Após sentir aqueles lábios macios tocando os meus, abri os meus olhos e me deparei com Mel sentada ao meu lado.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei assustada, pois eu não esperava ver Mel assim tão cedo e nem estava preparada para esse reencontro.

— Não gostou da surpresa? — Ela pareceu ficar analisando cada gesto meu.

— Não, não é isso — Dei uma pausa, estava começando ficar nervosa. Definitivamente aquele não estava sendo o meu dia.

Estava querendo me encontrar com Mel para falar que não podíamos ter mais nada, mas, o último lugar que estava desejando encontra-la era ali.

Mel pareceu respirar fundo — A Priscila me ligou falando do ocorrido, pensava que você iria gostar de me ver aqui, te dando apoio em um momento tão delicado.

Neste instante engoli em seco, Mel estava querendo me ajudar e eu estava lhe tratando mal.

— Desculpa — Falei envergonhada e abaixei o meu campo de visão.

Minha cabeça parecia não estar funcionando bem, eu não sabia como agir diante daquela situação, querendo ou não, Mel era minha namorada.

A presença dela ali só demonstrava que diferente de mim, ela sabia cumprir o seu papel, pois estava se importando e querendo cuidar de mim. No entanto, o que eu podia fazer depois de tudo que havia acontecido na viagem? Agora tinha mais certeza que gostava de Charlotte, a mulher que estava desejando ser a escolhida para ficar comigo.

— Não sei se você acredita nisso, mas eu gosto muito de você, Margareth e estou disposta a esperar por você — Mel falou de repente e isso fez com nós duas nos olhássemos nos olhos.

— Mel, eu não te mereço— foi a única coisa que eu conseguia dizer naquele momento, depois do que a outra mulher havia dito.

— Não diga isso, claro que merece — Nos mantemos da mesma forma, nos olhando nos olhos — Você é uma pessoa maravilhosa — Ela disse de uma forma doce, e isso pareceu me destruir por dentro.

Balancei a minha cabeça negativamente. Não podia mais continuar com aquilo... não podia enganá-la assim. Então o melhor a se fazer, era dar um ponto final nisso tudo.

— Mel, eu acho melhor a gente ter...

Antes que eu pudesse terminar a minha fala, Mel se aproximou mais de mim e começou a me beijar de uma forma urgente. Isso fez o meu corpo se inclinar para a trás, ela jogou o peso de seu corpo em cima do meu. Se eu correspondi? Não, não consegui. Gostava de Charlotte, não podia me enganar assim e não podia mais continuar dando esperanças a Mel, pois mesmo não querendo namora-la, ela havia se tornado uma pessoa importante para mim e não merecia ter alguém como eu ao seu lado.

Por não conseguir correspondê-la, eu tentei afastar o seu corpo do meu, mas diferente de mim, Mel tentou prolongar aquele contato dos nossos lábios por um bom tempo, até que desistiu e ficou em silêncio.

— Você ficou com ela, não é mesmo? — Mel disse quebrando aquele silêncio — Não precisa me dizer nada, a forma como está agindo diz tudo.

Com a fala de Mel, eu abri a minha boca para tentar justificar o injustificável, mas antes que eu pudesse dizer qualquer besteira, o médico surgiu chamando nossa atenção.

— Margareth, o seu pai quer lhe ver — O homem ficou me esperando para que pudesse lhe acompanhar até onde meu pai estava.

Como estava ansiosa para saber como meu pai estava, me levantei e o segui, Mel fez o mesmo. Mesmo depois de tudo, ela se mantinha ali comigo.

Quando chegamos ao quarto onde meu pai estava, eu o encontrei deitado em uma cama, acordado.

Ele ficou muito feliz com nossa presença ali, e gostou ainda mais de Mel que ainda estava agindo como antes de eu viajar, parecia que nada havia acontecido e isso me deixou muito confusa.

— Sua namorada é muito cuidadosa, Margareth — Meu pai disse quando Mel lhe ajudou a ficar melhor acomodado na cama.

— Não, Gregório, se eu fosse, muitas coisas não teriam acontecido — Mel falou e meu pai direcionou o olhar para mim.

Abaixei minha cabeça e fingi não saber de nada.

Como não tinha mais como resolver minha situação com Mel ali, fui tratar de saber com o médico o que meu pai tinha e quais cuidados eu teria que ter.

O médico falou que meu pai estava com pneumonia e que teria que ficar de repouso por um bom tempo. Fiquei me perguntando como iria conseguir deixar o meu pai afastado do trabalho, pois o homem era muito cabeça dura. Antes mesmo de o médico terminar de falar que ele teria que ficar sem trabalhar, o meu pai já começou a achar ruim. Além do mais, eu teria que pedir uma pequena licença no World para cuidar dele e foi isso que fiz após chegar em casa e deixar meu pai confortável em seu quarto, já jantado.

Às 19:00 horas liguei para Charlotte, naquele momento, estava muito cansada e sentindo muita saudade dela. Aquele dia tinha sido muito complicado, mal havia voltado e minha vida já estava de cabeça para baixo. Não consegui conversar com Mel sobre a gente e isso me deixou muito angustiada, pois não queria deixar as coisas daquele jeito, precisava conversar com Mel e deixar claro que não podíamos mais continuar com aquele relacionamento.

 — Oi — Falei após a minha segunda tentativa de ligar para Charlotte e mesmo assim, achei que não iria ter que tentar uma outra vez, pois demorei demais para ser atendida.

— Olá, Margareth — O tom de voz usado por Charlotte estava muito formal, nem parecia que na manhã daquele dia havíamos trocado declarações de amor — Por que está me ligando a essa hora?

— Meu pai está doente, então terei que ficar uns dias sem trabalhar. Quero saber se você pode me liberar? — Mesmo ela me tratando daquela forma, falei como se tivesse intimidade com ela.

            Não obtive uma resposta imediata, parecia que a última coisa que Charlotte queria naquele momento era falar comigo. Isso foi algo que estranhei, pois pensavam que as coisas entre nós iriam mudar depois que voltássemos para casa.

            — Pode cuidar de seu pai, fique o tempo que for necessário. Não vou me opor a isso — Deu uma pausa e respirou fundo — Aproveita e chame sua namorada para lhe ajudar, já que ela é tão solicita — Disse essas palavras com desagrado.

            — Como assim? Não entendi, Charlotte — Realmente estava muito confusa depois dessas últimas palavras de Charlotte.

            — Deixa pra lá, Margareth — Ela parecia muito cansada — Boa noite! Desejo melhoras para seu pai.

            Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Charlotte desligou em minha cara e eu fiquei lá, com o telefone encostado em minha orelha sem entender o que havia acontecido.

Fim do capítulo