o Avião estremeceu e eu me agarrei à poltrona, estava extremamente nervosa e queria o quanto antes que a gente chegasse.

-Tudo bem senhorita? - disse a comissária num sorriso simpático.

-Sim, eu acho que só preciso de um calmante.

-Primeiro voo? - continuou a comissária, meu vizinho de poltrona que até então estava com os olhos fechados os abriu, e se pareceu interessado.

-Não, na verdade apenas problemas pessoais.

-Se desejar, posso buscar um copo com água.

-Não precisa se incomodar, eu apenas preciso respirar fundo. - A comissária assentiu e saiu verificando outros passageiros. Peguei meu celular e conectei ao wi-fi da aeronave, então fiz algo que achei que jamais ia fazer, abri o navegador e digitei no google por aquele nome…

Elise de Vries

Ela estava lá em todas as páginas, em redes sociais, milhares de seguidores. O homem esticou o pescoço pra ver meu celular, e começou num inglês perfeito.

-você segue a de Vries? - me assustei ao sair dos meus pensamentos.

-não… - hesitei - não tenho redes sociais, mas você a conhece? - o homem riu.

-Conheço sim, ela ficou bem famosa depois que participou daquele reality show… esqueci o nome. -  O encarei com cara cética, e esperei ele tentar lembrar o nome. - enfim, a história dela é bem triste, é incrível ver que uma ex-presidiária hoje virou uma digital influencer, sem contar as fotos dela são maravilhosas.

-Eu não sabia… - disse eu ainda meio sem acreditar, abri seu perfil e haviam várias fotos na praia e sorrindo com uma mulher loira em algumas..

-Sim, acho que até, ela se casou, não é? - a outra mulher que estava do lado dele confirmou.

-Casou com a advogada dela do tempo da prisão. eu achei lindo e romântico. - Cada palavra era um golpe contra mim. Olhei de novo a foto… o sorriso... era real. Senti a gravidade mudar o eixo, mas não era o avião… meu rosto ficou quente, e senti a visão embaçar, eu sabia onde ia acabar... travei a tela do celular e levantei rápido, apressada fui para cabine do banheiro, quando cheguei e vi minha visão no reflexo do espelhinho, eu estava abalada e chorando. Eu já sabia daquilo, porque eu estava chocada? qual era meu problema? Não sei quantos minutos eu passei naquela cabine, mas ainda escutei algumas pessoas baterem na porta, mas não consegui abrir, até que escutei a voz da comissária, tive que sair mas antes coloquei meus óculos escuros pra disfarçar o choro, abri a porta.

-Senhora, você está passando mal?

-Não, desculpe. eu só precisava de um tempo. já estou melhor. A outra moça me olhou com cara de pena, esperou eu desocupar a entrada e entrou no banheiro. voltei à minha à minha poltrona e fingi dormir, durante várias horas para não ter que conversar com ninguém, acabei adormecendo e sonhando.

Eu estava correndo procurava ela em todos os lugares, ela não estava lá. Alguém tinha levado pra outro lugar… Ela não estava ali, de repente eu estava no celeiro de novo, mas ela não estava lá, as paredes começaram a se fechar e os fenos começaram a se enroscar no meu corpo e no meu pescoço, eu estava morrendo sufocada e presa, as paredes se fecharam em mim e escutei o solavanco.

As rodas do avião encostavam no chão, o cinto me apertava e ainda tinha aquele chacoalhar forte das frenagens. Estávamos chegando! Meu coração deu um pulo, meu corpo estava resfriado, o dia lá fora estava amanhecendo. Os primeiros raios de sol já despontavam. Não me despedi de ninguém, saí correndo pro aeroporto e tratei de alugar um carro.

Eu tinha um lugar específico: Mission Hill. Eu já tinha decorado o endereço. Era um pouco longe do Aeroporto. Eu já tinha acertado tudo, tinha alugado uma casa nos arredores. eu não sabia quanto tempo eu ficaria ali, mas eu precisava mostrar que eu realmente a amo, e estou disposta a lutar por ela, mesmo ela tendo se casado com essa mulher tenho certeza que foi algo meio que aconteceu por acaso, Elise devia estar se sentindo carente, e devia ser algo apenas físico… - A imagem de Elise algemada a cadeira, chorando gritando meu nome explodiu na minha mente, sacudi a cabeça.

-Eu a deixei sozinha… - idiota, minha cabeça gritou.

-Eu meio que briguei com meus tios, e não sabia pra onde ir. - A voz jovem de Elise dizia em minha cabeça, imagem dela tremendo de frio naquela noite chuvosa parecia tão distante… e tão próxima.

-Ela sempre esteve sozinha. E eu nunca estive lá pra ela. - Idiota.

Ainda devia ser umas 7 da manhã, quando eu cheguei à rua, olhei no gps do celular, era ali mesmo. estacionei o carro e olhei a casa enorme azul, e as cortinas brancas fechadas. E não sabia se havia alguém na casa. Realmente não sabia o que fazer dali em diante. E se ela não estivesse mais alí? E se Fernando tivesse me dado o endereço errado?

Droga, eu estava ferrada, remexia o celular e a internet pra saber se ela morava ali mesmo. eu era uma grande idiota, tinha sido levada numa corrida sem sentido meio mundo, e nem tinha confirmado as informações básicas. A porta abriu e meu coração gelou. Uma menininha loira saiu, pronta pra ir pra escola.

-Droga! Merda! Como eu sou idiota!!! - A menininha continuava olhando pra porta entreaberta, de onde saiu uma mulher loira, ela me parecia bem familiar. apertei os olhos pra ver melhor. quando uma terceira pessoa saiu, camiseta xadrez folgada azul e jeans claros, todo o sangue fugiu do meu corpo.

-Elise… - A loira abaixou e deu abraço na menina que devia ter uns 4 anos, beijou seu rosto, se levantou e se aproximou de Elise e deu um beijo demorado, a menina riu e puxou a calça de Elise que desfez o beijo e  também brincou com a menina. Elise pegou em sua mãozinha, e a menina deu tchau pra loira que retribuiu, Elise começou a sair com a garota a pé mesmo.

Eu estava do outro lado da rua, e agora as duas estavam se aproximando em minha direção.

Fim do capítulo