Layla

Todo o corpo de bombeiro estava presente esperando notícias também. Meu pai, e minha mãe que chegou depois, estavam me abraçando. Na metade daquele tempo os policiais apareceram para tomarem meu depoimento e narrei tudo o que sabia, desde o momento em que os carros passaram em alta velocidade por nós, até o momento em que um deles havia explodido. Tentei não me abalar, mas foi impossível relembrar tudo o que aconteceu, acabei não conseguindo dizer mais nada.

Fui para outra sala com minha mãe e dona Helena que me abraçavam e me confortavam, tive outra crise de choro, nunca em toda a minha vida senti tanto medo de perder alguém e nem nunca passei por uma dor que pudesse ser comparada com um terço do que eu estava sentindo naquele momento.

Fechei os olhos e orei baixinho, eu que nunca fui religiosa, apesar de acreditar e ter fé em Deus, naquele momento em silêncio eu pedi para Ele interceder pela vida da mulher que eu amava e que estava naquela sala de cirurgia e que guiasse as mãos dos médicos.

Consegui, depois de algum tempo me acalmar, mas não dizia muita coisa. Todos estavam em silêncio, estudei o semblante de cada pessoa naquela sala. Estava estampado nos olhos, a admiração e a preocupação. Família e amigos, naquele momento formando um só grupo sem distinção.

Cochilei sentada mesmo, depois de um calmante que Júlio me aplicou, mas logo acordei com o peito apertado e agoniado. Fui até o banheiro e passei uma água no rosto, me olhei no espelho e o abatimento estava presente em meus olhos. Inspirei fundo e voltei para a sala de espera.

Fiquei sabendo naquele instante que a mulher que estava naquele carro, era esposa do promotor da cidade, segundo os policias que conversaram com meu pai, ela estava sendo perseguida quando se deu o acidente. Mas, não prestei muita atenção depois disso, porque Júlio apareceu dizendo:

– A cirurgia acabou! – seu semblante cansado, estava a mais de 36 horas no hospital, e agora mais oito, tempo que durou a cirurgia da Juh, suspirou e continuou: – Um dos rins foi atingido, mas felizmente conseguiram repará-lo. Devido ela ter sido lançada longe, duas de suas costelas foram lesionadas, estava com hemorragia interna e felizmente conseguiram conter e achar o ponto. Levou oito pontos no corte em seu braço e seus joelhos foram castigados também, tiraram os cacos de vidros que estavam neles, estão com pequenos cortes, mas ela está fora de perigo, graças a Deus.

– Oh meu bebê! – dona Helena chorava agradecendo e pedindo abraçando o genro: – Quero vê-la.

– Ela está sendo levada para a CTI, ainda está sedada. Mas, a senhora poderá vê-la em alguns minutos.

– Júlio! – me aproximei enquanto minha sogra abraçava Jonas e Eduardo, ele me olhou e pediu licença vindo em minha direção, quando se aproximou perguntei: – Ela está bem mesmo?

– Está sim Layla, não totalmente fora de perigo porque você sabe que pós-cirurgia tem seus riscos, mas posso garantir que ela vai ficar boa.

– Graças Deus. – pude respirar aliviada, meu pai que estava ao meu lado me sustentou, e chorei baixinho em seus braços, ele não me deixou um só segundo depois que demos entrada naquele hospital, senti um toque em meus ombros e vi que era dona Helena, saí dos braços de meu pai e fui sustentada por minha sogra que disse assim que me abraçou:

– Porque você não vai tomar um banho e tirar essa roupa suja minha filha, tenho certeza que a Juh vai querer ver você assim que ela acordar.

– Eu tentei convencê-la a fazer isso Helena, mas a moça aqui é muito teimosa.

Sorri quando meu pai se aproximou gracejando, inspirei fundo limpando meus olhos e disse baixinho:

– Vou pegar algumas roupas no carro e tomarei banho aqui mesmo, não quero sair desse hospital até ter certeza que a Juh está bem.

– Você precisa comer, amor. – meu pai disse: – E precisa descansar também.

– Eu estou bem papai, confia em mim. – ele concordou e não tocou mais no assunto.

Júlio pediu licença e foi para a maternidade falar com Anny. Diego que estava ali, aliviado disse que iria embora, Vanessa sua namorada estava acompanhando-o, se despediram e saíram dizendo que voltariam assim que pudessem ver a Juh.

Jonas bateu o pé dizendo que não iria embora antes de ver a irmã, só naquele momento o menino desabou e chorou nos braços da mãe, que consolava-o baixinho. Depois de um tempo que ele pareceu se acalmar, ela disse para ele ir embora com Eduardo e voltar assim que acordasse, a Juh não podia receber visita agora e não fazia sentindo ele ficar no hospital, estando cansado e com fome. Depois de muito tempo, mãe conseguiu convencer o filho a ir embora com o marido.    

Fui até onde meu carro estava estacionado, peguei minha bolsa e voltei para o interior do hospital seguindo direto para o vestiário, durante todo o caminho pessoas paravam para me cumprimentar e perguntar sobre a Juh, agradeci a todos. Tomei um banho e segui para a CTI, estava com meu peito apertado estando a tanto tempo sem olhar para minha namorada. Precisava vê-la com meus próprios olhos e garantir que estava mesmo bem.

Quando saí do elevador encontrei Júlio e Anny, esta que se recusava a sair do hospital sem antes ver a irmã. Mas, agora depois que passou um tempinho com ela, a convenceram que precisava ir por causa dos bebês. Me despedi deles, depois de abraçar forte minha amiga que chorava sem parar dizendo que tudo ficaria bem, segui para o quarto onde a Juh estava. Minha sogra assim que me viu, veio em minha direção dizendo:

– Ela ainda não acordou, será que é normal? – sorri abraçando-a e dizendo baixinho:

– É normal depois de uma cirurgia longa como a que a Juh enfrentou, mas garanto para a senhora que a qualquer momento ela vai acordar, tá bom?

– Certo, confio em você. – passou a mão em meu rosto e sorri, disse que ia pegar um café e saiu do quarto.

Entrei e a encontrei adormecida, em seu rosto a serenidade de quem apenas dormia, tinha pequenos ferimentos em seu rosto, me aproximei da cama, sentei ao lado dela depositando um beijo sobre seus lábios sussurrando chorando:

– Você é minha vida, nem ouse pensar em me deixar. Está me entendendo? – encostei minha testa na dela e fiquei ali esperando por qualquer reação.

Ouvi o tom de ameaça e esbocei um sorriso, meu corpo todo estava dolorido, inspirei fundo e sussurrei ainda com os olhos fechados:

– Isso nunca me passaria pela cabeça meu amor!

Ela levantou a cabeça e sorri, preocupação em seus olhos, inspirei fundo sentindo o toque suave de suas mãos em meu rosto dizendo:

– Você me assustou muito hoje, sabia? – estava chorando e não conseguia se controlar, beijou meus lábios e sussurrou: – Estou com muita raiva de você por isso. – sorri respirando com dificuldade e disse marota:

– Achei que você me amasse, mentiu para mim todo esse tempo?

– Eu amo você, mas estou te odiando por me fazer chorar dessa maneira. – sorri e disse:

– Eu falei para você parar de chorar amor! – passei a mão em seu rosto, ela se aproximou beijando meus lábios novamente, logo em seguida limpei suas lágrimas que inundavam seu rosto sussurrando: – Você está bem?

– Estou sim meu amor! – sorriu, inspirei ainda sentindo dor e ela continuou: – Apesar do medo que passei hoje.

– Fiquei com medo também amor, mas que bom que tudo deu certo. – tentei me ajeitar na cama, mas senti falta de ar. Ela me ajudou e assim que eu me senti confortável disse novamente: – Que bom que tudo deu certo e graças a Deus estamos bem, porque eu estava pensando seriamente em pedir você em casamento.

Essas últimas palavras saíram quase sussurrando, ela me olhou e sorri, naquele instante a enfermeira entrou na sala. Verificou todos aqueles fios ligados ao meu corpo, fazendo anotação em um prontuário. Layla ficou o tempo todo ao lado dela fazendo várias perguntas, confesso que acabei ficando confusa com tantos termos que elas usavam. Estava ficando sonolenta novamente, pisquei os olhos juntamente com o soro que pingava e adormeci.

Fim do capítulo