A jovem dos cachos de cor caramelo e olhos da cor do oceano que encantaram Helena ficou deitada em uma das macas da enfermaria do Hospital, geralmente separadas por cortinas, enquanto aguardava para levar alguns pontos no queixo.

“Realmente não sei como lhe agradecer pela carona... como é mesmo seu nome?” A garota pergunta.

“Acho que não fomos devidamente apresentadas... eu me chamo Helena.” A estudante sorri e estende a mão. “E você... Maria alguma coisa?...Lembro de ter ouvido apenas seu primeiro nome na entrada do pronto-socorro.”

“Maria Pérola...” A jovem aperta a mão de Helena e antes que pudesse dizer qualquer outra sentença,  uma pré adolescente na maca ao lado puxa a cortina.

“Maria Pérola?! Do maravilhoso mundo de Pérola?” A menina abre um sorriso de orelha a orelha.

“O que está acontecendo?” Helena olha assustada.

“Mãe! É a Pérola daquele canal!! Eu reconheci a voz dela, sabia que era ela aqui!” A menina fala entusiasmada para a mãe, que rapidamente pega o celular.

“Sério, o que está acontecendo?!” Helena fica cada vez mais confusa.

“Eu tenho um canal no Youtube...” Pérola responde.

“Posso marcar você no meu story?!” A pré-adolescente pega o celular da mão da mãe e rapidamente vai ao encontro da influenciadora digital.

“Lógico que pode!” Pérola sorri e faz pose para a foto com a menina, com Helena aparecendo sem querer ao fundo. Poucos segundos depois, Pérola tira o celular da jaqueta – milagrosamente sem nenhum arranhão – e reposta a foto em que que foi marcada.

“Deixa eu ver se eu entendi, você tem um canal no Youtube, certo? É sobre o quê?” Helena questiona, envergonhada por não saber.

“Falo sobre curiosidades, dicas de maquiagem... vida, cotidiano, coisas assim.” Pérola explica.

“E você percebeu que a garota acabou de tirar uma foto com você e o queixo todo aberto, né?” Helena aponta.

“Sim, e agora vou postar outra foto explicando o que aconteceu junto com a garota que me salvou e socorreu.” Pérola sorri e faz outra pose, enquanto Helena dá um sorriso meio desajeitado e forçado para a foto. Não muitos segundos depois, uma enfermeira aparece para pedir uma foto.

“Beleza, quantos seguidores, assinantes ou sei lá o quê você tem?” Helena questiona.

“Aproximadamente um milhão e meio. É pouco ainda, a nível de influencer não é muita coisa, mas estamos no caminho.”

“Okay...” Helena se surpreende com o número, e logo em seguida seu celular toca. “Alô? Anna Júlia?!” Ela reconhece o número na tela.

“Você está de brincadeira comigo que você conhece a Pérola do maravilhoso mundo de Pérola e nunca me falou nada?!?” A amiga advogada reclama.

“Quê? Como sabe? Digo, ah, a foto. Eu acabei de conhecê-la, Anna. Ela caiu de moto e eu a ajudei, só isso. Nem sabia que ela tinha um canal.”

“Como assim nem sabia? Lógico que sabia! Eu já lhe enviei um vídeo dela uma vez falando sobre umas experiências científicas malucas e você riu! Então quer dizer que você nem viu?”

“Er...” Helena percebe que foi flagrada. “Desculpa, Anninha...”

“Af, não acredito! Nem sei se consigo lhe perdoar. Mentira, consigo sim, mas só se você me colocar no viva-voz para falar com ela!”

“Anna, não acha que seria meio estranho, não?”

“Por favor! Por favor... Por favor! Por favor. Por favor...Por favorzinho! Por favor? Por favor!” Anna suplica.

“Espera.” Helena revira os olhos e então cobre o microfone do celular com a mão. “Pérola, minha amiga Anna Júlia me viu com você na foto e...”

“E agora ela quer falar comigo?” Pérola sorri, esquecendo-se completamente da ferida no queixo.

“É...” Helena responde, ainda sem jeito, e então coloca no viva-voz.

“Anna Júlia?” Pérola pergunta, enquanto Helena coloca o telefone perto da influenciadora.

“P-p-pérola?!” Anna Júlia responde do outro lado, quase surtando.

“Oi minha querida! Tudo bem? Como vai a escola?” Pérola pergunta.

Helena segura o riso enquanto responde pela amiga: “Ela já se formou.”

“Ah, desculpe-me, já se formou no Ensino Médio e vai entrar na faculdade?” Pérola pergunta novamente.

“Ela já é formada na faculdade, é advogada.” Helena corrige mais uma vez, fazendo um esforço incalculável para não gargalhar.

“S-sim, a-advogada...” É tudo o que Anna Júlia consegue responder.

“Anna, vou lhe poupar de uma morte dolorosa e desligar o telefone, okay?” Helena finalmente cede aos risos e encerra a ligação. Após se recompor dos risos, pede perdão pela situação, enquanto coça o pescoço.

“Não tem problema, sério.” Pérola sorri novamente e afaga o braço de sua heroína. Helena sente um arrepio e, quando volta a si, o médico aparece para fazer a sutura.

 

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Lívia e seu namorado acabaram dormindo no hotel em Gramado para fazer companhia ao solitário Bento. Enquanto Dante, sóbrio e lúcido, esperava sua namorada se recompor da noite anterior, aproveitava para checar seu celular.

“Amor, olha isso, a Helena tirou essa foto ontem a noite com aquela Youtuber de São Paulo. Acho que estão se pegando, a menina só fica chamando a Helena de heroína, salvadora, e sei lá o que mais.” Dante mostra o telefone para a namorada enquanto esta esfregava um dos olhos para se acostumar com a luz.

 

“Oi? Que Youtuber? Quem está pegando quem?” Lívia pergunta, confusa.

“A Helena e aquela Youtuber do mundo de Pérola, lá. Não lembra? A Anna vive nos mandando vídeos dela.” Dante explica.

“Eu vou lá lembrar de vídeo, Dante.” Lívia boceja. “Que horas são?”

“Já são quase nove da manhã.” Bento também acorda e olha para a tela do celular e se vira na cama ao lado.

“Meu Deus! A clínica!” A garota se assusta.

“Não se preocupe, já mandei mensagem para o meu pai e ele disse que essa manhã não abriria a clínica mesmo porque ele tem duas cirurgias no hospital.”

“Menos mal...” Lívia se sente mais aliviada.

“Alguém por favor manda o planeta Terra parar de girar...” Bento reclama. “Gente, eu preciso beber mais, estou lembrando do Cláudio...” o irmão faz cara de choro e Lívia olha para Dante, implorando para uma continuidade da pseudoterapia intensiva.

 

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Após sair do Hospital já de madrugada, Helena voltou para a casa de seu pai e dormiu por lá mesmo, acordando apenas com o choro de seu pequeno irmão Horácio. Levantou-se e, ao chegar no quarto, viu que Dona Alvina já trocava a fralda do bebê. Pediu então para poder segurar um pouco a criança, e foi quando seu celular apitou com uma notificação. Cuidadosamente tirou o celular do bolso enquanto segurava o neném, e viu que a notificação era uma mensagem pessoal do perfil de Pérola com os seguintes dizeres:

‘Ei! Obrigada por ter me ajudado após meu acidente... o que acha de tomarmos um frappuccino no StarBucks hoje a tarde? Prometo que meu queixo já está cicatrizando e não vai lhe assustar tanto...hahahaha’

‘Que cicatrização rápida! Hahahaa não se preocupe, seu queixo não me assustou. Quanto ao StarBucks, vou ter que passar, estou passando um tempo com meus irmãos gêmeos... se você curte bancar a babá, esse é o rolê certo, mas também é a única coisa que posso oferecer agora...’ Helena responde rapidamente.

‘Acredita que eu adorava ser babá das minhas primas quando eram mais novas? Só me passar sua localização que vou amar lhe fazer companhia! ;) ‘ Pérola também responde rapidamente e, sem perder tempo, Helena lhe envia o endereço da casa de Higienópolis.

 

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Dante levou a namorada e o cunhado para uma casa de vinhos, no qual poderiam experimentar vários tipos e sabores, mas pelo menos poderiam controlar a quantidade.

“Sabe, uma vez eu fui em uma adega com o Cláudio e-”

“Nada de Cláudio aqui!” Lívia, ainda meio bêbada da noite passada, reclama. “Vamos focar em você, maninho.”

“Por que eles terminaram, afinal? Tu ainda não me contaste.” Dante indaga.

“Assunto deles, amor.” Lívia logo interrompe. “Eu quero experimentar esse daqui.” Ela pega uma das taças e toma vários goles de uma vez.

“Sabe Dante, eu planejava um futuro com o Cláudio. Tínhamos tudo planejado. Tudo. Nós iríamos comemorar o aniversário do nosso primeiro encontro, chamaríamos nossos amigos que ajudaram a  nos unir para reencenar os velhos tempos, e agora estou aqui, bebendo vinho com minha irmã e meu cunhado, sem ideia alguma sobre a direção do meu futuro...” Bento se segura para não chorar.

“Mas espera, o que aconteceu de tão grave que te fez terminar? Ele te traiu, por acaso?” Dante continua a especular.

“Dante, amor, acho melhor não ficarmos em cima do Bento para-”

“Ele me traiu, Dante. Ele traiu a minha confiança, traiu o meu amor. No momento, ele é a pessoa que eu mais odeio no Universo inteiro.”

“Dói para caramba, né.” Dante abaixa o olhar e repuxa um dos cantos da boca.

Bento então arqueia uma de suas sobrancelhas e até coloca sua taça sobre a mesa. “Sim, dói... tem algo acontecendo aqui que eu não esteja sabendo?”

Lívia e Dante se entreolham. “É algo meio pessoal, Bento...” Lívia se sente completamente desconfortável.

“Ela me traiu com a Helena. Simples assim.” Dante toma um gole de vinho e olha para o lado oposto ao da namorada.

“E... você... a perdoou? Por que não terminou com ela?! Por que não jogou vinho na cara dela e depois terminou com ela” Bento arregala os olhos.

“Hey, Bento! Eu estou aqui!” Lívia se irrita.

“Nós não terminamos porque eu a amo...” Dante sorri meio desajeitado.

“Isso é quase... nojento! Ew!” Bento faz cara de nojo, claramente bêbado.

“Obrigada. Amo você.” Lívia sussurra para Dante e coloca sua mão sobre a do namorado.

“Porém eu entendo tua dor, Bento.” Dante retira a mão que estava junto a Lívia. “É horrível, é irritante, tu não te sentes suficiente. Mas um relacionamento tem obstáculos. E talvez esse seja o obstáculo mais complicado e complexo que tu tenhas passado com Cláudio até agora. Talvez esse seja o momento de mostrar que tu és maior que tudo isso e que teu amor pode superar essa questão. Mas deixe bem claro: errar uma vez é humano, duas vezes é adeus.” Dante levemente ergue sua taça e olha sutilmente para a namorada, direcionando-lhe um sorriso complacente. “E agora também nós abrimos o relacionamento, então elimina os riscos de traição.” O rapaz dá de ombros.

“Até que essa não é uma má ideia...” Bento coça o queixo, pensativo.

 

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Pérola não demorou muito para chegar na casa de Helena, e logo foi muito bem recepcionada por Dona Alvina, que guiou a visitante até o quarto dos gêmeos, onde Helena estava.

“Hey, babá...” Pérola chega com um sorriso radiante e se aproxima dos berços, onde Helena se encontra.

“Pérola!” Helena a cumprimenta com dois beijos na bochecha. “Estava aqui cantarolando para os bebês dormirem. Dona Alvina me disse que eles gostam de ouvir minha voz.” Helena coloca as mãos sobre a borda do berço de Flávio.

“Posso imaginar.” A mão de Pérola, deslizando sobre a borda, acaba se aproximando da mão de Helena. Quando elas se tocam, Helena retira o antebraço.

"Er... conte-me mais sobre o seu canal... como começou?” Helena pergunta, em uma voz mais branda para não acordar os bebês.

“Não acha melhor sairmos daqui ao invés de continuarmos sussurrando?” Pérola responde no mesmo tom e Helena concorda e a leva para a sala de estar. “Então, a respeito do canal... eu ganhei uma câmera de aniversário e comecei a me filmar fazendo alguns tipos de maquiagem diferentes... algumas pessoas começaram a me seguir e aos poucos fui expandindo o canal. Um dos vídeos acabou fazendo sucesso e a partir daí segui com o canal. Mas e você, o que lhe fez escolher medicina?”

“Não me imagino fazendo outra coisa.” Helena explica com simplicidade.

“Eu estou pensando em fazer um vídeo a respeito da história da Medicina... está interessada em participar?” Pérola pergunta com gentileza.

“Posso participar no roteiro, se quiser... não que eu saiba muito, mas nas aulas de Ética tivemos algumas pitadas de história da Medicina.”

“Mas não lhe interessaria participar propriamente do vídeo?”

“Não tenho um bom ângulo para as câmeras...” Helena encolhe os ombros e desvia o olhar.

“Como assim? Você fica perfeita na câmera!” Após o elogio espontâneo, Pérola se ruboriza. “Digo, você tem presença, fala bem... seria bem legal se você participasse...”

“Talvez numa próxima vez... realmente agora ando um pouco fora de foco.”

“Fora de foco por quê?”

“Não sei...” Aos poucos, Helena vai ficando mais confortável na conversa. “Imaginei que essas férias fossem bem diferentes, só isso.”

“Não imaginou que estaria cuidando dos anjinhos mais formosos do planeta dormindo pacificamente naquele quarto?”

“Bem, na verdade não. Achei que estaria no interior, com minha ex namorada e o filho dela meio que treinando para morarmos juntas.”

“Parece que vocês estavam bem sérias... também saí de um relacionamento meio conturbado, ok que já faz um tempinho mas me marcou bastante, foi meu último relacionamento sério. Estava quase me casando mas aí ela foi chamada para um trabalho lá na Nova Zelândia e não suportamos a distância...” Pérola explica. “Até cheguei a visita-la por alguns dias, fizemos um vídeo quando fui para lá, eu quase nem tinha seguidores, foi logo quando ganhei minha câmera, deve ter sido o meu terceiro vídeo após uns tutoriais de maquiagem, enfim, fizemos o vídeo, e foi eu voltar para São Paulo, ela me enviou uma mensagem terminando.”

“Caramba...” Helena cria certa empatia com a situação. “Relacionamentos a distância realmente não dão certo...”

“O pior é que foi esse vídeo que fez sucesso, no fim das contas nem apaguei, ele está monetizado então serviu de consolo e foi o que fez meu canal decolar...” Pérola acaba rindo da própria desgraça.

“Está brincando que o vídeo ainda está na internet?! Eu preciso ver isso!” Helena tira o celular do bolso e Pérola tenta barrá-la.

“Nem pensar! Você não vai assistir a minha desgraça na minha frente!” Pérola pula sobre Helena e tenta retirar o celular a todo custo.

“Qual é, você não disse que monetizou o vídeo? Vai ganhar com a minha visualização! Todo mundo ganha!” Helena estica o braço impedindo Pérola de pegar o aparelho e o rosto da estudante fica consideravelmente próximo ao da influenciadora. Sorrisos desconcertados são trocados, Pérola pigarreia e Helena desvia o olhar, envergonhada.

“Pode ver o vídeo... só não pode rir, hein.” Pérola se afasta lentamente, um pouco envergonhada também.

“Melhor não, era brincadeira...” Helena coloca o celular novamente no bolso. Por sorte, Dona Alvina aparece segurando uma bandeja com duas xícaras de chocolate quente.

“Helena, preparei isso aqui para você e sua amiga, nesse friozinho um chocolate quente sempre vai bem!” A governante sorri e Helena aceita sem nem pestanejar.

“Obrigada, Dona Alvina! A senhora é a melhor.” A anfitriã agradece por se salvar de uma situação complicada.

“Que xícara linda! E esse coração desenhado no chocolate... que perfeito! Posso tirar uma foto dessa obra-prima, Dona Alvina?” Pérola pede, já sacando o celular.

“Fique à vontade, minha filha, isso é bem simples, eu faço de coração, e fico honrada por ter gostado!” Dona Alvina fica toda encabulada.

Pérola tira algumas fotos do chocolate quente, escolhe a melhor, gasta alguns minutos editando-a e finalmente posta. Enquanto isso, Helena saboreia a bebida. “Seu chocolate vai esfriar.” A estudante de Medicina aponta.

“Mas olha essa foto que perfeita... e já tem quase 400 curtidas em menos de um minuto!” Pérola pisca e sorri.

“Você sempre faz isso de tirar fotos antes de comer ou beber alguma coisa?” Helena pergunta, intrigada.

Pérola respira fundo. “Você deve pensar que eu sou extremamente fútil, né? Eu sei. Às vezes eu penso isso de mim também. Mas isso é só marketing. É isso que paga minhas contas. Na verdade eu sou formada em Relações Internacionais. Sempre quis uma carreira diplomática mas não obtive muito sucesso.” Pérola dá de ombros, confessando.

“Sério?” Helena se surpreende.

“Pois é. Gastei a faculdade toda pagando cursos de francês, inglês e espanhol, engolindo livros de Schelling e Waltz para minha ex ser contratada no emprego dos meus sonhos. Como dizem, é a vida.”

“Uau, parece que há muitas coisas sombrias por trás do maravilhoso mundo de Pérola...” Helena coloca a xícara sobre a mesa, cruza as pernas e se inclina com a mão no queixo, demonstrando interesse na conversa.

 

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Anna Júlia acabou encontrando em Bernardo uma companhia saudável e altamente compatível para filmes e séries. Ela o chamou novamente para uma maratona altamente nerd regada a pipoca, asinhas de frango, limonada suíça e bombons de chocolate branco.

“Chegou cedo!” Anna Júlia abraça o novo amigo.

“Não podemos nos atrasar quando se trata de Time Lords e viagens no tempo!” Bernardo sorri. “Mas antes de assistirmos, por favor me atualize. Sua colega de apartamento está pegando a Pérola daquele canal do Youtube?”

“Então! Não sei. Tentei perguntar mas ela continua negando. Mas a Pérola postou uma foto de uma xícara de chocolate quente e marcou a localização em Higienópolis, que é onde o pai de Helena mora, e ela disse que está passando férias na casa do pai, então...”

“Então a detetive deduz que Pérola esteja dormindo lá, certo?”

“Bem ela postou mais cedo, mas Helena não responde as mensagens então assumo que elas estejam trans*ndo.” Anna Júlia começa a comer a pipoca enquanto tece suas teorias.

 

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“Nunca vi o Flávio chorar assim. Nós já demos mamadeira, trocamos a fralda, eu não sei o que fazer!” Helena começa a se desesperar. “Dona Alvina está dando banho no Horácio, acha que devo incomodá-la?”

“Calma, vamos conseguir resolver isso. O que você aprendeu sobre bebês na sua faculdade?” Pérola pergunta, pegando o neném no colo.

“Tive um pouco de semiologia pediátrica, mas foi uma introdução, somente. Eu realmente não faço a menor ideia do que fazer quando um bebê chora e não é fome ou fralda suja!!!”

“Espera...” Pérola começa a balançar Flávio de maneira tênue, e o bebê aos poucos para de chorar. “Acho que está funcionando...”

“Que tipo de mágica é essa?” Helena se encanta com a habilidade da visitante.

“Quando eu tinha 15 para 16 anos, minha tia me pagava para tomar conta das minhas primas, acabei aprendendo bastante e abri uma pequena ‘empresa’ com duas colegas, e nos tornamos babás oficiais da vizinhança inteira.” Pérola explica, enquanto ainda balança o bebê.

“Helena?” Heveraldo chega e procura pela filha.

“Pai? Onde o senhor estava? O senhor está de licença paternidade, onde se meteu o dia todo?” Helena pergunta, quando vê o pai aparecer no quarto.

“Sua mãe estava com uns problemas na firma e eu fui lá para auxiliá-la.” Heveraldo explica. “E quem é essa adorável moça? Espera... você me parece familiar...” O pai de Helena se aproxima e analisa a garota.

“Meu nome é Pérola, eu-”

“Você por acaso é aquela garota da internet que tem um vídeo sobre algumas teorias malucas dos Beatles?” Heveraldo questiona e Pérola responde positivamente. “Minha esposa... digo, minha finada esposa adorava seu canal, ela me mostrou esse vídeo uma vez.” Com a voz entristecida, o pai da anfitriã revela.

“Helena me contou a respeito de sua esposa... meus pêsames, senhor.”

“Bem, seu vídeo foi uma lembrança de um momento bom.” Heveraldo exibe meio sorriso e logo muda de assunto: “Mas e vocês meninas, vão sair hoje?”

“Não sei, vamos?” Pérola olha para Helena.

“Pergunto isso porque vi uma moto estacionada lá fora e começou uma chuva absurdamente atípica para esse mês, então se vocês planejam sair de moto, provavelmente não vai ser muito seguro porque a previsão é de tempestade até amanhã.”

“Pérola, quer dormir aqui?” Helena questiona.

“Eu planejava editar alguns vídeos até amanhã...” Pérola faz uma expressão de preocupação.

“Tudo bem, eu levo você para casa e amanhã você volta para buscar a moto, sem problemas.” Helena sugere.

“Não! Eu não disse que negaria o convite!” Pérola ri. “Eu posso editar depois, sem problemas, trabalho até um pouco mais tarde.”

“Vou pedir para Dona Alvina nos preparar um jantar e arrumar sua cama, querida.” Heveraldo comenta e se retira.

“Parece que vamos ter uma festa do pijama, então!” Pérola brinca. Ela coloca Flávio de volta no berço e retira o celular do bolso. As duas caminham pela casa, em um dos corredores, e, em dado momento, Pérola puxa a cortina para ver a chuva e tira uma foto para postar. Então liga a câmera novamente, só que dessa vez no modo filmagem, e começa a filmar Helena. “Hashtag festa do pijama aqui na casa da minha nova amiga Helena! Ei Helena, diz oi para o pessoal!”

“Não...” Helena tampa o rosto e tenta fugir da gravação.

“Pessoal, Helena não é muito fã das câmeras...” Pérola vira a câmera para si e após mandar um beijo para o pessoal, encerra a filmagem. “Desculpa se você não curtiu aparecer no vídeo, eu não sabia, geralmente o pessoal adora, perdão mesmo.”

“Tudo bem, tudo bem.” Helena dá de ombros. “Acho que usamos o mesmo número de roupa, né? Vou pegar algo mais casual para você poder dormir.”

“Usamos sim, acredito eu... mas ainda está um pouco cedo, não acha?”

“Nossa, verdade, com o tempo fechado assim eu perco noção da hora...” Helena coça o pescoço, desajeitada. “Temos que jantar ainda, esqueci... digo, não esqueci meu estômago acaba avisando, mas enfim, acho que o jantar sai daqui a pouco e-”

“Ei... não precisa ficar nervosa perto de mim!” Pérola se aproxima com aquele mesmo sorriso que faz o coração de Helena acelerar sem pedir licença.

“Eu não estou nervosa!” Helena franze a testa e dá um passo para trás.

“Por que toda vez que eu me aproximo você se afasta?” Pérola arqueia uma sobrancelha e cruza os braços.

“Eu não me afasto... você que se afasta!” Helena dá outro passo para trás.

“Tenho a impressão de que o que você passou deve ter destruído a sua confiança nas pessoas, não?”

“Não! Eu confio nas pessoas.” Helena continua com a expressão sisuda. “Vamos descer para jantar, Dona Alvina já deve estar acabando.”

“Seu pai falou há poucos minutos que ela acabou de começar...”

“Eu... preciso tomar um chá antes do jantar.” O desconcerto de Helena faz Pérola ficar cada vez mais confusa.

 

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Bernardo e Anna Júlia maratonavam algumas temporadas de Doctor Who quando o rapaz colocou o braço ao redor de Anna. Ela, por sua vez, recostou a cabeça no ombro dele e se ajeitou, colocando a mão sobre o abdome do garoto.

“As pessoas precisam de mais amizades assim, quem disse que precisamos ter alguém no sentido romântico para curtir o frio?” Anna Júlia sorri, olhando para o rapaz.

“Tem razão, provavelmente somos seres humanos evoluídos qu-” Antes que Bernardo pudesse completar a frase, Anna Júlia o beija. “Espera, o que acabou de acontecer?” Ele questiona, confuso.

“Eu não sei, ficar abraçada com você assim me deu tesão...?” Anna Júlia, mesmo se sentindo confusa, espera uma resposta do garoto, mas o que tem de volta é outro beijo intenso, seguido de uma série de beijos mais curtos que se transportam para o pescoço. Poucos minutos de pegação e o rapaz rapidamente tira as calças de Anna Júlia. Ele então começa a trabalhar com sua língua ao redor da região vulvar da moça.

“Bem...acho que isso não atrapalha nossa amizade nerd limitada a séries e filmes, né? Bernardo pergunta, com a cabeça entre as pernas de Anna.

“Fica quieto e mostra para quê você tem essa língua!” Anna Júlia fecha os olhos e expande as pernas o quanto pode para receber o máximo de prazer.

 

 

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Após o jantar, Dona Alvina foi arrumar um dos quartos de visita para Pérola. Enquanto aguardava, ficou no quarto de Helena enquanto esta procurava algum filme para passar o tempo.

“Você está bem?” Pérola se senta ao lado de Helena, na borda da cama.

“Sim... por quê?” Helena estranha a pergunta e, inconscientemente se afasta de novo.

“Por isso... parece que você tem uma tendência a se afastar das pessoas ou é impressão minha?”

“Isso é assunto meu e da minha terapeuta...” Helena franze a testa novamente e percebe que foi grossa. “Desculpe... é que eu vim de uma série de eventos azarados e eu sinto que minha falta de sorte ainda está longe de acabar.”

“E por que você acha isso?”

“Não sei explicar... no dia que eu desisto, uma garota linda cai de moto na minha frente, não sei se isso é um sinal de sorte ou azar.”

“Bem, o azar foi meu que arranhei minha moto e meu queixo, mas eu posso dizer que não mudaria nada porque caso contrário não conheceria você...” Pérola sorri e Helena morde o lábio inferior, acanhada. “Helena, essa é a hora que você se aproxima e me beija, não entendeu?” A influencer acaba dando risada e Helena finalmente pega a garota pelo rosto e a beija. Os lábios se tocando revelando desejo, mas ao mesmo tempo certo anseio e precaução.

 

Fim do capítulo