Bom dia pessoal, tudo bem?
O capitulo é simples, mas importante para a continuidade. Espero que gostem.
Ah, e já vão praticando o desapego, só mais 2 capitulos.
Beijos
CapÃtulo 58
Capítulo 58 - Caroline
Eu não sei bem descrever como estou emocionalmente neste momento, não sei se estou em paz por descobrir que meu sequestro foi obra da Milena, saber de um mandante tira um pouco a sensação do ser azarada. Não sei se me sinto calma por ela ter sido presa ou apreensiva por ela poder se livrar disso. O único sentimento que consigo categorizar agora é a ansiedade em ver a Fernanda, não sei como ela vai reagir a isso tudo e pelo que conheço, ela não enfrenta muito bem esse tipo de reviravolta.
Quanto a mim, fisicamente falando, os danos nem foram tão intensos. Estou um pouco dolorida e roxa no pescoço, essa parte é de autoria da Milena. E um novo corte no rosto, que ganhei da Fer. Quando tomei a cotovelada dela, por sorte eu virei o rosto rapido, pegou mais pra baixo do que onde estava a placa de fixação da fratura. O pessoal do pronto socorro da maternidade foi bem ágil no meu atendimento, fizemos um RX rapidinho, deu pra ver que não soltou nada. Só precisei mesmo refazer os pontos. O que iria, a princípio, ficar esteticamente bom, agora nem vai mais, mas ossos do ofício.
Quando eu consegui sair do pronto socorro fui atrás da Fernanda, mas fui informada que ela havia ido para a delegacia. É o cúmulo, a Milena faz mil coisas e ainda tem chance da Fer ser presa por ter batido nela. Nem cheguei a ir lá, quando liguei na delegacia para ver como estava, o delegado me informou que ela já havia sido liberada. Então só me resta ir pra casa e esperar ela aparecer. Duvido que ela tenha ido direto pra lá. Se tivesse em Maçores, iria pegar aquele cavalo velho dela e sumir por dias.
Fui andando pra casa, quase 40 minutos de caminha. Definitivamente no próximo final de semana eu vou providenciar um carro pra mim. No caminho eu fui pensando, tentando colocar minhas ideias no lugar. Como será que a Fernanda está? A Milena é uma amiga de infância, uma pessoa que ela gosta muito, eu no lugar dela estaria meio que destruída, mas mais ainda me sentindo culpada. Mas convenhamos que não tem porque ficar se sentindo culpada, quem mandou me sequestrar foi a Milena e não ela. E o Puca, imbecil? Ele ficou toda hora falando que estava me protegendo, cuidando de mim e eu achando que era palhaçada dele, no final não é que ele ainda fez algo bom. Não que seja equivalente a não me sequestrar, mas o cara estava me protegendo.
Parei na porta da casa de pedra e me dei um minuto de meditação. Respirei fundo, o máximo que pude e soltei, repeti muitas outras vezes. Passei a chave na fechadura e girei a maçaneta, o Pingo veio direto em mim, correndo. Só tive o tempo de virar o corpo para me proteger. Olhei rapidamente a casa, procurando a Fernanda. Lá no fundo, atras da porta aberta da geladeira, estava ela, com uma garrafa de vinho na mão e me olhando assustada. Se não fosse trágico seria engraçado.
- Vai beber portuga? - falei chegando um pouco mais perto.
- Eu “ia”.
- Sem mim?
- Hum Hum.
- Então vem, traz o vinho e eu pego as taças. Traz um gelo pro meu rosto inchado. - ela me olhou completamente assustada, como se não estivesse esperando essa minha reação, como se nem esperasse eu estar na casa de pedra. Peguei duas taças e voltei pra sala, deixei em cima da mesinha e fui ao banheiro.
- Vai colocando pra mim, já volto - não ouvi resposta dela. - Lavei o meu rosto e limpei a ferida, porque depois de 40 minutos de caminhada, no mínimo suada a pele estava. Quando voltei para a sala ela estava sentada no sofá, dura, ereta, como se estivesse preparada para uma reunião de negócios. - Você vai negociar o quê com quem nessa formalidade toda?
- Acho que precisamos conversar Caroline.
- Nossa, quanta formalidade Fernanda, você marcou horário na minha agenda?! - Falei super irônica, quase rindo dela, mas eu entendo como ela está com medo de tudo.
- Não deu tempo de marcar, eu estava ocupada abrindo seu rosto. - falou isso baixinho, olhando pro chão, visivelmente machucada com o que aconteceu. Eu cheguei mais perto, peguei a taça com vinho que estava com ela e coloquei no chão. Em nenhum momento ela levantou o rosto para me olhar. Coloquei a taça no chão, ao lado do sofá. Em pé prendi meu cabelo, naquele coque bagunçado. Com a mão direita, apoiei o queixo dela e levantei delicadamente para que eu pudesse olhar nos olhos dela, mas ela fechou os olhos, como se quisesse fugir disso, um ponto fraco talvez. Com muita calma, passei uma perna sob a perna dela e sentei em seu colo, de frente.
Os olhos da Fernanda se mantiveram fechados, firmes, mas era possível sentir a respiração levemente mais ofegante. Passei meu braço sobre os ombros dela e abracei-a , minha boca encostou no pescoço dela, e seu cheiro preencheu meu olfato me acalmando, como sempre faz. Uma das minhas mãos foi na nuca dela, fazer carinho, e a outra deu apoio ao meu corpo, nessa posição relativamente desconfortável. Acertei meu corpo de uma forma mais cômoda e fiquei ali, na mesma posição, nós duas em completo silêncio.
É incrível como às vezes o silêncio é esclarecedor. Não foi por muito tempo, mas ficamos ali, apenas sentindo a presença uma da outra. Quando senti um gelado no meu ombro que percebi que ela estava chorando e que era hora de conversarmos, não que estava esperando ela chorar, não foi isso, mas por mim eu ficaria ali o dia inteiro colada no corpo dela.
- Você está chorando? - Claro que estava, que pergunta idiota que eu fiz, mas a pergunta foi o suficiente para abrir uma válvula na minha namorada. O choro dela começou a ficar mais intenso, eu sai de cima dela, sentei na beiradinha do sofá, reclinada e puxei ela para mim. Primeiro ela não veio, travou o corpo, mas na segunda tentativa veio lentamente e deitou no meu colo, mas se manteve sem olhar pra mim. Enquanto estava no meu colo ela chorou de soluçar, como uma criança que perdeu um brinquedo muito importante. Se eu estou machucada com o que aconteceu, imagina ela. Eu fiquei lá, em silêncio, apenas deixei ela desabafar enquanto ganhava um cafuné.
- Porque você voltou? - Essa foi a primeira coisa que ela me falou, ainda deitada no meu colo, sem olhar pra mim.
- Porque eu não voltaria?
- Nenhuma outra pessoa voltaria.
- Já dizia minha mãe, eu não sou todo mundo. Podemos conversar agora? Sério! - ela sentou, saindo de cima do meu colo, enquanto eu me arrumei no sofá - Pra gente conseguir conversar você precisa olhar pra mim amor, não vai dar pra falar com o seu couro cabeludo.
- Eu to com vergonha de olhar pra você.
- Para com essa bobagem Fer, chega disso - mais uma vez tive que colocar a mão no queixo dela e fazer ela olhar pra mim - Pronto, seus olhos são lindos demais para eu não olhar pra eles.
- Como está seu rosto?
- Ah, ganhei mais uma cicatriz, to colecionando. Vou te dizer que você tem força nesse bracinho hein?! Caramba.
- Desculpa amor, de verdade. Eu me perdi hoje, perdi toda minha sanidade. Que dia!
- Duas perguntas só isso que eu tenho pra você.
- Só duas? Eu tenho um monte pra você.
- Um monte? Até deixo você começar. Manda.
- Porque você voltou? Eu jurei de pé juntos que você não iria voltar pra casa nem hoje nem nunca.
- Eu não tenho porque não voltar! Eu estou morando aqui no momento, aqui é onde está a minha namorada, namorada essa que teve um dia bem complicado. Porque eu iria sumir?
- De raiva de mim, você foi sequestrada por minha culpa, hoje foi atacada por minha culpa, já percebeu que desde que me conheceu só tem coisa ruim acontecendo com você?
- A culpa do meu sequestro foi sua? Eu não to sabendo disso. Você organizou tudo com a Milena e o Puca?
- Claro que não, mas se você não me conhecesse, não teria sido sequestrada.
- Pode até ser, mas se eu não te conhecesse eu poderia ter sido atropelada, eu poderia ter conhecido a Groenlândia, eu poderia ter feito mil coisas. Não foi você meu amor, nunca assuma essa culpa, não foi seu. Quem mandou foi a Milena, os motivos dela são dela, não seus, muito menos meus.
- Eu ainda não acredito que você voltou, e mais ainda que a gente não está brigando. Eu voltei da delegacia me preparando para nunca mais te ver ou terminar com você. Eu vim contando em beber até o mundo acabar.
- Você quer fazer isso? Quer terminar comigo? - ela olhou mais uma vez para o chão, envergonhada
- Eu acho que você vai ficar melhor sem eu. Mais segura.
- Fer, olha pra mim. Me responde, olhando pra mim, você quer isso? Quer que eu vá embora? - A Fernanda foi incapaz de olhar pra mim, o rosto continuou olhando pro chão e apenas a cabeça sacudiu para os lados, falando não. Eu sentei no chão, para ficar em uma altura abaixo da dela. - Fer, você acha que não me faz bem, mas já pensou que eu que tenho que decidir isso? Quando eu estava naquele maldito quartinho escuro e mofado, eu pensei em você o tempo todo. A Milena poder ter feito isso pra tentar se livrar de mim, mas me aproximou mais de você. Eu saí de lá e a pessoa que eu queria ver foi você, quem eu queria comigo foi você. Nós duas estamos muito machucadas com tudo o que aconteceu, mas por favor, não se sinta culpada por nada disso, não deixa ela ganhar. Se depois de tudo isso, nos duas nos separarmos, significa que ela ganhou, que deu certo.
- Quando eu vi ela encostando em você, não deu pra ter sanidade, pensar. Eu só queria acabar com ela, se não tivessem me tirado de lá eu teria matado ela. Eu não conheço essa pessoa, não é com quem eu cresci, quem eu namorei.
- Amor, voces ficaram longe por anos, se junto as pessoas já mudam, imagine longe. Você não sabe o que ela viveu ou deixou de viver nesse tempo. Pode ser que ela tenha mudado? Pode ser. Mas ela pode simplesmente ter mostrado quem ela é. Quem gerencia uma quadrilha de tráfico de órgãos não pode ser uma boa pessoa.
- Eu sei disso, só não consigo acreditar. O quão idiota eu fui, você e a Marcela me falando a semanas que tinha algo errado, eu não quis acreditar. Eu poderia ter evitado tudo isso.
- Fer, se você poderia ou não poderia, não sabemos. Agora temos que olhar pra frente - ainda sentada no chão, segurei as mãos dela - Pensar o que queremos, futuro. Porque você estava no meu consultório? Isso eu não entendi.
- Jura que essa é sua pergunta?
- Sim, uma delas.
- Vem, senta aqui do meu lado, sai do chão. Ontem eu fui muito errada com você, eu deveria ter colocado ela pra fora, ter protegido e cuidado de você. Achei que tinha sido uma briga boba e que hoje cedo já estaria tudo certo, mas quando acordei você já tinha ido embora. Então pensei em te fazer uma surpresa, comprei o seu almoço, umas flores e chocolate e fiquei lá no seu consultório te esperando. Mas como você teve uma cirurgia ruim e iria demorar, eu acabei ficando lá atrás, peguei no sono e acordei quando tudo aconteceu.
- Ainda bem que fiquei brava com você ontem então, aí por sorte você estava hoje no consultório. E cadê as flores e o chocolate?
- Ah, nem voltei pra pegar. Está lá na sua sala, junto com a comida e tudo mais. Amanhã você pega.
- Tudo bem. Eu realmente fiquei muito chateada com você ontem a noite. Eu não gosto desse tipo de coisa, mas eu entendo que essa é sua casa e que eu não posso mudar sua rotina.
- Carol, precisamos falar sobre isso também.
- O que?!
- Você quer ficar aqui em casa? Na verdade eu já te ofereci isso antes, mas quero reforçar. Eu gostaria muito que você ficasse aqui em casa comigo, podemos arrumar aquele outro quarto pra você colocar suas coisas, um espaço de estudo, podemos ver tudo isso. O que acha?
- Fer, esse espaço é seu, eu não quero te incomodar. Ontem ficou muito nítido isso, coisa que eu já tinha avisado antes que iria acontecer.
- Eu fui muito imatura ontem, e em menos de 24 horas eu pensei 2x que eu iria te perder. E sabe o que foi mais foda pra mim, saber que se você fosse embora, a culpa seria minha, apenas minha. Carol, pra mim isso é muito assustador, eu nunca me senti bem com alguém como eu me sinto com você, eu nunca me imaginei oferecendo minha casa, pensando em como te agradar. Acho que na vida eu nunca comprei flores pra ninguém. Mas é você, isso me assusta, eu quero melhorar, quero ser alguém especial pra você. Quando você estava lá sequestrada, sumida, eu só conseguia pensar no que eu deixei de fazer, como eu poderia ter aproveitado mais o tempo que eu tive ao seu lado. E eu não quero mais essa sensação de que faltou, eu quero ter você aqui comigo, estar ao seu lado, te esperar depois de uma cirurgia ou comprar o seu almoço porque se eu não levar, você não vai comer. Fala alguma coisa!
- Eu não sei bem o que falar. A única coisa que me assusta é esse seu modo de se culpar por tudo e de pensar que vou te deixar, que você é um erro ou algo assim. Acredite eu não estaria com você se isso fosse verdade, vamos ter brigas, eu entendo isso, faz parte. Mas temos tudo para dar certo, sem contar que você é uma delícia, só isso já é um bom motivo pra eu ficar.
- Eu sou uma delicia?
- Claro que é Fer. Fica molinha perto de mim. - ela ficou com o rosto vermelho, eu adoro fazer isso com ela.
- Para com isso, voltando. Você vai ficar aqui em casa? Morar aqui? Carol, eu já te falei isso, eu nunca tive um relacionamento a esse ponto, de chamar para dividir a casa comigo, eu não sei como fazer isso exatamente. Você já foi casada, já teve essa experiência, mas eu não. Eu quero ter isso com você. Você quer ficar aqui em casa comigo?
- Oh, tenho algumas condições.
- Manda amor.
- Morar juntas não é casar. Vamos fazer um teste e ver como nos damos com isso. Até então eu estou como visita, se eu morar mesmo aqui vamos precisar de algumas regras.
- Tudo bem, concordo. Um passo de cada vez. O que mais?
- Chega de brigas, quero diálogo entre a gente. Não quero mais isso de deu ruim, você some, enche a cara e acha que eu não vou voltar mais. Sempre vamos conversar, e a regra é nunca dormir com raiva da outra. Você é uma pessoa muito carinhosa, que cuida de mim nos mínimos detalhes, você não percebe, mas faz isso. Eu quero poder cuidar de você também, você é muito especial Fer, só precisa perceber isso. Esse final de semana foi delicioso, eu no seu colo, assistindo televisão, ficando juntas, queimou com a briga de ontem só. Meu amor, temos tudo para sermos muito felizes juntas, basta nós duas queremos.
- Concordo com isso, se não der certo as ideias temos que conversar. E eu não posso sair por aí enchendo a cara - ela fez uma careta maravilhosa nesse momento - entendi. Mais alguma coisa?
- Sim senhora. Em casa não vamos falar de hospital e no hospital não vamos falar de casa. O que acontecer lá fica lá. Podemos conversar sobre como foi o dia, como estamos, como fiquei feliz ou triste com algo, os problemas de direção de hospital ficam lá.
- Mas não temos problemas assim.
- Um dia podemos ter, coisa como preciso de leito para alguém e você falar, não vou gastar com isso. Ou você querer um milagre e eu falar que não dá pra fazer esse milagre. Essas coisas. Você me contratou como diretora clínica, e como já sabe, faço muito bem o meu trabalho.
- Tudo bem. Um dia posso operar com você?
- Jamais! Nunca.
- Porque?
- Se entrar na cirurgia comigo vai ficar um ano sem olhar pra mim, esse erro eu não faço de novo não. Eu sou muito grossa sob estresse. Você já teve alguns exemplos disso. E você tem alguma condição? Algo que queira me falar?
- Tenho sim princesa, vai achando que só você tem regras. Minha namorada me ensinou que tudo tem que ser muito bem organizado. Não quero você saindo andando por aí, sem limite, sem controle algum, de noite, porque precisa pensar. Esse lugar é perigoso, não vai fazer isso, promete?
- Nem quando estivermos em Maçores? Lá a noite e o amanhecer é tão gostoso, prometo ficar só na frente da casa.
- Se ficar lá perto, na frente da casa, tudo bem. O que eu não quero é você caida na estrada, no meio da noite ou desmaiada nunca academia. Isso me assustou absurdamente, não tem ideia. - Eu sorri pra ela como se pedisse desculpas de alguma maneira. - Não é que eu quero você presa em casa, nada disso, só não quero esse tipo de susto.
- Mais alguma coisa?
- Eu quero viajar, conhecer os lugares. Conhecer Portugal.
- Mas você mora aqui a anos.
- Sim, mas malemal conheço as cidades perto. Quero passear, comer num restaurante legal, tomar vinho, mas quero tudo isso com você. Mas isso não é exatamente o problema, sei que o problema vem agora.
- Você não vai pagar tudo.
- Não preciso pagar tudo, mas você vai ter que aceitar eu pagando uma boa parte. Eu recebi um dinheiro que não é meu, mas é o mínimo de indenização por tudo que o Ganate fez comigo. Eu quero todo final de semana que estivermos livres, ir passear, conhecer alguma coisa. Carol, eu nunca tive essa vontade de viver que tenho agora, muito menos a vontade de viver tudo isso com alguém, com você. Quero aproveitar cada segundo.
- Você ficou aqui por anos, não viajou por aqui?
- Praticamente nem saia de Urros. Desde que eu voltei para Portugal, há uns 6 ou 7 anos atrás, eu só fiquei aqui. Tirei minhas primeiras férias pouco antes de te conhecer. Não conheço nem onde eu moro.
- Tudo bem Fer, podemos fazer tudo isso, mas você tem me perguntar antes se vou estar livre ou não, se posso ou não ir.
- Eu sei, já aprendi isso, eu acho.
-Mais alguma coisa Amor? - perguntei enquanto eu finalmente colocava vinho nas duas taças, que conversa longa.
- Quando a Clara terminar a faculdade, você vai chamar ela pra trabalhar aqui?
- Na verdade eu já chamei. Preciso que ela termine o curso primeiro, depois ela vai ver se vem ou não. A questão toda é na verdade, depois que ela vier, quanto tempo o Lucas demora pra vir?
- Porque? Não entendi.
- Ah, você não percebeu o jeito como eles se olham?
- O Lucas e a Clara? Jura?!
- ah, você é muito desligada. O Lucas é doido pela Clara e ela por ele.
- Mas o Lu não é casado? Cara, ele tem um filho.
- Eles só não ficam juntos por causa do Bruno, o Luc nunca iria deixar o Bruno, nunca. Ele é super colado no menino e depois do que o meu pai fez com a gente, o Lucas nunca repetiria a história.
- Mas eles se pegam, alguma coisa?
- Tanto o Lucas como a Clara juram de pés juntos que não, mas eu não coloco a mão no fogo. Não viu ele oferecendo carona pra ela aquele dia na cantina?
- Ah, até vi, mas achei normal.
- É que você ficou pouco tempo com eles, quando fica mais que duas ou três horas, começa a pegar as coisas. O que ameniza um pouco é que a Clara é muito respeitosa, ela gosta de tudo muito certo. Quando o pergunto o que está rolando ela fica super constrangida, como se fosse até errado estar afim dele.
- O Lucas é casado não é? Quando estávamos esperando o seu resgate, eu fiquei com a esposa dele e a Clara no mesmo lugar.
- O Luc é juntado. Na verdade foi assim, no final da facul ele acabou engravidando a Jaque, ele já tinha o espaço dele, aí começaram a morar juntos. A questão é que a Jaque é meio Chris e o Luc bobão como eu. Mas ele ele tem uma criança na jogada, o que muda muita coisa. Eu já falei com ele sobre isso, que se ele pedisse o divórcio eu ajudava com o Bruno, mas ele não concorda com isso.
- O Bruno é muito espertinho pra idade dele. Eu achei ele super ativo, tanto nos dias que fiquei na casa do Lucas, como lá na cantina.
- Ele é lindo, eu não tenho filhos, mas se tivesse queria que fosse como ele. Ele é bem estimulado, faz esporte, tem uma atenção muito boa. Eu me surpreendi em como o Luc se tornou um bom pai. Ele praticamente não teve referência, quando minha mãe faleceu ele tinha uns 8 anos, pegou ela doente, praticamente só lembra dela em estado terminal. E do meu pai ele tem poucas lembranças também, menos ainda, meu pai sumiu no decorrer da doença. Enfim, sem base alguma ele consegue ser um super pai. Me enche de orgulho.
- Você não tem vontade de ter?
- Ter o que?
- Filhos. Eu vi como você fica com o Bruno, como cuidou dele. Não sei explicar, mas achei lindo. Você daria uma ótima mãe, eu acho.
- Ah, eu sempre quis. Mas já entendi que não vai rolar isso pra mim. Já me conformei até.
- Porque não?
- Ah, não vai. Primeiro eu estava com a Chris, ela odiava a ideia de crianças, acabei empurrando isso porque ela não queria. E agora estou com você, estamos começando tudo do zero, até chegarmos no momento dessa conversa de verdade eu já vou estar velha demais pra filhos.
- Não estamos conversando sobre isso?
- Ah, estamos Fer. Mas é cedo ainda, sei lá, não quero te obrigar a uma coisa que você não quer. Eu já entendi que não vou ser mãe, minha função é colocar crianças no mundo e não criar.
- Vamos fazer assim, como programamos. Primeiro vamos ver como é morar juntas, como você se sente aqui comigo, essas coisas. Enquanto isso você volta a pensar sobre ser mãe, depois voltamos a conversar.
- Mas o que você pensa disso Fer?
- Eu nunca pensei em ser mãe, mas eu também nunca pensei conhecer alguem a ponto de me fazer pensar nisso. Quando eu vi suas fotos com o Bruno e depois você abraçando ele na cantina, ali eu tive vontade. Depois quando eu soube que esse era um sonho seu que a louca nunca quis, eu entendi que era possível. Eu fiquei apaixonada vendo seu cuidado com ele. Realmente me imaginei naquela cena. Carol, o seu sequestro foi um marco muito sério pra mim, o medo de te perder me assusta. Hoje quando a milena encostou em você, eu só queria matar ela, te deixar segura. Falando nisso, você vai aprender alguma luta. Vamos ver isso amanhã cedo.
- Vou? Vai sonhando. Eu não bato em ninguém.
- Se você soubesse alguma luta..
- Tudo aconteceria como tem que acontecer, eu sabendo lutar ou não. E eu detesto essas coisas de dar murro e soco. Vou quebrar minha cara de novo, literalmente.
- Mas dá pra se defender melhor!
- Eu não vou mudar quem eu sou pelo que a Milena é. Eu não gosto de lutas e não vou fazer isso só porque ela me assustou. Não mesmo.
- Cara, como você consegue ser evoluída nesse nivel? Por mim, você aprendia a lutar e ia lá quebrar ela.
- Eu não Fer, pra mim o mais importante é dormir em paz, e se eu bater nela, não vou dormir em paz e ainda vou machucar minha mão, que é meu ganha pão. Como vou operar alguém se eu estiver com a mão machucada?
- Quando eu crescer quero ser evoluída como você.
- Vou te ajudar na arte do desapego. Fer, o que vai acontecer com ela agora?
- Ela vai ficar presa, sob custódia até pelo menos a Flavia chegar.
- Flavia? Ela vai ter que vir aqui?
- Vai, quando aconteceu tudo, eu liguei pra ela. Ela que entrou em contato com a polícia daqui. A Milena fica presa até a Flavia ou a equipe dela chegar, não sei bem, e as investigações acontecerem. Depois disso, se for confirmado mesmo, tem o julgamento e tudo mais. Por enquanto é isso.
- E você vai ser acusada de alguma coisa, por ter batido nela?
- Acredito que não, tem uma gravação que mostra que foi em sua defesa, meio que eu bati pra te defender. O pai dela ficou puto comigo, ele pediu pra eu não acusar ela, que ele mandava ela para inglaterra, algo assim. Eu falei que não, que ela merece pagar pelo que fez e pra não fazer mais nada com ninguém. O cara ficou puto, falou que eu sou a reencarnação da ruindade do Ganate, mas vou te dizer que quem sempre admirou meu pai foi a Milena. Até precisava falar com você, quando a Flávia chegar, se ela precisar, posso oferecer dela ficar aqui em casa?
- Claro que pode, eu acredito que ela não possa fazer isso, por causa da investigação e tudo mais. Mas se ela aceitar, será super bem recepcionada. Ela é um amor de pessoa. Você conheceu a namorada dela?
- Não, só sabia que ela namorava. Porque conheceu?
- Quando eu fui dar meu depoimento ela perguntou se eu poderia falar com a namorada dela, falou que se eu não quisesse tudo bem, era um pedido por baixo dos panos. A namorada dela é jornalista, outro ser de luz e bem diferente da Flavia.
- Não sabia disso, nem que era jornalista.
- É sim, pensa em uma princesa. Bem assim mesmo, toda delicada, fofinha. Mas bem firme nas perguntas, a Flávia nem ficou perto enquanto ela conversa comigo. Tirando isso, super gente boa.
- Ainda bem, a Flávia foi muito boa no trabalho com nós, familiares. Teve uma hora que eu dei uma surtada com o seu sequestro, aí ela conversou comigo, me deu uns toques, me acalmou. Consegui voltar ao foco pra esperar você.
- Familiares?
- Ah, é. Eu tava com sua família, posso ser familiar, não posso?
- To só te atazanando, claro que pode. Se eu penso em você o tempo todo e se quero que o dia acabe logo pra eu poder te beijar, e se eu moro com você, como agora é oficial, acho que eu posso considerar que você é da família e eu da sua. Só chega de DR Fernanda, vem me dar um beijo gostoso e para de brigar comigo.
- Eu nem tô brigando.
- Não importa, eu quero beijo. Só cuidado com o corte do rosto, por favor.
Fim do capítulo
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Aleckstranmor
Em: 27/05/2019
Fernanda luta pra caramba kkk deveria mesmo ter trucidado a Milena. Essa Milena tem que penar na cadeia sim, não tira o processo não. É a Fernanda está muito insegura nos sentimentos dela em confiar no relacionamento nessa altura do jogo... Mais uma conversa de pingos nos is, agora um pouco de paz para Carol pfv. Ansiosa pelo próximo, até logo autora.
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