Capítulo 11
POV Sophie:
Enfim no carro, com todas as coisas que pudemos carregar, a gata esperneando e miando freneticamente dentro da caixa de transporte, a passageira humana falando sem parar encerramos mais um capítulo da fuga que começou há 6 meses atrás.
Achei que ficaríamos mais tempo no subúrbio de L.A. misturadas e escondidas nos bairros com maior concentração de imigrantes sul-americanos. Até que em uma noite o festival de infortúnios que nos levaram a fugir começou. A mesma noite que salvamos a humana da morte.
Saber que os esforços para nos encontrar continuavam incansáveis não me perturbava tanto quanto o sentimento desconhecido que estava brotando no meu âmago. A partir daquele maldito dia que me alimentei de Ashley nunca mais consegui olhá-la de outra forma. Enquanto antes era natural eu nem sequer reparar na sua presença, agora cada mínimo suspiro seu captura totalmente minha atenção. Tento disfarçar ao máximo para que ela não perceba.
Seguindo viagem o clima dentro do carro se tornou mais leve e descontraído, bem diferente da nossa saída de casa. Começamos a interrogar a humana e me dei conta que sabíamos muito pouco sobre ela. A essência era fácil sentir, tanto eu quanto Ashley temos um sexto-sentido natural que nos permite distinguir os bons e os maus. Sacha obviamente era uma boa pessoa! O que nos leva a indagar o que ela estava fazendo sozinha naquela trilha.
Ashley estava mais solta, parecia ter saído do modo piloto automático e questionava Sacha sem parar, descobrimos que ela é uma médica recém-formada, que adiou o início da residência para viajar e se afastar da família. “Que legal! Não que uma de nós vá precisar, mas é sempre bom ter uma médica por perto.” – falou Ashley e rimos em concordância.
A frase seguinte me pegou totalmente de surpresa. “Então foi assim. Tão logo me formei, botei a mochila nas costas e me aventurei. Precisa de um pouco de distância de toda loucura dos Vnuknavŭlka”. Completou Sacha.
A árvore genealógica dos lobos é muito mais rica e extensa que a dos vampiros. Não temos costumes de seguir ou acompanhar a vida de nossos familiares humanos. Claro alguma herança eles sempre recebem eventualmente daquele ‘tio distante que ninguém conhece e morreu sem filhos’, mas é só. Os lobos por sua vez mantêm um registro completo de todos seus familiares e são bem presentes. Alguns ramos de suas famílias eventualmente se convertem em somente humanos e as lendas sobre lobisomens são passadas de geração para geração como fábulas.
Com a freada brusca no carro eu senti o quanto essa informação abalou Ashley. Que parou no meio da pista e perguntou: “O que você disse? “
“Que eu terminei as aulas basicamente com uma mochila nas costas pronta para botar o pé no mundo?” – respondeu Sacha.
“Não! O seu sobrenome...repete!” – falou Ashley impaciente. Nesse instante fiquei com medo que ela perdesse o controle.
“Vnuknavŭlka, os nossos antepassados vieram da região dos Balcãs, meu bisavô veio da Bulgária no início de 1900.” Explicou Sacha. Como se fosse necessário para nós, mas tenho certeza que ela não conhece uma fração da própria história.
Ashley agarrou o braço de Sacha e perguntou se ela sabia o significado do próprio sobrenome. E não foi nenhuma surpresa quando ela negou. Me senti um pouco desconfortável nesse momento, como se eu estivesse invadindo uma conversa intima. Eu sei o quanto os lobos gostam de viver em matilha, como sentem falta dos seus, de estar com os seus e essa menina no banco de trás provavelmente seria o mais próximo de um parente que Ashely veria em muito tempo.
Com olhar terno e marejado Ashley responde: “Vnuknavŭlka quer dizer netos do Lobo”.
E elas se olharam por mais alguns segundos antes de Sacha fazer menção a perguntar algo. “Vamos seguir nosso caminho, essa é uma história tão longa quanto o trajeto que temos pela frente.” Totalmente refeita Ashley pôs novamente o carro em movimento e continuou:
“Os Vnuknavŭlka são nossos descendentes diretos. O seu bisavô Johan é irmão do meu pai. Como Johan não carregava o DNA de lobo ele se afastou e foi viver a sua vida em outro país. Eles perderam o contato depois que Johan faleceu, se correspondiam por cartas, algumas eu li.”
Olhando para as duas, agora que eu sei do parentesco consigo identificar várias semelhanças, as maças do resto bem definidas, o nariz empinado e a sobrancelha naturalmente arqueada. Centenas de diferenças, altura, peso, cor dos olhos, cabelos, pele, mesmo assim as características marcantes estavam ali para mostrar o elo.
E assistindo a esse diálogo vi a Ashley se transformar de soldado espartano para irmã mais velha babona, o que aos meus olhos faziam ela ficar mais fofa. A combinação perfeita, um mulherão com braços musculosos que pode arrebentar uma parede com um soco e que se abaixa para chamar a atenção de um gatinho abandonado até ganhar sua confiança e leva-lo para casa. Deus me livre quem me dera!
Fim do capítulo
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