Ao ouvir aquela voz, eu olhei para o lado e me deparei com Charlotte que estava toda suada. Acho que ela havia caminhado também.

 

— Não costumo caminhar. Na verdade, esse é meu primeiro dia e já estou aqui descansando – Disse sem graça e nesse momento Charlotte se sentou ao meu lado.

 

—No começo é assim mesmo, mas logo você se acostuma. Eu caminho todos os dias, isso me faz esquecer um pouco os problemas — Disse calmamente, ela parecia bem de boa naquele momento, não estava falando com aquele tom de voz autoritário que costumava usar no jornal.

 

— E quais problemas uma mulher como você teria? – Queria que ela começasse a falar do que houve entre a gente, pois nunca havíamos conversado.

 

— Trabalho e vida amorosa, Margareth – Ela olhou para mim e percebi que como eu, ela também estava sofrendo.

 

— Por que você me tratou tão mal depois que voltamos de vigem? Você disse que nada entre a gente iria mudar – Eu estava muito magoada.

 

— Você queria que eu lhe tratasse como, Margareth, depois de lhe ver beijando a sua namoradinha? – Ao dizer as últimas palavras, Charlotte demonstrou estar sentindo muito ciúmes.

 

— Você foi ao hospital no dia que meu pai passou mal, né?

 

— Fui, eu estava muito preocupada com você, pois eu sei o quanto você ama seu pai, mas não fazia ideia que eu iria me deparar com você beijando aquela moça – Charlotte parecia muito magoada.

 

— Ela me beijou, e eu não correspondi ao beijo.

 

— Disso eu não tenho certeza, Margareth – Charlotte ia se levantando do banco quando a segurei pelo braço – Qual é a outra mentira que você vai inventar agora?

 

— Talvez você não acredite no que vou dizer agora, mas eu te amo, Charlotte, acho que era isso que eu tanto queria lhe dizer, mas nunca sabia o que era – A olhei nos olhos e ela ficou sem ação.

 

—Como você pode ter certeza disso? – Perguntou após ficar um tempo em silêncio.

 

— Porque é o que sinto. Passei esse tempo todo esperando você me dar uma chance porque eu te amo. Ficar esses dias sem você me fez ter certeza disso.

 

— Eu não sei o que lhe dizer – Ela voltou a se sentar e ficou pensativa.

 

— Desculpa, acho que você já deve estar até com outra – Comentei ao me lembrar de Agatha.

 

— Como assim outra? – Charlote parecia confusa.

 

— A Agatha, aquela mulher não te larga mais — Disse demonstrando o meu ciúme.

 

Neste momento, Charlotte começou a rir e eu me derreti toda. Aquele sorriso era lindo demais.

 

—Margareth, a Agatha é apenas mais uma jornalista do World, eu não tenho nada com ela.

 

— Mas ela não parece te ver somente como chefe dela — Falei e revirei os meus olhos, pois me lembrei da minha colega de trabalho. Eu não a conhecia direito, mas o que mais queria nessa vida é que ela desaparecesse.

 

— A Agatha é casada, Margareth, não precisa sentir tanto ciúmes dela — Disse parecendo não ver o quanto aquela mulher fazia de tudo para chamar sua atenção.

 

— Como não sentir ciúmes dela se você me trocou por ela. Me tirou do meu lugar para acomoda-la – Falei sentida ao me lembrar do dia que havia voltado para o World.

 

— Desculpa, eu estava muito magoada e sofrendo muito por ter te visto com aquela mulher – Charlotte parecia estar arrependida.

— Acho que a gente não se entendeu muito bem esses dias – Comentei ao me lembrar de tudo que havia acontecido entre nós.

 

— Realmente não nos entendemos – Ela ficou um tempo em silêncio – Como está a sua relação com sua namorada?

 

Após essa pergunta, eu fiquei sem saber o que responder a Charlotte. Será que ela não havia escutado eu dizer que eu a amava?

 

— Charlotte, você acha que ainda estou com a Mel? – Já estava ficando irritada, parecia que ela não acreditava em mim.

 

— Eu não sei... Eu sou insegura... Tenho medo de me entregar para você e acontecer tudo de novo. Não quero ser sua segunda opção, Margareth – Ela abaixou sua cabeça. Tinha certeza que ela queria chorar.

 

— Ei... olha para mim – Toquei a sua face e fiz ela me olhar nos olhos – Eu não tenho mais nada com a Mel. Você não vai ser a minha segunda opção, pode ter certeza disso.

 

Charlotte ficou por um tempo me olhando e fiquei com medo do que ela poderia estar pensando, já que era difícil saber o que se passava naquela cabeça.

 

— Espero que você nunca mais saia de minha vida, Margareth – Disse e um sorriso largo se formou em meu rosto.

 

Após essa fala de Charlotte, nós duas nos aproximamos mais e nos beijamos. É muito difícil descrever os nossos beijos, pois eu não entendia o que acontecia comigo quando minha chefe me beijava. Para mim os nossos beijos eram muito especiais, me trazia uma sensação maravilhosa. Quando estava com Charlotte, eu me sentia totalmente completa.

A sua boca era macia, tão deliciosa, se pudesse eu ficava o dia todo lhe beijando, mas mesmo o nosso beijo sendo demorado, a gente teve que se afastar, pois teríamos que trabalhar naquele dia.

 

— Como vai ser hoje? – Eu perguntei, pois estava com medo de ser desprezada no jornal.

— Vai ser normal, Margareth, como já te falei. É melhor não falarmos para ninguém que estamos juntos – Ela começou a fazer carinho em minha face – Estava com saudade de você e também preocupada. Mesmo gostando de você, eu não posso lhe proteger no World, Margareth.

 

— Eu sei que não estou conseguindo escrever nada esses dias, mas acho que hoje será diferente – Disse isso, pois a minha inspiração havia voltado.

 

— Fico muito feliz por você, meu amor – Charlotte disse essas palavras de uma forma tão amável que eu me derreti toda onde estava sentada.

 

Após nos despedirmos com mais um beijo, cada uma foi para sua casa e mais tarde nos encontramos no jornal. Charlotte não me tratou como se tivesse uma relação além da profissional comigo, mas também não agiu como se eu não se importasse comigo.

No World, eu tentei recuperar o tempo perdido. Comecei a escrever a matéria da forma havia pensado e quando mostrei as minhas ideias para Charlotte, ela sentiu muito orgulho de mim e ficou mais aliviada, pois não teria que chamar a minha atenção.

Agatha, como nos outros dias, estava correndo atrás de Charlotte para todos os lugares. Ela não parecia ser casada, mas mesmo sentindo muito ciúmes, resolvi parar de implicar com a loira, já que estava muito bem com minha amada.

 

No final do expediente, eu fui conversar com meus amigos, pois havia passado o dia todo focada em minha matéria.

 

— Como foi a festa ontem? – Perguntei a Arnold e Priscila que estavam conversando baixo, parecia que ninguém podia ouvir o que eles estavam falando.

 

—Margareth, me disseram que você voltou a ser como antes, fico feliz por você, minha amiga – Arnold disse um pouco sem graça.

 

— Obrigada, Arnold – Olhei para Priscila e ela parecia não querer olhar para mim – Aconteceu algo nessa festa que eu não estou sabendo?

 

— Ah... Nada – Arnold respondeu após olhar para Priscila.

 

— Gente, me desculpem, mas eu preciso ir para casa— Priscila pegou as suas coisas e saiu correndo em direção ao elevador.

 

— Que estranho! – Falei e esperei que Arnold comentasse a respeito do ocorrido, no entanto, ele ficou calado. Pela primeira vez, os meus amigos estavam escondendo algo de mim e eu não fazia ideia do que era.

 

 

 

 

Fim do capítulo