CapÃtulo 6
Capítulo 05
Pov Mirela
Eu estava irremediavelmente apaixonada por Helena. Seu sorriso me enlevava e cada vez que ela tocava em meu corpo eu sabia que nunca mais poderia ser amada por Fernanda Valadão, a minha esposa. Está ao lado de Helena era como ser conduzida ao paraíso e isso era maravilhoso! Ela estava nua ao meu lado na cama e seu corpo ainda estremecia do prazer que eu havia lhe proporcionado, minha mão acariciava seu seio e eu queria mais. Ela sorriu e me puxou para seu abraço.
- Você é insaciável... – e tomou minha boca num beijo desesperado e nos amamos de novo. – Mirela... – Helena parecia gem*r. – Quando voltarmos para Brasília você vai pedir o divórcio? Eu não posso mais viver sem você...
- Eu prometo meu amor, prometo. Eu também não consigo mais viver assim.
Helena levantou-se e seguiu para o banheiro. Eu continuei deitada ali naquela cama macia tomando champanhe com morangos deliciosos, quando senti uma dor aguda atingir meu útero. Depositei a taça de bebida numa mesinha ao lado da cama e levantei devagar, abri a bolsa de couro e peguei um comprimido. Tomei e me deitei. Minha palidez foi difícil de negar a dor que eu sentia quando Helena retornou.
- O que houve querida? Você está pálida, sente algo?
- Nada demais, acho que estou ovulando e sempre sinto uma dor forte, mas vai passar, já tomei um remédio. Deite-se aqui ao meu lado.
Eu realmente não poderia mais continuar casada, isso era um fato, mas algo me preocupava muito, não saber da situação financeira de Helena. Eu não conseguiria viver sem o luxo que Fernanda me dava, sem as roupas caras, sem as joias, sem o carro do ano e todas as coisas com as quais eu estava acostumada e não saber se Helena poderia me dar isso, me causava angústia. Cada vez que eu tentava falar sobre sua vida ela dizia que vivia de uma herança que seu avô tinha lhe deixado, mas de concreto eu não sabia mais nada. Eu estava apaixonada, sim, muito. Helena era a mulher da minha vida, mas viver de maneira modesta, sem os melhores restaurantes, sem tudo o que eu estava habituada, era inconcebível. Fernanda era uma mulher generosa, e sua paixão sempre me dera o direito de ter tudo, mas mesmo sendo loucamente apaixonada por mim, nos casamos com separação total de bens, isso era a minha prisão, agora me sentindo tão apaixonada. Como me separar dela? O que eu levaria depois de todos esses anos, a não ser as joias, o carro, as roupas que o tempo se encarregaria de destruir? Como viver com uma pessoa se eu não tenho certeza do que terei ao seu lado? Essas eram as minhas indagações em relação à Helena, mas falar sobre isso era me fazer de interesseira, ela poderia pensar errado, e eu não queria que me visse dessa forma.
Fechei meus olhos, ali ao lado de Helena envolta em seu abraço quente e sem querer me recordando de como havia conhecido Fernanda. O dia estava lindo, o sol ia se despedindo do universo e uma coloração multifacetada ia invadindo o céu. Eu admirava um pouco, mas logo me enfadei daquilo, Milena ficava talvez horas no jardim de nossa casa olhando para os detalhes, eu não. Depois de algum tempo adentrei a sala e ela estava envolvida com um livro, meu celular tocou. Era uma amiga que me convidada para uma social em sua casa, dizendo que Fernanda Valadão estaria presente. Ela era uma das lésbicas mais ricas e eu estava a caça de alguém assim. Não era meu sonho estudar e muito menos trabalhar, assim como Milena fazia. Eu queria alguém que pudesse satisfazer os meus desejos e Fernanda era a pessoa ideal. Meu casamento foi para mim apenas uma conta bancária, a melhor que eu consegui, enquanto Milena estudava e se formava. Fernanda era fácil de lidar, era apaixonada e fazia todos os meus gostos. Algumas vezes cheguei a pensar que ela soubesse dos meus casos de paixão e sex* com outras mulheres, mas depois percebi que não. Eu sabia que ela me amava e mesmo quando eu me distanciava um pouco por empolgação no caso novo, bastava lhe dar uma noite de sex* regado com palavras de amor e orgasm*, que ela se rendia a tudo o que eu queria. Claro que durante os seis anos de casada eu havia economizado e tinha comprado um apartamento pequeno para mim em Taguatinga, mas nada comparado com a mansão que eu vivia com Fernanda. Eu tinha uma conta bancária farta, mas nunca poderia viver mais que dois ou três meses mantida por ela, e claro com muita parcimônia o que não combinava em nada comigo. Minha vida ao lado de Fernanda era regada de luxo, de roupas de grife, sapatos e perfumes, e tudo. Ali ao lado de Helena eu me indagava como poderia abrir mão disso tudo para viver, na verdade, eu não sabia como. Mas, depois que conheci Helena algo em mim era diferente, cada dia que eu passava em seu abraço, eu ficava mais apaixonada e mesmo incerta do meu futuro financeiro eu desejava viver com ela. Meu corpo ainda estava nu quando meu celular tocou, ou melhor, o celular de Milena. Meu corpo estremeceu ao ver o número de Fernanda. Minha voz parecia presa e eu demorei tanto atender que a ligação foi encerrada. Helena indagou:
- Porque não atendeu?
- Era Fernanda... – nesse instante o celular de Milena tocou de novo, eu atendi com o corpo trêmulo.
- Alô Fernanda, aconteceu algo com a minha irmã?
- Olá Milena como você está? Mirela me disse que não estava muito bem. Estou ligando para lhe avisar que vou viajar por quinze dias com sua irmã, mas se precisar de algo, pode ligar sem medo. Ok?
- Viajar? Com Mirela?... Minha nossa que coisa maravilhosa... sim, claro, se eu precisar... eu ligo...
Ela desligou. Minha respiração estava ofegante e minha pele ainda mais pálida.
- Fernanda vai viajar com a sua irmã?... foi isso o que eu entendi?
- Sim. Meu Deus que absurdo... o que ela pensa que está fazendo? Milena deve está desesperada com isso. O que posso fazer para evitar isso Helena?
- Eu acho que você não pode fazer nada... Só esperar a volta dela e pedir o divórcio e pronto... Meu amor não fique assim, venha cá... olha você já decidiu, não é mesmo? Esqueça o que Fernanda vai fazer...
Helena me envolveu no seu abraço e esqueci tudo. O quinto dia havia chegado e a dor que me atingira no primeiro dia, ainda persistia e apesar de doses maiores do remédio, eu ficava deitada por várias horas, pálida, inerte. Nós precisávamos voltar a Brasília. O vôo terminou e eu segui com Helena para o seu apartamento que ficava na cidade de Taguatinga. Tudo ali era muito diferente da casa que eu morava com Fernanda. Tudo na minha casa era luxuoso, o oposto de onde Helena morava, mas talvez isso fosse irrelevante diante ao amor que me tomava o ser. Dormir junto com ela era algo maravilhoso e ao seu lado acordei esquecida de que a minha irmã gêmea iria viajar com a minha esposa, esquecida das dores que me perseguiram durante esses dias, esquecida de que talvez Helena não fosse rica... Pensando nisso senti uma de volta aquela dor macerando meu útero como se fossem punhais a entrar e sair de dentro de mim. Helena havia saído dizendo que iria ao banco e eu fiquei ali deitada depois que ingeri o remédio que parecia não fazer mais efeito como o início.
À noite eu estava melhor, a dor havia desaparecido e segui com Helena para um jantar no restaurante Villa Tevere o meu restaurante preferido. Andar pela cidade com ela não era algo difícil, pois fingir ser Milena era muito fácil. Voltamos para o apartamento de Helena depois de um jantar maravilhoso quando já era madrugada e a dor que eu sentia, apesar do remédio que tinha tomado, tinha voltado. Minhas pernas doíam, uma dor aguda comprimia meu útero, quando senti um líquido quente descer. Segui para o banheiro e percebi que tinha menstruado novamente. E isso me irritou, porque eu tinha menstruado antes de viajar.
Helena seguiu até o banheiro e indagou:
- O que houve meu amor?
- Nada demais, querida, apenas um desgosto... de mulher... – eu ri, tentando esconder a dor que me atingia.
À noite para mim foi horrível. A dor aumentava a cada instante. O sangramento aumentava e eu levantei e segui de volta ao banheiro. Meu corpo tremia de frio e uma dor intensa me acometia. O sangue era ainda mais intenso e eu fiquei por alguns minutos ali sentindo como se meu corpo tivesse lançando todo o seu sangue no vaso. Helena bateu devagar na porta, mas eu não abri. Depois de alguns minutos voltei para a cama.
- O que está sentindo Mirela? Você está muito pálida...
Eu ouvia a voz de Helena como se ela estivesse muito distante. Uma dor miserável tomava conta de mim, era como se meu útero estivesse sendo dilacerado.
- Mirela... meu amor, fale...o que está sentindo?...
Eu a ouvia...mas algo me impossibilitava de falar. Não queria que Helena soubesse que eu sentia aquilo algumas vezes e que recusava ir ao médico e que acima de tudo, nunca tinha contado para Fernanda.
- Não é nada, meu amor, - eu balbuciei, - me traga um copo com água. Helena levantou da cama e seguiu para um pequeno frigobar que tinha no seu quarto. Serviu-me a água e eu sorvi devagar junto com um comprimido que eu havia deixado ao lado da cama.
Deitei novamente ao lado de Helena que me aconchegou em seu ombro. A noite foi insone para mim. Uma sensação de desmaio me acometia vez ou outra, uma ânsia, meu estômago revirava como se estivesse em festa, segui para o banheiro do corredor. Um gosto amargo enchia minha boca e eu vomitei muito. Uma dor de cabeça infernal tomou conta de mim. Voltei para a cama em silêncio e deitei. Já era madrugada quando eu conciliei o sono.
O dia nascia e eu tinha a sensação que morria. A dor não cessou. O sangramento aumentou e eu tinha a impressão que me esvaia em sangue. Helena me abraçou com carinho.
- Eu sinto que você não está bem, meu amor. Vamos ao hospital?
Eu não tive como recusar.
Uma semana que Fernanda estava viajando com a suposta esposa. E eu cada dia mais apreensiva. Estava ansiosa pelo resultado dos exames. O médico tinha pedido outros exames que sairiam dentro de mais dois ou três dias.
Os dias haviam passado e eu seguia para o consultório. Helena estava comigo, seu sorriso lindo me enchia de alegria, apesar do medo que eu sentia. Algumas vezes tinha sentido isso, mas nunca levei a sério. O médico me chamou. Helena entrou comigo.
- Mirela... sente-se. – disse o médico e depois pediu que Helena também se sentasse, o que ela fez sem demora. – Eu não usar subterfúgios... seu caso é grave... você está com um tumor de tamanho considerável e precisamos fazer uma cirurgia... a retirada do útero talvez nos ajude a evitar danos maiores...
O mundo ia ruindo... o sol lá fora ia sumindo e deixando a Terra toda envolta em escuridão... a voz do médico era o meu fim... a morte acenava para mim na voz rouca daquele homem de olhar negro e cabelo grisalho... era com certeza a voz da morte me chamando... “você está com câncer...você está com câncer...você está com câncer...” era um eco... “câncer...câncer...câncer...
- É grave doutor? É cân...? – era Helena indagando ao médico, porque minha voz estava embargada, era como se um bolo estivesse atravessado, enquanto lágrimas iam descendo pela minha face.
- Eu não posso afirmar, sei que é um tumor e já de tamanho avantajado, pelo resultado do exame, mas só saberemos se é câncer ou não depois da biópsia. Por isso, é importante que façamos logo a cirurgia. Eu vou pedir mais alguns exames e assim que estiver com os resultados em mão, marcaremos a cirurgia.
Eu levantei. Minhas pernas estavam trêmulas e meu corpo parecia um papel solto ao vento. O nó na garganta persistia e eu buscava controlar as lágrimas que ainda molhavam meu rosto, quando o doutor Jeferson disse:
-Não se desespere, Mirela, muitos casos são solucionados com a cirurgia e muitas vezes nem precisam de quimioterapia. Então não perca a sua fé.
“Meu Deus, fé? Eu nunca tinha pensado sobre isso, eu acho que não tive fé em nada e deus para mim, era o poder, o dinheiro...” – eu pensava isso quando Helena acariciou minha mão discretamente e saímos da sala, e em meus ouvidos ainda tinha o eco da palavra maldita que me tirava o direito de continuar sendo o que eu havia sido até ali, se eu estivesse com câncer...
Segui para o apartamento de Helena em silêncio, carregada de uma dor inenarrável.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Brucourt
Em: 15/07/2019
Apesar de detestar e achar a Mirela mesquinha demais, senti pena dela agora. Ela vai ficar um pouco desnorteada com essa descoberta.
Tô curiosa quanto à Helena. Será ela alguém que quer se dar bem ou ama mesmo a Mirela, e seu maior "defeito" será não ser rica (na visão da Mirela mesquinha, é claro!) ?
[Faça o login para poder comentar]
Brescia
Em: 12/07/2019
Oi mocinha .
Por essa eu não esperava, descobrir que está doente não é fácil para ninguém, ainda mais para uma pessoa frívola como a Mirela. Será que a Helena ficará ao seu lado?
P.S: desculpa por não ter falado no primeiro capítulo, mas gostaria que soubesse que gostei muito como escreve, tem sempre aquele gostinho de quero mais.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Nossa!!! Esse, P.S me deixou mega feliz, ter gostinho de quero mais, isso é maravilhoso!!! Obrigada queridona. Espero que continue gostando e deixando seus comentários que super me alegram.
Bjs
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]