Capítulo 15
Último capítulo
Pov Milena
O dia ia nascendo, o sol coloria o universo com matizes variados. Nuvens iam dançando de um lado para o outro cadenciadamente como se mãos invisíveis as conduzissem. Eu olhava pela janela do meu quarto e envolta no abraço quente de Fernanda. Já haviam se passado dois depois da morte de Mirela e a saudade ainda macerava profundamente o meu coração. Contemplando a beleza do dia que nascia, recordei-me do sonho que havia tido à noite, meu pai andava de mãos dadas com Mirela por um campo florido, enquanto eu chegava, ele acenava para mim e eu seguia ao seu encontro. Mirela sorria. Seu sorriso estava deslumbrante e ela estava linda, sua aparência em nada mais lembrava a doença que a tinha consumido e nos abraçamos. O cheiro do perfume suave que exalava do seu corpo me emocionou e a brisa que adentrou naquele instante pela janela aberta, parecia me trazer novamente aquela fragrância e eu inspirei com prazer. No sonho, meu pai nos convidava para sentar num banco e aquiescemos. Ele sorria quando me disse:
- Milena, querida, tudo está bem... a vida vai muito além do que os nossos olhos vêem e o amor de Deus é muito maior que imaginamos. Siga vivendo da melhor maneira possível, filha, sempre lembrando que ao deixarmos o corpo velho e cansado entregue a terra, nós precisamos alçar vôo livres das mazelas da alma...
Acordei com a sensação de que realmente tinha estado com meu pai e Mirela em alguma estância do universo e fiquei a cismar, na imensidão dos planetas e astros e cheguei a pensar que talvez fosse arrogância e ignorância nossa, achar que somente na Terra existisse vida inteligente, partindo do princípio de que realmente a raça humana fosse mesmo tão inteligente, afinal passávamos grande parte da vida nos matando aos poucos, valorizando coisas e não pessoas. Odiando ao invés de amar, guardando mágoas ao invés de aprendermos a perdoar e tantas coisas que fazíamos em nome do orgulho e da vaidade que nos consumia ao longo da existência. Ali deitada e acolhida no amor de Fernanda, fiquei minutos em conjecturas, imaginando se realmente Mirela e meu pai estariam mesmo acabados para sempre ou se aquele sonho tivesse mesmo sentido e que a vida pudesse não ser somente, esse campo de batalha que vivemos aqui na Terra. Senti uma onda de paz me envolver com a ideia de que pudesse mesmo existir algo depois dessa refrega aqui no planeta e que um dia eu pudesse reencontrar as pessoas que eu tanto tinha amado. E se realmente existisse a reencarnação e Mirela um dia voltasse em outro corpo e eu pudesse ter a chance de tê-la ao meu lado, isso seria realmente algo supremo do amor de Deus por nós.
Fernanda revirou na cama e me puxou para mais perto, beijou-me o pescoço e eu senti meu corpo arrepiando num prazer delicioso e nos amamos.
- Parabéns, meu amor, - eu disse depois que a beijei com paixão nos lábios, - eu não sei ainda o que lhe dar de presente de aniversário, - eu disse rindo.
- Você é o meu melhor presente, eu não mais preciso, além do seu amor, desse carinho delicioso... desse corpo gostoso que tanto me dá prazer...
Era um dia especial! Fernanda e eu receberíamos alguns amigos em casa em comemoração ao seu aniversário. O sol estava radiante e já banhava todo o universo com seus raios prateados e eu tentei levantar, quando Nanda me puxou novamente para seu corpo e nos amamos mais uma vez.
- Esse é meu presente, - ela disse depois.
Eu levantei e segui para o banheiro, a água morna descia sobre meu corpo e eu agradecia por aquele instante de prazer inenarrável. O amor de Fernanda era bálsamo para a minha vida e eu desfrutava de cada momento, buscando viver da melhor maneira possível, como meu pai sempre nos alertara. Terminei o banho, sequei meu corpo e vestia-me, enquanto Nanda tomava banho. O café exalava um aroma delicioso quando adentramos a sala onde Sandra já servia as guloseimas da manhã.
Fernanda parou de frente a Sandra que lhe abraçou desejando-lhe, feliz aniversário e eu me emocionei com o carinho que existia entre as duas.
Fernanda saiu para resolver algumas coisas e Helena tocava a campainha. As duas se abraçaram, Fernanda pediu licença e seguiu, Helena adentrou a sala e nos abraçamos.
- Venha, sente-se aqui, já tomou café?
- Oh sim, meu Deus, Milena, eu aqui há essa hora e nem avisei, que indelicadeza.
- Pare com isso, somos amigas e essas formalidades não servem para nós. Sente-se. E me conte como você está...
- Estou melhor com o passar dos dias, - ela sorriu. Helena também parecia ter mudado de personalidade, em nada se parecia com aquela mulher que tinha se envolvido com Mirela em busca de dinheiro ou algo parecido. Seu olhar azul celeste tinha um brilho intenso e seu sorriso era ainda mais lindo naquela manhã de sol.
- O tempo é o melhor remédio, meu pai sempre disse isso.
- Milena, eu preciso lhe falar, - ela riu com timidez.
- Sim, fale, estou aqui e sou toda, ouvidos...
Helena respirou profundamente a brisa suave que trazia o aroma das rosas que viviam ali no nosso imenso jardim e sorriu.
- Dois anos se passaram desde que Mirela partiu... amarguei o peso da saudade e da solidão durante todo esse tempo, mas aprendi muito com tudo o que vivemos juntas, aprendi que o amor é muito mais importante do que os bens materiais... Mirela sempre existirá aqui, - e ela colocou a mão sobre o peito e parou um pouco.
Nesses dois anos a convivência com Saima... – ela parou novamente, enquanto Sandra nos servia um chá.
- Eu comecei a perceber que minha amizade por ela, tomava rumos diferentes e que meu coração vibrava numa frequência incomum depois de algum tempo na solidão... fui percebendo aos poucos que estou apaixonada por ela, mas temo que ela não sinta o mesmo, então...
Eu ri alto fazendo com que Helena ficasse desconcertada e me desculpei.
- Perdoa-me, querida, é que é tão obvio o amor que ela lhe devota que até mesmo um cego, conseguiria enxergar...
- Do que você está falando, Milena?!
Eu me ajeitei no sofá macio e tomei as mãos de Helena entre as minhas num gesto de carinho e disse:
- Saima sempre lhe amou, acho que desde primeiro dia. Mirela sabia disso e eu acho que esse foi um dos motivos que ela partiu mais em paz. Antes da cirurgia ela me pediu que eu lhe dissesse que abrisse seu coração para o amor novamente e que Saima cuidaria de você, porque lhe amava. Então abra o seu coração... e fale a ela dos seus sentimentos...
- Saima me ama?! Minha nossa, eu nunca percebi... ela é sempre amorosa com todas as pessoas e...
- E com você ainda mais, porque a ama, não da mesma maneira que ama seus pacientes ou seus amigos... Helena a vida é muito mais do que os nossos olhos carnais conseguem ver, meu pai sempre dizia isso, e muitas vezes o amor nos passa ao largo por não sabemos interpretar as suas diversas nuances. E essa mesma vida, que é uma surpresa maravilhosa, está lhe dando mais outra oportunidade de amar e ser feliz, não deixe que ela passe sem que você viva da melhor maneira possível.
Helena gargalhou e eu juntei-me a ela. Senti naquele instante uma brisa mais forte e talvez, estivesse desejando, mas o perfume que Mirela usava no sonho, adentrou o meu nariz e era como se ela estivesse ali por perto. Eu vislumbrei o seu sorriso, mas não disse nada. Helena e eu falamos sobre a festa do aniversário de Fernanda e depois ela seguiu.
Eu ainda estava sentada, conjecturando o esplendor do dia quando a campainha soou e Saima adentrou a sala, depois que Sandra abriu a porta.
- Que surpresa maravilhosa a sua visita! – eu disse sorrindo e abraçando aquela mulher que tinha o dom de fazer meu coração vibrar de um prazer inenarrável em sua presença.
- Perdoe-me, vir sem avisar...
- Deixe disso, venha sente-se, deseja um chá ou um café?
- Um café...
Sandra nos serviu e saiu.
- Milena, eu tenho uma paciente, ela está grávida e com o adiantado da doença e a falta de familiares, ela pediu que eu encontrasse alguém para criar a sua filha. Eu não posso... acho que não tenho dom para isso... Então pensei que talvez você desejasse...
- Eu desejo, Fernanda e eu estamos com essa vontade... e se você puder nos indicar para o cargo de mães...
- Eu farei isso com prazer, acho interessante você ir ao hospital, conhecer Sabrina, saber da sua história e deixar que ela também decida por lhe dar a guarda do bebê... ela está angustiada...
- Eu irei, segunda-feira, irei sem falta.
- Bem... agora eu preciso ir, minha querida, tenho muita coisa a fazer e a noite estarei aqui, temos muito o que comemorar...
- Sim, temos sim. – eu disse sorrindo, imaginando que naquela noite Saima teria mesmo mais motivos para comemorar, além do aniversário de Fernanda.
Saí. Fui ao salão, escovei meu cabelo, acho que mais no desejo de parecer ainda mais com Mirela, queria lhe homenagear.
- Seu cabelo é maravilhoso! – disse Magali a menina que trabalhava no salão e que sempre me atendia com um sorriso.
- Obrigada!
Depois de arrumar as unhas e pintá-las de vermelho, segui para casa.
O sol já ia deixando o universo e seus raios coloriam toda a imensidão deixando um quadro de beleza única, quando Fernanda chegou em casa.
- Perdoe-me, meu amor, mas fiquei enrolada com algumas coisas no escritório e somente agora eu consegui me desvencilhar. Vou tomar um banho...
Fernanda seguiu a escada que levava ao nosso quarto e eu fui em direção ao salão de festa que próximo à piscina, tudo estava lindo! Mesas dispostas ao redor da piscina e outras no salão o que dava escolha para as pessoas. O DJ já tinha chegado e organizava o som.
Jerônimo foi o primeiro a chegar ao lado de seu esposo e nos abraçamos.
- Venha, - eu disse conduzindo-lhe ao salão onde Fernanda estava deslumbrante numa calça de linho preto e uma camisa de seda branca. Logo em seguida outros convidados foram chegando. E meus olhos reluziram de alegria quando vi Helena de mãos dadas com Saima, que sorrindo aproximou-se de mim e disse baixinho quando me abraçava:
- Você tinha razão...
Saima estava maravilhosa! Um vestido verde mar cobria seu corpo, salientando suas curvas perfeitas e eu?! Minha nossa! Saima era simplesmente linda! Cobri Fernanda com meu olhar, antes que eu fosse vítima do pecado com aquela visão de Saima que sorrindo me cumprimentou e disse:
- Desejo que seja minha madrinha de casamento...
- Oh meu Deus, será uma honra!!!
A festa estava linda! Fernanda cumprimentava a todos e agradecia. Depois dançamos uma música lenta, após fazermos um brinde à vida e ao nosso amor.
Helena sorria ao lado de Saima que falava algo que eu não compreendi e a festa foi maravilhosa! O dia já amanhecia quando os convidados começaram a despedir-se elogiando e agradecendo pelo convite. Fernanda acolheu-me no seu abraço na cama macia e adormecemos, depois de fazermos amor por longo tempo...
A visita ao hospital tinha me emocionado muito. Sabrina era quase uma menina, tinha vinte anos e sua gravidez era fruto de uma noite de bebidas e inconseqüências de jovem. O câncer havia sido descoberto já em fase adiantada e ela temia pelo futuro de sua filha. Conversamos por algum tempo e despedi-me, deixando que Sabrina descansasse. Durante um mês fui visitar Sabrina, não somente pelo bebê, mas porque um sentimento de carinho nos envolveu no primeiro momento, eu percebia que seus olhos brilhavam de alegria quando eu adentrava seu quarto. Dois meses depois Sabrina dava à luz, era uma menina linda, com os olhos verdes da mãe e claro o que lembrava Mirela. Um mês após o nascimento de Mirela, era esse o nome que eu tinha escolhido para a nossa filha, Sabrina morreu dizendo-me que ficaria em paz, porque sua filha seria amada. Ter Mirela nos meus braços era algo que me emocionava muito. Eu olhava para seu rosto lindo e aquele sorriso que ela me presenteava sempre que ia lhe ofertar a mamadeira e ficava imaginando se aquele ser tão inocente poderia ser a reencarnação da minha irmã e isso me comovia muito. E acariciei seu rostinho, admirada de sua beleza e do amor que eu já era capaz de sentir. Fernanda adentrou a sala e sentou-se ao meu lado beijando o rosto de Mirela e depois meus lábios dizendo que me amava e que era a mulher mais feliz do mundo.
O sol já ia se despedindo do universo e Saima caminhava em direção ao altar ricamente decorado no espaço do salão de festa, em seu vestido maravilhoso de noiva, enquanto Helena a esperava, também vestida de noiva. O sorriso de Saima era algo surreal, era como se tudo, absolutamente tudo se iluminasse ao redor quando ela sorria. Seu perfume adentrou a minha narina, que estava perto segurando seu buquê e eu respirei profundamente, sentindo uma alegria enorme, por ver aquela mulher tão especial, tão feliz.
A cerimônia foi linda!!! Eu limpei uma lágrima que descia pelo meu rosto, quando Fernanda disse baixinho em meu ouvido enquanto dançávamos.
- Milena, case-se comigo, por favor, só não vou usar vestido...
- Eu caso meu amor, e acho que você vai ficar linda de terno e gravata.
E rimos...
FIM.
Fim do capítulo
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AMANDA
Em: 10/11/2019
Realmente a vida é o nosso maior bem, e quanto mais achamos
que sabemos de algo a vida nos mostra o quanto volátil e sensíveis
nós somos. Me emocionei do começo ao fim, uma verdadeira história de amor!
Resposta do autor:
Olá Amanda!! Que emoção seu comentário, muito obrigada. Um abraço carinhoso.
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Vanderly
Em: 31/07/2019
Ahh,o amor em todas as suas nuances sempre transforma corações. Que história bonita de reconhecimento, arrependimento, perdão e recomeço. Parabéns autora! Amei!
Forte abraço!
Resposta do autor:
Boa tarde! Obrigada pelo comentário, fico mega feliz. Abs carinhosos.
Leoni
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