Sete dias se passaram e não tive contato com Charlotte, só sabia que ela estava viva porque todos os dias Arnold me ligava para dar notícias, pelo que havia me informado, minha chefe tinha voltado a normal. Não aparentava estar abalada, com certeza havia voltado a usar a sua armadura.

— Filha, por que está tão pensativa? – Meu pai me perguntou, pois fazia mais de meia hora que estava olhando para as mensagens que havia mandado para Charlotte.

 

— Eu mandei umas cem mensagens para ela, me expliquei, disse que quero ficar com ela, mas ela não respondeu nenhuma.

 

— Margareth, mulheres machucadas são assim mesmo. Demoram para entender as coisas – Estávamos sentados no sofá da sala.

 

— Eu sei, mas acho que isso quer dizer que ela só quis brincar com meus sentimentos, pois ela nem sinal de vida dá — Eu estava tão magoada naquele momento que estava falando as coisas sem pensar direito.

 

Meu pai ao ouvir essas palavras, começou a balançar a cabeça negativamente.

 

—Você é muito cabeça dura — Ele comentou ao perceber que eu não tinha jeito.

— Charlotte dizia que eu costumo entender as coisas tudo errado – Comentei e comecei a me lembrar dos nossos momentos de amor. Estava com muita saudade de Charlotte.

 

— Talvez ela esteja certa – Meu pai se levantou do sofá – Acho que precisamos preparar o almoço.

 

Neste momento, a campainha começou a tocar e me levantei para atender a porta. Não fazia ideia de quem poderia ser. Até pensei na possibilidade de ser Charlotte, no entanto, estava muito enganada.

 

— Mel? – Disse ao abrir a porta. Fazia alguns dias que não tinha tido notícias dela. Na verdade, depois do ocorrido no hospital, paramos de nos falar. Acho que até Mel havia percebido que eu não servia para namorar.

 

—Oi! – Mel estava muito sorridente. Nem parecia que nós estávamos distantes uma da outra – Como estou de folga por esses dias, resolvi te ajudar a cuidar de seu pai. Fiz esse bolo para vocês – Estendeu com as duas mãos uma vasilha que dentro tinha um bolo que parecia delicioso.

 

— Nossa! Não precisava – Fiquei muito surpresa por ela estar fazendo aquela gentileza, já que nosso último encontro não havia sido muito bom – Entre! – Dei passagem para ela.

 

— Quem é, filha? – Meu pai perguntou da cozinha.

 

— É a Mel – Respondi e Mel entrou ficando parada no meio da sala – Quer se sentar? – Perguntei um pouco sem jeito, pois ela como sempre estava se preocupando comigo e eu estava sofrendo porque Charlotte não respondia as minhas mensagens.

 

— Ah... Seu pai que vai preparar o almoço? – Ela parecia um pouco preocupada.

 

— Ele vai me ajudar. Meu pai é muito teimoso, não consegue ficar sem fazer nada– Respondi e ela ficou surpresa.

 

— Margareth, se você quiser, eu posso fazer isso. Bom... Mesmo eu não sendo a melhor pessoa para se namorar, eu sei cozinhar muito bem – Aquelas palavras me machucaram profundamente.

 

Mel acabou fazendo todo o almoço e meu pai que ficou sem fazer nada, me encarou o tempo todo.

Acho que ele estava tentando entender o porquê de eu não estar amando aquela mulher, já que ela estava cuidando de nós dois.

— Você cozinha maravilhosamente bem, Mel – Meu pai comentou já satisfeito. Depois que meu pai havia ficado doente, ele quase não estava tendo apetite, mas com esse almoço que Mel preparara, seu Gregório havia comido mais do que o normal.

 

— Muito obrigada, sua filha também pensa o mesmo – Ela olhou para mim e fiquei sem graça.

 

Não sei se meu pai havia sido conquistado pela barriga, mas ele foi para o quarto e me deixou sozinha com Mel.

 

— Me desculpa por tudo que lhe fiz passar – Falei para Mel quando já estávamos nos despedindo.

 

— Não precisa se desculpar, você não manda em seu coração – Ela parecia compreensiva. Mel era uma mulher admirável.

 

— Pode ter certeza que se neste momento eu pudesse escolher, eu escolheria ficar com você. Depois do que você fez hoje por mim e por meu pai, passei a te achar uma pessoa ainda mais maravilhosa.

 

—Margareth – Mel deu um riso fraco – Eu sei que você não escolheria a mim. Isso tudo que está sentido agora é gratidão, não é amor. Não sei se você já percebeu, mas você ama sua chefe. Ninguém alimentaria uma paixão por tanto tempo e aguentaria tanta coisa se não fosse amor.

 

— Eu nunca havia pensado nisso – confessei.

 

— Pois então pense – Ela se aproximou mais de mim. Estávamos na porta de minha casa – Não se sinta culpada pelo que aconteceu entre a gente e também, não ache que está me devendo algo por conta do que fiz hoje. Como já lhe disse, eu gosto muito de você, quero o seu bem mesmo você não ficando comigo.

 

— Você é uma pessoa incrível, sabia? — Não tinha como não me sentir completamente encantada por aquela mulher.

 

— Eu sei disso, mas é muito bom quando as pessoas que eu quero me lembram disso – Ela se aproximou mais de mim – Posso te pedir uma última coisa?

 

— Claro que pode – Disse olhando em seus olhos. No fundo eu sabia o que era.

 

— Posso te dar um último beijo?

 

Não respondi a pergunta dela com palavras, mas sim com gestos, puxei o corpo dela para mais perto do meu e a beijei com muita intensidade, demonstrando todo o carinho que sentia por ela. Se aquele seria o nosso último beijo, tinha que ser especial.

 

 

 

Fim do capítulo