Capítulo 1
Capítulo 01
O dia já tinha nascido. Eu olhava o sol que já sinalizava ser quase meio dia quando meu celular tocou. A música me encheu os ouvidos de alegria quando eu vi no visor o nome dela, Helena Alvarenga a mulher que tirava o meu sossego e que me fazia viver a paixão mais enlouquecedora.
— Você não toma jeito não é? – eu disse manhosa, mas fingindo um tom de reprimenda.
— Eu preciso da sua resposta meu amor, eu quero que viaje comigo...
— Eu ainda não sei Helena, eu não tenho o que dizer para Nanda.
— E sua irmã? Ela pode ficar no seu lugar, por favor...
Eu já havia falado com Milena, pedido para que ela assumisse o meu lugar por uma semana na minha casa, mas ela estava irredutível. Imagina se ela iria compactuar com isso, tão certinha como era... aiii muitas vezes sentia ódio de jeito da minha irmã gêmea.
— Lena, por favor, eu não sei se vou conseguir meu amor, eu não posso me ausentar tantos dias assim... Isso é uma loucura... vou falar com Milena novamente, mas temo que ela não aceite. Já implorei, mas ela não quer aceitar o meu pedido...
— É verdade, eu sei que parece uma loucura, mas... o desejo que me consome cada vez que desço minha boca pelo seu corpo... que beijo seus lábios macios, me faz perder a noção do perigo que corro para está ao seu lado.
Eu ouvia aquilo e entrava em delírio com a voz macia e manhosa daquela mulher, que me fazia esquecer que eu havia feito um juramento de fidelidade e amor para a minha esposa. Helena me fazia vibrar de um desejo quase incontrolável, mesmo que por telefone e eu sabia que seria quase impossível não ir naquela viagem, embora ainda não soubesse como convenceria a minha santa irmã gêmea a ficar na minha casa se passando por mim. Depois de mais algum tempo de conversa, desliguei o celular. Tomei banho, era sábado e a piscina estava maravilhosa, mas eu precisava sair. Tomei café com leite, comi uma fatia de pão com queijo e segui para a casa de Milena.
— Mirela... entre, - era a minha irmã que me recebia a porta de seu apartamento com carinho, me envolvendo em seu abraço terno e acolhedor.
Eu adentrei a porta e segui com ela para a sala. A decoração da casa de Milena era o inverso da minha, tudo era sóbrio. A pintura das paredes era de cor ocre, quadros de paisagem. Um sofá de couro também de cor ocre. Uma estante saturada com livros que eu nunca iria ler, nunca leio, essa é a verdade. Milena sempre foi amante de leitura, lia os melhores escritores e gastava muito com livros e eu com roupas e sapatos, jóias e perfumes....
— Milena... por favor, me ajude, por favor... – eu comecei chorosa. — Eu preciso da sua ajuda ou serei infeliz para sempre...
— Meu Deus, você já vem de novo com essa história Mirela? Por Deus desista... Eu não vou fazer isso, nunca.
— Milena eu imploro de joelhos, - e me ajoelhei aos pés dela, com lágrimas que desciam pelo meu rosto. — São somente cinco dias, por favor, ela não vai desconfiar se você fizer como eu lhe disser... Mi... – era assim que eu a chamava quando queria algo e ela relutava em fazer. — Por favor, serão apenas cinco dias. Fernanda e eu quase não temos mais intimidade, então, se você for indiferente a ela, não terá problemas, eu garanto. Eu pago quanto você quiser...
— Pare com isso Mirela, você sabe muito bem que o dinheiro não está em jogo... Eu não concordo com o seu modo de viver, se casou com Fernanda, deve respeito e fidelidade...
— Aiii Milena pelo amor de Deus, pare com isso. Eu não quero sermões, por favor, minha irmã, eu só quero que me ajude. Eu prometo que quando eu chegar de viagem eu vou decidir definitivamente a minha vida. Prometo.
Os olhos de Milena desviaram dos meus e eu temi que ela não aceitasse. Faltava somente dois dias para que Helena pudesse marcar a viagem e eu ainda não sabia o que fazer. Fiquei ali por alguns minutos, emudecida, esperando que a voz da minha irmã me tirasse daquele padecimento, quando finalmente ela disse:
— Eu não posso... sinto muito Mirela... – e intentou em me afastar de onde eu estava.
— Milena pelo amor que você dedicou a nossa mãe, por favor, me salva, eu prometo que nunca mais te pedirei nada... não me deixe nessa situação angustiante. Eu preciso viajar com Helena, preciso ter certeza de algumas coisas para que eu possa me decidir... meu casamento está falido, eu sei disso, mas estou insegura com o amor de Helena, então essa viagem vai me tirar dessa angústia, eu prometo que vou decidir... por favor, minha irmã, somente você poderá me ajudar...
Milena desviou o olhar novamente e pude ver que um brilho diferente neles antes que ela os tirasse do meu olhar desesperado, senti uma esperança reacender em meu coração e eu insisti.
— Eu te imploro... Mi... me ajuda...
— Está bem Mirela, mas ouça bem o que vou lhe falar, essa é a primeira e última vez que eu farei isso. Nunca mais, está me ouvindo? E nunca mais me peça nada parecido.
Eu estava radiante. Milena era maravilhosa e eu a beijei na face com carinho e agradecimento. Ela sorriu diante a minha alegria.
— Eu vou para casa, assim que tudo estiver pronto eu venho e faremos a troca. Eu deixo o meu carro com você depois que me deixar no aeroporto. Milena, por favor, seja eu, você sabe que somos iguais no corpo, mas o seu gosto difere muito do meu. Então, tudo o que é meu você terá que usar, você entendeu?
— Sim, eu entendi. Agora eu preciso ir para o escritório, tenho que finalizar um processo, mas não demore mais do que cinco dias, eu tenho muito trabalho a fazer.
— Está bem...
Eu levantei e abracei minha irmã novamente, carregada de euforia e ela me repreendeu com aquele olhar lindo, mas eu não dei importância. Segui para casa esfuziante e telefonei para Helena, ela ficou tão feliz quanto eu.
A noite caía. O sol lá fora ia se despedindo do universo enquanto eu amenizava o calor que abrasava meu corpo naquela piscina imensa de água fria. Minha casa era uma bela mansão na parte nobre de Brasília chamada de Lago Norte. Fernanda havia recebido de herança de seu pai, junto a uma empresa de transportes que ela administrava com sucesso. As cores iam bailando no céu como se fossem vestes ciganas conduzidas pelas mãos ágeis de suas dançarinas. Eu contemplava tudo aquilo tomando uma dose de uísque, imaginando a felicidade que faria parte da minha vida nos dias que eu estaria junto com Helena. O sol já havia partido de vez, um manto estrelado já descia sobre mim, quando eu deixei a piscina e segui para o meu quarto. Tomei um banho demorado. Cobria meu corpo com um creme perfumado quando Fernanda adentrou o quarto. Envolvi meu corpo discretamente com o vestido que eu havia separado e ela olhou-me com indiferença.
— O jantar está pronto? – eu indaguei buscando desfazer o silêncio, - eu estou faminta, - eu disse e segui para a sala de refeições que ficava no andar inferior da grande mansão que morávamos.
— Eu vou tomar um banho, pode ir jantando caso esteja com muita fome...
Tinha um tom seco na voz dela, mas eu também ignorei. Talvez Milena estivesse com razão, eu devia pedir o divórcio, acho que não amava mais a minha esposa. Mas para mim não era fácil divorciar, eu tinha me casado com comunhão parcial de bens, e tudo o que Fernanda tinha havia sido herança de seu pai, com certeza eu não teria uma vida igual a que tinha ao seu lado. Senti raiva. Desci a escada que levava ao andar inferior da casa e joguei-me no sofá macio e grande que havia ali na sala de espera. Fernanda adentrou a sala alguns minutos depois e fomos para a mesa, quando Sandra começava a servir o jantar. O silêncio fúnebre nos envolveu e eu senti medo, era como se Nanda soubesse dos meus planos, - que bobagem a minha, ela nunca havia desconfiado das minhas traições, ela era apaixonada demais... – meus pensamentos estavam misturados e eu saí do mutismo, a sensação de ser descoberta me apavorou naquele instante quando eu a interroguei.
— Como foi o seu dia?
— Normal... nada de novo... E o seu?
— Eu fui à casa de Milena, estava com saudades... ela mandou-lhe um abraço, - eu menti, Milena nunca mandava nada para Nanda, nem sequer perguntava sobre ela. – Conversamos muito... – parei a frase, não tinha motivo para ficar inventando mais nada.
— Obrigada. – Fernanda disse e silenciou novamente.
A refeição foi finalizada assim, numa nuvem de silêncio e o batido do meu coração estava tão acelerado que temia ser ouvido por ela. Fernanda levantou-se e seguiu para o escritório depois de pedir licença. Aquiesci com a cabeça e me servi de uma sobremesa, agora mais serenamente. Milena tinha razão, eu estava cada dia mais distante da mulher que eu tinha jurado amor eterno e meu coração agora somente palpitava por Helena Alvarenga e o meu único desejo era está em seus braços.
A noite já havia coberto todo o céu de estrelas e uma lua imensa imperava no alto feito uma grande rainha e eu... devaneava, imaginando-me nos braços de Helena no percurso da viagem, nos locais que visitaríamos de mãos dadas sem temer a ninguém...
O abrir da porta me fez cerrar os olhos e ressonar suavemente, fingindo está adormecida para não ser tocada por Fernanda, que nem sequer intentou isso. Seu corpo cobriu a cama suavemente. Senti um suspiro profundo sair de seu peito e ela se aquietou me fazendo acreditar que já havia adormecido. Pouco tempo depois percebi o meu equívoco quando Fernanda levantou-se e seguiu para o outro quarto, ela quase sempre fazia isso, o que me deixava muito aliviada. E algum tempo depois eu adormeci com a imagem de Helena em minha mente. Não havia mais espaço para a minha esposa, eu estava cada dia mais ciente disso, mas separar-me de Fernanda Valadão não era tão fácil como Milena imaginava. Como abrir mão de todo aquele conforto, de todas as joias, perfumes e viagens e tantas coisas que somente o dinheiro dela podia me proporcionar. A paixão que havia tomado conta de mim era diferente de todas as outras. Eu estava casada, faria oito anos de casada com Fernanda em maio de dois mil e dez, mas nunca havia sido fiel como tinha prometido perante o juiz. Em cada ano de casada eu colecionava duas ou três amantes, mas sempre me cansava e fui perdendo a conta de quantas mulheres eu já tinha feito amor depois de me casar. Mas, com Helena tudo era muito diferente, eu estava apaixonada e não conseguia enjoar dos seus carinhos, pelo contrário, eu lhe desejava cada dia mais. Talvez, eu tivesse mesmo que me divorciar e seguir livre com a minha amada, que muitas vezes parecia tão misteriosa, eu nunca soube como Helena vivia. E quando tocava nesse assunto, ela dizia que vivia de rendas, de uma pequena fortuna que seu avô tinha deixado e insistir no assunto me parecia ser interesseira e eu me calava. Adormeci já quase de madrugada quando ainda troquei com ela a última mensagem.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 01/08/2019
Olá.
Boa noite
Eu ando tão sem tesão pela leitura......mas como sua história não é tão longa e aborda um tema bem interessante .....acho que vou gostar de acompanhar a aventura irresponsável ou não da Millena e também a aventura desafiadora da Mirella.
Rhina
Resposta do autor:
Olá, Rhina, que alegria. Espero que goste.
Abs.
Leoni
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Brucourt
Em: 15/07/2019
E não é que a minha escritora favorita voltou S2 :-D
Feliz demais por ler uma nova história sua. Esse começo já deixou gostinho de quero mais... Escrita maravilhosa como sempre...
Abraço
Resposta do autor:
Bru, bom dia lindona!!! Nossa que alegria seus comentários! Uauuu e ser favorita, puts é uma honra para mim. Li todos os seus comentários e vibrei com cada um deles, como estou na correria agora de manhã, a noitinha eu responderei a todos... rssss... com muito prazer.
Queridona, escrever para mim é um grande prazer e se torna ainda maior quando leio comentários, assim como os seus e os de todas as meninas que curtem o que eu escrevo. Obrigada mesmo. E não perca as emoções dessa história.
Bjs no coração.
Leoni
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Brescia
Em: 12/07/2019
Boa noite mocinha.
Que confusão!! Deu para conhecer um pouquinho da Milena, ela só pensa na boa vida, mas acho que a vida ainda reserva boas surpresas e eu acho que a maior virá dessa Helena.
Baci piccola escritrice.
Resposta do autor:
kkkkkkk... tudo tem seu preço, não é verdade? Brescia, obrigada pelos comentários. Aguarde que semana que vem, eu atualizo.
Abs.
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