Voltei.
Autodestruição
A vida é uma caixinha de surpresas de desgraças.
Meu nome é Sophie Smith, e eu estou muito, muito fodida. E ênfase no muito.
Não faço a mínima idéia de como as coisas chegaram à esse ponto. Sinceramente? Acho que, algum ser supremo estava muito entediado e pensou: "Nossa, a vida de Sophie está ótima. Por que não destruí-la para rirmos um pouco?"
E cá estou eu. Na merd*.
Calma, vou explicar.
Minha vida começou à se desgraçar há aproximadamente dois anos, quando peguei minha ex noiva na cama com uma de suas alunas, e tudo o que eu pensei na hora foi: "Uau, eu sou mesmo um fracasso."
Entendam: Sou detetive de homicídios, meu trabalho é investigar, avaliar e descobrir. Já coloquei inúmeras pessoas de grandes nomes atrás das grades, e, justo dessa vez, a minha intuição e meu poder dedutivo falharam. Quando o assunto era Ashley, o mundo virava de cabeça para baixo e o errado virava certo.
À propósito, esse é o nome da vadia.
Tive que recomeçar a montar meu pequeno castelo de cartas à partir daí. Em partes, me sinto culpada pelas coisas terem chegado à esse ponto. Meu trabalho era a minha vida, e isso sempre consumia grande parte do meu tempo e acabei trocando minhas prioridades. Passei incansáveis madrugadas na delegacia, furei com ela em diversos aniversários de namoro. Deixei-a inúmeras noites sozinha em nossa cozinha, com um prato de jantar frio e, mais uma vez, o buraco de minha ausência.
Uma hora as coisas cansam.
Senti-me tão consumida pela raiva, pela culpa, que quando presenciei a cena, minha reação foi enfiar minhas roupas, livros e meu notebook em uma mala, retirar todas as armas escondidas pela casa, entrar no meu carro e sair sem olhar para trás. Sem uma única palavra. Sem um adeus.
E acho que é isso que vem me matando.
No momento em que saí de casa, dirigi até o Central Park e estacionei em uma vaga. Afundei a cabeça no volante e reprimi a vontade de chorar.
Merda.
Peguei o celular e disquei o número do meu pai, ciente que ele provavelmente não atenderia o telefone às quatro da manhã.
Encarei o número antes de apertar o botão verde. Nunca tive uma boa relação com ele ou minha madrasta. Porém precisava falar com alguém antes de surtar.
Fiz a ligação.
O telefone chamou quatro vezes antes dele entender.
— Sophie? - Murmurou com a voz rouca e surpresa. – Deuses, são quatro da manhã, está tudo bem?
Respirei fundo desfazendo o nó em minha garganta.
— Não, não está. – Relatei resumidamente o que aconteceu.
Silêncio. Um suspiro.
— O que pretende fazer? Vai vender a casa? – Perguntou preocupado.
— Não ligo para a casa! Ela que se vire com a hipoteca! – Retruquei.
— Vai voltar para São Francisco? – Perguntou esperançoso. – Sentimos sua falta aqui. Seus irmãos mais ainda.
Típico drama familiar. Arrependi-me de ter ligado.
Já faziam mais de três anos que havia saído de casa, justamente pela mudança deles para São Francisco. Além de ser em outro estado, não poderia pedir transferência da delegacia. Na época ainda trabalhava como policial de rua, e à muito custo estava tentando uma promoção para a homicídios.
Mas para Calvin Smith, isso ainda seria motivo de discórdia. As vezes meu pai me irritava, hipócrita demais. Por outro lado, sentia sua falta.
Respirei fundo. Nem fodendo. Era vergonhoso demais e não largaria meu emprego.
— Não posso, pai. Tenho raízes em Nova York, não posso largar tudo. Vou alugar algo em breve. Agora que fui promovida as coisas estão mais fáceis.
— Você sempre toma as melhores decisões, Sophie. Vai ficar tudo bem.
— Sei que vai – murmurei.
— Tenho que ir, tenho um seminário sobre a Guerra Civil amanhã cedo. Me liga se precisar de alguma coisa, tudo bem?
— Tudo bem. Dê um beijo a todos por mim. No Darth Vader também – Alfinetei.
Ele riu cansado.
— Certas coisas nunca mudam, não é mesmo?
— Acho que não.
— Se cuida filha. Amo você.
— Eu também, pai.
O celular ficou mudo.
Afundei a cabeça nas mãos e respirei fundo. Abri o porta luvas do carro. Meu maço de Marlboro para emergências estava ali, reluzindo como uma setinha de néon berrando "ME FUMA ,ME FUMA"
Já faziam meses, não queria voltar com aquilo.
Ashley. Wendy. Na cama.
Foda-se.
Peguei um cigarro, abri um pouco a janela e acendi. Dei um trago longo.
Deuses, como é bom.
Traguei mais uma vez devagar, sentindo a nicotina preencher cada canto do meu cérebro. Soltei a fumaça lentamente.
Alguns optam por bebidas. Outros por drogas. Outros por tabaco e a grande maioria por amor.
Cada um escolhe a melhor forma de destruição que lhe couber.
Fim do capítulo
Críticas são bem vindas. Não se acanhem.
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