Volteeeeeei!
Pocahontas
Fiquei olhando atônita a porta pela qual ela havia entrado, mas a morena já havia sumido de vista.
Meu coração martelava com força em meu peito. Meu estômago revirou. Fumei o resto do cigarro. Respirei fundo, uma, duas vezes. Nada.
Sophie, calma. Respira.
O que diabos é isso?
— Phie? – Chamou Dante preocupado. – Tá tudo bem?
E ai, Sophie, tá tudo bem?
Não, eu vou ter um infarto.
Sim, meu coração ressuscitou.
Quê!?
— Vamos para o Sun – balbuciei levantando.
— Quê!? Por quê!?
— Vem logo! – Falei puxando ele.
Acionei o alarme do carro e saí correndo, desesperada, para o bar com Dan em meu encalço.
— Ei! Ô! CALMA!
Passei desabalada pela porta e comecei a olhar em volta. Droga, estava cheio. Ninguém fica em casa às sextas, não?
Procurei em cada canto. Nada. Eu precisava saber se havia sido real. Não podia estar tão bêbada ao ponto de imaginar aquilo, estava?
Claro que não, use a razão.
Decepcionada, andei em direção aos banheiros de cabeça baixa.
Bum!
Dei de cara com alguém que saía do banheiro feminino. A garota caiu no chão derrubando o copo plástico que segurava.
— Deuses! Você está bem!? – Perguntei abaixando para ajudá-la a se levantar. Ela ergueu a cabeça.
Merda. Merda. Merda. Grande merd*!
A garota morena olhou em meus olhos, suas íris eram como um caleidoscópio sem uma cor certa. Eu poderia olhá-los o dia inteiro e não saberia dizer qual eram as cores exatas. Era uma mistura de verde, azul, violeta talvez? Parecia um arco-íris em miniatura. Nunca havia visto isso na minha vida. Já havia lido, na internet que uma minoria chegavam à realmente nascer, com os olhos violetas. Mas assim!?
Abri a boca e fechei. Eram hipnóticos demais.
— Ai! – Exclamou – Estou bem, obrigada – Falou aceitando a mão trêmula que eu estendia.
Espanou a poeira da calça e olhou tristemente para o copo vermelho caído no chão.
— Bom, eu perdi minha bebida – Lamentou-se. Sua voz era doce e entorpecente. Eu estava travada.
Ela me olhou mais atentamente, possivelmente considerando se eu tinha ou não algum retardo mental.
Respirei fundo. Eu preciso fumar.
— S-sinto muito por isso – Gaguejei. Por que diabos eu gaguejei!?
— Você podia me pagar outra – Falou, um sorrisinho torto brincando em seus lábios.
Isso, Sophie, paga a bebida.
— Claro. Claro, é o mínimo que posso fazer – Falei indo em direção ao bar.
Jake, como sempre, estava mais bêbado que os clientes.
— JAKE! – Gritei para me sobrepor à música que tocava.
Ele me olhou e arregalou os olhos. Sorri pedindo desculpas.
— O mesmo de sempre?- Gritou, soltando o copo que estava limpando. Uma garota ao nosso lado deu uma piscadela para ele.
— Sim e para a.. .– Olhei-a sem nem ao menos saber seu nome.
— Piper – Respondeu – Um Blue Lagoon, por favor.
Ele deslizou uma garrafa de Budweiser para mim e se abaixou para preparar a bebida dela. Olhei-a mais atentamente e percebi traços indígenas tornando seu rosto ainda mais belo.
— Cherokee? – Perguntei.
Ela revirou os olhos e bufou.
— Sério que isso é a primeira coisa que me pergunta? – Ela parecia ofendida.
— Desculpe – murmurei envergonhada. – É só que você parece a Pocahontas – Brinquei.
Ela riu.
— Ao menos uma princesa legal. Tecnicamente não totalmente princesa, mas já é alguma coisa.
Sério que estávamos conversando sobre princesas da Disney? Preciso de um livro chamado "Como flertar após dois anos encalhada, para iniciantes."
— Aqui – Disse Jake entregando à Piper seu drink. Deu aquele sorriso ofuscante e uma piscadela. – Aproveitem.
Ela mexeu o canudo devagar e bebeu um pouco do líquido azul.
— Cara, eu adoro isso aqui. E ainda a língua fica azul.
— Prefiro isso aqui – Falei sacudindo de leve a cerveja.
— Clássica, então?
— Clássicos são bons. À propósito, Sophie. Sophie Smith. – Estendi a mão.
— Piper Moore. – Falou apertando-a. Uma onda de choque percorreu meu corpo. Soltou a minha mão.
Estudei seu rosto com mais atenção, e ele me parecia levemente familiar. Poderia ser coisa da minha cabeça, ou até do àlcool, mas...
— Seu pai é Edward Moore? – Perguntei sem me conter.
Ela suspirou como se já estivesse cansada dessa pergunta.
— Sim, o próprio – Deu um sorriso sem graça.
Um belo senhor sorriso.
— Deve ser maneiro ter um pai ator.
— Nem um pouco. Bom, ele não tem tempo. Minha mãe é modelo então, menos ainda. – Bebericou mais um gole sem tirar aqueles olhos hipnóticos de mim.
— Meu pai não é ator, mas também nunca teve tempo pra mim – Dei de ombros. – Professor de história, tem fixação pela Guerra Civil, então na maior parte do tempo se tranca no porão montando maquetes e coisas do tipo.
— Então estamos no mesmo barco – Falou sorrindo – Fui um desgosto quando me recusei à seguir os mesmos passos. Decidi vir pra cá e trabalhar meio período em uma cafeteria e pagar minha faculdade de veterinária. – Ela franziu a testa – Acho que me deserdaram.
Eu ri.
— Eu deveria ser professora também, mas virei detetive. Homicídios.
Ela arregalou os olhos.
— Sério? Você? – Perguntou desconfiada.
Não, Jesus.
Sempre a mesma coisa. Ao menos dessa vez não vieram juntas as piadas de loira.
— Por que a surpresa? – Perguntei desconfiada.
Ela deu de ombros.
— Você tem estatura de modelo, não de policial.
A conversa fluía naturalmente. Era tão bom conhecer alguém onde as coisas fluíam de forma espontânea, sem pressão ou arquitetar tudo o que eu poderia ou não falar. Não era como pisar em um campo minado, mas sim em um vale de flores.
De onde surgiu isso?
Descobri que ela dividia um apartamento com uma amiga próximo ao Central Park que era onde eu morava, mas não disse nada. A tal amiga havia marcado de encontrá-la aqui, mas apenas à viu e sumiu deixando-a sozinha. Tinha 19 anos, apenas dois à menos do que eu, o que me surpreendeu. Agradeci por não ser menor.
Alguns minutos mais tarde, a amiga dela apareceu tropegando, e disse para irem embora enquanto ainda lembrava o próprio nome e tinha um pouco de dignidade.
— Estou indo, Susan! – Gritou para ela enquanto se afastava.
Virou o resto da bebida em um gole só, pegou o guardanapo que estava em cima da mesa e fuçou a bolsa até achar uma caneta. Rabiscou algo rapidamente e me passou o papel.
— Me liga, Sophie.– Sussurrou no meu ouvido. Um arrepio percorreu minha barriga.
E ela se foi.
Fiquei olhando atônita o guardanapo com seu número rabiscado.
Um sorriso se formou em meus lábios.
Mau sinal.
Fim do capítulo
tantananaaaaam
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