17 - É Mais Fácil Ignorar Do Que Resolver
A palavra ignorar no dicionário significa desconhecimento acerca de algo. Seja esse algo um assunto e/ou problema. Ignorar também é utilizado pelo ser humano quando quer adiar a resolução de algo.
"Se eu ignoro um problema, ele não existe."
Felizmente ou não, a vida não funciona assim. Se um problema é "ignorado" agora enquanto ainda é um floco de neve, no futuro este mesmo problema retornará em forma de avalanche podendo soterrá-lo em suas profundezas.Esse era o pensamento de Giuliana em relação a confusão de sentimentos que a rondava. Seu encanto pela escritora de um lado, do outro sua esposa e o projeto de terem um filho ou filha.
Após o jantar, Ana não telefonou ou entrou em contato com ela de alguma forma e esse silêncio começava a preocupá-la. Talvez a outra tivesse repensado a situação delas. Ana não gostaria de envolver-se com ela sem uma situação definida. Depois de muito pensar, decidiu ter uma conversa franca assim que se encontrassem. E na expectativa, o final de semana passou.
Segunda-feira é considerado por alguns o pior dia da semana por recomeçar rotinas. Sejam de empregos insatisfatórios ou trânsitos caóticos. Giuliana havia madrugado. Arrumou-se pacientemente enquanto olhava Laura dormir. Saiu de casa sem tomar café e dirigiu pela cidade dando voltas pela orla até o horário de ir a Lus@Teca.
Assim que chegou ao escritório tratou de ir para sua sala adiantar algumas finalizações no esboço de algumas ilustrações. Haveria uma reunião e precisava do material finalizado.
As horas voam quando se mantém a concentração em algo. Giuliana despertou de sua imersão com o som de batidas na porta.
-Pode entrar. - Não olhou muito tempo a porta.
-Oi. Vim olhar as imagens. - Antônio sentou-se.
-Estava finalizando pra apresentar na reunião.
-Hum. Sabia que havia esquecido de algo. A reunião foi cancelada desde sábado.
-Por quê?
-Ana está em Portugal. - Os olhos de Giuliana abriram-se rapidamente sob observação do agente.
-Aconteceu algo? - Perguntou com receio.
-Nada demais. Apenas um rompante de Ana. Algo a desconcertou e ela afastou-se para se reestabelecer. Assim que ela resolver voltará.
-Compreendo.
-Embora eu sempre diga que ela pode contar comigo, ela prefere a portuguesa. Fazer o que?
-Deve ser por causa do laço que as une.
-Ah, sim. Com certeza. - O homem sorriu de forma lasciva. - Ela me deu carta branca para resolver o que tivesse.
-Será que ela demora a voltar? Gostaria de tirar umas dúvidas.
-Não sei. Provavelmente não. Se quiser adiantar posso ser de alguma ajuda.
-Só com ela.
-Então... Como anda o livro?
Os dois passaram um determinado par de horas entre explicações e relações entre poemas, contos e gravuras. Antônio estava satisfeito com o andamento desse projeto e o prazo de entrega estar dentro do previsto. Encerraram aquele bate-papo perto das 16:30 e a italiana fez o caminho de casa com os pensamentos em ebulição.
Agora já sei o porquê de não ter entrado em contato até agora. Será que ela realmente se arrependeu? Melhor focar em Laura e meu casamento. Ela me ama ao ponto de aceitar gerar nosso bebê. Em breve a família crescerá.
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Assim que souberam que Ana estava em Lisboa, seus amigos organizaram um pequeno encontro em um barzinho onde frequentavam quando jovens, não poderia ser em outro lugar.
Da casa de Ana até o Cais das Oficinas onde se localizava um dos melhores bares portugueses levava em média de trinta a quarenta minutos. Assim que estacionaram o carro, Patrícia avistou Vertrudes e Gusmão as esperando.
-Pensamos que tinhas abrasileirado-se. - Vertrudes comentou em tom de galhofa.
-Certamente isto veio dessa cabeça tua. Pois saiba que o Brasil é um belo e acolhedor país. Me sinto honrada em residir lá da mesma forma que possuo residência aqui.
-Não quis ofender-vos.
-Creio. - Ana retrucou. - Onde estão os outros? - Melhor trocar o assunto para que a noite não findasse cedo.
-No pub. - Gusmão respondeu andando em direção a entrada do Speakeasy.
O Speakeasy estava lotado. Com vários ambientes, o cliente poderia escolher onde fazer sua confraternização. Ana e seus amigos ficaram na parte do bar onde ficava o pub. Acontecia um show intimista de fado e a voz de Ana Moura versando seus Búzios encantava tanto os nativos quanto os turistas.
Ana se permitiu ser envolvida pelos braços de Patrícia e ao som daquela melodia foram transportadas para mundos distintos. Patrícia voltou no tempo ao dia no qual conheceu sua enamorada anos atrás e Ana atravessou o oceano. Seu porto, Bahia.
"...À espreita está um grande amor mas guarda segredo
Vazio tens o teu coração na ponta do medo
Vê como os búzios caíram virados p'ra norte
Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte."
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Brescia
Em: 13/07/2019
Boa noite mocinha.
Às vezes é necessário um tempo com os amigos para espairecer e voltar com a mente se e livre de impedimentos.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Boa noite,moça.
Concordo discordando. As vezes, o tempo e as circunstâncias nos fazem tomar decisões impensadas.
Baccio.
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