No domingo pela manhã a coronel acordou cedo. Vendo que a esposa, os filhos e os sogros dormiam resolveu ir ao quintal. Quando chegou próximo a varanda, ela viu um homem de mais ou menos uns vinte e cinco anos andando no local onde foram retirados os pés de maconha que haviam sido plantados. Percebeu que o mesmo estava armado e se afastando devagar, voltou para o quarto e pegou a arma que estava dentro da escrivaninha que ela sempre deixava trancada por medo de alguma das crianças mexerem, pegarem o revolver e acabar se machucando. Andressa acordou e vendo que Márcia pegava a arma perguntou:

-- Amor o que você vai fazer com essa arma?

Márcia olhou para a esposa e respondeu:

-- Amor você se lembra do caso da maconha?

-- Sim amor mas o que está acontecendo para você estar armada?       

-- Acho que o dono dela está no quintal. Nem precisei armar o plano que tinha em mente.  Sem querer, o lambari caiu na boca do tubarão.

Andressa já ficou preocupada e fez menção de ir com a coronel, mas essa não deixou e falou para a esposa:

-- Amor, fique aqui tomando conta das crianças. Se quiser você pode observar pela janela de um dos quartos e se der algum problema lá embaixo, a senhora tem a minha plena autorização para atirar. Só não podemos matar o infeliz porque precisaremos de informações. O que aconteceu com o Duque poderia acontecer com qualquer um de nossos filhos então, vamos cortar o mal pela raiz.

-- Está bem meu amor mas tome cuidado!

Márcia deu um beijo em Andressa e voltou novamente para a área de serviço. A esposa da coronel ficou no quarto das filhas observando o indivíduo que andava de um lado para o outro parecendo preocupado. O que a coronel não percebeu é que havia outro indivíduo na casa e quando ela se aproximou escutou um click e ao se virar deu de cara com o mesmo em seu quintal. Mas, o que esse mesmo meliante não esperava era que Thor estava à espreita e sem que esperasse o cachorro pulou em cima desse que começou a gritar. Quando o outro foi reagir ouviu a voz de Andressa que da janela falou:

-- Se você colocar a mão nessa cintura, vai cair ai mesmo onde está.

O sogro de Márcia acordou com o falatório e ao perguntar para a filha o que estava acontecendo e ser informado sobre a situação, Raimundo também pegou sua arma e foi até a varanda dos fundos aonde estava a nora e deu voz de prisão aos dois meliantes que foram desarmados e algemados. Márcia deixou Zottar e Thor tomando conta dos meliantes e chamou a polícia. Os policiais não demoraram a chegar ainda mais sabendo que era na casa da coronel. Os filhos e a sogra já haviam levantado e enquanto o café estava sendo preparado Andressa perguntava aos mesmos o que eles estavam fazendo lá, quem tinha alugado a casa e para quem eles trabalhavam. No começo eles refutaram em falar, mas com Thor mostrando os dentes e Duque dando umas leves mordidas nos bandidos eles resolveram contar de quem era a droga e o porquê de estarem tão apreensivos. A droga pertencia a um traficante conhecido por Chico Chiboca. Ele era um traficante que atuava na zona norte e havia ficado no lugar de Neguinho Tresoitão bandido cujo a coronel já havia mandado conversar com o capeta há algum tempo atrás.

Após fazer um levantamento da vida do meliante, descobriu-se que ele também era do Rio de Janeiro, já havia sido preso mas, conseguira um habeas corpus e estava em liberdade. O que a coronel não imaginava e sequer passava pela sua cabeça era que, esse mesmo Chico quase havia caído nas mãos da nora quando essa descobriu um carregamento de drogas nas rodas de um ônibus de turismo e o meliante escapou se passando por um passageiro comum ao qual ninguém ainda conhecia. A coronel foi junto com os policiais para a delegacia e depois de todos os tramites legais os dois indivíduos ficaram à disposição da justiça. Mas o que a coronel jamais imaginaria é que ela e Rafaela ainda ficariam frente a frente com Chico.

Depois de tudo resolvido na delegacia e retornar para casa, Márcia relatou a todos o que havia acontecido e depois de tudo arrumado foram para a casa do coronel. Ao chegarem e depois de cumprimentarem a todos que lá estavam ou seja, as mesmas pessoas que estavam no dia anterior na festa dos Mantovanni, Márcia pediu um minuto de atenção a todos e chamando Rafaela para o seu lado começou a falar.

-- Em primeiro lugar agradeço a todos pela presença e em segundo lugar eu quero falar sobre uma decisão que eu tomei a alguns dias e que com o auxílio da minha esposa e de mais alguns amigos que aqui estão, me foi fundamental para anunciar essa decisão. Mas, lembro que a pessoa em questão terá todo o direito de aceitar ou recusar. Por isso, eu darei o tempo que for necessário para que ela se acostume com a ideia. Como vocês sabem eu logo estarei aposentando e assim como os outros meus amigos também estarão indo para a reserva e eu precisarei de alguém para me substituir. Vocês todos estão cientes de que há alguns dias atrás eu ganhei um presente maravilhoso e junto me veio uma outra “filha” que por causa do pai seguiu a mesma profissão. Uma pessoa que além de ter seus critérios, tem caráter, é astuta mas o título de raposa do deserto não vai me tomar e já provou que tem muito empenho pela profissão. É Rafael você soube educar essa moça que está aqui ao meu lado.

-- Conta logo Marcinha que estamos curiosos! Falou Radamés.

Olhando para a nora e depois para a esposa e o próprio Radamés que fez sinal positivo, a coronel virou-se de frente para a nora e disse:

-- Capitão Rafaela, sei que você ama a polícia rodoviária mas, por todo o seu empenho desde que entrou para a polícia militar, as suas atuações e o seu caráter eu te convido para vir trabalhar comigo na DPM, aprender comigo e futuramente me substituir na presidência. Você aceita o convite?

Fim do capítulo