Capítulo 3 - Fora de Controle
Jenny abriu os olhos ao toque do despertador. O bipe insistente vinha de seu celular programado para tocar às sete da manhã. Geralmente, alguém de sua equipe encarregava-se de acordá-la, mas de vez em quando Jenny gostava de se pôr de pé antes que a perturbassem. Sua gatinha Kitty dormia ao seu lado, Jenny a aconchegou em seus braços. A gatinha emitiu um miado preguiçoso.
-- Bom dia! Coisa linda da mamãe -- Disse ela, enchendo a gatinha de beijos.
Jenny costumava se perguntar como seria acordar ao menos uma vez na vida e não ser Jenny Brooks, a grande estrela, mas uma garota comum. Há muito tinha esquecido como era essa sensação. A fama trazia vantagens, mas também problemas. Um deles era que a garota não podia dá um passo sem ser monitorada. Agora as coisas estavam piores, a segurança havia sido reforçada o que significava mais olhos sobre ela.
Jenny curtiu um pouco mais a cama confortável e os lençóis macios. Adoraria poder permanecer ali mimando sua gatinha, mas sua rotina exaustiva estava apenas começando. Checou seu celular e trocou mensagens com a modelo Dália Menezes que havia acabado de chegar em casa após uma noitada daquelas. Jenny sentiu inveja, pudera ela estar lá, mas ultimamente andava tão cansada, com tantos compromissos. Talvez estivesse na hora de fazer algo divertido para variar. Assim, não demorou para uma ideia se plantar na mente da garota.
JenBro:
Acho que vou dá uma conferida nessa boate :)
Dália:
Eba! Você vai adorar!
JenBro:
Tenho certeza que sim! Bjs!
Dália:
Bju ;)
Jenny estava faminta e solicitou ao serviço de quarto seu café da manhã. Estava cansada de morar em um hotel. Queria voltar para sua casa, mas como detestava a mãe, o melhor seria viver sozinha mesmo que fosse a morar em hotéis, cercada de pessoas prontas a torrar sua paciência. Sempre tinha pessoas à sua volta, não importava aonde ela fosse, quase nunca a deixavam em paz. Isso acabava com o resto de seu autocontrole. Facilmente se irritava com sua equipe, mas não podia evitar. Havia muitas coisas que precisava para ser quem era e aquelas pessoas estavam sendo bem pagas para fazerem seu trabalho. Então, na cabeça da garota eles teriam que suportar seu mau humor.
O café da manhã chegou e não demorou muito para a guarda-costas, Samanta alguma coisa chegar.
Elas se deram bom dia.
-- Você não dorme? -- Questionou Jenny.
-- Vim verificar se está tudo bem -- Disse Sam sem se abalar com o sarcasmo da garota.
Jenny a observou. Já havia notado o quanto era intrigante aquela mulher. Alta, discreta, mas sem deixar de ser elegante. De postura militar. Parecia levar seu trabalho muito a sério. Jenny não podia evitar implicar com ela, afinal havia sido contratada para vigiar seus passos vinte e quatro horas por dia.
-- Eu estou bem -- Disse Jenny -- Gostaria de fazer algumas perguntas a você, Sam, não?
-- Isso mesmo. O que gostaria de saber?
-- Por quanto tempo você vai ser minha guarda-costas?
-- O quanto for necessário.
-- Ou seja, por tempo indeterminado. Já repeti mil vezes para o Dan e vou repetir para você que não há motivos para tanto.
-- Faço apenas o trabalho pelo qual fui contratada, garota.
-- Não gosto que me chame de garota. Não sei se notou, mas já sou uma mulher.
Sam não respondeu e esperou Jenny tomar um gole de seu suco.
-- Então, Sam, já que iremos passar um tempo juntas. Acho que devemos criar algumas regras. Primeiro, não quero que invada meus momentos de privacidade ou...
-- Desculpe, senhorita Brooks -- Interrompeu Sam -- Mas em meu trabalho existe apenas uma regra a seguir: a minha.
O sangue de Jenny ferveu em suas veias. Não estava acostumada a negarem os seus pedidos.
-- Não pode ser arrogante assim comigo, sabia? -- Disse ela, entredentes -- Com você não tem acordo, não?
-- Este é o acordo -- Disse Sam, firme -- Siga minhas regras ou você poderá não ver o sol nascer novamente.
-- Isto é uma ameaça? -- Questionou Jenny, ficando de pé para encarar a mulher.
-- Não, estou apenas tentando abrir seus olhos. Se esses caras puserem as mãos em você eles não vão apenas sequestrá-la e levar seus milhões. Irão torturá-la e cortar fora seus lindos olhos azuis.
A boca de Jenny tremeu. Ela não conseguiu emitir nenhum som. Aquela mulher estava querendo assustá-la. Se recompondo de sua surpresa, Jenny disse:
-- Não tenho medo.
-- Pois acho que devia ter -- Respondeu Sam, a poucos centímetros do rosto de Jenny.
O olhar determinado de Sam fuzilou os olhos de Jenny que ficou sem palavras. Jenny não sabia o que aqueles olhos estavam provocando além de quererem assustá-la, o que conseguiam em parte. Mas havia algo mais ali que causava sensações conflitantes em seu interior e que a fez esquecer por um segundo tudo a sua volta.
Sem dizer palavra, Sam se retirou deixando Jenny sozinha com o coração a bater no peito em um ritmo desconhecido para ela.
***
Sam saiu para o corredor. Ela não conseguia ter uma conversa com Jenny sem colocar seu autocontrole à prova. Isso geralmente não acontecia, Sam sempre estivera no comando de suas emoções. Era treinada para isso. Talvez tivesse exagerado e assustado a garota a quem devia proteger, mas a cantora precisava entender de uma vez por todas a gravidade da situação e Sam não conseguiu pensar em outro modo de convencê-la a não ser tratando-a como aquilo que ela era: uma garota mimada e prepotente que não obedecia suas ordens e tinha seu empresário nas mãos. Era preciso ser firme com Jenny ou toda aquela operação estaria perdida.
O que Sam não esperava era o efeito que aqueles olhos causaram nela. Era inegável a beleza e profundidade daquele mar azul que poderia fazer qualquer um se perder... Mas não ela. Sentimentos profundos não tinham efeito sobre Sam. Ela tinha um código próprio pelo qual levava sua vida que era nunca ser como os outros e se render às paixões. Para ela, isso era um sinal evidente de fraqueza, algo que nunca se permitiria demonstrar.
***
A agenda do dia de Jenny Brooks foi cheia. Para alívio de Sam, a garota simplesmente fingiu que ela não existia. Evitou dirigir a palavra a Sam e nem sequer a olhou.
À noite com a agenda toda cumprida, retornaram ao hotel. Jenny trancou-se em seu quarto. Sam deixou um dos seguranças de Antunes de vigia e foi tomar um banho relaxante. Estava lendo alguns relatórios quando recebeu uma ligação da recepção. Um funcionário repassou um recado de que Lyanna Smith a esperava no bar do hotel.
Sam irritou-se com a audácia de Lyanna, mas ao mesmo tempo ficou curiosa em saber o que aquela mulher queria com ela. Minutos depois, Sam encontrou Lyanna sentada próximo ao balcão do bar, tomando um drinque.
A loira convidou Sam para sentar e tomar algo.
-- Não bebo em serviço -- Recusou Sam, seca.
-- Onde está sua educação, Sam?
-- Desculpe, Lyanna, mas não posso perder tempo. Tenho trabalho a fazer.
-- E quem não tem? -- Rebateu Lyanna sem deixar de sorrir, exibindo seus dentes brancos.
-- E como vai à convivência com nossa grande estrela? Tirando sua paciência?
-- Smith, por que não me diz logo o motivo de me chamar aqui?
-- Você é bem direita -- Constatou Lyana -- Tive esperanças de que quisesse passar uma noite agradável ao meu lado... Mas não desisto, um dia ainda faço você minha...
Sam a encarou com o rosto sério. E Lyanna, continuou:
-- Chamei você aqui para alertá-la de algo. Já deve saber que nossa querida Jenny Brooks não é de seguir regras. Faz somente o que ela quer. Daniel não é capaz de controlá-la. Nesse mesmo instante o que pensa que a garota está fazendo?
-- Ela está no quarto. Não há mais compromissos hoje -- Informou Sam, com receio. Seu instinto já farejava problema.
Smith riu. Sam não gostou de vê-la tão cheia de si.
-- Querida, não creio que a lenda Samanta Kane seja assim tão ingênua.
-- Por que não diz logo o quer me dizer?
-- Não precisa ficar tão brava, Sam. Embora, você fique linda quando está com raiva... Mas, por favor, não mate o mensageiro. Só quero ajudar.
Smith aproveitou o momento para aproximar mais seu rosto do de Samanta, então murmurou:
-- Jenny vai a uma boate esta noite.
Sam não achou que a mulher à sua frente estivesse mentindo.
-- Você pode me agradecer depois. Mas melhor que se apresse...
Sam lançou um último olhar à Smith antes de deixar o bar imediatamente. Os elevadores iriam demorar, por isso ela decidiu subir as escadas correndo.
Quando chegou ao corredor do último andar, Jenny Brooks já deixava seu quarto. Ela usava roupas justas ao corpo e maquiagem pesada. Carregava sua bolsa e estava acompanhada de Billy Sens. Quando viu Sam se aproximar, o rapaz franzino a cumprimentou. Jenny, no entanto, continuou a ignorá-la.
-- Onde vai? -- Perguntou Sam à garota.
-- Curtir a noite -- Respondeu Jenny.
Sam respirou fundo, antes de falar:
-- Senhorita Brooks, nenhuma saída sua está agendada para essa noite.
-- O que vou fazer não é trabalho, é apenas diversão. Não agendo minhas diversões.
Sam ia falar algo, mas se segurou. Olhou em volta e não achou o segurança da equipe de Antunes. Onde estaria aquele idiota?
Instantes depois, o elevador chegou, e Sam acompanhou a garota e o rapaz.
-- Você vai junto? -- Questionou Jenny.
-- Sim -- Respondeu Sam, respirando fundo -- Você pode não está trabalhando, mas eu estou.
Jenny não pareceu gostar nada da resposta de Sam e passou novamente a ignorá-la.
-- Você tem uma arma? -- Perguntou Billy a Sam.
Jenny lançou um olhar de repreensão ao maquiador. Já Sam o olhou com cara de poucos amigos e respondeu:
-- Sim, tenho.
-- Uau! Você está com ela aí? Posso vê-la?
-- Desculpe, Sens, mas não posso mostrar minha arma a você.
O rapaz pareceu decepcionado.
Sam manteve-se calada enquanto repassava em sua mente como deixara acontecer aquele desastre. Sabia lidar com criminosos perigosos, mas acabara de ser passada para trás por uma cantora mimada.
O elevador parou e os três saíram para o lobby do hotel. Um dos carros já esperava por eles. Assim como um carro de apoio com seguranças de Antunes. Aquilo só podia ser coisa do Velho lobo que não fez nenhum esforço para manter Sam informada das intenções da garota. Sam não se lembrava da última vez em que estivera tão irada. Queria esmurrar alguém. Em seu esforço para permanecer calma, as veias saltavam em seu pescoço. Sentia que a haviam feito de idiota e ela detestava isso.
Sam teve que engolir em seco e seguir a cantora até a tal boate. Durante o percurso, fez algumas ligações e conseguiu informações sobre a Neon Lights, uma boate de luxo frequentada por muitas celebridades.
Na entrada da casa noturna, os seguranças fizeram uma corrente humana em torno de Jenny que acenava para as pessoas e posava para fotos. A boate estava com superlotação o que deixou Sam ainda mais preocupada. Em ambientes assim as coisas facilmente saíam de controle.
Jenny foi conduzida para a área VIP que ficava no segundo andar. De lá, tinha-se uma vista privilegiada para a pista de dança lotada. A música alta enchia os ouvidos de todos. Os seguranças de Antunes se distribuíram segundo as ordens de Sam que deixou claro que havia retomado o comando. Ela permaneceu na cola de Jenny que a ignorou como vinha fazendo. A garota também deixou Billy de lado e logo estava bebendo, dançando e conversando animadamente com atores, modelos e artistas do show business.
Drogas lícitas e ilícitas circulavam abertamente no ambiente. Quando ofereceram bebida a Jenny, a garota não recusou. Seus olhos encontraram os de Sam que a fitava, com o rosto inexpressivo. Com um olhar de desafio, Jenny sorveu um grande gole de sua bebida.
Então, a garota começou a circular, mais uma vez sem dá atenção a Sam que a observava sem perdê-la de vista um só minuto. Sam a viu beijar um jovem bonito no qual passou minutos grudada antes de deixá-lo de lado. O rapaz pareceu frustrado, mas não demorou já estava agarrando outra garota.
Jenny dançava, provocando em seu conjunto de saia e blusa que expunha a maior parte de seu corpo. Começou a rebol*r sensualmente seguindo o ritmo da música. De vez em quando alguém se aproximava grudando o corpo ao da garota.
Jenny gostou de uma modelo que levou a um canto escuro onde as duas começaram a se beijar com voracidade. Sam observava a cena impassível. Daquele jeito, elas acabariam fazendo sex* ali mesmo. Mas, naquele ambiente ninguém parecia se importar.
De repente, um rapaz se aproximou de Sam. Ele estava visivelmente alterado.
-- E aí, gostosa?
Sam sentiu o bafo de álcool.
-- Cai fora se não quiser que eu quebre todos os seus dentes.
O rapaz riu histericamente. E tentou se aproximar de Sam sem o consentimento dela. Foi o suficiente para a mulher segurar seu braço com força.
-- Me solta, sua vadia.
-- Segundo erro -- Rosnou Sam. Ela girou o braço do rapaz com força até quase quebra-lo. Quando ele começou a chorar, ela o soltou. Imediatamente, o rapaz foi embora.
Quando Sam voltou a olhar para Jenny esta a observava, mesmo com a modelo estando praticamente em cima dela. Com certeza, ela havia visto a cena com o rapaz.
Após seu olhar se cruzar com o de Sam, Jenny voltou a prestar atenção à garota com quem estava aos amassos. Sam olhou para a pista de dança no térreo onde uma pequena confusão começou a se formar. Como ela imaginava, com toda aquela lotação era impossível para o pessoal da boate manter a ordem. Quando o tumulto foi finalmente desfeito, outra confusão se formou. Dessa vez, algumas pessoas tentavam invadir a área VIP para se aproximar dos famosos. Os seguranças da boate e dos famosos tentavam de todo modo controlar a situação. Embora eles fossem muitos, a multidão era maior. Prevendo que aquilo não acabaria bem, Sam decidiu agir. Ligou para o motorista e pediu para encontrá-la na saída de emergência.
-- Temos que ir -- Informou Sam a Jenny.
-- Eu não vou a lugar nenhum -- Disse ela, voltando a beijar a garota com quem estava.
-- Então você não me deixa escolha.
Dizendo isso, Sam afastou a tal modelo dos braços de Jenny e puxou a cantora que protestou, mas Sam se manteve firme.
-- Onde você pensa que tá me levando, sua maluca?
-- Temos que sair daqui.
-- Eu não vou...
As palavras morreram em sua boca. Nesse momento, algumas pessoas conseguiram invadir a área VIP e avançavam sobre as pessoas que estavam ali. Jenny não disse mais nada e se deixou levar por sua guarda-costas.
Sam levou Jenny por uma escada lateral que não estava bloqueada. Guiou a garota até uma das saídas de emergência. Sempre que chegava a um local, Sam analisava tudo minuciosamente e elaborava um possível plano de fuga. Aquela saída era uma de suas primeiras alternativas, caso não desse certo, ela sempre tinha um plano B e um C.
-- E Billy? -- Perguntou Jenny, preocupada.
-- Ele vai ficar bem.
-- Mas, mas...
Vendo que a garota não se movia, Sam se atreveu a segurar seu rosto e a fez encará-la:
-- Não vai acontecer nada com ele, mas é perigoso para você ficar aqui. Entendeu?
-- Tudo bem. Vou com você, se prometer voltar para buscá-lo.
Sam estava diante de um impasse, precisava agir rápido. A segurança da cantora era a prioridade, não Billy. Mas, por algum motivo, ela concordou com o pedido da garota.
Com a cooperação de Jenny, elas logo chegaram ao carro em segurança. Sam deu instruções ao motorista para esperar por ela, mesmo com alguns paparazzi cercando o carro, tentando tirar boas fotos da garota.
Ela teve de correr de volta para o meio da confusão. As luzes haviam sido acessas e a música havia parado de tocar, ainda assim, havia pequenas brigas por toda parte. Sam passou por um grupo de fortões que se esmurravam. Ela acabou descarregando sua raiva empurrando bêbados que obstruíam seu caminho. Um homem que se meteu em sua frente acabou com um nariz quebrado. Precisava encontrar o maquiador o quanto antes e ir embora dali.
***
Jenny estava trêmula. Tentava ignorar os flashes que cercavam seu carro. Por mais que eles tentassem não conseguiriam mais nenhuma foto dela naquela noite. Os minutos passavam, ela estava cada vez mais apreensiva. Se acontecesse algo a Billy a culpa seria toda dela. Afinal, ela tivera a ideia de saírem aquela noite para a boate.
Esperava que a guarda-costas fosse tão boa como diziam. Não importava que sua primeira impressão sobre ela não tivesse sido boa, contanto que ela trouxesse Billy de volta sã e salvo.
***
Sam encontrou Billy no banheiro masculino. Ela havia aberto os boxes a chutes e acabou encontrando o rapaz com um homem forte e barbudo. Eles pareciam não ter se dado conta do que tinha acontecido na boate. Sam deu uma explicação rápida e guiou Billy para fora dali.
Quando chegaram ao carro, Sam sentou ao lado do motorista e pediu para ele arrancar para o hotel imediatamente, enquanto Jenny abraçava Billy. O rapaz parecia constrangido. A garota queria saber dos perigos que ele correra. Sam o viu mentir e exagerar.
Pensou na ironia daquilo tudo. Qual seria a reação da garota se soubesse como o amigo havia sido encontrado, literalmente, com as calças na mão?
Jenny permaneceu calada durante o percurso de volta, ouvindo aqui e ali algum comentário de Billy. Sam a observava pelo retrovisor. Ela tinha os olhos vermelhos e parecia assustada. Era a primeira vez que Sam a via tão frágil. Lembrou-se que, apesar de tudo, da fama, do álcool e da arrogância. Jenny Brooks era só mais uma garota indefesa.
Fim do capítulo
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