Capítulo 13 – Lia e Liz

 

- Sim ou não, Liz?

Ela não respondeu de imediato, apenas acariciou sua bochecha e beijou-a em seguida.

- É claro que sim! Vamos tentar como você disse...

 

 

Lia ainda não estava acreditando, ela finalmente aceitara. O que faria agora? Sabia que mesmo não houvesse nada realmente sério entre elas, ainda sim, saber que aquela boca seria só dela... nossa! Se sentia nas nuvens e com isso em mente, selou seus os lábios nos dela em um beijo profundo e cheio de carinho. A boca dela era tão gostosa, queria senti-la por todo seu corpo. Esse pensamento a aqueceu e mesmo que quisesse se entregar sentia que ainda não estava pronta.

- Só não quero magoar você. – Liz respondeu séria.

- Então não magoa. – Disse a olhando confusa e depois lhe encheu de selinhos. Por que ela diria algo assim?

Assistiram ao pôr do sol abraçadas e decidiram voltar para o apartamento de Lia, não queriam se separar ainda. Quando saíram da garagem e entraram no elevador, Lia se sentiu uma boba quando alguns rapazes que entraram junto delas, começaram a “seca-las” descaradamente e Liz entrelaçou seus dedos com determinação e ousadia, seu coração bateu forte com o ato, era inevitável. Sentiu olhares surpresos e preconceituosos deles, mas tratou de ignorá-los. Liz que estava com a cara totalmente fechada e séria. Não comentaram nada sobre quando saíram do elevador.

Assim que entraram viram que o apartamento estava completamente no escuro e não havia sinal de Cris ou Alberto por ali. Rapidamente Liz a abraçou por trás, agarrando-a pela cintura e beijou seu pescoço carinhosamente, aspirando o seu cheiro. Lia fechou os olhos, apurando os sentidos com o contato. Não queria admitir este clichê nojentinho, mas sentia como se borboletas habitassem em seu estômago sempre que dividia esses momentos ternos com ela, tinha vontade de se beliscar e ver se estava sonhando. Liz era carinhosa e quente, leve e solta, ao mesmo tempo que conseguia também permanecer um mistério. Queria muito que ela se abrisse, mas tentaria ser paciente, ainda mais depois daquele aviso que lhe dera pela tarde.

Mesmo que estivesse gostando de tê-la ali investigando seu pescoço, tinha medo de que alguém as flagrasse e puxou-a até o quarto silenciosamente. Liz apenas sorria de seus medos bobos e agarrou-a mais uma vez, assim que trancou a porta. Foram andando até caírem sobre a cama, com ela por cima de Liz, sempre se sentia mais confortável quando ficava por cima e sabia que Liz já havia percebido isso, pois sempre a deixava no controle da situação para fazer o que sentisse vontade. Sentia que aquilo era a coisa mais sensível que ela poderia fazer. Sentia respeito nessas ações, queria mostrar a ela que não era apenas mais uma de suas conquistas e ficas, mesmo que não fossem, de fato, namoradas.

Uma coisa marcante no beijo de Liz era que ela adorava brincar com as línguas durante o beijo. Ela passeava suas mãos contidas pelo corpo de Lia, o seu toque mais ousado era apertar seu bumbum com força e parecia adorar fazer isso. Empolgada, Lia ch*pou sua língua com tanta força que a fez gem*r de dor.

- Desculpe. – Falou entre risos com o rosto ainda próximo ao dela.

- Você quer arrancar um pedaço meu? – Liz falou e a virou, ficando por cima. – É isso, Lia?

- Se eu pudesse arrancava mesmo.

Lia falou, as duas sorriram. Tentou beijá-la ansiosamente, mas Liz segurou seus cabelos, impedindo-a. Olhou-a surpresa e não conteve um riso. Será que algum dia ela faria algo que não gostasse? Todos os seus toques, beijos e olhares eram certeiros, estava muito envolvida, nem queria pensar na sua vida sem aquele toque gostoso, sem ela todinha na verdade.

- Vai dormir comigo de novo? – Perguntou sorridente, estava simplesmente amando aquele clima leve e natural entre as duas.

- Se for esse o seu desejo.

- Você quer, não é? – Ficou insegura por um breve momento até que Liz abriu um sorriso genuíno.

- Claro que eu quero dormir com você. – Liz a beijou na testa. – E perder todo aquele cafuné de ontem?

- Aham! – Lia bateu em seu braço e fez-se de ofendida. – Então é só isso que você quer de mim, não é?

- Claro que não é só isso, Liana!

- E o quê mais?

- Quero seus toques... suas risadinhas nervosas... seu jeito irritadinho... seus beijos. – Liz ia intercalando cada frase com beijinhos por seu rosto. Lia não podia estar mais feliz.

- Como será isso? – Liz perguntou séria e pensativa. – Você não quer assumir nada, mas eu acho que a Cris já percebeu. Desculpe vir ontem daquele jeito...

- Não se desculpe. Eu gostei que tenha vindo até mim, mesmo daquele jeito. E sim, com certeza a Cris já se tocou. Mas não precisamos sair divulgando nada mundo a fora, não é?

Liz apenas sorriu e concordou. Aquele momento era totalmente diferente entre elas, sabia que não existia apenas desejo ali, havia algo mais, algo especial. Lia agarrou com firmeza os cabelos dela e a puxou com força para si, beijando-a com urgência. O calor do corpo de Liz a incendiava, era bom demais. Nesses momentos em que estavam a sós, se sentia livre de suas amarras e que poderia fazer o que tivesse vontade. Era tão boa aquela sensação de liberdade que sempre experimentava quando estavam juntas. As duas se beijaram afoitas, experimentando todo o desejo que começava a surgir. Naqueles momentos não se importava com o certo e o errado, ou com sua insegurança, Liz lhe despertava desejos intensos, não conseguia se controlar.

Mais uma vez, sentiu as mãos atrevidas dela subirem sua blusa e alisarem a pele de sua barriga. Sentia leves cócegas e arrepios com os toques, era extremamente sensível naquela região. Lia mordeu o lábio dela com vontade e depois ch*pou sua língua demoradamente. Ouviu um gemido rouco sair da garganta dela, sempre que aquilo acontecia sua libido despertava ainda mais. Queria muito se entregar, muito mesmo! Abraçou o quadril dela com suas pernas e começou a retirar a blusa dela. Liz sorriu e deixou-se ser despida, ficando apenas com seu sutiã vermelho.

Lia estava lhe dando total liberdade naquele momento e ela sabia disso, mesmo apesar de seu nervosismo. Pegou-a pelos braços e os prendeu na cama acima de sua cabeça. Liz beijou e mordiscou o pescoço dela, retirou sua blusa e a olhou a procura de consentimento. Lia apenas mordia os lábios e a segurava pelos cabelos em resposta. Liz levou seus lábios gulosos até a parte dos seios dela que estavam descobertos do sutiã. Os suspiros aumentavam no quarto gradativamente à medida que os toques, beijos e mordidas ficavam mais intensos.

O toque do celular de Lia as despertou da mágica do momento. Lia bufou quando Liz parou de beijar sua barriga. Olhou rapidamente na tela e era Rodrigo. Puta que pariu! Murchou na hora que viu o nome dele. Mas era muito azar, logo naquele momento!? O infeliz parecia ter um timing perfeito. Ela rapidamente pôs o telefone no modo silencioso, mas quando se voltou para a Liz, a viu com cara de poucos amigos.

- Desculpe por isso! – Lia tentou acariciar sua face, mas ela se afastou. – Hey...

- Vocês sempre costumavam se falar antes de dormir, é? – Perguntou enciumada.

- Não. – Lia respondeu sincera. – Eu nem o vi mais desde aquele dia da festa, para falar a verdade!

- Será que você pode dispensar esse engomadinho de uma vez por todas!?

Lia desatou a rir, não conseguiu resistir. Ela estava literalmente com ciúmes.

- Qual a graça? – Perguntou irritada.

- Nenhuma! – Tentou disfarçar.

Se sentia uma verdadeira imbecil. Lembraria de colocar a droga daquele celular no silencioso quando estivessem juntas. Já estava cansada de serem sempre interrompidas nas melhores partes. Lia a puxou para de volta para si e foi correspondida com um beijinho lento e carinhoso. O clima havia se quebrado um pouco. Suspirou de frustração e a abraçou.

- Nós não temos nada sério, Rodrigo e eu. – A observou por breves segundos, mas ela permanecia calada. – Seja lá o que foi isso, eu vou conversar pessoalmente com ele e acabar tudo.

- Conversar pessoalmente? – Perguntou subitamente. – Para quê? Por que não manda uma mensagem agora e diz que está tudo acabado?

- Mensagem, Liz? – Arqueou a sobrancelha surpresa. Teve vontade de rir.

- O que é que tem?

- Sei lá. Eu só acho falta de consideração, só isso!

- Pois eu não vejo problema nenhum. A não ser que fosse algo sério.

- Eu já disse que não era sério! – Revirou os olhos e a abraçou pelo pescoço jogando charminho. – Vem cá! Não quero perder nosso tempo falando nele...

- Você é um perigo, Liana! - Liz apertou os olhos em sua direção, como se a analisasse.

As duas desataram a rir e o clima leve foi voltando aos poucos. Trocaram beijos quentes novamente, quando Liz falou.

- Queria tocar violão para você agora. – Declarou, deixando Lia sorridente. Amava vê-la tocar. Sempre ficava hipnotizada.

- E eu queria que você tocasse para mim.

- Posso colocar alguma música para a gente escutar?

- Claro que sim! – Respondeu animando-se. Amava escutar música e, ainda mais, escutar com ela.

Liz andou até o rádio que ela tinha no quarto e o ligou ao seu celular. O quarto começou a ser tomado por uma melodia gostosa de violão. Era Boyce Avenue cantando a música Sailing. Gostava demais daquela canção que ficou linda naquela versão. Amou a escolha, era incrível como Liz tinha um gosto musical maravilhoso. Era sempre tão mágico estar perto dela e com música então... ficava feito boba, se sentia perdidamente apaixonada. Qualquer momento com ela, por mais simples que fosse, se tornava especial. Liz a olhou e sorriu, atirando-se sobre ela novamente.

Elas se olharam por um longo tempo. Liz acariciou o rosto e começou a beijar seu pescoço e espalhar mordidinhas ali e em seu ouvido. Arrepiou-se toda, era sensível a carícias no ouvido. Um gemido de contentamento saiu sem convite e as duas sorriram. Lia a prendeu entre suas pernas e a puxou para um beijo de tirar o fôlego. Amava aquela boca gostosa dela, aqueles lábios tão macios, sua língua nervosa que lhe tirava do sério. Naquele momento, com o amasso todo, com a música preenchendo o ambiente junto à sinfonia dos seus beijos, sentiu um tesão tão enorme que nunca sentira na vida, se sentiu extremamente molhada com o desejo que sentia e com o coração a mil.

Liz beijou toda a pele exposta do pescoço até a barriga. Sentia sua boca seca quando os beijos dela desceram um pouco abaixo de seu umbigo. Apesar de querer se entregar algo travava. Liz parecia ser tão experiente, já ela... não tinha experiência alguma. E se a decepcionasse? E se ela não gostasse de seu corpo? O modo como ela a olhava agora era tão incrível. Podia sentir o desejo queimar naquelas íris escuras.

Pegou o rosto dela e a trouxe para si novamente colando suas bocas, não se cansava de beijá-la. Liz começou a acariciar suas coxas, como usava um short curto havia bastante pele descoberta, as mãos dela a pegavam com firmeza, sentia sua pele queimar com os toques dela. Liz começou a fazer pressão com o quadril no dela, o atrito gostoso por cima do short deixou Lia descontrolada. Com receio levou as mãos até o bumbum de Liz e os apertou com vontade. Queria ter feito aquilo a mais tempo, mas se sentia tímida antes. Adorava quando Liz a apertava daquela forma, apenas queria lhe proporcionar o mesmo e pareceu conseguir seu objetivo, pois ela a olhou surpresa e com aquele sorriso torto nos lábios avermelhados.

- Eu quero você! – Liz a olhou seriamente. – Quero você, Lia...

Liz apertou seus seios por baixo do sutiã e um arrepio correu por todo o seu corpo, não conseguia pará-la, estava gostoso demais daquele jeito. Ela acariciou por bastante tempo os seus seios até que Lia não conseguisse mais conter os gemidos, ao mesmo tempo mordia o seu pescoço com vontade, com certeza ficaria com marcas, mas já não se importava. As mãos perigosas de Liz desceram ainda mais e desabotoaram o seu short, quando ela começou a introduzir a mão dentro de sua calcinha, Lia travou ao se dar conta do que estava por acontecer e segurou as mãos dela para que não prosseguissem.

Elas estavam com as respirações ofegantes, Liz tinha os lábios entreabertos e o olhar mais selvagem que já vira na vida. Deus! Queria aquele olhar sempre, não queria mais pensar em ficar sem ele. Logo o olhar de tesão que Liz tinha mudou para frustração.

- Desculpe. – Lia falou tocando em seu rosto. Estava envergonhada.

- Tudo bem. – Liz fechou os olhos com força e a beijou levemente. – Sei que nunca fez isso antes com outra mulher.

- Hum... é... obrigada! – Lia sabia o quanto ela estava se controlando e ficou muito agradecida com a reação dela.

- Tudo bem, linda.

– Olha para mim!

Liz a encarou profundamente, ainda estava um pouco ofegante e tinha uma leve súplica em seu olhar. No entanto nada disse, apenas deitou-se ao seu lado e passou a mão em seu rosto.

- Desculpe, Liz... é só que... – Não sabia bem o que dizer. Será que ela a consideraria uma idiota infantil?

- Não precisa ficar assim tão nervosa. – Falou baixinho eu seu ouvido. – Pode confiar em mim.

- Liz, eu confio... – Virou de lado ficando de frente para ela e se abraçaram.

- Ok. Então me diz uma coisa... – Pediu fazendo carinho em seu cabelo e olhando-a ternamente.

- O quê? – Se sentia nervosa com o olhar de Liz.

- Você é virgem?

O coração de Lia disparou. Não imaginava que Liz fosse ser assim tão direta. Sentiu seu rosto queimar de vergonha e embaraço. Escondeu o rosto no pescoço dela enquanto ainda a sentia mexer em seu cabelo.

- Sou. – Respondeu em um sussurro e a agarrou ainda mais forte.

Ficaram em silêncio por bastante tempo e naquela posição, apenas com Boyce ecoando pelo cômodo. Liz não a soltou em nenhum momento. Quando já estava se sentindo sufocada com o silêncio dela juntou coragem suficiente para encará-la, mas ela tinha um leve sorriso de contentamento nos lábios.

- Você está falando sério, Lia? – Perguntou suavemente lhe acariciando a face.

- Estou. – Respondeu tímida novamente. – Por quê?

- Porque isso é incrível. – Os olhos dela brilharam de uma forma totalmente diferente. – Você é incrível. Como pode ainda não ter feito isso nunca?

- Eu não sei... nunca fiquei atraída de verdade a esse ponto.

Falou a verdade sobre o que sempre sentiu. Só não sabia o porquê de nunca ter se sentindo daquela forma antes, achava apenas que não tinha encontrado alguém especial, só que na verdade, talvez porque estivesse perdendo tempo com o sex* errado, mas como saberia dizer se nunca havia ficado com um homem daquele jeito? E como ficaria se nunca sentia vontade? Tampouco tinha vontade de ficar com outras meninas. Apenas Liz, de alguma forma, havia despertado o desejo nela. Como isso podia ser possível?

- Mas você nunca transou com nenhum rapaz antes?

- Não, Liz. – A olhou timidamente. – Nunca! Nem com um garoto e nem com uma garota. Nunca!

Liz abriu um sorriso carinhoso e continuou lhe fazendo cafuné.

- Estou amando isso. Você virgem... meu Deus, é bom demais para ser verdade! - Ela pôs as mãos sobre o rosto e riu exultante. – Para quem estava se guardando, Liana?

- Para você, Lisandra.

- Não sei se sou merecedora disso tudo. – Falou com aquele ar triste mais uma vez.

- É claro que é. – Lia agarrou-se em seu pescoço. – Só você já me deixou assim.

Liz apenas sorriu e a beijou de forma ardente. A linda melodia das cordas do violão ainda preenchia o quarto embalando aquele momento só delas. Por que era tão natural falar aquelas coisas com ela? Por que tudo era sempre tão perfeito entre as duas? Que sintonia era aquela?

Naquela noite, Liz não tentou mais avançar com ela, apenas ficaram embaladas em um abraço gostoso e sentindo os toques suaves uma da outra até adormecerem.

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Lia acordou cedo sentindo o braço de Liz a enlaçar pela cintura. Por um breve momento ao acordar pensou que estivesse mesmo sonhando e que todo aquele dia com ela havia sido um sonho. Quando virou para ela, viu que já estava acordada.

- Vamos fazer o quê hoje? – Perguntou ela olhando para o teto.

- Ir para a faculdade, é claro. – Disse sorrindo. Liz fez uma careta. – Não gosta de estudar?

- Nenhum pouco! – Respondeu apática.

- Então por que está estudando isso? – Lia disparou a maior curiosidade que tinha. – Engenharia!? Eu pensei que fosse música o que você queria.

- Eu não sei o que eu quero ainda, na verdade. – Revelou séria. – Mas música é apenas um lazer, uma paixão. Só isso!

- Que desperdício.

Lia percebeu que ela ficou séria de repente. Será que ela só estudava para agradar a família? Será que era isso todo o aborrecimento dela? Tinha tantas perguntas...

- Precisamos tomar banho para ir. – Lia lembrou-se. Era tão fácil perder o foco com ela ali que já começava a acaricia-la pelo corpo. Porém, em um último resquício de sanidade a afastou. – Para, Liz... Temos que ir.

- Eu já disse, quero ficar aqui com você.

Lia riu e olha que não era nada sociável e simpática pela manhã. Mas que tipo de droga era essa que ela tinha lhe dado? Parecia sempre estar com a falta dela.

Tomaram um banho separadas e foram até a sala. Cris estava sentada e Alberto ao seu lado. Os dois a olhavam com os olhos de compreensão e sorriram. Liz os cumprimentou normalmente e com aquele mesmo carisma de sempre. Lia foi para a universidade no carro de Liz e Cris com Alberto.

Lia estava exultante naquele dia, melhor impossível. Participou ativamente da aula e conseguiu se concentrar em tudo que foi debatido em sala. Cris apenas a lançava um olhar de sabe-tudo e soltava piadinhas, mas apenas a ignorava, estava com o humor incrível. Assim que saíram para o intervalo o telefone de Lia tocou, era Rodrigo. Finalmente o momento havia chegado, podia sentir. Marcou se encontrar com ele no gramado mais ao longe, não queria estar nas vistas de Liz para isso, ficaria nervosa. Quando chegou lá ele já a esperava, lindo e engomadinho como sempre. Ele abriu um sorriso lindo quando a viu e beijou seu rosto.

- Oi linda! Te liguei ontem e você não me atendeu.

- Olá, Rodrigo. – Se sentiu sem graça, mesmo sabendo que não deveria. – Eu estava ocupada.

- Tudo bem. O que quer conversar?

- Olha! Primeiro eu queria agradecer por você ter sido um cara tão legal e paciente comigo ultimamente. – Falou suavemente, ele a encarava sem entender. – Mas essa coisa entre nós precisa terminar.

- Mas por quê? – Ele parecia verdadeiramente surpreso.

- Eu estou gostando de outra pessoa, só isso! – Respondeu direta, nunca teve paciência para muita conversa e enrolação, sempre gostava de ser sincera. – Apenas aconteceu.

- Uau! – Ele parecia decepcionado. – Eu estava mesmo gostando de você, Lia.

- Eu também gostei de você, Rodrigo. É um cara legal, merece uma pessoa especial, mas infelizmente esse alguém não sou eu.

- Eu queria muito que fosse você. – Ele a segurou pelo braço firmemente o que a incomodou. – Não faz isso, Lia. Quem é o outro cara? Eu conheço?

- Rodrigo, por favor, me solta! – Falou firme e irritada. Ele a soltou e parecia envergonhado. – Eu não devo satisfações de nada a você, espero que apenas aceite a situação e saiba que lhe tenho um carinho especial, então não acabe com isso.

Rodrigo acenou com a cabeça, parecia cabisbaixo. Ele desculpou-se mais uma vez, lhe deu um beijo delicado na face e foi-se embora. Se sentia mais leve. Deveria ter feito aquilo a mais tempo, não havia sido certo usá-lo como distração, sabia disso, mas também nunca prometera nada. O restante de aula passou-se ainda melhor. Estavam em análise e interpretação dos textos, era a matéria que mais gostava. O dia havia sido bastante puxado nas aulas, todos os professores passaram trabalhos e seminários, daria bastante dor de cabeça, mas eram estes desafios que faziam toda a diferença em seu currículo acadêmico.

No final da aula ela e Cris se encontraram com Liz e Alberto e decidiram irem juntos almoçar. Aquilo estava se tornando tão natural. Apesar de que sentia os olhares curiosos e especuladores de Cris e Alberto sobre si. Sabia que assim que estivessem à sós em casa não iria conseguir escapar da inquisição da amiga e já estava se preparando para responder a tudo. Estava tão alegre que queria muito compartilhar aquilo com alguém e quem melhor do que Cris? Esperava que a amiga não ficasse diferente com ela, era o seu maior medo.

Liz as levou de volta para o apartamento já que Alberto estava apressado para ir à empresa de sua família. Cris desceu do carro e foi andando na frente deixando-as à sós no carro.

- Obrigada pela carona. – Falou a abraçando pela cintura.

- Você estava com tanto medo de sermos descobertas. – Liz ponderou, olhando-a. – O que mudou? Tenho certeza que Cris e Alberto perceberam algo. O que você disse a eles?

- Eu não disse nada, para falar a verdade. Eu sei que eles dois perceberam, espero que não sejam preconceituosos. - Falou demonstrando uma segurança que não sentia, no fundo estava morrendo de medo.

- Eles não são, Lia. – Liz passou a mão por sua face e a beijou suavemente. – Eles são ótimos amigos.

- Eles são mesmo.

Seu coração aqueceu com o sentimento. Tudo o que menos queria agora era alguém lhe apontando e fazendo julgamentos. Não queria que nada atrapalhasse aquela alegria que a tomava no momento.

- Eu sei que agora vou sofrer um interrogatório de FBI, então...

- Eu te ligo. – Liz sorriu lindamente e a puxou pela nuca para um beijo de tirar o fôlego.

- Tchau. – Respondeu lhe dando mais um selinho, mas não conseguia se mover.

- Tchau.

Finalmente conseguiu sair do carro e ficou olhando-a, parada feito uma idiota, dar a partida até que virasse na esquina e a perdesse de vista.

“Toda despedida é dor... tão doce todavia...”

Caralh*! Será que seria costumeiro sempre citar Shakespeare? Se sentia uma idiota ao quadrado. O que Liz estava fazendo com ela?

Quando chegou ao apartamento a amiga estava sentada no sofá mexendo no celular e assim que a porta abriu ela a olhou. Lia nem pensou em enrolar, não tinha paciência para isso, por isso logo sentou no sofá ao seu lado e espero que a primeira pergunta viesse.

- O que está rolando entre vocês duas? – Cris perguntou direta e curiosa.

- Estamos ficando. – Respondeu tímida sem olhá-la.

- Ficando? - Repetiu surpresa.

- Sim, não é um namoro, mas é quase como se fosse.

- Lia, desculpe perguntar isso, mas eu estou confusa. – Cris balançou a cabeça embaraçada. – Desde quando você curte meninas? Por que nunca me disse?

- Mas eu nunca me senti atraída por uma garota antes, Cris. Eu também estou perdida aqui. – Falou confusa. – Isso incomoda você? Eu estar ficando com a Liz?

- O quê? – Cris perguntou, arregalando os olhos. – Claro que não amiga, não me incomodo. Eu só fiquei surpresa. Só isso! Eu sempre via você de mimimi com os garotos, nunca passou pela minha cabeça isso.

- Nunca passou pela minha cabeça também. Isso é uma loucura! Eu já surtei, acredite! É tão surreal.

- Vocês estavam brigadas por que na semana passada?

- A Liz é um pouco complicada. Eu só não queria aceitar algumas condições. Mas ela acabou cedendo.

- Que condições?

- Isso é coisa nossa, Cris. - Falou curta e grossa como de costume.

- Ah! Que injusto, Lia. – Ela pegou um travesseiro e tacou na amiga, fazendo-se de ofendida. – Eu te contei tudo entre o Alberto e eu.

- Eu não gosto de falar sobre isso, Cris. Ainda é tudo novo, eu me sinto confusa. Muito!

A amiga a abraçou e deu um beijo em sua testa.

- Você está apaixonada por ela?

O coração de Lia disparou. É claro que estava, mas as palavras travaram em sua garganta. Achava o sentimento tão repentino e imaturo ainda. Sempre teve dificuldades em demonstrar emoções mais profundas, somente Liz a desmontara toda daquela forma, era inexplicável como as coisas aconteciam.

- Bem o que importa é que você está feliz, qualquer um pode ver. Seja lá o que a Liz tenha, está te fazendo muito bem. Eu amo você, irritadinha! Eu só quero te ver bem e se estar assim com ela é bom para você, então sempre terão meu apoio.

Lia sorriu e quase que algumas lágrimas escorreram por seu rosto de emoção. Era muito importante aquelas palavras para ela, por serem de Cris, sua amiga mais verdadeira. Se sentiu acolhida em seu abraço. Ela era a irmã que escolheu para ter.

- Eu terminei tudo com o Rodrigo também. Eu e Liz decidimos que não vamos ficar com mais ninguém.

- Fico feliz em saber disso. Nunca aceite menos do que você merece receber, Lia. Nunca.

- Obrigada, Cris. Muito obrigada!

Sentia-se como uma bobinha apaixonada. Estava terrivelmente ferrada e ao mesmo tempo que uma euforia se apoderava dela, o medo de se foder também estava lá presente. Liz parecia ser uma garota livre e solta, acostumada a ter as meninas aos seus pés. Até agora ainda não acreditava que ela a escolhera. Poderia ter quem quisesse, mas decidiu estar com ela.

Pela noite as duas conversaram ao telefone e Lia lhe contou sobre o término definitivo com Rodrigo mais cedo. Ela pareceu ficar bastante satisfeita com a informação e cantou um pouco para ela pelo telefone lhe arrancando suspiros e risinhos apaixonados. Naquela noite dormiu tão leve e solta quanto nunca...

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Os dias se passaram que não sentia. A semana de aula foi muito proveitosa e cansativa, mas foi tudo maravilhoso para Lia. Já era quase fim de agosto, os dias passavam rápidos. Liz teria uma apresentação com sua banda no fim de semana por isso passou aqueles dias ensaiando pela noite. Elas só tinham algumas horas pela tarde e não foram todos os dias já que estava cheia de atividades e trabalhos para fazer. Na sexta feira, conversavam deitadas na cama de Lia, com o rádio as embalando como sempre.

- Quero te levar para a praia no fim de semana. Só nós duas. Você quer ir?

Lia aceitou o convite na hora, não conseguia pensar em mais nada. Queria muito passar o fim de semana a sós com ela, ficou muito feliz com o convite. Aquela semana foi tão incrível que nem conseguia acreditar. Talvez ficarem sozinhas em um lugar diferente a desse a coragem necessária para se entregar de vez a Liz. Estava cada vez mais resistir aos toques e beijos quentes dela e sabia que ela fazia de propósito.

- Como vamos fazer? – Quis saber animada. Praia, Liz e música? Não perderia isso por nada.

- Por que não convida o Alberto e a Cris para irem com você? Vai ser muito divertido. Quando eu terminar a apresentação vamos direto para a casa de praia no meu carro.

- Por mim, tudo bem!

As duas namoraram por mais algum tempo e depois Liz teve que ir para o ensaio com a banda.

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O sábado amanheceu limpo e claro com o lindo sol banhando a cidade. Lia ajeitou-se completamente naquele dia. Se depilou, fez as unhas e cortou o cabelo. Queria estar linda para ela de noite. Não queria nem pensar na noite que passariam juntas que várias possibilidades já passavam em sua cabeça e ficava nervosa só em cogitar a possibilidade de fazerem amor... queria muito, muito mesmo!

A noite se arrastou para chegar somente por sua impaciência. Ela e Liz passaram o dia trocando mensagens carinhosas uma com a outra, só se veriam a noite no bar. Arrumou as coisas que precisaria devidamente em uma mochila e ficou a esperar ansiosa pela chegada de Alberto para busca-las. As duas conversavam deitadas no sofá.

- Quer dizer que vão passar o fim de semana juntas?

- Sim. – Disse sem evitar que um largo sorriso lhe tomasse os lábios.

- Nunca vi você assim antes, Lia. É muito engraçado, desculpas! - Cris deu altas gargalhadas no sofá. – É tão estranho te ver de sorrisinhos e suspiros pelos cantos olhando o telefone. Eu bem suspeitava que tinha algo rolando.

- É tão perceptível assim?

- Vocês não souberam disfarçar nem um pouco. Aqueles olhares, aquela tensão, eu nunca te vi tão abalado por causa de uma outra pessoa. Só, cuidado ok? Vão devagar, a Liz parece ser uma garota muito envolvente e interessante.

- Ela é mesmo. Não se preocupe, Cris. Só torce para que tudo dê certo. Eu achei que nunca fosse sentir essas sensações todas por alguém antes. Só a Liz me despertou isso até hoje.

- O quê? Tesão?

As duas riram para valer. Cris era louca, falava tudo que vinha em sua mente feito uma louca. Foram interrompidas pelo toque do telefone de Cris. Era Alberto avisando que já as esperava.

O bar estava impressionantemente cheio naquela noite. Quando conseguiram uma mesa que estava reservada para eles perto do palco viram que os instrumentos já estavam a postos no palco. Lia ficou à procura de Liz pelo salão, ela havia dito que já estava lá. Varria os quatro cantos do local procurando sua silhueta rockeira pela multidão quando sentiu duas mãos quentes cobrirem seus olhos, logo sentiu o cheiro maravilhoso dela se espalhar ao seu redor, abriu um sorriso quando a viu. Ela estava linda, como sempre. Usava jaqueta preta de coura, jeans surrados, tinha os cabelos mais rebeldes e usava uma leve maquiagem. Meu Deus! Tinha que ter bastante cuidado e atenção, ela chamava muita atenção.

Muito simpática e descontraída como sempre ela cumprimentou Cris e Alberto e sentou-se ao seu lado lhe dando um selinho rápido. Lia sentiu suas bochechas arderem, com certeza estava corada de vergonha. Quando olhou para frente os amigos as olhavam sorridentes. Era bom saber que não tinha problemas para eles, mas mesmo assim ainda tinha muito medo dos olhares preconceituosos dos outros. Liz ficou na mesa com eles até que um dos integrantes a chamou para que começassem a apresentação.

- Assim que a gente fizer um intervalo eu volto para cá. – Sussurrou em seu ouvido e lhe deu outro selinho.

 A noite estava apenas começando. Alberto e Cris não perderam tempo e logo pediram uma cerveja, e Lia pediu uma daquelas Ices. Depois que Liz a mostrou aquela bebida havia gostado tanto que agora só queria tomar dela. Liz rapidamente encantou a todos quando começou a cantar com sua voz linda e suave. Ela estava inspirada nas músicas românticas hoje, e como sempre a interação dela com o público era grande. Por muitas vezes elas trocavam olhares e piscadinhas de olho, principalmente quando ela cantava alguma música mais romântica. Percebia que vez ou outra ela dava um gole generoso em um copo e se a conhecia bem, apostava que aquilo não era água.

Ela e os amigos resolveram pedir a janta e nesta parte do show Liz começou a atender à pedidos de músicas. Via alguns rapazes mais atirados dedicarem músicas para ela e ria muito com aquilo. Coitados! Ria muito. Já quando via algumas meninas mais atiradas se morria de ciúme. Liz nem mesmo as observava e continuava a cantar e interagir com todos. Lia já se sentia um pouco tonta quando terminou a quarta garrafa da bebida. A noite estava animada demais, gastava o tempo comendo, bebendo, conversando com os amigos e admirando Liz, com certeza ela era o ser mais iluminado dentre todos ali, aquela energia boa que ela passava a atingia em cheio. Se sentia em paz inexplicavelmente.

O intervalo dela só veio às onze e meia da noite. Lia viu o caminho árduo que ela fez para conseguir chegar na mesa deles, várias pessoas a abordavam conversando e tirando fotos com ela. Mas o que era aquilo? Até parecia uma rock star! Era incrível como as meninas chegavam nela, já estava morrendo de ciúmes com a cena. No entanto, Liz dispensou a todas com um sorriso e finalmente chegou a mesa bastante animada.

Logo sua janta chegou e eles começaram a conversar animadamente na mesa. Lia conseguiu sentir o leve cheiro de álcool em seu hálito quando ela a beijou mais demoradamente. Ficava tímida com essas demonstrações, mas ao mesmo tempo ficou bastante feliz pois aquelas atiradas viriam que ela estava muito bem acompanhada. Liz passou o braço pela cintura dela a abraçando enquanto conversava animada com Cris e Alberto. Ela sempre conseguia atrair a atenção para si e encantar a todos. Lia nem mesmo conseguia prestar atenção a conversa na mesa, só admirá-la, tão linda com aqueles lábios rosados e os cabelos rebeldes. Mal via a hora de finalmente ficarem à sós na praia. Estava bastante eufórica.

Estavam tão entretidos na conversa que não viram quando uma mulher alta e loira se aproximou de Liz e se inclinou falando alto em sua orelha para que pudesse ser ouvida através da zoada das vozes ao redor.

- Te encontrei finalmente. – A mulher falou muito próxima a Liz. – Soube que você vinha tocar aqui hoje e vim só para te ver, gatinha.

Os olhos de Lia se arregalaram. Quem aquela loira oxigenada pensava que era? Falando com Liz naquela intimidade toda. Por um momento pensou já tê-la visto antes, mas não conseguia lembrar. Liz parecia um pouco nervosa, tentava afastá-la e lhe dispensar educadamente. Cris e Alberto olhavam a cena estáticos. Aquela mulher não tinha mesmo noção. Lia já estava para expulsá-la quando ouviu aquilo que fez seu coração tremer de ódio e tristeza.

- Quando me ligou no sábado fiquei animada. Mas você foi embora e não voltou. Queria muito continuar nossa conversa.

Liz a olhou preocupada e tentou segurar em sua mão, mas não deixou. De repente Lia lembrou dela, fora a mesma mulher que lhe passara o número em um guardanapo no começo do mês naquele bar. Mas como assim Liz a ligou no sábado? No sábado passado quando ela chegou desabando em seu apartamento? Então era isso? Ela ficou com aquela piranha e depois foi se consolar com ela. Era isso mesmo que estava ouvindo...?

 

Fim do capítulo