EU VOU TE ESPERAR
POV Alexandra
Uma semana tinha passado desde a minha conversa com a Carina. As coisas estavam bem confusas na minha cabeça, mas ainda assim era agradável a sensação da descoberta.
Há sete dias estávamos mais próximas do que um dia tivemos, considerando o tempo que nos conhecemos. Nos falávamos no whatsapp basicamente todos os dias, mentira, kkk..., basicamente o tempo inteiro, coisa que nunca fizemos. As conversas eram as mais variadas possíveis, uma vez que buscávamos nos conhecer, ou nos reconhecer, seja lá o que estávamos fazendo.
Nossas conversas duravam horas e entre um assunto e outro sempre pintava uma indireta. Ela era encantadoramente cafajeste e eu estava adorando conhecer esse lado da morena. E era justamente isso que me assustava! Ela ia contra a todos meus conceitos, era cafajeste, não se apegava e geralmente não pensava no amanhã, enquanto eu pensava em estabilidade, conforto e rotina. Gente eu fui apaixonada por um homem que não me enxergava por anos. O Davi nunca me viu como mulher, eu era a amiga, a confidente, mas nunca a possibilidade real de um relacionamento. Depois me apaixonei por meu marido, um homem lindo, companheiro, amigo, mas que me devastou completamente ao me deixar novamente sozinha. E agora pinta uma figura completamente improvável que me faz rever conceitos e questionar toda uma existência, como não ter medo? Como não estar confusa? Eu que sempre fui insegura no quesito amor, me ver desejando alguém tão diferente de mim me torna ainda mais temerosa.
Mas ela não me deixar pensar, não me dá muito tempo para questionamentos acerca da lógica ou do provável, ela simplesmente me invade. Manda mensagens que variam do despretensioso ao completamente descabido, kkkk.... Algumas mensagens me soam como sussurros, me instigando a continuar, a me jogar de cabeça e não pensar nas consequências.
Como eu preciso de você Lu! Pensei em voz alta enquanto saía de uma cirurgia que sugou a minha alma. Precisava fazer uma segunda lua-de-mel logo agora? Sorri ao perceber o quanto minha vida tinha virado de cabeça para baixo em apenas sete dias. Ainda devaneando pelos corredores do hospital me encaminhei para a sala dos médicos, precisava descansar o corpo e a mente por pelo menos 30 minutos. Ao sair do elevador vejo o motivo das minhas insônias e da minha confusão mental entrando, justamente no local onde eu pretendia descansar.
A verdade era que não nos falávamos pessoalmente desde a viagem da Lu e não ficávamos sozinhas desde aquela fatídica conversa. Graças aos Deuses nossos horários não coincidiram por alguns plantões e nossas infinitas conversas se limitavam ao whatsapp. A tela do celular me encorajava a me abrir, mas agora vendo-a tão perto me sinto mais insegura que nunca. Uma verdadeira adolescente no primeiro encontro com o Crush.
Nossos olhares se encontram e seu sorriso me enternece. Ela abre a porta para entrarmos e ao perceber que estamos sozinhas finaliza todo e qualquer espaço existente entre nós. O beijo é mais urgente dessa vez, mais ávido, como se precisasse confirmar uma propriedade nunca cogitada.
Sua mão percorre meu corpo com uma maestria nunca antes experimentada, sua respiração fica sôfrega roubando o pouco de sanidade que ainda me restava. A necessidade de ar nos faz parar e isso me entristece um pouco, confesso, mas meu lado racional volta a gritar fazendo com que a insegurança volte a rondar meus pensamentos.
_ Como eu senti saudades do seu beijo. Ela me olhou sorrindo, enquanto fazia carinho no meu rosto avermelhado pela vergonha.
_ Não sabia que estava de plantão. Sorri tentando demonstrar uma calma inexistente em mim. Eu não sabia como me portar, o que pensar e principalmente o que dizer. Porque ela precisava ser tão intensa?
Ela percebeu meu nervosismo e sorriu, acredito eu que achando graça da minha completa inexperiência. _ Não estou, vim apenas para te ver. Novamente ela sorriu e me deu um selinho demorado. _ Queria te convidar para sairmos hoje, o que acha? Minha cabeça literalmente bugou, eu não estava preparada para um encontro oficial, eu ainda estava na fase das mensagens indiscretas e dos sorrisos frouxos. Até mesmo os beijos roubados me tiravam completamente de órbita. Meu desespero era tão evidente que ela se antecipou. _ Ei, fica calma, não vai acontecer nada que você não queira. Me desculpa se te assustei com esse beijo. As vezes minha impulsividade me leva a fazer coisas sem mensurar as consequências. Prometo não avançar o sinal novamente.
Foi impossível não sorrir com essa demonstração de preocupação. _ Só estou assustada com a pressa que tudo que está acontecendo, mas é claro que eu quero sair com você. Retribuo o selinho demonstrando minha pré-disposição em continuarmos nesse ritmo. Ela sorriu e mais uma vez aprofundou o beijo, invadiu minha boca sem pedir nenhum tipo de consentimento, apertou seu corpo contra o meu, me fazendo arfar e novamente me roubando a sanidade. Finalizou o beijo e saiu, me deixando completamente estática, sendo segurada apenas pela parede que até então servia apoio para o prelúdio de um amasso.
_ Me perdoa Heloísa, mas eu preciso da minha amiga. Ignorei minhas boas maneiras e meu senso de ridículo e liguei para a Luna.
POV Carina
Sete dias, que louco! Como pude mudar completamente de perspectiva em apenas sete dias? Tudo bem que saber a importância que ela teria na minha vida me ajudou bastante. Eu queria fazer dar certo, queria que ela ocupasse o lugar que a Madame Berta previu, queria que ela fosse meu grande amor, meu porto seguro. Um dia cheguei a desejar que esse lugar fosse ocupado pela Luna, mas hoje vejo o quanto isso seria impossível, existia uma Helô e uma Alex em nossos caminhos e isso nos impediriam de qualquer coisa além de divertimento e uma grande amizade.
As palavras da Madame Berta não paravam de ecoar na minha mente, dizendo que o tapa precisaria ser trabalhado para virar amor e eu estava disposta a trabalhá-lo. Por isso estava indo com mais calma, mantendo a distância necessária para provocar saudades, escutando seu universo e lhe apresentando o meu em conversar infinitas, protegidas pela tela de um celular.
Romances e conquistas nunca foram um mistério para mim, na verdade sempre fui incisiva nas minhas conquistas e aberta nos meus relacionamentos, mas com ela estava sendo diferente. O peso de saber a importância que ela tomaria na minha vida me impossibilitava de ser leviana e exigiam de mim uma calma que eu não estava acostumada.
Mas hoje eu acordei disposta a dar mais um passo rumo ao meu destino, queria vê-la, conversar cara a cara, convidá-la para sair, tomar um bom vinho, poder dizer a ela o quanto tenho sentido falta da sua presença física. Com a coragem no leme me direciono ao hospital e me informo acerca do seu paradeiro. A coitada estava em uma cirurgia que já durava 5 horas. Não havia previsão para o término, mas a sorte estava do meu lado e alguma coisa me dizia que ela sairia de lá a qualquer momento. Fui para a sala dos médicos, pois com certeza ela iria para lá, uma cirurgia nesse porte suga nossas energias e cama e sossego é tudo que precisamos para nos recompor.
Menos de 20 minutos se passam e a vejo saindo do elevador e fica impossível controlar minha ansiedade. Ela me sorri e entramos na sala, que por sorte está completamente vazia. “se segura Carina” minha cabeça gritava, mas eu sou teimosa e antes que meu cérebro pudesse me dar o segundo alerta a agarro e deixo que meu corpo dite as regras do jogo. Ao nos afastarmos vejo os dilemas existentes nela, mas ainda sim a convido para sair e me desespero ao ver sua postura enrijecer, seus olhos vacilantes e sua garganta seca. Minha mente grita minha incompetência em me segurar, em ir com calma e principalmente em não assustá-la. “Porr* Carina ela nunca ficou com uma mulher”
Tento concertar meu erro, afirmando que não me excederei e que respeitarei seus limites e sou surpreendida por um selinho. “Ela gostou” quase gritei internamente. Aprofundo mais uma vez o beijo e saio feliz, imaginando o lugar que poderia levá-la.
POV Luna
Acordo assustada com o celular tocando. Olho no relógio e vejo que ainda são 5h da madrugada. Tenho dificuldade em olhar o identificador de chamada e decido atender mesmo sem conseguir identificar o sem noção que estava me ligando.
_ Desculpa Lu, eu sei que deve ser de madrugada aí na Grécia, mas eu vou surtar se não falar com você. Ela disparou antes mesmo que eu falasse alô. _ A Carina me chamou para sair!
Levantei da cama, evitando assim que minha morena acordasse. _ E...? Sussurrei enquanto me encaminhava para a antessala da suíte.
_ Como assim E... Luna? Você escutou direito? A Carina me chamou para sair.
_ Continuo sem entender, vocês já saíram antes. Alexandra fala logo o que está te deixando angustiada, são 5h da madrugada aqui e se levar em consideração que eu fui dormir por volta das 3h, estou pregada.
_ Grossa! Lu enquanto você está curtindo sua lua-de-mel minha vida está de cabeça pra baixo.
_ Pelo que me lembro você estava muito segura a última vez que conversamos, cheia de sorrisinhos e olhares sugestivos com a Carina. Até hoje vocês não me disseram como foi a conversa de vocês, aproveitaram que eu estava uma pilha por causa do meu encontro com a Helô e me enrolaram, mas é óbvio que aconteceu alguma coisa. Como foi mesmo que você disse: “Nos entendemos melhor que deveríamos, porém menos que gostaríamos”. Acho que foi mais ou menos isso, então gata se não me disser o que está rolando não vou ajudar.
_ Isso é jogo sujo Luna Fagundes. Deu para sentir a cara de brava que ela estava fazendo do outro lado da linha. _ Naquele dia nos pedimos desculpas, comemos, bebemos e rimos um bocado de lembranças engraçadas, fossem minhas ou delas. Ao me levar pra casa ela se dirigiu a mim dá mesma forma que se referia a você e eu brinquei.
_ Como assim?
_ Deixa de ser lenta Luna, kkk... Ela me chamou de loira e eu perguntei se estava assumindo seu posto. Ela afirmou que sim, que daquele dia em diante eu seria a loira dela, uma vez que agora você seria exclusivamente da Helô. Até aí tudo bem, rimos e eu saí do carro, mas ela me seguiu e falou que não era assim que ela se despedia de você e me beijou.
_ Mentira que ela fez isso? Que safada, kkkk... E depois?
_ Não teve depois. Ela foi embora e eu fiquei atordoada. Gata, você tem noção que eu nunca tinha beijado uma mulher e de repente me vi correspondendo ao beijo de uma? Depois só nos vimos naquele dia no bar e pra ser sincera eu já tinha bebido um bocado quando falei aquilo, você sabe que nunca teria coragem.
_ E como chegamos ao encontro?
_ Então, começamos a nos falar diariamente por whatsapp, mas hoje ela apareceu no hospital, mesmo não sendo plantão dela e me chamou para sair. Na verdade ela me agarrou primeiro, depois ela me chamou para sair, kkk...
_ A Carina é das minhas, kkkk... Desculpa Alex, mas eu faria o mesmo. Gata pra você estar conversando com ela há uma semana é porque também se interessou. Então se joga, curte, se descubra ou melhor, se permita.
_ Lu eu nunca transei com uma mulher.
_ HAHAHAHAHAHAHAHA, Sério que seu medo é esse? Do outro lado da linha vi sua insatisfação em me ver rindo, mais foi impossível não rir com esse medo bobo. _ E eu crente que você estava com medo de se apaixonar. Gata sex* é sentido, é cheiro, pele, toque, carinho, tesão, o resto se encaixa. Desencana que a Carina vai saber te conduzir. Aquela morena sabe o que faz, HAHAHAHAHA...
_ Não precisa me lembrar que você conhece ela de cabo a rabo.
_ Mas gente, já estamos sentindo ciúmes?
_ Sem graça, volta pra cama antes que a Heloísa sinta sua falta e te agarre pelos cabelos.
_ Ui isso ia ser legal, kkkk
_ Deixa de ser pornográfica Luna. Beijos
_ Alex?
_ Oi
_ Não esquece de me contar os detalhes depois, hahahahaha...
POV Carina
As opções de lugares para irmos eram tantas que fiquei horas tentando escolher o melhor, o mais charmoso, mais aconchegante, que exalasse paixão e tudo o que os sentidos nos permitissem, mas ao final acabei optando por ficarmos em casa mesmo. Resolvi fazer diferente, decidi cozinhar para ela, assim busquei no caderno de receitas da minha nona um cardápio bem italiano. Queria que ela me conhecesse para além das brincadeiras inconvenientes e das cantadas baratas
Decidi fazer Fettuccine Nero di Seppia com vieiras e tomatinhos, um prato bem típico da minha terra. Pra sobremesa pensei em fazer um clássico Tiramissu. E pra acompanhar nossa noite um bom Barbi Brunello Di Montalcino, um dos meus vinhos preferidos. Se eu queria impressioná-la? Sim, claro que queria, se dependesse de mim essa noite seria perfeita. Corri para o mercado e comprei o ingredientes que necessitaria na minha grande noite de chefe de cozinha. Para o prato principal comprei vieiras, tomatinhos uvas, azeite extra virgem e o fettuccine. Para a sobremesa comprei ovos, creme de leite fresco, queijo mascarpone, rum e biscoito de champanhe, pois o resto dos ingredientes eu já tinha em casa.
No caminho para casa comprei velas e flores, seria uma noite especial e nada poderia faltar. Fiz tudo com muito carinho, cada detalhe, fosse dos pratos ou da casa, estava impregnado com boas energias. Me assustei com o quão romântica eu consigo ser, me acostumei com mulheres fáceis, sex* descompromissado e sem romantismo. A necessidade do diferente veio com o furacão Luna, o desejo pelo compromisso, pelas ligações melosas, pelos carinhos sem tesão e agora eu estava pronta para viver tudo isso, eu queria viver essa novidade, eu precisava dela.
Olhei no relógio e percebi que precisava me arrumar, caso não quisesse que ela me visse de camiseta, calcinha e basicamente empada pela farinha de trigo.
POV Alexandra
Saí do hospital e corri pro salão mais próximo, dei um jeito no cabelo, nas unhas e uma maquiagem leve, porém marcante. Corri pra casa e me arrumei, saindo aproximadamente 20 minutos depois. Cheguei na casa dela e com passos vacilantes toquei a campainha, sendo atendida por uma mulher estonteante. Ela sorriu, me deu um selinho e me acompanhou para o interior da casa, que por sinal estava linda, perfumada e extremamente romântica.
_ Espero que goste. Ela me disse demonstrando uma timidez que eu até então desconhecia. _ Preparei uma noite tipicamente italiana.
_ Você cozinhou? Demonstrei mais surpresa que deveria. Ela riu e passou a mão pelos meus cabelos.
_ Pra você vale a pena. Ela encheu nossas taças de vinho e nos serviu uma boa porção de macarrão. Estava delicioso! Depois comemos uma sobremesa maravilhosa com um nome completamente engraçado.
E assim começou nossa noite, leve, gostosa e cheia de promessas. Dançamos, conversamos, rimos e namoramos. Namoramos... os beijos começavam a ficar mais intensos e nossas respirações descompassadas. O cheiro de vinho misturado com o perfume amadeirado que ela usava estava entorpecendo meus sentidos, me fazendo ansiar por mais contato, mais beijos, mais sussurros, mais, muito mais de tudo.
Ela parou o beijo de forma sôfrega e com carinho me abraçou. _ Eu vou te esperar, minha loira. Nessa altura eu já estava totalmente entregue e meu medo era justamente um suposto arrependimento pela falta de coragem em seguir. Eu queria, não tinha como mentir e nem poderia, meu corpo falava por mim. E o amanhã? Sinceramente, amanhã eu penso, porque agora o que eu menos quero é pensar.
No ápice da coragem desabotoo os primeiros botões da minha camisa vendo seu olhar vidrado no meu. Caminho até ela, pego sua mão e conduzo ao restante dos botões, ela sorri e assume o controle. Entre beijos chegamos ao quarto, meu medo ainda estava ali, mas não era forte o suficiente para me paralisar. _ Eu te quero agora. Sussurro no pé do seu ouvido, vendo seu corpo arrepiar.
Fim do capítulo
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