesar de meio rápida, se sentiu melhor ao conversar com a irmã sobre o comportamento de Sophia naquela noite, ia acreditar que ela estava apenas cansada mesmo, era melhor do que ficar fantasiando mil e um motivos sem um fundamento aparente para tal.

Depois do jantar se despediu de todos e foi para o quarto, onde fez uma vídeo chamada para a amiga que também achou estranho o comportamento de Sophia. Afinal, desde que ela conheceu Bia começou a flertar abertamente, e agora que estavam enfim saindo, ela se comportou daquela forma.

– Olha, se você quiser, peço o contato dela a Dani e levo ela comigo quando eu for.

– Ia sugerir isso antes dela dar o chilique, mas nem deu tempo.

– Quer que eu faça isso, ou você mesmo fala com ela?

– Não quero forçar, sabe, Mari. Se ela vier, quero que seja por vontade própria e não por insistência minha.

– Sei bem como é isso, amiga, concordo contigo. Vou sair daqui amanhã no final da tarde, se vocês já tiverem resolvido esse impasse, eu levo ela.

– Obrigada. Vou ver que horas ela dará o ar da graça amanhã, e vou te avisando. Cadê o Renato?

– Saiu daqui tem umas duas horas, amanhã ele vai passar o dia com a filha, ela vai viajar com a mãe no sábado e tem uma apresentação na escola, tá toda empolgada porque ele vai e tal, daí consegui convencer ele a ir pra casa, já que a escola fica mais próxima da casa dele e ela queria ir dormir lá para ele leva-la na escola, enfim!

– Não ia te querer como madrasta nem a pau. – gargalhou sendo acompanhada por Marília.

– Nem vem com essa. Eu não conheço a menina pessoalmente, só vi fotos dela. E caso não tenha escutado, fui eu quem o convenci a ir, para fazer tudo o que a garota planejou.

– Oxente, como assim ainda não conheceu a menina?

– Uma coisa por vez, Bia. Não tem nem dois meses que nos conhecemos, não tem porque adiantar as coisas, estamos falando de uma criança, que acompanhou a separação dos pais, e que no mínimo, sonha em vê-los juntos novamente, já que nem ele e nem a mãe dela apresentaram ninguém a ela como namorada ou namorado após a separação.

– Hum, tem tudo isso aí, né. Esqueci. Tá pensando corretamente você, é para frente que se anda, e não tem porque colocar o carro na frente dos bois.

– Fico feliz que tenha me entendido, agora vou indo. Estou com sono, fica bem e para de pensar bobagem, até amanhã, beijos.

– Eu vou tentar! Beijos, até.

Apesar de sua mente insistir em pensar no que poderia ter levado Sophia a ter aquela atitude, a advogada apenas virou para o lado e adormeceu, estava exausta, dormiu pouco e teve um dia bem longo...

Fim do capítulo