Tempestade por Ana Pizani
Capítulo 4 - Companheira de Quarto
“Liberdade é o espaço que a felicidade precisa.”
Fernando Sabino
A vida na cidade grande seguia seu rumo. Aline dividia seu tempo entre a faculdade, o trabalho na biblioteca e algumas aulas particulares. Quando chegava em casa raramente conseguia ter ânimo para sair com as meninas, que estavam praticamente todos os dias em alguma balada.
Débora também não perdia a oportunidade de sair. Acabava beijando vários e dormindo com tantos outros sabendo que tudo aquilo chegaria aos ouvidos de Aline pela boca de Rosa.
Depois daquele dia no banheiro da faculdade, elas nunca mais ficaram e quando se encontravam sozinhas no quarto, Aline evitava puxar qualquer assunto. Não que Débora não tentasse. Uma noite em específico, Débora chegou mais cedo da balada e sem as meninas. Acendeu a luz do quarto e acabou acordando Aline. Até parecia que essa era mesmo a sua intenção.
Aline fingiu não a ver e tampou a cabeça com o travesseiro. Foi quando Débora sentou na cama e a balançou.
_ Aline, acorda.
Aline, apesar de relutante, virou-se para a mulher.
_ O que foi, Débora?
_ A balada estava uma bosta. A casa do Leandro é magnífica, mas ele tem péssimos amigos. Um pessoal chato, metido. Achei melhor vir embora. As meninas ficaram, Rosa estava agarrada com um cara lá.
_ Hum... e por que você me acordou?
Débora não estava com cheiro de bebida. Aline olhou a tela do celular e realmente era bem cedo, quase meia noite. Aquela historinha é que não estava colando. Afinal, o que ela queria?
_ Na verdade, quase não temos nos visto nos últimos dias. Você sai bem cedo e chega tarde, nem parece morar aqui.
_ Tenho andado muito atarefada, Débora.
Aline estava enrolada numa coberta fina, de forma que era possível ver cada curva do seu corpo quase nu. Ela costumava dormir apenas de calcinha e uma camiseta frouxa. Débora tentava evitar olhar para ela, mas não conseguia. Por fim, acabou por se levantar.
Estava belamente vestida com uma calça jeans bem apertada, um tênis baixo e uma camiseta florida. Os cabelos estavam amarrados num coque e o rosto com uma maquiagem leve.
Começou então a se despir na frente de Aline. Dividindo o mesmo quarto, era óbvio que isso acontecia com freqüência, é claro, mas naquela noite em específico ela parecia fazer de propósito, como se quisesse provocar a garota ainda sonolenta.
_ E a formatura de Lívia, é amanhã mesmo?
_ Sim, amanhã à noite lá naquele clube que vocês vão direto.
Débora olhava para Aline pelo reflexo do espelho enquanto tirava o sutiã e ficava praticamente nua, apenas de calcinha. Aline sentiu sua calcinha colar em seu sex* e só então se deu conta do quanto estava molhada.
_ No Clube Avalon? Que chique! Pelo menos a turma dela tem bom gosto. A minha quer fazer a festa num Iate Clube no Rio de Janeiro. Espero que não dê certo. Coisa mais cafona.
Àquela altura Débora tirava a maquiagem enquanto Aline evitava olhar para ela. A garota acabou se virando novamente para a parede dando o assunto por encerrado.
_ E você pode levar acompanhante?
_ Claro que não, Débora. Só tenho um convite.
_ E não seria de bom tom você levar uma acompanhante na festa da sua ex que quer reatar com você, certo?
Aline pensou um pouco antes de responder:
_ Certo.
Débora gargalhou alto. Aline se virou para entender o motivo do riso e percebeu o quanto ela estava próxima, quase em cima de sua cama.
_ O que ela não pode evitar é que tenha outra dormindo bem ao seu lado todos os dias enquanto ela está há quilômetros de distância, certo?
Débora estava debruçada sobre Aline que não conseguia balbuciar qualquer palavra.
Aos poucos, bem lentamente, elas começaram a se beijar, com a luz ainda acesa. Débora puxou a coberta que cobria Aline e pulou em cima dela. Ela primeiro tirou a calcinha de Aline e depois a blusa. Não demorou muito para que elas pudessem se tocar enquanto se beijavam freneticamente.
Débora sentia seu corpo inteiro pulsar, como se nunca na vida tivesse estado com alguém. Todas as sensações que sentia quando estava perto de Aline eram desconhecidas para ela até então e desde o instante em que havia a beijado no banheiro da boate, se masturbava todas as noites no banheiro imaginando que era tocada por Aline.
Claro que a sua cabeça ainda estava muito confusa, sentia-se culpada, como se Deus pudesse a amar menos por sentir aquelas coisas. E tentou evitar ao máximo pensar nisso, apesar de cada dia ficava mais difícil tendo Aline ali tão próxima.
Só ela sabia quantas noites havia passado em claro imaginando o quanto seria bom dormir abraçada com Aline naquela cama tão próxima da sua. Também não conseguia evitar sentir ciúmes a simples menção do nome de Lívia e odiava a ideia de saber que ela estava disponível para qualquer pessoa já que era solteira.
É claro também que Débora tentou beijar outras pessoas, trans*r com tantas outras, homens lindos que muitas mulheres se matariam para ter na cama. Ainda assim, não conseguia sequer goz*r, a não ser que pensasse em Aline naqueles momentos.
Foi quando começou a assistir a filmes pornôs lésbicos na internet e a se imaginar fazendo tudo aquilo com Aline. Descobriu também que poderia sim ter tesão numa relação com outra mulher e que precisava tentar de alguma forma dormir com Aline antes que enlouquecesse de vez.
E naquela noite em específico, temendo perdê-la no dia seguinte para a ex, acabou queixando-se de dor de cabeça e voltando para casa mais cedo. Por mais que parecesse confiante, não sabia como abordar Aline. Sabia que era correspondida, entretanto não conseguia imaginar tomando a atitude com alguém. Ela sempre ocupava o lugar de ser a desejada, de ser a cortejada, não sabia como agir com uma mulher.
Acabou por tirar a roupa na frente de Aline e logo estavam na cama fazendo amor e tendo orgasmos que nunca tivera na vida.
Para Aline tudo aquilo não passava de um sonho, mais um sonho erótico com a sua companheira de quarto. Há tempos sabia que seu sentimento estava pra lá de forte e não conseguia mais disfarçar o que sentia nem mesmo para Luíza, que acabara por descobrir tudo.
Ainda assim, o assunto era tabu no apartamento. Todo mundo sabia, mas ninguém comentava. Viviam como se nada estivesse acontecendo e Aline precisou segurar Rosa algumas vezes para que a amiga não falasse umas boas verdades para Débora.
Só quando terminaram Aline percebeu que não sonhava. Débora se levantou e foi ao banheiro. Voltou minutos depois, apagou a luz e...
Trancou a porta do quarto. Deitou-se ao lado de Aline e a abraçou. Débora não fazia ideia do que estava fazendo. Nem Aline.
Fim do capítulo
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