Era o começo do mês de férias. Dessa vez Bruna não queria viajar. A loirinha achava um tédio ter que passar o mês na praia com os pais e o irmão mais novo, Pedro. Além do mais, ela agora tinha um namorado, Victor, a quem estava decidida a se entregar pela primeira vez.

Bruna adorava fazer grandes viagens com a sua família. Viajavam uma vez ao ano para um destino completamente diferente, onde ficavam uma semana inteira, normalmente na baixa temporada. Mas no verão, seus pais costumavam alugar uma casa na praia, o que era um verdadeiro martírio para a garota. Não gostava da badalação que normalmente ocorriam nesses lugares. Preferia maratonar às séries, filmes, ou simplesmente ler, coisas que a faculdade de direito lhe impedia de fazer.

Tudo começou a mudar quando estando em Saquarema o irmão dela simplesmente some.

Aos 10 anos, Pedro era uma criança muito ativa. Passava o dia desbravando o novo ambiente. Mas sempre obediente, não se arriscava a entrar no mar sozinho. No final da tarde do terceiro dia das férias, ele estava retornando para sua casa quando depara-se com uma garota sentada na areia, sozinha e chorando.

Sem saber o que fazer, mas tocado com a fragilidade da garota, o pequeno aproxima-se e consegue a atenção daquela desconhecida.

A garota na praia estava com o coração despedaçado. Após quase um ano de namoro as escondidas, sua namorada terminara o relacionamento e menos de 1 semana depois já estava com outra. Amanda não aceitava a imposição, da agora ex-namorada, para que se assumisse. E terminar por este motivo havia sido desleal.

A jovem ruiva acabara de entrar na faculdade. Iniciaria o curso de Administração e seguiria a vontade do pai. Sempre buscara ser uma filha obediente e respeitava as vontades de seus pais. Possuíam uma situação financeira bastante estável, tanto que mantinham uma linda casa de praia.

A realidade é que Amanda sentia-se presa, quase sufocada. Faria um curso que não sentia a menor vocação e se permitia ser exatamente aquilo que os pais idealizavam. Suas vontades, suas inseguranças, seus medos e seus desejos estavam sendo cuidadosamente guardados para um depois.

Naquele momento, sentada na areia da praia, acompanhando um belo por do sol, tudo que a garota queria era gritar. Mas não podia se quer chorar, ou perguntariam o motivo. Nem seus amigos mais próximos sabiam de sua orientação sexual. Nem mesmo sua irmã mais velha poderia saber, ou correria o risco de chegar aos seus pais, extremamente conservadores.

Quando a ruiva percebeu a presença daquela criança perto de si, levou um baita susto. O garotinho era gentil e tentou fazer com que Amanda parasse de chorar. Falaram sobre tantas coisas que nem perceberam o avançar das horas.

Desesperados, Bruna e os pais procuraram Pedro por vários lugares. Nenhum sinal do garoto. Acionaram a polícia e já era noite quando conseguiram encontrá-lo na casa ao lado: tomava um chocolate quente e conversava descontraidamente com a vizinha.

Após o susto e com o alívio pelo reencontro, as famílias logo fizeram amizade.

Combinaram um grande almoço no Domingo para confraternizarem que nada de mais sério acontecera com o garoto e para celebrar o nascimento de uma amizade. Ali os laços foram selados.

Descobriram que moravam na mesma cidade, no Rio de Janeiro. A mãe de Bruna, médica, coincidentemente trabalhava no mesmo hospital que o pai de Amanda administrava.

Fim do capítulo