Capítulo 14 - Sobrenome Liberdade
Capítulo 14 - Sobrenome Liberdade
- Olha, não vai rolar nada entre a gente, valeu? – Liz deixou a educação de lado. – Eu tenho namorada agora.
O quê? Como assim? Foram dois socos em seu estômago de uma só vez. Apesar de ter ficado feliz com o nome “namorada” não conseguia acreditar que Liz fizera aquilo. Passou uma semana sem dar notícias, ligou para outra mulher e só depois a procurou a fim de se consolar. A loira, percebendo o estrago que havia feito, afastou-se com um sorriso maldoso. Mas que desgraçada filha da puta, teve vontade voar nos cabelos dela e arrancá-los. No entanto, pegou aquela máscara de foda-se que existia em suas profundezas e a usou.
- Lia não é isso que você está pensando. – Liz tentou tocá-la novamente, mas ela se esquivou, levantando-se da mesa. – Não aconteceu nada entre eu e aquela doida.
- Mas não foi o que aquela doida lá disse! – Retrucou irada. Estava se mordendo de ciúmes.
Chegava a se tremer toda de raiva, sentia que estava a ponto de explodir de ódio. Tudo que conseguia pensar era em Liz ficando com aquela mulher. Um ciúme louco a tomou e sentiu seu peito comprimir dolorido, estava quase ficando sem ar. Viu que algumas pessoas começavam a olhar para elas. Ah, isso não! Não daria vexame, nem espetáculo na frente de seu ninguém.
- Não foi assim, deixa eu explicar, por favor.
- Vamos embora, Lia. – Ouviu a voz de Cris ao seu lado e sentiu a amiga a puxar pelo braço. – Vocês conversam depois. É melhor.
- Hey Cris, nós temos planos. – Liz tentou se aproximar mais uma vez, mas Lia a parou. – Não foi nada demais.
- Eu não vou para lugar nenhum com você. Vai procurar aquela loira oferecida, vai! Ela está louca para continuar a conversa.
- Para com isso, Lia... por favor! – Liz tentou chegar perto dela mais uma vez, mas Cris a impediu.
- Liz, por favor, depois vocês conversam. Eu conheço a fera, ela não está bem. Depois vocês se falam.
Estava se controlando ao máximo, não conseguia desviar o seu olhar irado para Liz que parecia aflita. Cris a pegou pelo braço e a levou para longe dali. Alberto jogou uma nota de cem reais sobre a mesa já que haviam saído na correria. Lia nem conseguia ver nada direito à sua volta de tanta raiva que sentia, em sua cabeça só conseguia pensar naquela loira e Liz juntas, se agarrando em um quarto de motel qualquer...
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A volta para a casa foi tão silenciosa quanto o esperado. Lia se enfurnou no banco de trás e olhava pela janela o tempo todo, evitou os olhares dos amigos a todo custo. A raiva que sentia era tão grande, não conseguia nem raciocinar propriamente. Cerrou os dentes e apertou os punhos durante todo o caminho até chegarem em casa enquanto sentia seu telefone vibrar o tempo todo em seu bolso, com certeza era Liz querendo lhe contar mentiras e desligou-o sem pensar duas vezes.
Alberto e Cris se despediram com um beijinho rápido, mas Lia abriu a porta do carro e saiu em disparada, Cris tentou alcança-la. Esperava que ela não ousasse falar nada, tudo o que queria era poder ficar sozinha e poder desabar.
Abriu a porta do apartamento e praticamente correu até seu quarto, não iria nem dar espaço para que Cris falasse qualquer coisa que fosse, só queria poder se desligar de tudo, mas como faria isso? Sua cabeça estava a mil. Rebolou a mochila arrumada no canto. Estava se sentindo envergonhada de ter feito aquele papel na frente dos amigos... papel de quê mesmo? De idiotinha enganada. Que ódio estava de Liz, não queria nem tão cedo olhar para a sua cara de safada, de pegadora barata... para aquela face tão... tão... linda! Linda e meiga... Argh! Que ódio!
A maior raiva era o fato de saber que Liz conseguia deixa-la sem chão daquela maneira. Agira feito uma boba no sábado com ela, se achando importante só porque a viu chorando tão desolada. E aquela história de namorada? Ela mal queria ter exclusividade e agora já a chamava de namorada. Mas que porr* era aquela? Jogou-se de bruços na cama e inevitavelmente algumas lágrimas escorreram, abafou um grito de raiva no colchão e apenas ficou sentindo o aperto que sentia no peito e no estômago. Odiava se sentir daquela forma? Odiava com todas as forças. Nem mesmo conseguia entender como e quando havia permitido que Liz atravessasse suas barreiras daquela forma. Estava totalmente exposta e vulnerável.
Ouviu a porta de seu quarto se abrir suavemente e logo em seguida alguém sentou ao seu lado no colchão. Era Cris, sabia. Não teve como manda-la para longe já que estava chorando, jamais deixaria que alguém a visse daquela forma, ainda mais por causa daquela idiota. Sentiu a amiga a acariciar os cabelos e deitar ao seu lado. Ela passou muito tempo ali fazendo cafuné na cabeça da amiga em silêncio, Lia apenas chorava baixinho contra o travesseiro. Passaram muito tempo dessa forma até que o choro cessasse totalmente. Sentia o peito um pouco menos apertado depois de chorar toda a raiva que sentia.
- Lia. Está acordada? – Cris chamou baixinho. Porém, ela não respondeu, apenas acenou com a cabeça.
- Escuta, eu sei que você está com raiva e se sentindo traída, mas a Liz pode ter uma explicação para isso, ok?
Que explicação possível poderia ter aquilo? Estava mais do que claro para ela o que havia acontecido. Não entendia então porque ela aceitar a proposta de exclusividade e ainda a chamara de namorada. Não conseguia mesmo entende-la, aliás, não conseguia entender a si própria. Permaneceu calada. Já conseguia respirar melhor agora, Cris sempre tinha um poder enorme para acalmá-la.
- Seu só te tirei de lá porque eu sabia que você poderia fazer besteira ou algo que se arrependesse depois.
- Eu sei. – Sua voz saiu abafada. – Obrigada!
- Por nada, irritadinha! – Cris a abraçou e deitou-se ao seu lado. – Tem calma, ok? Liz parece gostar mesmo de você...
- Eu não quero falar sobre isso! – Disse com raiva.
- Ok! Desculpe!
Cris ficou ali com ela por mais algum momento e depois a deixou sozinha finalmente. Virou-se na cama e ficou encarando o teto por um tempo. Seu cabeça estava latejando devido o choro e a raiva. Ficou naquela posição por bastante tempo pensando nas palavras de Cris. Foi humilhante a forma como aquela mulher chegou em Liz com ela bem ali ao lado, mas ao mesmo tempo a forma como a afastou depois a chamou de namorada fazia seu coração dar pulinhos de esperança. Será que estava mesmo sendo tão trouxa a esse ponto de ao menos considerar uma explicação?
Resolveu ligar seu telefone e viu que haviam 6 ligações perdidas e mais de 5 mensagens todas dela. Seu coração bateu acelerado. Foi até a cozinha a procurar de um comprimido para dor de cabeça e logo voltou-se para deitar. Passou bastante tempo em uma briga eterna se deveria ler as mensagens. Não queria dar o braço a torcer, se sentira humilhada com o que aquela mulher falou. Só em lembrar da cena toda a raiva voltava novamente. Aquela vaca!
Decidiu que iria dormir, fechou os olhos e ficou a procurar uma posição confortável, mas não encontrou. Quase uma hora depois de tentativas em vão decidiu pegar o celular, já era quase duas da manhã. Com um suspiro frustrado resolveu ler as mensagens de Liz, a última havia chegado a cinco minutos.
Liz:
“Lia, por favor, não pense nada errado. Deixa eu me explicar. ”
“Atende o telefone porr*! Preciso falar com você. ”
“Eu ainda não posso sair daqui agora se não já teria ido atrás de você. ”
“Ok, entendi que não quer falar comigo. Já desligou o telefone. Que saco, Lia. Tô cansada dessa porr* toda. A gente nunca consegue ficar bem por muito tempo. Eu decidi ficar com você. Eu escolhi você, mais ninguém, será que pode aceitar isso? ”
“O show terminou agora. Você está aí? Me responde! ”
A raiva que sentia foi-se abrandando aos poucos. As palavras dela pareciam sinceras, muito sinceras na verdade. Se sentiu tentada a responde-la. Será que deveria? Se sentia muito idiota, uma fraca. Por Deus, acabara de chorar magoada feito criança a poucos minutos atrás e bastava algumas mensagens dela para que começasse a esquecer tudo? Por que só conseguia pensar em ouvir a voz dela? Por quê? Queria as explicações. Ficou ali, parada feito uma boba, apenas olhando para as mensagens dela.
Mas que sentimento mais doido? Ok, talvez ela realmente pudesse se explicar, e teria que ser uma puta explicação, ah isso teria! Mesmo que ainda não estivessem sérias ainda assim lhe machucou bastante quando se deu conta de que ela lhe procurara só depois. Como poderia fazer para desligar os pensamentos disso? Sentia que seus neurônios poderiam queimar a qualquer momento. Seu celular vibrou mais uma vez e rapidamente sentiu um abalo no estômago. Era Liz novamente.
Liz: “Devíamos estar indo para a praia nesse exato momento. Que droga! Eu queria tanto ficar à sós com você...”
O peito de Lia deu um aperto, estava arrependida já e isso apenas com algumas mensagens. Que droga! Não estava mesmo se reconhecendo. Só por orgulho resolver desligar o celular novamente e dessa vez ficou parada e quietinha até que o sono a tomou por completo rapidamente desta vez.
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O domingo amanheceu cinzento assim como o humor de Lia. Inacreditavelmente acordara muito cedo e agitada. Sentia o corpo dolorido e quente. Estava com um pouco de febre. “Mas era só o que faltava mesmo! ”. Decidiu se levantar e tomar um banho para ver se conseguia melhorar um pouco com a água fria. Vestiu-se e procurou um remédio na cozinha. Cris estava sentada no sofá e lia com atenção o livro que um dos professores haviam passado para o seminário daqui a duas semanas. Ela estava tão entretida que quase não viu a amiga.
- Hey! – Cris disse preocupada ao vê-la tomar um remédio. – O que você tem?
- Um pouco de febre. Mas não está muito forte.
- Vem cá! – Cris a chamou e ela sentou-se ao seu lado. Ela pôs a mão sobre a testa da amiga. – É. Não está muito quente, ainda bem.
- Acho que vai passar. Vou tentar comer alguma coisa.
- Deixei sanduíche para você. Está na geladeira.
- Você é única.
Lia pegou seu sanduíche, suco e voltou para o sofá. Cris a olhava atentamente.
- Você está bem?
Lia deu longo suspiro e bebeu um generoso gole de suco.
- Estou bem. – Mentiu friamente.
- Você já falou com ela hoje? – Perguntou receosa.
Lia apenas negou com a cabeça e terminou de devorar a comida. Aos poucos a irritação matinal foi se dissipando, de barriga cheia até que já se sentia um pouco mais disposta a falar. Deitou-se no sofá com os pés no colo de Cris.
- Desculpe por ontem. Me senti tão envergonhada na frente de vocês...
- Não fique assim! – Cris deu um tapa em sua perna. – Tudo tem explicação. Você tem que dar uma chance a ela. Sabia que ela veio aqui às duas da manhã, querendo falar com você?
- O quê? – Seu coração deu um verdadeiro solavanco. – Ela veio?
- Sim, veio. Mas você já estava dormindo.
Lia se recostou totalmente no sofá. Ficou surpresa com a atitude dela. Já estava achando que talvez e só talvez, pudesse ter exagerado na reação ontem. Mesmo assim, Liz ainda lhe devia uma explicação muito boa e não iria abrir mão disso. Tinha certeza que ela estava se sentindo da mesma forma. Se não estivesse não teria feito tudo aquilo, não é? Tê-la escolhido ao invés de suas aventuras, chama-la de namorada, ter ido atrás dela pela madrugada e ligar várias e várias vezes... aquelas atitudes significavam que ela era importante, não é?
- Lia! – Cris chamou sua atenção. – Deixa de pensar besteira. Você uma chance de explicação a ela.
- Eu sei, Cris. É só que eu fiquei muito magoada com tudo ontem. – Lia passou a mão na face de forma exasperada. – Só de lembrar daquela vaca eu já fico com raiva...
- Isso tudo é ciúmes, Lia. Eu sei. É natural quando gostamos muito assim de alguém.
- É um porre, isso sim! – Declarou com raiva.
- Sim, é um porre! Mas você não esperava viver a vida toda sem sentir nada, não é? De vez em quando quebrar a cara é bom.
- Mas que porr* de filosofia é essa? – Disse inconformada.
- Um dia você vai me entender.
Lia voltou para o quarto e começou a rabiscar em seu caderno, desabafando coisas aleatórias e dramáticas.
“Você sabe que esse caminho vai te levar à um imenso abismo e quando você chegar lá. E quando chegar lá não terá nenhum paraquedas, mas você se jogará mesmo assim, de cabeça, com tudo. Nos segundos em que você sente poder voar, serão as sensações mais prazerosas da sua vida. O medo e o frio na barriga sempre estarão lá presentes, mas nada disso te impedirá de sorrir e abrir os braços numa entrega maravilhosa.
Você se sentirá livre e feliz e uma falsa esperança de que tudo aquilo não irá acabar nunca tomará conta de você, mesmo que feche os olhos e finja que o chão está longe ainda. No entanto, sabe que não é essa a verdade. De fato, ele se aproxima cada vez mais rápido e impiedoso e quando finalmente não conseguir mais parar de ignorar a realidade já será tarde demais e tão rápido quanto um piscar de olhos você se chocará fortemente com a dura verdade. Sentirá os sete palmos de chão sobre si e sufocará. Tentará sair, mas algo te prende. Você pode se cansar e querer desistir, afinal, o que ainda resta para você?
Porém, algo lhe fará ressurgir das cinzas como uma fênix e quando conseguir sair da sua cratera, será ainda mais forte do que antes e já está cicatrizada. Não quer dizer que não tenha valido à pena, só quer dizer que a saudade prova o quanto foi bom e que de alguma forma você sempre conseguirá sobreviver a cada insano pulo do abismo...”
Uau! Sempre que escrevia conseguia sentir um pouco do peso sair de seu peito, em qualquer situação que fosse era sempre o melhor a ser feito. Colocou um pouco de música para tocar, queria se distrair um pouco. Tentou pegar o livro do seminário para ler, mas lembrou-se de seu telefone ainda desligado. Será que teriam muitas mensagens dela? Pegou-o apressada e o ligou com expectativa. O telefone deu um toque de mensagem, apenas uma.
Liz: “Não ficarei me humilhando por causa de você. Eu quero muito te fazer entender tudo, mas não viu ficar corrente atrás. Não vou mais insistir, se quiser falar comigo, me procura. ”
Mas que afronta! Liz era mesmo uma abusada. Ela que fosse para o quinto dos infernos, isso sim! Pensou. Nunca que faria isso, se Liz não iria correr atrás do próprio prejuízo, ela mesma é que não iria.
Tentou voltar a atenção ao livro, mas logo que chegava na metade da página, relia todo o começo, pois os pensamentos sempre iam para Liz, era inevitável e inexplicável. Ela era uma grande idiota... uma idiota arrogante e presunçosa... presunçosa e linda, muito linda e incrível... PQP! A maior raiva era que não conseguia sentir raiva dela de jeito nenhum, tudo que conseguia pensar era no final de semana na praia totalmente arruinado.
O restante do domingo passou lento e morgado, com um tédio enorme. Cris saiu com Alberto e tentou tirá-la de casa a todo custo, mas não conseguiu. Não se sentia no clima para fazer nada. Sempre que seu telefone alertava sentia ânsias em ver o nome dela na notificação, mas em nenhuma das vezes ao longo da tarde foi ela.
De noite ela entrou na rede social de Liz e viu que tinha postado um vídeo cantando e tocando. Imediatamente o abriu e ficou ali apreciando a beleza, a destreza e a magia que ela exalava mesmo que pelo telefone. Ela era tão linda, usando jeans rasgados e óculos escuros com os cabelos soltos na face. Era muita sacanagem ela ser tão linda. Queria muito vê-la. Não daria o braço a torcer. Perdeu o tanto de vezes que visualizou o vídeo admirando tanto a sua beleza quanto sua bela voz e talento.
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A semana se arrastou como nunca. Liz realmente não a procurou assim como disse que faria. Lia apenas afundou-se nos estudos, ou ao menos era isso que tentava fazer. Lá pela quinta e sexta feira sua irritação e orgulho já estavam cedendo às saudades que sentia dela. Todas as vezes que se cruzavam pelo campus tinha uma vontade louca de correr até ela, mas ainda precisava de explicações. Não iria “correr atrás” de jeito nenhum, o erro não havia sido seu.
Teve um dia que a viu tocar na grama para uma roda de amigos, eles pareciam bem animados e ela também. Parecia até muito bem por sinal. Lia passou bufando por eles, se ela estava assim tão feliz então não estava fazendo a mesma falta. Tinha vontade de soca-la com todas as forças, ao menos para fazê-la sentir um pouco de dor.
Ao menos naqueles dias que estavam sem se ver tinha mais tempo livre para estudar e assim, ela e Cris fizeram grande parte do trabalho enfadonho para a semana que iria se seguir. Da quarta até a sexta feira iriam começar as apresentações e Lia queria arrasar em sua nota, não se contentaria com pouco. Ao menos nos estudos ela conseguia arrasar.
No sábado teve a esperança de vê-la e falar com ela. Passou o dia todo esperando que ela entrasse em contato, pedindo para vê-la. Chegou a pegar o telefone e ainda ligou. Porém, o orgulho era sempre maior. Ainda se sentia traída, a saudade estava nublando sua irritabilidade.
O domingo finalmente chegou, amanhecendo cinzento e sem graça. Passou a manhã inteira estudando junto de Cris. Meio dia ela aceitou sair com os amigos para almoçar, mas logo já estavam de volta em casa. Resolveram assistir filme, mas como os dois estavam abraçadinhos no sofá, aquilo incomodou Lia como nunca antes. Só conseguia querer Liz ali do seu lado, abraçando-a assim como fizera no bar na outra noite. Já estava farta de pensar nela o tempo todo.
Foi para o quarto e lá passou a tarde toda, cochilando, escrevendo, lendo e escutando música. Olhava para o celular o tempo todo à espera de alguma mensagem, mas nada chegava. Pôs os fones de ouvido e passou um bom tempo escutando Nirvana com os olhos fechados e cantando, só conseguia pensar em Liz usando aquelas roupas negras rasgadas. Amava o estilo dela, era tão simples e tão único. Chegava a babar!
Por um momento sentiu o cheiro dela invadir o quarto e todo o seu ser. Hum... que cheiro gostoso! Sentiu um peso afundar minimamente o colchão ao seu redor e abriu os olhos assustada, dando de cara com Liz debruçando-se sobre si. Seu coração foi bater na goela quando a viu ali tão próxima. Ela retirou os fones de Lia e a encarou séria. Logo após o susto inicial foi impossível não abrir um sorriso.
- Será que podemos conversar? – Ela sussurrou próxima aos seus lábios. Os pelos de Lia se arrepiaram, naquele momento nem mesmo sabia mais o próprio nome.
- Claro! – Respondeu no mesmo tom.
As duas sentaram na cama uma de frente para a outra. Liz a olhava firmemente nos olhos. O coração dela batia forte, estava tão feliz em vê-la ali, tão linda usando shortinho e camiseta. Porém, não poderia fraquejar agora.
- Já está aqui, por quê? Disse que não viria atrás de mim. – Bancou de indiferente.
- Você é dura na queda mesmo, não é? – Liz balançou a cabeça, sorriu e suspirou. – É, eu disse isso mesmo. Só para variar, eu não consigo mais ficar longe de você.
Declarou baixinho e com certa dificuldade. Aquilo acabou totalmente com as defesas de Lia. Ela não podia sair disparando essas coisas assim! Seu coração era um bobo por se derreter com aquilo. Liz percebeu sua guarda baixa e continuou.
- É difícil para mim assumir e aceitar o que eu sinto por você. Enfim, o que aquela idiota fez foi horrível, eu sei. Sinto muito que tenha passado por isso na frente dos seus amigos. – Liz segurou a sua mão e a acariciou. Ela a entendia como ninguém. – Mas como ela mesma disse, eu não voltei para ela.
- Você ligou para ela naquele mesmo sábado? – Perguntou direta e ainda magoada. Também era difícil para ela assumir os seus próprios sentimentos.
- Liguei! – Confessou baixinho e deu um longo suspiro.
O coração de Lia apertou mais ainda. Seu estômago parecia fechar de raiva. Sentia aquele ciúme lhe invadir novamente, consumindo o seu bom senso.
- Por que fez isso? Ficou com ela e depois veio se consolar em mim... – Já estava se irritando novamente.
- Eu não fiquei com ela. – Liz se aproximou. Falava tudo delicadamente. – Eu não fiquei. Juro! Aquela semana foi difícil para mim. Voltar para aquela cidade e por aquele motivo...
Ali, naquele momento e mais uma vez, Lia conseguia sentir um peso a consumir. Sempre o mesmo motivo, problemas de família. Se sentia triste ao vê-la tão desolada, aquela não era a Liz que conhecia.
- O quê? – Insistiu. Talvez nesse momento de fraqueza ela revelasse algo.
- É coisa da minha família, eu já disse! – Balançou a cabeça e continuou. – Eu fiquei... fragilizada. Aí tinha o seu ultimato. Pirei! Não queria assumir a forma como eu estava me sentindo por você. Tentei fugir e liguei para ela. Pior decisão. Nos encontramos em um bar e conversamos. Quando ela tentou me beijar eu travei totalmente... só conseguia pensar em você. Era você que eu queria. Seu toque, seu beijo, seu carinho. – Liz balançou a cabeça, parecendo desolada. - Eu ainda vou me foder, eu sei. Tentei fugir disso o tanto quanto pude...
O coração de Lia disparou e sua respiração falhou. Uma alegria intensa tomou conta do seu corpo com aquela declaração, mas ao mesmo tempo estava extremamente curiosa em saber o que a afetava tanto.
- O que tem de errado em se apaixonar? – Perguntou tímida. Queria ver a reação dela.
- As pessoas mudam com esse sentimento. Ficam loucas, sem controle. É o que eu sei. E tenho muito medo, pois estou atestando que é verdade. – Ela parecia falar mais consigo mesma.
- Por que diz isso? – Estava confusa e queria muito entende-la. Ela própria também tinha medo e se sentia fragilizada com o sentimento, mas Liz parecia ter trauma. Queria muito entende-la.
- Não é nada que valha a pena falar sobre, Lia. – Liz acariciou sua face ternamente e a olhou sincera e carinhosa. – Eu só quero que a gente se acerte, só isso! Pode ser?
Liz se aproximou ficando bem ao seu lado e entranhando os dedos em seus cabelos da nuca, lhe fazendo um carinho suave.
- Como eu sei que está falando a verdade? – Indagou se sentindo frágil. Tinha medo de ser humilhada novamente.
- Estar aqui com você agora, vai além de tudo que eu sempre pensei. – Liz a beijou lentamente. – Pode confiar em mim! O que sinto por você nunca senti por ninguém antes. Você é diferente para mim.
O coração de Lia disparou. Abraçou-a pelo pescoço, deitando-se por cima dela e beijando-a ardentemente. Passara apenas uma semana sem vê-la e já estava morrendo de saudades, só queria sentir aqueles lábios deliciosos e quentes nos seus, levando embora toda a sua incerteza e medo. A cena do restaurante ficou esquecida enquanto se embolavam na cama.
- Vem comigo! – Liz levantou-se subitamente da cama e lhe estendeu a mão.
- Para onde? – Lia lhe deu a mão e ela a puxou para si, lhe abraçando apertado pela cintura.
– Só vem! – Liz a beijou ardentemente, ela sorria feliz durante o beijo. – Confia em mim?
- Confio! – As palavras saíram sem controle de sua boca. Realmente confiava nela.
- Então vamos! – Liz entrelaçou seus dedos nos dela e puxou quarto a fora.
Passaram abraçadas pela porta da sala e logo chamaram a atenção de Cris e Alberto, que ao vê-las abraçadas e felizes, logo soltaram um sorriso de alívio.
- Se resolveram, então? – Cris soltou. Ela não era nada discreta.
- Sim, resolvemos. – Liz falou feliz e piscou o olho para a amiga. – Eu aprendo rápido.
- Muito bom saber disso! – Cris respondeu animada. Lia franziu o cenho, não entendeu a piada.
- Vocês combinam juntas, também estou feliz. – Alberto falou com um sorriso. Lia se sentiu ainda mais feliz, gostava muito dele.
- Vamos então?
Lia disse, por fim. Queria ficar a sós com ela, além de estar curiosa em saber para onde iriam, já passava das cinco da tarde. Entraram animadas no carro, e deram a partida. O céu já começava a alaranjar com o pôr do sol, será que poderia existir um cenário mais lindo do que aquele? Para Lia, somente o da mulher dirigindo ao seu lado, tão linda e com o jeitinho tão sapeca com aquele sorrisinho torto e lindo.
Como sempre, Lia escolheu uma trilha sonora que as embalasse no momento. Colocou Jaded do Aerosmith para começar. Liz sorriu e aumentou o volume. Era incrível a sensação que sentia naquele momento. A raiva e todo o ciúme do outro dia desapareceu completamente com ela ali naquele momento. A felicidade que sempre sentia ao lado dela somada àquela música e o vento batendo no seu rosto com o céu tão lindo como testemunha, aquilo tudo mexeu com sua cabeça de uma forma muito positiva. Nunca se sentira tão leve, livre e solta. Liberdade era o sobrenome de Liz e não tinha dúvidas disso.
Liz apenas a olhava risonha vez ou outra já que precisava prestar atenção no trânsito e acompanhava o ritmo da música batendo as mãos na direção e cantando livremente. Logo elas chegaram na pista que levava para o litoral. Por ser o um domingo à tarde a pista estava bem livre e Liz acelerou cada vez mais. Inacreditavelmente Lia não se preocupou com a velocidade, naquele momento tudo estava incrível e mágico. Liz apontou para o banco de trás e quando olhou, viu um cooler médio ali, bem ao lado do violão dela. Liz a puxou gentilmente para perto de si.
- Pega uma para você. – Gritou em seu ouvido devido à música alta.
Lia se estirou para trás e abriu o cooler, viu que estava cheio de bebidas que gostava. Abriu um sorriso enorme e pegou uma rapidamente a abriu a tapinha e deu um gole generoso. O rock tocando alto pelo carro lhe dava a sensação de rebeldia que nunca teve a coragem de experimentar antes. Era Liz o que faltava em sua vida, tinha certeza disso. Liz apenas tinha um sorriso incrível nos lábios.
Tinha certeza que ela a estava levando para a tal praia que haviam combinado de ir no sábado passado. Lia colocou um pouco da bebida na boca de Liz que não tirava os olhos da estrada. Meia hora depois elas começaram a avistar as paisagens de areia e mar da praia. Nunca viera até aquela antes, parecia ser bem deserta e calma. Já estava escuro quando elas atingiram uma parte da praia que haviam casas quase que à beira mar. Lia pode ver que eram verdadeiros casarões apesar da parca luz.
Liz ainda dirigiu bem mais à frente em uma casa um pouco mais afastada das outras. Essa era um pouco mais simples e ainda assim, muito charmosa. Assim que pararam em frente, Liz apertou em controle fazendo o portão se abrir. A casa era pequena e aconchegante e as luzes já estavam todas ligadas. Ela estacionou o carro na grama e sorriu para Lia. As duas desceram. Lia ficar a observar ao redor enquanto Liz pegava o cooler e dava a volta no carro até onde ela estava.
Ao redor da casa era tudo revestido de grama tão verde e viva quanto se poderia ser. Havia um deck muito aconchegante e estilizado. A casa tinha portas de vidro e era toda pintada de branco. O que chamava a atenção mesmo era a piscina que estava bem no centro da propriedade e se mostrava bem iluminada e grande, com uma cascata linda de pedra bem em sua lateral. Era tudo realmente lindo, com muitas plantas deixando o local ainda mais delicado e natural. O som no carro ainda tocava as embalando.
- Quero que a gente fique à vontade aqui. – Liz falou a abraçando e beijou seu pescoço. Aquilo a fez se arrepiar toda. – Gostou?
- Amei, é lindo aqui. Devia ter me dito, eu não trouxe nada. Nenhuma roupa. Biquíni...
- Não se preocupe com isso. – Liz a calou com um beijo safado e depois falou em seus lábios, apertando seu bumbum. – Por mim, não vamos precisar de roupa nenhuma.
Lia abriu levemente os lábios e suspirou. Seu coração começou a bater fortemente, sentiu uma contração no baixo ventre e aquela vontade em pressionar as próprias coxas... O olhar de Liz estava tão safado quanto naquele dia em seu quarto, conseguia sentir o corpo dela queimando ao pressionar o seu contra o carro. Ela tomou seus lábios com selvageria. Passaram muito tempo ali se agarrando sem pressa. A noite estava apenas começando e era apenas delas. Lia sentia que dessa vez nada iria atrapalhá-las...
Fim do capítulo
Chegou o momento tão esperado meninas... Rsrsrs
Não me matem, já comecei a escrever!!!
Bjs!
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Layne
Em: 09/07/2019
Oiiiiiiiii kiss
Olha é justamente isso que mais amo na estória, essa guerra mental que se passa na cabeça delas, tipo perdou, não perdou, estou com odio, não já passou, ah vou perdoa e derrepente não quero mais. Ai autora sabe que estou falando de Lia né? KkkkKKK
Essa é a realidade de um relacionamento e você está mostrando perfeitamente como as coisas acontecem. (Parabéns) entendo Lia em tudo e que bom que no final desse capítulo elas estão se entendendo... Ah! Perguntinha ( qual música do Nirvana Lia esta ouvindo?) seria tão massa se agente poder-se lê os seus capítulo ouvindo essas trilhas sonoras. Já pensou?
Continua autora que você está D+
Beijão kiss
Resposta do autor:
Olá Layne...
Own! Amo os seus comentários. Muito mesmo!
Olha, é bem confuso escrever as dúvidas da Lia, são muitas e como você mesma disse, um relacionamento é justamente isso. A gente pira na hora, exagera, às vezes se arrepende, outras achamos que estamos cobertas de razão, em outras o ego é mais forte, algumas vezes queremos matar e outras sair correndo atrás, e por aí vai... rsrsrs
Mas o importante é que no final o sentimento é sempre muito mais forte e quando se acerta tudo fica maravilhoso! O amor é uma droga... literalmente!
Quanto a música... e você vê que eu sempre coloco os nomes e tal... lá no wattpad tá cheio de vídeos. rsrsrs. Esse do Nirvana eu realmente não coloquei não. Com certeza ela estava escutando o CD acústico MTV deles. Super indicado para curtir uma fossa. kkkkkkkk. Já vou alterar isso. Obrigada pela dica! Tô bolando de fazer a playlist e deixar disponível para vocês. Já foram muitas até agora.
Beijão!!!
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Brescia
Em: 27/06/2019
Boa noite mocinha.
Amo esses seus capítulos longos, sem deixar o gostinho de quero mais. Tenho quase certeza que a Lia é escorpiana, é uma fúria que não pensa, só ataca, rs. Ainda bem que a Liz conseguiu demonstrar que a quer e só foi uma prova disso ter ligado para a outra. Muito bom!!!
Baci piccola.
Resposta do autor:
Olá Brescia
Quer dizer que você gosta de capitulos longos!? Bom saber. Então você vai amar o 15.Rsrsrs
Olha, você pode ter certeza, Lia é escorpiana sim. Muitíssimo. É verdade que temos o gênio meio ruinzinho. Mas fazer o quê, né? Kkkkk
A Liz consegue "domar" a fera muito bem. Ela é super relax, é o que mais gosto nela.
Que bom que gostou deste capítulo. E espero que goste ainda mais do outro.
Beijinhos!
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Val Maria
Em: 22/06/2019
Oi autora querida.
Olha gosto muito da Lia,e ela agiu certissíma, um pouquinho exagerada,mas certa.
Nós mulheres já queremos ter razão mesmo quando não temos,imagina nessa situação, e é bom a Liz ir aprendendo a lidar com isso.
Mulher de atitudes foi a Liz que passou cima do orgulho , foi tentar conversar com a ciumenta.
Essa noite será perfeito para ambas,mesmo a Lia não tendo nenhuma experiência. Elas já tem tudo para que seja mágico,a paixão, o amor que será algo que ficará em suas vidas.
Autora, amo de paixão essa história,a Lia e tudo...
Fica Com Deus.
Val Castro
Resposta do autor:
Olá Val...
Ah, agora sim. Finalmente alguém que concorda e entende a Lia. Amém!!! Muito obg.
Sim, você falou super certo, a Liz tem mesmo muita atitude, ela entende a Lia como ninguém e você viu como a Liz conseguiu a domar rapidinho? Pobre Lia... está lascada. Kkkkk
Essa noite... o que falar!? Eu tô escrevendo esse momento da melhor forma possível. Se eu conseguir escrever do jeitinho que está na minha mente... meu Deus! Vai ficar maravilhoso.
Obrigada pela lindas palavras são muito importantes.
Fica com Deus também.
Bjs!
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Elna Vale
Em: 21/06/2019
Oi moça....
Kmo é q vc tem coragem de fazer isso com as suas fãs,?termina o conto na melhor parte!
Poxa não demore a publicar,por favor...
Estou ansiosa para ler a saga de Liz e Lia...
Bjs
Resposta do autor:
Olá moça... Boa noite!
Rsrsrs... estou escrevendo esse momento com muita atenção e cuidado.
Quero que seja uma parte muito especial. Será um momento de transição na estória.
Tentarei não demorar e não se preocupe eu também estou ansiosa para compartilhar a saga delas com vocês.
Por favor, me diz só uma coisa!?
O que vc acha da Lia? Rsrsrs
Bjs!!!
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Rosangela451
Em: 20/06/2019
Lia e cabeça dura ... Poxa, tão inteligente e ao mesmo tempo tonta
Nunca precisou de uma tempestade dessa ..
Era só tocar o barco .Ciúmes besta
Grama e bem melhor viu ... Odeio areia só pra falar mesmo
Bjim
Resposta do autor:
Kkkkk... tadinha da Lia. Ninguém gosta dela, só eu.
Ela é ciumenta e insegura. Liz é a primeira paixão da vida dela e vamos combinar que não de pode dar mole com uma mulher feito ela. Rsrsrs
Vocês ainda vão gostar muito dela e odiar a Liz. Hehehe. Mas é a vida!
Vou levar isso da grama em consideração viu!? Kkkkkkkk
Bjs!
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