Capítulo 12
Nunca imaginei que ao fugir de casa encontraria minha família pelo caminho. Eu sentia uma ligação invisível com a humana, mas achava que era apenas o meu instinto protetor latente. Sim, claro que eu conheço a minha história e esse ramo que migrou para o Brasil no início do século 19 vivia nos pensamentos do meu pai. As características predominantes nas feições estavam ali presentes no rosto de Sacha, tão comuns e ao mesmo tempo tão distintas.
O resto da viagem prosseguiu em clima mais leve e a sensação de estar sendo observada me acompanhou por todo caminho até a nossa primeira parada. Sophie não tirava os olhos de mim, analisando cada troca de palavras entre mim e a terceira passageira. Toda vez que eu me virava para encará-la ela desviava o olhar com uma timidez quase adolescente. Tenho certeza que se fosse possível ela teria ficado ruborizada.
Fizemos uma parada para nos alimentar e esticar as pernas. A gata agradeceu imensamente por ter sido tirada da caixa de transporte, coloquei a coleira com o peitoral, sem a guia e ela foi nos seguindo até o interior do restaurante. Pedi quase o menu inteiro para mim, Sacha foi de peixe e salada e Sophie água com limão para enrolar. A vista estava maravilhosa, um dia de sol com frio de outono, o clima agradável se assemelha ao inverno no sul do Brasil. O barulho da água do mar batendo nas rochas abaixo da fundação do restaurante. Sophie sentada longe da janela com um chapéu enorme (para se proteger do sol) olhava na direção do mar e os seus olhos tinham a mesma cor das águas, e eu fiquei pensando se o mar era apenas belo porque refletia os seus olhos. A felina satisfeita deitada na cadeira ao meu lado de barriga cheia com os pedacinhos de peixe e camarão que dei para ela. Que dia perfeito, ali naquele restaurante fazendo um programa de família eu sentia como se tivesse encontrado o meu lugar no mundo – junto com os meus.
Distraidamente fiquei admirando Sophie, como ela conseguia ficar elegante com qualquer roupa, me faz pensar que a elegância independe da vestimenta e sim emana do interior. Ela estava com uma calça jeans surrada, blusa de moletom de uma marca de Surf e um chapéu de palha de aba grossa, seguramente era a mulher mais linda do recinto. Enquanto eu a admirava nossos olhares se encontraram e no dela havia uma doçura que me envolveu completamente. Não me lembro de alguém já ter me olhado assim antes, com certeza as pessoas que teriam a obrigação de me amar nunca me olharam desse jeito, exasperado é a palavra que descreve o olhar que os meus pais me davam. Sorri para ela, sem pensar em mais nada a não ser o quanto estava me sentindo aquecida e corada, minhas bochechas e colo ficaram vermelhos com essa atenção.
E ela sorriu de volta e ficamos nos admirando por alguns segundos enquanto eu sentia uma força invisível me puxando ela. Troquei de cadeira sem perceber e me posicionei ao seu lado, mais perto sentindo o seu cheiro. A mistura do seu cheiro doce natural com um perfume cítrico e floral. E os seus olhos me fitando com doçura e expectativa, passei meu braço no encosto da sua cadeira e me inclinei em direção a ela, que não se mexeu e continuou esperando. Me aproximei até estar a uma distância em que ela poderia desviar o rosto e então senti os seus lábios nos meus. Abracei ela para aumentar o contato do nosso corpo e senti a sua língua passar no meu lábio inferior. O que antes era doçura agora estava ficando quente, eu queria mais ela também, puxei sua cadeira para mais perto...e fomos interrompidas.
“Hum-Hum, vamos parar com o show meninas ou vou ter que cobrar ingresso da plateia”. Falou a humana, cuja existência eu já havia esquecido completamente, juntamente com todas as outras pessoas do restaurante. O lugar estava parado, as famílias, garçons e o gerente estavam estáticos nos observando, boquiabertos caso precise mencionar.
“Eu já pedi a conta, sugiro que vocês levem a gata para o carro que acerto aqui e já vou em seguida.”
Concordamos sem relutar, pegamos o gato e saímos tranquilamente. Acomodei a Jade na caixa de transporte novamente e como um imã meu corpo virou na direção de Sophie que me esperava encostada na lateral do carro. Sem diálogo em um silêncio que dizia tudo, entrelaçamos nossas mãos enquanto eu colava meu corpo no dela. As bocas naturalmente se encontraram e senti novamente o seu gosto. O gosto da sua saliva e limão, sua língua massageando a minha, minhas mãos com vida própria entraram embaixo da grossa blusa de moletom e senti sua pele arrepiada. O que me fez sorrir enquanto a beijava, o arrepio dela não é provocado por frio ^^.
Mais uma vez fomos interrompidas pela humana, eu gosto muito dela, e agora mesmo estou me segurando para não arrancar a sua cabeça.
“Desculpa, mas em que momento dessa viagem vocês se acertaram? Tipo...vocês têm poderes telepáticos também? Estavam tendo DR por telepatia durante a viagem é isso né?”
Nunca ri tanto na minha vida, minha barriga chegou a doer e chorei de tanto rir. Sacha ficou brava e perguntava a cada segundo do que eu estava rindo. Enquanto Sophie explicava que não, não somos telepatas e garantiu que também estava tentando entender o que rolou.
“O que rolou? Oras, tu me convidaste com o olhar.” - Expliquei
“Não convidei ninguém, eu estava distraída pensando em como vamos nos esconder quando tu vieste chegando para o meu lado”. Sophie mentiu descaradamente.
Não resisti e para justificar minha fama de abusada agarrei ela pela cintura e puxei para colar em mim, bem perto do seu ouvido falei: “Agora você não está distraída, pode se soltar a hora que quiser....” Cheirei seu pescoço, beijei, beijei o canto da boca e a pontinha do nariz e a soltei.
“Vamos senhoritas! Acho que já nos distraímos demais por hora.” Entrei no carro e senti o sorriso de Sophie seguido por uma exclamação: “Que abuso!”
Sacha entrou no banco de trás rindo também. “Finalmente! Eu não aguentava mais esse clima morde-e-assopra. Se isso continuasse provavelmente vocês iriam me largar no caminho porque eu não ia ficar do lado de nenhuma das duas teimosas!”
“É, a gente iria te largar ou tua poderia virar lanche!” Falou a vampira zombeteira. Expliquei rapidamente para minha parente humana mais pálida que uma vela que era apenas uma piada.
Agora mais ansiosa pela noite do que uma virgem antes da sua primeira vez eu seguia viagem, com a mão fria de Sophie pousada na minha coxa e um sorriso que não saia dos meus lábios.
Fim do capítulo
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