Charlotte e eu ficamos totalmente presas no olhar da outra. Queria entender o que acontecia com ela, pois não estava normal. Charlotte aparentava querer algo de mim, mas não sabia o que era.

Após Charlotte pagar o meu vestido, fomos a outras lojas, comprar mais roupas para mim. Minha chefe pagou tudo e eu estava um tanto perdida. Quais eram as intenções de Charlotte, pois ela não costumava ser boazinha.

A volta para o hotel foi feita em silêncio, ainda bem, pois não queria muita conversa com Charlotte, estava confusa e eu não podia ficar daquela forma. Eu tinha a Mel, tinha que pensar em meu relacionamento, não podia ficar pensando em alguém que era impossível de se ter. Sim, eu só estava com a Mel porque a Charlotte não queria nada comigo. Eu sei que estou agindo errado em fazer isso, mas a Mel gosta de mim... Me dá carinho, atenção... Acho que no fundo, eu sou uma pessoa carente.

As 5:00 horas da tarde, eu cheguei ao meu quarto e me peguei pensando no Arnold. Ele vivia dizendo para eu deixar de ser trouxa, nem reclamava por ser chamada dessa forma, pois eu me considerava uma pessoa trouxa.

Como se estivesse adivinhando meus pensamentos, Arnold me ligou.

—Estava sentindo sua falta... Por isso te liguei — Ele falou e eu sabia que não era isso.

—Não precisa mentir, Arnold — Me deitei na cama.

—Hummmm... Então, como é que tá com a Charlotte?

—Eu não sei...

—Como assim não sabe?

—Ela está me deixando confusa.

—Margareth, não se esqueça que você agora tem uma namorada.

Respirei fundo...

—Dessa parte não me esqueci... Só que tem outras coisas que não consigo esquecer.

—Seu "problema".

—Sim, Arnold, não consigo me esquecer dela... Ainda mais agora.

—Como assim ainda mais agora?— Ele parecia já estar se preparado para me xingar.

—Relaxa, não é o que você está pensando... A Charlotte está diferente...

—Ou será que é você que está vendo ela diferente?

—Não... Ela anda me jogando umas indiretas.

—Margareth, desde quando Charlotte é uma mulher de indiretas?

Nisso tinha que concordar com o Arnold, mas algo de estranho estava acontecendo.

—Arnold, no avião segurei a mão dela.

— Você disse a pouco que nada havia acontecido entre vocês.

—Eu sei, mas segurei a mão dela... Ela estava com medo e depois disso relaxou... Adormecemos e ela colocou a cabeça sobre o meu ombro.

—Margareth, acho melhor você terminar tudo com a Mel... Você não pode ficar nem um dia sozinha com a Charlotte que parece que fica mais apaixonada.

—E acho que que estou mais apaixonada mesmo — Disse sem graça.

—O quê? Margareth, você é trouxa demais... A Charlotte nunca vai querer nada contigo...

—Mas não consigo tirar ela do meu coração. Agora me sinto ainda mais estranha em sua presença, mas sei que nunca poderei ter ela. Ainda mais porque não tenho nada a ver com ela.

—Que é isso... Você só é um ser um pouco diferente com relação ao resto da nossa espécie — Não teve como, nós dois rimos juntos.

—Arnold, você não está me ajudando.

—Eu sei que isso não lhe ajudou, mas vou te dar um conselho.

—Se conselhos fossem bom, não seriam de graça — Arnold bufou do outro lado da linha.

—Margareth...

—Fale, Arnold, eu estou precisando de bons conselhos — Disse sincera.

—Seria bom você seguir o seu coração, porém eu sei que se você segui-lo, você vai acabar mais iludida... Mas acho que a Mel não merece mais ser enganada.

—Você quer que eu termine com ela? — Perguntei surpresa.

—Acho que seria o melhor a se fazer, Margareth.

—Pelo visto vou morrer sozinha e iludida.

—Mas você tem outra opção.

—Qual seria?

—Parar de ficar alimentando amores por alguém que é impossível de se ter.

 

 

 

Eram 9:00 horas da noite, estava em meu quarto, me preparando para ir jantar quando um homem bateu na porta e disse que Charlotte havia me chamado para jantar com ela. Estranhei aquele convite, mas cheguei a conclusão de que Charlotte não queria jantar sozinha.

Após passar 20 minutos me arrumando, desci para o restaurante do hotel.  Vesti minha melhor roupa e me arrumei da melhor forma possível. Confesso, estava querendo chamar a atenção da minha chefe.

Quando entrei no restaurante, Charlotte estava sentada sozinha em uma mesa, dando toda atenção para o celular que estava em suas mãos, diante disso, me lembrei da moça do outro dia, com certeza elas tinham algo. Charlotte era uma pessoa muito solitária, não sairia com alguém se caso não tivessem uma relação muito forte.

Pensar que elas poderiam ser namoradas me deixou enciumada e eu sabia que não poderia estar sentindo isso, pois eu era uma pessoa comprometida.

—Boa noite, Margareth — Ela deixou o celular de lado e me olhou com intensidade.

O que estava acontecendo com Charlotte?

—Boa noite — Respondi um pouco sem jeito e fiquei de pé ao lado da mesa.

Um garçom apareceu e arrastou uma das cadeiras para eu sentar.

—Obrigada — Me sentei e notei que Charlotte não parava de me olhar.

Fizemos nossos pedidos, não vou mentir, Charlotte escolheu tudo. Ela nem perguntou se eu queria algo diferente. Depois disso, o silêncio foi tão grande que passou a ser incomodo.

—Está com saudade de casa, Margareth? — Charlotte fez essa pergunta parecendo escolher as palavras. No fundo sentia que não era isso que ela queria saber.

Eu a encarei, a intensidade que ela me olhava me deixou desconsertada. Na realidade, estava sentindo o meu coração voltando a bater um pouco diferente.

—Não muito...

—Entendo, mas logo você estará em casa. Eu sei o quanto deve ser horrível para você passar alguns dias comigo — Falou para mim e depois desviou o seu olhar.

O que ela queria dizer com aquela fala eu não sei, mas passei o jantar todo tentando saber o que estava acontecendo com Charlotte.

 

 

Fim do capítulo