Júlia

Aquela sensação de dever cumprido que aliviava a alma, era assim que me sentia a caminho de casa depois que nos despedimos de todos. Nossos pais estavam planejando se reunirem no dia seguinte em um almoço para comemorarmos o nosso noivado e assim selarmos de vez a união de nossa família, não poderia estar mais feliz, apesar de saber que fortes emoções ainda estavam por vir.

Demos uma passada rápida na casa de Anny e fiquei mais tranquila em saber que ela estava melhor, apesar de estar exausta, o brilho nos olhos dela era verdadeiro. Júlio estava preocupado, e com razão, ela não queria fazer cesárea pois a médica disse que as chances dela ganhar naturalmente eram bem grandes e como era a opção dela resolvemos aceitar.

Nos despedimos depois de fazer meu cunhado me prometer que me ligaria se precisasse de alguma coisa. Em casa agora me joguei no sofá brincando com Faísca que estava todo contente em nos ver, contei a novidade para ele que latiu feliz, viu como estávamos nos entendendo bem? Layla sentou ao meu lado e joguei meu braço por sobre seu ombro sussurrando:

– Cansada amor?

– Um pouco, acho que vou tomar um banho e tentar dormir, vem comigo?

– Com certeza... – sorri e seguimos para o quarto, quando saí do banheiro me joguei na cama abraçando a minha pequena, estava quase adormecida em meus braços sussurrei baixinho em seu ouvido: – Amor, como você sonha em se casar?

Ela não respondeu de imediato, mas percebi que estava cogitando uma resposta, depois de alguns minutos brincando com meus dedos, ela me olhou dizendo:

– Nossa família reunida em uma cerimônia simples com nossos amigos, eu e você trocando votos diante de um Juiz de Paz e o Faísca levando nossas alianças. – beijou meus lábios sorrindo, sorri também passando minha mão em seu rosto e sussurrando entre seus lábios:

– Nosso casamento será exatamente assim meu amor.

– Own, que fofa você é Juh. – virou o corpo se colocando por cima de mim, prendeu meus braços sobre a cabeça beijando meu pescoço e mordiscando minha orelha sussurrando: – Mas, e o seu sonho?

– Eu amo você Layla, quero passar o resto de minha vida ao seu lado. – sorri me perdendo em seus olhos que brilhavam: – Formar a nossa família, talvez uns dois filhos? – parei cogitando e ela riu da minha expressão, continuei: – Caminharmos de mãos dadas quando formos velhinhas vendo nossos netinhos correndo no parque.

– Nossa... – gargalhava escondendo o rosto em meus pescoço, a prendi em meus braços concluindo:

– Perguntou qual era o meu sonho. – ela apenas balançou a cabeça e eu sussurrei: – Meu sonho é viver tudo isso com você.

 – Você me surpreende a cada dia meu amor. – beijou meus lábios mordiscando de leve: – Eu te amo Major Oliveira.

Sorri fechando os olhos no instante em que seus lábios colaram aos meus em um beijo carregado de amor, carinho, desejo... Nos entregamos e ela me guiou em uma viajem maravilhosa antes de adormecermos felizes uma nos braços da outra.

Na manhã seguinte acordei com o Faísca latindo e um cheiro maravilhoso de café, me espreguicei na cama esticando meu corpo sentindo meus ossos estalarem, a porta se abriu e por ela o amor de minha vida vestida apenas com uma de minhas camisetas e calcinha, entrou segurando uma bandeja, colocando-a sobre a cama e se aproximou dizendo:

– Bom dia amor. – beijou meus lábios, passou a mão em meu rosto concluindo: – Dormiu bem?

– Bom dia pequena, seria impossível não dormir bem com você ao meu lado.

– Own! – se aninhou em meus braços sussurrando: – Trouxe o nosso café.

– Obrigada!

Sorriu se ajeitando, levantei também e começamos a tomar o café conversando sobre o dia anterior e fazendo alguns planos para mais tarde. Quando terminamos, tomamos um banho juntas, nos amamos por algumas horas abaixo do chuveiro e depois dei uma geral na cozinha enquanto ela respondia alguns e-mails.

– Amor, vou precisar viajar a semana que vem. – apareci na porta da cozinha com um pano na mão enxugando uma xícara:

– Trabalho?

– Sim, vai ter um Congresso sobre medicina e vários cursos de aperfeiçoamento. – ela levantou e veio na minha direção me abraçando: – Acho que é sério aquela ideia de começar a pensar em deixar o Socorro de lado e atender no hospital.

– Tem certeza amor, você ama o que faz? – terminei na cozinha deixando o pano na mesa e a levei para o sofá, me olhava preocupada, sussurrou:

– Ah Juh, eu amo aquela adrenalina toda, mas está na hora de partir para uma segunda opção.

– Você sabe que vou estar sempre ao seu lado, seja qual for a sua decisão amor. – peguei no rosto dela e fiz com que me olhasse, sorri beijando de leve seus lábios concluindo: – Mas, sugiro que pense bem antes de tomar qualquer decisão, é de sua carreira que estamos falando.

– Eu sei amor, mas é uma experiência nova. – se aninhou em meus braços: – E se eu não me adaptar sempre poderei voltar néh.

– É sim! – a apertei em meus braços, conversamos por mais alguns minutos e depois seguimos para a casa de minha mãe.

Faísca se juntou com Frodo, o cachorrinho do Jonas, ele também adotou um, depois que convenceu minha mãe que iria cuidar bem dele. Júlio encostou o carro logo atrás do nosso, fui ajudar minha irmã e seguimos para a varanda, onde a ajudei a se sentar. Ela estava com uma barriga enorme, e a galerinha lá dentro não dava pausa, o tempo todo chutando. Fiquei brincando com eles por alguns minutos até ela me expulsar do seu lado.

Layla ficou com ela rindo, e fui ajudar o Edu e meu sogro com o churrasco, peguei uma latinha de cerveja e logo o Júlio se juntou a nós, o tempo todo olhando para a esposa, sua preocupação estampada nos olhos. Dei um jeito de distraí-lo e logo ele começou a se acalmar, Diego apareceu mais tarde. Infelizmente ele e Vanessa não estavam mais juntos, era uma pena, porque ela era uma garota bem legal, principalmente para ele.

Enfim, o almoço foi servido depois que ajeitamos a mesa e minha mãe ter dado uns gritos com meu irmão e o cachorros que estavam fazendo uma bagunça danada arrancando risos de todos. Estava conversando com minha sogra ao lado quando Anny disse do outro lado:

– Então eu perdi o pedido de casamento que a minha irmãzinha fez. – olhei para ela que se ajeitou na cadeira segurando a barriga, sorri para o marido que a ajudou e depois olhou para mim sorrindo: – Queria ter visto pessoalmente e não apenas por vídeo.

– Como assim por vídeo?

– Jonas me mandou o vídeo assim que chegou em casa, foi lindo maninha apesar do seu nervosismo. – olhou para Layla que estava rindo do lado: – Espero que cuide muito bem da minha irmã viu Dra.

– Eu vou cuidar, pode deixar cunhadinha.

– Espera. – elas me olharam, sorri olhando para meu irmão: – Filmou meu pedido de casamento e não me mandou?

– Eu achei que fosse ficar brava. – ele deu de ombro, todos rindo à nossa volta.

– Manda pra mim por favor, quero ver se eu estava mesmo nervosa. – sorri cruzando os braços. – Duvido muito, estava super tranquila.

Layla que estava ao meu lado bagunçou meu cabelo rindo, todos gargalharam, fiquei sem jeito, mas sorri também entrando na graça. Meu irmão passou o vídeo que assisti junto com Layla, ela fazendo comentários ao meu lado arrancando ainda mais risos de todos. Acho que aquela situação iria ficar pra sempre na história, e ainda tinha provas do meu embaraço na frente de todo a nossa família.

Depois do vídeo, ficamos conversando e dando risada de toda a s situação, Layla ao meu lado, sorria lindamente, fazendo aquele momento valer a pena. Ora passava a mão em meu rosto, ora cruzava os dedos com os meus. Quando o momento constrangimento acabou, seguimos para cozinha para ajudar minha mãe e dona Laura.

Estávamos quase acabando quando Anny apareceu pedindo água, peguei e levei antes que ela se esforçasse demais, no momento em que encostei nela senti minha perna ser molhada, achei que a água dela tivesse caído, mas ao olhar para baixo eu sussurrei:

– Layla me ajuda aqui, a bolsa dela rompeu. – minha irmã me olhou, sorri.

– O que você disse amor? – ela estava ao meu lado, quando eu tentava aparentar calma, disse novamente:

– A bolsa de Anny rompeu, precisamos levá-la agora para o hospital.

– Oh meu Deus!

Tudo correu tranquilamente, ninguém entrou em pânico e deu tudo certo!

Quem estou tentando enganar? Todos presente ali na cozinha entraram em pânico, principalmente meu cunhado quando apareceu procurando por Anny, Layla e eu precisamos elevar a nossas vozes para que eles nos escutassem e nos ajudassem. Assim conseguimos levá-la para a mini van do Edu que estava mais fácil.

Diego, Jonas e meus sogros ficaram no aguardo de notícias. Edu foi para o volante porque Júlio estava nervoso demais, ele mal conseguia pegar as bolsas que estavam no carro deles, essas que eles começaram a carregar para todos os lados naquela semana e foi atrás conosco. Quando ganhamos a avenida, ligamos para o hospital avisando de nossa chegada em alguns minutos, Anny teve várias contrações, deitamos o banco do carro para ela ficar mais acomodada.

Minha mãe apoiou sua cabeça, enquanto eu e o Júlio segurávamos suas mãos, Layla na sua experiência com situações assim, já estava em mãos com o kit de primeiro socorros e se colocou entre as pernas dela dizendo:

– Tem dilatação, acredito eu que, suficiente para ela começar o trabalho de parto.

Júlio se colocou entre as pernas da mulher e começou a conversar baixinho com Layla, olhei para os dois perguntando:

– O que vamos fazer?

– Anny, você precisa fazer força para ajudar os bebês a saírem.

– Co... Como? Aqui? Não! – ela entrou em pânico.

– Por favor amor, já tem um coroando, precisa ajudar nossos bebês a nascerem. – ele dizia gentilmente para a esposa que chorava.

– Não... Juh, fala pra eles que aqui não... – nem terminou de falar e uma nova contração, dessa vez mais forte fez com que ela gritasse, me aproximei sussurrando:

– Vamos Anny, faça o que o Júlio e Layla estão mandando, por favor. – fiz carinho em suas mãos.

Ela me olhou ainda assustada, mas concordou e começou a fazer força, Eduardo acelerou o máximo possível o carro, minha mãe passou a mão no telefone, faltavam algumas quadras para chegarmos ao hospital, ela alertou que possivelmente chegaríamos com o bebê nascendo e assim aconteceu, minutos depois quando estávamos fazendo a curva da avenida do hospital o primeiro bebê nasceu, Manuela que chorava em plenos pulmões.

O carro parou e já tinha uma equipe nos esperando no local, não demorou muito, Carlos nasceu chorando mais alto que a irmã. Todos correram com macas e materiais esterilizados, para darem assistência a mãe e filhos que visivelmente estavam bem. Júlio e Layla entraram na frente com Anny e o restante do pessoal.

Minha mãe e eu corremos para a recepção e em seguida para a sala de espera onde Eduardo nos encontrou minutos depois abraçando a esposa. Comecei a andar de um lado para o outro e cerca de meia hora depois Layla apareceu com um sorriso lindo dizendo:

– Os três estão bem, os bebês foram levados para a UTI Neonatal e Anny para o centro cirúrgico. – peguei minha pequena no colo e rodei feliz com ela, nossa que adrenalina! Quando a soltei ainda abraçada comigo ela se dirigiu a minha mãe dizendo: – Seus netos são lindos dona Helena, parabéns.

– Own minha filha, obrigada! – as duas se abraçaram.

O Edu passou o braços pelo meu ombro me apertando em um abraço também, foi emocionante cada segundo desde que saímos de casa. Estávamos conversando animados quando o Júlio se juntou a nós, chorando emocionado, minha mãe o abraçou chorando também, quando ele conseguiu falar começou babando as crias:

– Eles são lindo, nossa! – sorri bagunçando o cabelo dele que se livrou de minhas mãos continuando: – Anny foi maravilhosa, está descansado agora, sugiro deixarmos ela dormi por umas duas horas e depois entrarmos para vê-la.

– Concordo, ela está muito abatida mesmo, tem todo o direito para isso. – minha mãe disse secando as lágrimas: – Mas e os bebês, estão bem?

– Nasceram antes de completarem o oitavo mês, estão abaixo do peso, mas estão bem, precisam ficar em observação, calculo eu que, por umas duas ou três semanas e logo poderemos levá-los para casa.

– Graças a Deus! – minha mãe dizia aliviada.

Uma hora depois Jonas apareceu no hospital com Diego, estava preocupado e queria ver Anny, mas conseguimos acalmá-lo dizendo que logo poderíamos vê-la, rapidamente porque ela precisava descansar. Ficamos por ali até conseguirmos falar com ela, depois minha mãe a muito custo foi convencida a voltar para casa, onde meus sogros nos aguardavam ansiosos por notícias.

Tomamos banho pois nossas roupas estavam sujas, e passamos o restante da tarde regada a comemoração, dupla agora, pois nossa família cresceu, Manuela e Carlos chegaram para completar ainda mais a nossa alegria.

Fim do capítulo