No dia seguinte fizemos a viagem de volta para casa. No avião fiquei com minha mão entrelaçada a de Charlotte. Ela tinha muito medo de avião e aproveitei para ficar mais perto dela.

Charlotte não ligava para os olhares de reprovação sob nós. No começo, achei que ela não queria que ninguém soubesse do nosso envolvimento, mas depois percebi que seu problema só era com as pessoas da empresa, pois ela tinha medo da nossa vida se complicar lá dentro.

Às 9:00 horas, o avião pousou em nossa cidade. Estávamos de volta em casa e eu fiquei com medo do que poderia acontecer dali por diante.

— Estamos de volta, Margareth— Charlotte falou ao aproximarmos de seu carro que era dirigido pelo mesmo homem daquele dia da viagem.

— Espero que nada mude entre nós— Falei um pouco temerosa.

— Nada do que disse sentir por você vai mudar, mas você sabe que tem que resolver sua situação – Ela olhou para mim e notei que ela também estava com medo.

— Sim, eu sei disso.

Após entrarmos no carro, não conversamos. Cada uma ficou com seus pensamentos. Eu estava pensando em como iria terminar com Mel e Charlotte talvez estivesse se perguntando se eu iria mesmo terminar um relacionamento para ficar com ela.

Não tinha como ter certeza do que iria acontecer dali por diante, mas sabia que queria ficar com Charlotte.

Gostava dela demais e fazia muito tempo que desejava ter uma chance com ela. Acho que o Arnold nem acreditaria se eu dissesse a ele que a Charlotte e eu estávamos juntas. Ele vivia dizendo que Charlotte nunca iria dar uma chance para mim.

Eu sei, ainda estou namorando a Mel, mas vou resolver essa situação. Eu a considerava uma pessoa muito especial, não podia engana-la.

— Mesmo com essa situação complicada, eu quero que saiba que você é a dona de meus pensamentos... do meu coração... Gosto muito de você — Disse um pouco envergonhada após o carro estacionar em frente a minha casa.

O motorista que estava descendo do carro, por um momento, parou o que estava fazendo, pois achou estranho aquela declaração repentina.

Acho que como todo mundo, ele achava impossível alguém se apaixonar por Charlotte.

—Saiba que esse sentimento é recíproco, Margareth – Ela não ligou para a presença do motorista.

Pensei em me aproximar mais dela e beija-la, no entanto, achei que aquele ato poderia ser ousado demais, já que o motorista estava perto nos observando.

—Amanhã nos falamos na empresa, Margareth— Acho que Charlotte notou que eu estava sem saber o que fazer.

— Está bem— Desci do carro e enquanto o motorista pegava minhas malas no bagageiro, ficamos nos olhando. Por um momento desejei ter certeza de que tudo entre nós daria certo, não queria mais me separar de Charlotte, mas não sabia o que iria acontecer dali por diante. Estávamos de volta, Charlotte iria voltar a ser minha chefe mandona.

Após o carro de Charlotte cruzar a primeira esquina, resolvi entrar em casa. Mesmo desejando que aquela viagem nunca acabasse, eu estava morrendo de saudade de meu velho.

Quando abri a porta tudo estava escuro, estranhei a ausência de meu pai ali, ainda mais quando notei a louça da janta ainda suja. Meu pai era uma pessoa muito organizada, costumava lavar a louça todos os dias de manhã logo que acordava.

Como já estava sentindo um aperto em meu coração, deixei as minhas malas no chão e comecei a procurar o meu pai pela casa.

No primeiro andar não o encontrei, mas quando fui para o segundo andar, me deparei com meu pai sentado no corredor, não parecia muito bem.

— Filha! – Disse com dificuldade.

— Pai, o que aconteceu com o senhor? – Me posicionei ao seu lado e puxei o seu corpo para mais perto de mim.

— Acho que estou velho demais, minha filha.

— Pai, não diga isso – Toquei a sua pele e notei que meu pai estava muito quente– Vou levar o senhor para o carro – Tentei levanta-lo, mas meu pai era pesado demais.

— Filha, acho que é melhor você desistir— Seu tom de voz estava muito baixo e meu coração começou a ficar apertado. Eu não podia perder o meu pai.

Não sei de onde achei forças naquele momento, mas eu consegui levar o meu pai para o carro e fomos para o hospital.

Ao chegar ao hospital, meu pai logo foi atendido e eu fiquei na sala de espera muito preocupada.

— Se ele tivesse procurado o médico, não estaria dessa forma – Disse sentida ao me lembrar que havia pedido para meu pai ir ao médico, mas o meu velho era teimoso demais.

Neste momento, o meu celular começou a tocar, era Arnold.

— Você chegou de viagem e nem me disse nada, né? – Fingiu estar chateado.

— Como você soube? – perguntei enquanto olhava para a porta da sala em que meu pai estava sendo atendido.

—Charlotte está aqui na minha frente. Acabou de chegar, essa mulher parece que não se cansa.

— Pode ser – Disse sem querer prolongar a minha conversa.

— Por que está me tratando dessa forma?

— Estou no hospital, Arnold.

— Como assim no hospital? – Arnold era uma pessoa muito escandalosa. Falou tão alto que todo mundo deve ter lhe escutado lá no jornal – O que houve com você?

— Não é comigo. É com meu pai, ele não está bem... estou com medo, Arnold – Comecei a chorar e as pessoas ao meu redor começaram a olhar para mim.

— Não fique assim, amiga, quer que eu vá te ver. Você está em qual hospital?

— Estou no do centro. Não precisa vim, sei o quanto pegam no nosso pé ai no jornal. Eu vou ficar bem.

— Está bem... Agora preciso ir. Disseram que Charlotte está me chamando. Não sei como você consegue gostar dela – Ainda bem que ele não sabia dos últimos acontecimentos.

— Vai lá— Me despedi de Arnold e tentei me acomodar melhor no banco em que estava sentada. Depois de um tempo eu dormi e acordei após receber um selinho em meus lábios.

Fim do capítulo