O cheiro de pólvora e sangue invadiam cada ponto do meu cérebro entorpecido. Minha visão era vermelha: ódio, dor, medo, todos juntos e batidos como num liquidificador, abrangendo cada ponto de meu ser.

Eu tinha ciência e percepção de tudo à minha volta, e pela primeira vez me arrependi de ser tão impulsiva. Como isso aconteceu? Como pude ser tão burra a esse ponto!?

Sabia que estava sozinha. Sabia também que a pequena garota em meus braços estava perdendo sangue e que o tempo corria contra mim.

Ouvi passos arrastados perto da porta daquele velho prédio abandonado. Contemplei a chacina à minha volta antes de pousá-la delicadamente no chão. Levantei e me posicionei com a arma em punho atrás da porta.

Passos pesados.

Um rangido.

A porta é aberta, lentamente.

Meu coração retumbava em minhas costelas,o suor escorria pelo canto de minha testa, mas as mãos que apontaram o cano frio na têmpora do recém chegado eram firmes, e a voz que saiu de meus lábios era gélida e cortante.

— Se você se mexer, eu juro por todos os deuses que eu sento o dedo. – Rosnei.

Meu visitante gargalhou.

Fim do capítulo