Capítulo 4
– Sim, qualquer coisa.
–Por vários motivos – começa Marina – Eu preferiria que ninguém soubesse que eu já estava na Cidade ontem e que eu estava naquele bar. – Seu olhar encontra o meu. – Por isso, gostaria muito que nós mantivéssemos nosso pequeno encontro só entre nós duas.
–Lógico! – faço que sim com a cabeça – Sem dúvida. Eu posso fazer isso.
–Você já contou para alguém?
–Não. Nem mesmo pra minha...quero dizer, não. Eu não contei a ninguém. Pode ficar tranquila.
– Ótimo. Muito obrigada – Ela levanta-se da cadeira – Foi um prazer encontrá-la novamente, Julia. Tenho certeza que vamos nos ver outras vezes.
Estou perplexa.
– Espera. É isso?
– Sim, é isso. Você queria discutir mais alguma coisa?
– Não!
Me levanto apressada, derrubando o porta canetas que estava na mesa.
Dou uma risada sem jeito, abaixo no chão, junto tudo rapidamente e sigo para a porta, onde Marina está me esperando.
– Espera.
– Sim?
– O que eu vou dizer quando perguntarem por que você queria me ver? – pergunto sem graça – Todo mundo vai querer saber.
– Diga que conversamos sobre seu pequeno atraso. – Ela dá uma piscada e fecha a porta.
Pelo resto do dia há um clima festivo no trabalho, todos seguem entusiasmados e efusivos. Eu passei o dia só ali, sentada, ainda sem acreditar no que aconteceu. Não sei nem como consegui trabalhar. Na verdade, acho que nem trabalhei. Só fiquei ali esperando o dia passar.
No caminho de volta pra casa eu ainda estava com tudo o que aconteceu vívido na minha cabeça. Qual a probabilidade de isso acontecer com alguém?
Marina era uma estranha. Ela deveria ser uma estranha. A única coisa lógica dos estranhos é que eles desaparecem para nunca mais serem vistos. E não para aparecer em seu trabalho. Muito menos para perguntar quanto é oito vezes nove. Ou para ser sua chefe master.
Pelo menos, posso dizer que isso tudo me ensinou uma grande lição.
Meus pais sempre me disseram para não conversar com estranhos, e eles estavam certos. Nunca mais vou contar nada a um desconhecido. Nunca mais. Eu juro.
Meu celular vibra em meu bolso e vejo uma mensagem da Aline. Fico puta comigo mesma por estar ansiosa para ler o que ela escreveu.
Desbloqueio a tela quebrada do meu celular e vou direto para o WhatssApp.
“Gatinha, desculpa por ontem...”
Um emoji triste.
Não respondo nada, mas vejo que ela ainda continua escrevendo.
“Meu dia foi uma loucura! Vou te recompensar, prometo.”
Um emoji de coração amarelo.
O que um coração amarelo significa? Quem manda corações amarelos para sua namorada?
A palavra namorada martela em minha cabeça. Nunca falamos disso. Sobre estarmos namorando.
“Vou fazer um jantar especial para você hoje à noite, que tal?”
Estou mexida. Levei um bolo da Aline ontem e eu nem deveria considerar esse encontro. Mas, ela se desculpou e tudo mais. Essas coisas acontecem o tempo todo, não é mesmo?
Sem nem pensar muito eu mando uns emojis de coração amarelo.
“Isso é um sim?”
Respondo que sim.
Emojis felizes e mais corações amarelos.
Coloco o celular no bolso e sigo meu caminho. Só preciso de um banho e estarei nova.
Quando chego ao apartamento de Aline sinto o corpo relaxar com o alívio. Longe do escritório. Longe de toda a conversa interminável sobre Marina Hopkins.
Aperto a campainha e ouço uma voz lá de dentro mandando eu entrar.
Vou até a cozinha e ela já está cozinhando. Não é perfeito? A cozinha cheira a alho e ervas, e há uma taça de vinho me esperando na mesa.
Fico observando-a por um instante. Até em casa a Aline parece muito arrumada e perfeita. Não que eu não goste ou não ache lindo... É que ela poderia estar... sei lá, de calça de moletom e camiseta.
Largo minha bolsa no chão e a cumprimento com um selinho. Aline olha para minha bolsa no chão e depois para mim. Ela odeia que eu faça isso.
Vou lá, pego a bolsa e penduro no cabide da sala.
– E aí? Fiquei sabendo que Marina Hopkins está na Cidade.
Ah não! Por favor, até você? Chega de falar na porcaria de Marina Hopkins.
– Você sabe quem é ela? – Pergunto com curiosidade.
Parece que só eu no mundo inteiro não sabia quem era ela.
– Você tá brincando? Ela é um gênio. Ela reinventou o conceito da Fashion Week no Brasil. Graças a ela o evento aqui no Brasil não foi cancelado em 2012.
– Hum, conheci ela hoje. E aí vamos comer o quê? O cheiro está delicioso.
Aline ignora totalmente minha tentativa em mudar de assunto.
– Sério? Ela deve ser demais. E ainda mais bonita pessoalmente. A agência está querendo homenageá-la esse ano. Ela expandiu e remodelou a empresa da família praticamente do nada! Sem recursos. Hoje ela é referência nacional e internacional em eventos e empreendimento. Ela é muito foda. Todas as empresas querem ela.
– Imagino que sim. – Digo finalmente.
– Sabe que eu queria poder bater um papo com ela? – Aline pega a taça de vinho e toma um gole – Conversar com Marina Hopkins, não seria um impulso de carreira fantástico?
É, foi um tremendo impulso para minha carreira.
– Só de ter a chance de ouvir o que ela tem a dizer. Porr*, a mulher ficou escondida durante três anos. Que ideias esteve gerando todo esse tempo? Ela deve ter um monte de conceitos, teorias, sobre negócios, o modo como as pessoas trabalham...sobre a vida.
A voz entusiasmada de Aline é como sal sendo esfregado em um machucado na minha pele. Olha como eu sou uma pessoa foda. Estou sentada num bar ao lado da grande Marina Hopkins, gênio criativo e fonte de toda a sabedoria nos negócios, para não mencionar os grandes mistérios da vida em si.
E o que eu faço? Alguma pergunta perspicaz? Tenho alguma conversa inteligente? Aprendo alguma coisa com ela?
Não! Eu falo sobre o tipo de calcinha que eu prefiro. Eu vomito no carro dela. Grande passo na carreira, Julia. Um dos melhores.
Decido encerrar o assunto da maneira mais apelativa possível.
– Sabe o que seria mais interessante do que ter um papo com Marina Hopkins? – pergunto com uma voz sedutora enquanto tiro minha blusa e caminho lentamente em direção à Aline. – Ter um papo comigo, ali no quarto.
– Humm...com certeza isso é muito interessante.
Acordo com o barulho do chuveiro. Aline é dessas que não dorme, só respira trabalho. A noite foi boa. Jantamos e dormimos assistindo Netflix. E o sex* foi... Ah, como sempre. Ok. Bom. Normal.
Sinto os lençóis macios e cheirosos e tenho uma ponta de inveja dela. Como seria bom ter uma casa só minha ou até ter alguém para dividir a cama, a vida e tudo que vem com ela.
Nunca imaginei na minha vida que daria tanto valor para uma roupa de cama. Foi a primeira coisa que comprei quando me mudei para a casa da Dona Joana.
Os lençóis e as colchas dela cheiram naftalina e devem ter a idade dela.
Dona Joana quase me expulsou de casa quando viu meus lençóis novos na cama. Surtou total. Ficou ofendida, gritou que a casa era dela, que as regras eram dela e que eu teria de fazer do jeito dela.
Resultado: Todos os dias eu espero ela dormir para colocar meu lençol sem ela ver e antes dela acordar eu destroco tudo.
É tão absurdo que eu nunca contei isso pra ninguém...
Só para Marina Hopkins.
Aline vai cedo para uma reunião, mas antes de sair pega um velho artigo de uma revista sobre Marina Hopkins.
– Leia isso – propõe ela.
Eu não quero ler isso, sinto vontade de gritar, mas Aline já saiu pela porta. Estou tentada a deixar isso pra trás e nem me incomodar em ler, mas a viagem do apartamento de Aline até o trabalho é um pouco longa, e meu pacote de dados do celular está no final. Então levo a revista comigo e começo a ler de má vontade no metrô. Por incrível que pareça, eu acho uma história bem interessante.
A forma como Marina e seu irmão, Daniel, decidiram tentar expandir os negócios da família. Marina era a mente criativa e Daniel o playboy bem relacionado e extrovertido. E assim, incorporaram algumas empresas, derrubaram outras, e tornaram uma pequena sociedade familiar em um grande império milionário.
E então, Daniel morreu em um acidente de carro. Marina ficou tão arrasada que se trancou longe do mundo e disse que estava desistindo de tudo.
E, claro, agora que estou lendo tudo isso, estou começando a me sentir uma idiota alienada. Eu deveria ter reconhecido Marina Hopkins. Porr*, eu conheço Daniel Hopkins. Ele era um cara lindo e apareceu em todos os jornais quando morreu. Agora eu lembro claramente, mesmo que na época eu não tivesse nada a ver com a empresa. Realmente foi uma tragédia.
Estou tão concentrada que quase passo da minha estação e tenho que dar uma daquelas corridas estupidas até a porta, daquelas em que todo mundo olha para você tipo: sua idiota, não sabia que sua estação estava chegando?
Chego no escritório desanimada. Desde o dia que Marlon disse que eu não ia ser promovida eu me sinto a merd* da assistente de marketing. Meus planos de me mudar da casa da Dona Joana vão por água abaixo. Mais um ano devendo para meu pai e sendo o motivo de piadas do meu irmão. Fracassada total.
Ligo o computador, dou uma olhada na minha caixa de e-mails e respondo a Carol sobre os planos para o almoço.
– Acho que vou pegar um café – falo alto – Alguém quer?
– Não para pegar café – me responde Paula com um olhar estranho. – Você não viu?
– O quê?
– Eles levaram a máquina de café embora – conta Felipe. – Um pouco antes de você chegar.
– Levaram embora? – olho-o perplexa – Por quê?
– Não sei. Só vieram e levaram. – Diz ele antes de atender o telefone que tocava em sua mesa.
– Nós vamos ganhar uma máquina nova! – diz Carol entusiasmada, passando um uma pilha de pastas na mão – Era o que estavam dizendo lá embaixo. Uma máquina boa, com café de verdade. Parece que foi pedida por Marina Hopkins.
Ela se afasta, e eu fico olhando.
Marina Hopkins pediu uma máquina de café nova?
– Julia! – começa Paula impaciente. – Você ouviu? Quero que você encontre o folder que fizemos para a apresentação da proposta do Country Festival no ano passado. – Desculpe, mãe – murmura ela ao telefone. – Estou dando ordens à minha assistente.
Assistente dela? Meu Deus, eu fico puta quando ela diz isso.
Estou remexendo os arquivos e fazendo caretas enquanto planejo mentalmente qual será a próxima pegadinha que farei com a Paula.
Levanto-me com uma pilha de pastas de papel nos braços e deixo quase todas caírem no chão.
Ali está ela.
Parada na minha frente, mais uma vez.
Fim do capítulo
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Ruti c
Em: 25/05/2019
Adorando. Conto leve , com humor, gostoso de ler.
qdo termina capítulo sempre fica gostinho de quero mais e logo.
parabens! Abraço
Resposta do autor:
Olá Ruti,
Fico muito feliz por ter gostado e pelo seu comentário. São eles que me motivam a escrever e continuar me dedicando a esse conto.
Espero que continue acompanhando!
Juli7
Em: 25/05/2019
Estou adorando a historia, essa pitada de humor e esse caminhão de desastre que é a Julia torna muito gostosa a leitura!
Espero que poste com frequencia.
bjim!
Resposta do autor:
Juli,
Primeiramente, peço perdão pela demora e inconstância na demora desse capítulo. Minha ideia é postar pelo menos 1 vez por semana.
Espero que continue acompanhando e comentando para dar sua opinião sobre o seguimento da história.
A Julia é um desastre em pessoa. Vamos ver se a Marina traz um pouco mais de estabilidade nessa vida doida que ela tem.
Até o próximo capítulo!
OliveKin
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Mille
Em: 25/05/2019
Oi
Aline usa a Julia e acho que ira usar para se aproximar da Marina.
Marina retirando a máquina de café, logo a promoção sairá também.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Mille,
Eu realmente não gosto da Aline. Espero que a Julia perceba logo o que esta bem na sua frente né?
E também espero que a Julia pare de se atrapalhar tanto na frente da Marina.
Grande beijo,
OliveKin
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rgaguiar
Em: 25/05/2019
Oi Olivekin,
Você está de parabéns. Confesso que comecei a ler sua história sem muito entusiasmo, mas você me surpreendeu. Estou adorando. Praticamente devorei os capítulos. Uma leitura leve, com uma pitada de humor. Parabéns, você conseguiu me prender.
Anciosa para os próximos capítulos. Qual os dias de sua postagens?
Resposta do autor:
Rgaguiar,
Ler um comentário maravilho desses é realmente muito motivador e compensador. Me faz ter vontade de escrever mais e mais.
Obrigada pelas palavras, eu realmente precisava lê-las num dia como hoje.
Eu atrasei a postagem desse capítulo, mas quero postar, pelo menos, uma vez por semana. Minha ideia é postar nas sextas-feiras ou no final de semana.
Espero que continue acompanhando a história e me dando seu feedback dela.
Com carinho,
OliveKin
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mtereza
Em: 25/05/2019
A tal da Aline parece não esta nem a ai para namorada a nossa heroína atrapalhada precisa urgente mudar algumas coisas na vida dela só umas poucas , namoro, casa ,trabalho rsrsr .
Resposta do autor:
Mtereza,
Imgina, desgraça pouca é bobagem né? A Julia precisa de um chacoalhão para enxergar algumas verdades!
Vamos combinar que esse namoro já está fadado ao fracasso desde o começo. Só a Julia não vê isso.
Espero que goste desse capítulo.
Beijos,
OliveKin
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Guiga Novaes
Em: 25/05/2019
Olar
Já garrei ódio da Aline... Ela vai usar a Julia para se aproximar da Marina =s
Estou amando a Julia...
Continue <3
Bjs Guiga
Resposta do autor:
Guiga,
Tomara que a Julia perceba o que esta evidente, não é? E que a Aline saia da jogada logo.
Fico feliz que esteja gostando da Julia. Eu, particularmente, me identifico muito com ela.
Beijos,
OliveKin
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PoetizaVazia
Em: 25/05/2019
Que bom que gostou do meu pseudônimo por muito ele me representa...
cheia de poesias vazias
fico feliz que tenha atualizado foi rápido mas essa Aline é uma sem noção. Tira logo ela daí.
beijo
Resposta do autor:
Poetizavazia,
Quero ler suas poesias. Gosto do seu nome porque ele é bastante incontroverso e curioso. Me faz querer ler essas poesias!
Espero que a Julia enxergue logo que a Aline não tá nem aí pra ela, né?
Beijos,
OliveKin
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Maryana
Em: 24/05/2019
Me encontrei aqui passeando esperando uma favorita minha atualizar , achei interessante a capa dessa história e resolvi ler ... li o primeiro Capítulo, passei para o segundo Capítulo achando tudo novo ,engraçado e interessante , mas quando cheguei no terceiro capítulo me apaixonei perdidamente prla história e ja fui favoritar, simplesmente demais Parabéns
linda história estou amanda e me acabando na risada rsrsrs, continua porfavor....
E porfavor não demora porque vc ganhou uma fã ansiosa rsrsrs rsrsrs
Parabéns
Resposta do autor:
Maryana,
Você não sabe como é compensador ler um comentário como o seu. Você captou a minha ideia. é dificil competir com grandes autoras e com tantas histórias boas postadas por aqui.
Por isso pensei numa capa chamativa, como essa rs.
Que bom que ela te atraiu até a história, que você gostou e espero que você acompanhe toda ela até seu desfecho. Aliás, espero mais feedbacks seus, heim?!
Prometo que não vou me enrolar mais e vou postar semanalmente (aos finais de semana).
Com carinho,
OliveKin
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PoetizaVazia
Em: 24/05/2019
Que bom que gostou do meu pseudônimo por muito ele me representa...
cheia de poesias vazias
fico feliz que tenha atualizado foi rápido mas essa Aline é uma sem noção. Tira logo ela daí.
beijo
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