Vamos voltar para as brigas. kkkkk
Capítulo 10 - Confusão
Capítulo 10 – Confusão.
Lia acordou incrivelmente bem naquele dia e antes de abrir os olhos um largo sorriso tomou conta de sua face ao sentir o cheiro de Liz em sua cama. “Nossa! Ela tinha um cheiro tão gostoso”. Incrível como ela foi a primeira coisa que pensou ao despertar, não conseguia mais controlar seus sentidos e sentimentos. Será que poderia mesmo estar apaixonada por Liz em tão pouco tempo? Era um pensamento tão prematuro. Nem mesmo sabia o que a outra sentia, se queria algo sério ou apenas curtir, afinal não era Liz que estava sempre rodeada de pessoas? E também já havia constatado que ela tinha muita facilidade de ficar com quem quisesse e só atestou mais ainda isso na noite passada quando, do nada, aquela garota a abordou e lhe passou seu número em um guardanapo.
Era sim prematuro pensar em tudo isso. Mesmo que quisesse algo sério não teria coragem de assumir um relacionamento desses assim para a sociedade, para os seus amigos, sua família... ou teria? Não, não queria pensar nessas coisas, resolveu que viveria com mais leveza e aproveitaria os momentos ao máximo sem pensar em consequências. Iria apenas curtir tudo aquilo que ela lhe proporcionava sem ficar se cobrando respostas. Sabia que estava sendo contrária aos seus princípios, mas isso é que era se divertir, não é? E Liz parecia ser a pessoa ideal para isso, simples, leve e solta. Deveria mesmo aproveitar tudo.
Seu coração se agitou em seu peito como um louco quando viu uma mensagem dela em seu celular. Aquela sensação já estava se tornando conhecida e para ser sincera consigo mesma até que gostava da sensação de felicidade e euforia que a tomavam desde que Liz estivesse envolvida em seja lá o que fosse. Se sentia uma boba, mas ao mesmo tempo era muito bom, uma sensação muito gostosa. Abriu a mensagem rapidamente e começou a ler ansiosa.
Liz: “Bom dia, linda. Topa fazer algo hoje, só nós duas? ”
Lia: “Topo sim, contanto que você toque violão só para mim... rsrsrs ”
Liz: “Então você quer um showzinho particular? Hum. Gostei da ideia. Hahaha ”
Lia: “Que ótimo, então. A que horas? ”
Liz: “Pode ser pela tarde, depois do almoço? Passo aí pra te buscar. ”
Lia: “Pode sim. Te espero. Bjs ”
Liz: “Bjs, linda. ”
Aquilo só deixou Lia com um sorriso ainda mais bobo nos lábios. Ficou pensando no que deveria dizer a Cris sobre sair hoje. Depois daquelas especulações malucas que ela tivera ontem tinha medo de que a amiga acabasse percebendo que estava se envolvendo além da amizade com Liz e o simples pensamento a fez se arrepiar de nervosismo e vergonha. Não queria ninguém julgando aquela loucura maravilhosa que era ficar com outra mulher. Tinha que admitir que era bem diferente e muito mais intenso. Só queria sentir isso sem se importar com mais nada. Aliás, nem sabia se era tão bom ficar com outra mulher ou se era assim só com ela. Tinha que admitir que Liz era muito envolvente e charmosa.
Assim que teve coragem de se levantar, tomou um bom banho e foi até a cozinha para combinar o almoço com Cris. Se surpreendeu ao ver que já era mais de onze da manhã, se não se apressasse sairia com fome para o encontro com Liz. Na cozinha encontrou a amiga cortando algumas verduras na panela.
- Bom dia, bela adormecida. Eu bebo e quem fica com a ressaca é você?
- Bom dia. – Lia riu em resposta. – Gostou da noite ontem?
- Muito! Foi mais animado do que eu imaginei que seria. – Falou surpresa enquanto mexia na panela. – A Liz animou a galera muito ontem. Ela é ótima.
Ao ouvir falar de Liz um sorriso automático surgiu em sua face automaticamente. Teve vontade de concordar e falar mais coisas, mas tratou de disfarçar.
- O que você está fazendo? – Lia espiou sobre o balcão.
- Uma receita de peixe. Queria comer algo leve hoje. Estou quase terminando.
Lia a ajudou a terminar o almoço e logo elas puseram a mesa e se deliciaram com a comida. O peixe estava mesmo uma delícia, tanto que Lia não se conteve e repetiu.
- Vai fazer o que pela tarde? – Cris quis saber
- Não sei bem. Você tem planos? – Respondeu sem demonstrar interesse. Dependendo da resposta dela diria alguma coisa.
- Alberto me chamou para ir à praia hoje. Vamos!?
- Hum. Não sei. Não estou muito a fim de praia hoje. Estava pensando em ir já no shopping comprar umas coisas.
- Ah, Lia. Vamos, por favor! – Cris fez cara de gato abandonado. – Quero me divertir com minha amiga.
- Para de chantagem, Cris. Juro que vou na próxima.
- Ok. Você vai que horas?
- Vou já já. – Lia olhou no relógio da cozinha e viu que faltava quinze minutos para Liz chegar. Apressou-se. – Vou me trocar até. Também quero assistir um filme.
- E você vai sozinha? – Especulou curiosa. – Por que não dá uma chance para o Rodrigo?
Rodrigo... ela recebeu uma mensagem dele a alguns dias atrás. No entanto, nem deu bola. Sua mente já estava preenchida por Liz e já bastava apenas uma pessoa para bagunçar sua cabeça, também se sentiria mal e ficar enganando-o já que ele parecia estar se envolvendo cada vez mais. Falar nele a deixava desconfortável.
- Eu quero ficar um pouco sozinha. Amo minha própria companhia.
- Desisto de você, Lia.
Levantou-se pondo um fim no assunto e foi apressada até seu quarto para se trocar. Optou por um short mais curtinho e uma blusa branca de manga meio caída nos ombros. Colocou uma rasteirinha e pegou seu óculos escuros. Em dez minutos já estava pronta. Passava um brilho de menta nos lábios quando seu celular apitou com uma notificação, era Liz avisando que já tinha chegado. Perfumou-se com vontade e saiu de encontro à sua aventura.
- Tchau, Cris. – Foi até a amiga que estava sentada no sofá arrumando sua bolsa e lhe deu um beijo na testa. – A gente se vê mais tarde, ok?
- Ok. Se cuida! – Cris respondeu sem olhá-la. Na certa havia ficado chateada com sua falta em ir à praia.
Liz a esperava fora do carro. Tinha o cabelo solto e mais rebelde que o de costume e abriu um lindo sorriso assim que a viu. Estava com óculos escuros redondos e, como sempre, usava roupas negras. Elas estavam vestidas parecidas, ela tinha um shortinho preto rasgado e uma blusa preta de alça do Nirvana. Lia não conseguia superar como ela era linda, não resistiu quando a viu ali e correu ao seu encontro se atirando em seus braços, enlaçou seu pescoço e lhe tascou um beijo demorado.
- Está animada hoje. – Falou arteira. – Bom para mim.
- Para onde vai me levar?
- Surpresa!
Liz a puxou pela nuca para um outro beijo mais leve e menos demorado e depois abriu a porta do carro para que entrasse. Deram a partida e logo iam para o seu destino. O som começou a tocar rock antigo e começaram a conversar sobre assuntos aleatórios. Simplesmente amava andar de carro com ela, escutando música boa e com aquele clima leve e agradável. Se pegava pensando em como seria pegar a estrada com ela em uma viajem sem fim. Seria de fato uma aventura cheia de magia.
Logo ela começou a conhecer o caminho e enfim pararam em frente ao portão do prédio chique dela. Saíram da garagem e Liz a puxou pela mão até o prédio e pegaram o elevador. Assim que as portas se fecharam Liz a agarrou com vontade colando seus corpos e seus lábios. Seus beijos eram sempre gostosos e intensos, simplesmente não conseguia se cansar de beijá-la. As portas abriram e afastaram as bocas levemente, mas ninguém entrou e foi assim até chegarem ao andar de seu apartamento.
Lia se admirou em como era simples, porém amplo e bem organizado. Assim que chegaram havia uma mesinha no centro com um arranjo de flores e duas cadeiras acolchoadas com quadros pendurados nas paredes. No cômodo seguinte viu a sala bem mobiliada com uma imensa TV dois sofás e um pequeno bar no lado direito. No lado esquerdo havia uma porta imensa de deslizar de vidro com cortinas brancas e foi para lá que Liz a encaminhou.
Era uma varanda até grande para um apartamento, ventilada e com várias plantas decorando o local. Ali havia uma decoração a mais, mas imaginou que Liz tivesse feito aquilo para as duas. Um grande tapete felpudo estava disposto no chão com várias almofadas jogadas. Seu violão preto estava sobre as almofadas, Lia sorriu quando o viu. Então ela ia mesmo tocar e atender ao seu pedido. Liz a puxou pelo braço e enlaçou sua cintura.
- Então será apenas nós duas, hoje. – Falou em seu ouvido, fazendo-a arrepiar. – Estava ansiosa por hoje.
- Mesmo? – Perguntou ansiosa. Não sabia porquê, mas estava um pouco nervosa.
- Sim. - Ela lhe deu um selinho demorado e a fez sentar-se no tapete macio. – Volto logo!
Lia a observou rebol*r de leve até passar pela grande porta de vidro e lambeu os lábios, não conseguia se conter, Liz era uma mulher linda e envolvente. Ficou descalça e se encostou nas almofadas. Viu que próximo ao violão havia uma pasta preta grande e quando a abriu viu que tinha cifras de músicas e eram tantas, ficou folheando e atestou como o repertório dela era vasto e de bom gosto, se animou em fazer pedidos.
Sentiu algo gelado tocar seu pé de repente assustou-se. Ouviu risadas e quando se virou viu Liz gargalhando com duas garrafas nas mãos. Apesar do susto e da raiva que sentiu momentaneamente desatou a rir junto dela que tinha um riso gostoso e leve de se ouvir.
- Desculpe! – Pediu entre risos, sentando-se ao seu lado e lhe entregando a bebida. – Não resisti, você estava tão concentrada.
- Sua boba! – Recebeu a bebida e deu um gole para espantar o resquício de susto. – Não teve graça.
- Ah, teve sim, Lia. – Ela também bebeu e depois a encarou. – Você fica linda irritadinha.
- Rá. Espere até me ver irritada de verdade.
- Isso é uma promessa? – Perguntou se aproximando de seus lábios.
- Não, só se continuar me irritando. – Lia mirou seus lábios, queria muito toma-los.
- Não vou pagar para ver.
Sem mais delongas Liz a puxou pela nuca e lhe beijou. Dessa vez foi diferente, seus lábios estavam gelados e com o gosto da bebida. Hum... que delícia! Lia amou aquela sensação e saboreou ainda mais o beijo. Só se separaram quando o ar faltou e continuaram com as testas coladas. Não sabia explicar, mas sentia que tinha uma conexão com ela, pareciam estar sempre em sintonia. Liz deitou-se sobre uma grande almofada e a fez deitar-se sobre seu peito enquanto bebiam.
- Então vai mesmo tocar para mim? – Lia perguntou depois de um bom tempo de conversa.
- Vou sim. – Liz aprumou-se e pegou o violão e a pasta, abrindo-a em sua frente. – Então, o que vai querer?
- Toca All I wanted. – Pediu animada e Liz sorriu surpresa.
- Você gosta mesmo dessa música!
Afirmou e começou a tocar os primeiros acordes. Sim, realmente gostava daquela música, muito mesmo, a melodia gostosa e a letra muito boa. Porém, havia um encanto especial quando via Liz cantá-la e era maravilhoso vê-la, ela olhava concentrada para sua pasta e sua voz parecia ainda mais macia do que o costume. Se sentia uma boba apaixonada. Assim que ela começou a cantar o refrão olhou bem em seus olhos o tempo todo. Sentia o coração bater forte e aquecer.
Assim que ela terminou de tocar Lia não resistiu e lhe deu um beijo de tirar o fôlego, aquela música sendo tocada por ela, mexia demais com suas emoções, era inexplicável.
- Você é apaixonante! – Declarou de supetão e percebeu que Liz ficou calada e um pouco surpresa, parecia meio tensa. Isso deixou Lia sem graça. Como era idiota!
- Você que é, linda. – Tocou a ponta do nariz com o seu, tentando quebrar o gelo. – Quer pedir outra?
- Não. Me surpreende.
Assim elas passaram a tarde toda, entre música, beijos e bebidas. Quando a noite já estava chegando, Lia se sentia leve, solta e tonta, como nunca ficara antes. As duas estavam bem altas e riam em meio a pegação que estava cada vez mais intensa e quente. Liz já tentava levantar sua blusa. Se sentia muito nervosa, mas não conseguia parar, não queria. Nunca desejou tanto alguém como a desejava, nunca.
Liz estava por cima e deitada entre as pernas de Lia. Beijou seu pescoço, sua respiração quente a fazia se arrepiar toda, já não tinha mais vontade de pará-la quando a sentiu escorregar a mão por dentro de sua blusa e subir em direção ao seu seio esquerdo. Um barulho na porta as fizeram parar. O coração de Lia deu um solavanco no susto, como se estivesse fazendo algo errado e escondido.
- Liz! – Uma voz feminina gritou ao longe. – Você está em casa?
- Merda! – Liz suspirou frustrada desabando seu peso sobre o corpo de Lia e escondendo o rosto em seu pescoço, logo em seguida desatou a rir.
Lia não entendia aquela reação tão normal dela, mas logo a acompanhou e foi se descontraindo aos poucos. Era estranho como ela tinha o poder de lhe acalmar e passar uma paz que nunca sentira antes, era tão bom estar com ela. Liz rolou para o lado lentamente, por sorte as cortinas da porta tampavam a visão do outro lado.
- ESTOU AQUI, VIVI. – Gritou de volta descontraída e voltou seu olhar para Lia. – Desculpe por isso, achei que ela não ia voltar mais aqui por hoje.
- Tudo bem. – Respondeu ainda rindo e ajeitando os cabelos e a blusa no lugar.
As portas se abriram e Vivi apareceu na varanda.
- Tá fazendo o quê aqui... – Ela começou a perguntar e sua voz falhou quando seu olhar caiu sobre Lia. – Opa! Desculpe, amiga, achei que você estava sozinha.
Os olhos negros dela repararam no tapete e nas almofadas e um sorriso surgiu em seu rosto. Ela e Liz se encaram cúmplices.
- Tudo bem, Vivi. Essa é a Lia. – Apresentou meio sem jeito. – Lia, essa é a Vivi. A gente divide o apartamento.
- Olá. – Vivi deu um aceno com a mão e lhe sorriu.
- Olá, Vivi. Muito prazer.
- Igualmente. – Ela sorriu de volta. – Bem, meu dia não saiu como planejado, mas vou deixar vocês aproveitarem. Vou para o meu quarto.
- Tudo bem. – Lia falou no impulso. Ela parecia ser uma garota bem legal. Lembrou do dia que falara com ela ao telefone e sentiu-se grata. – Por que não pega uma bebida e se junta à nós. Liz estava tocando.
As duas a olharam surpresa, e acabou se intimidando. Será que havia falado algo errado? Vivi agradeceu o convite, mas declinou e saiu para o quarto.
- Desculpe. Eu não devia ter chamado?
- Tudo bem, linda. – Liz acariciou seu rosto. – Obrigada pela atenção com minha amiga. – Você está com fome?
- Na verdade, sim. Muita.
As duas riram e foram para a sala, sentaram no sofá e Liz pediu uma pizza. Ficaram ali se agarrando enquanto esperavam a entrega. Era incrível como não conseguia resistir a ela. Não sabia mesmo explicar. Nunca se sentira à vontade tão rápido assim com alguém fora Cris. Era engraçado e estranho ao mesmo tempo. Elas jantaram animadamente junto com Vivi, que fazia questão de contar certas aventuras que ela e Liz já haviam passado juntas. Vivi era uma morena linda de olhos negros, e era hétero. Ela e Liz pareciam ser amigas a muito tempo e eram super engraçadas juntas.
Elas conversaram por um tempão até que Lia decidiu que já estava na hora de ir para casa. Assim que chegaram em frente ao prédio Lia a puxou para um beijo de despedida.
- Obrigada pela tarde. Gostei muito do show particular.
- Só do show. Esse violão é mágico. – Falou de um jeito sensual.
- Claro que não foi só isso. Você beija incrivelmente bem. – Admitiu tímida.
- Eu sei. – Falou e as duas desataram a rir.
- E modesta também.
Se beijaram mais uma vez e Lia finalmente foi para o seu apartamento. Não viu Cris na sala e nem na cozinha, mas as luzes estavam acesas. Resolveu ir para o quarto tomar um banho. Se vestiu com o pijama e deitou-se na cama. Pegou o livro da cabeceira e tentou se concentrar na leitura, mas as lembranças dela e Liz se agarrando pela tarde estava dificultando tudo, não conseguia parar de relembrar e de sentir as sensações que ela lhe causara. Nunca se sentira assim antes, nunca. Será que o motivo de nunca ter se entregado assim antes a alguém é que porque era lésbica?
Afastou esses pensamentos e retomou seu plano de apenas curtir o momento como disse que faria. Antes de dormir verificou se havia alguma mensagem de Liz em seu telefone, mas não tinha nada. Ficou tentada a mandar algo, mas não queria parecer uma grudenta.
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Uma semana... era isso que faltava para começar as aulas novamente. As férias passaram incrivelmente rápido para Lia, tanto que mal percebera e atribuía isso a presença de Liz que praticamente começou a tomar conta de sua mente nas últimas semanas. Se sentia boba, estúpida e incrivelmente feliz. Sem falar na quantidade de outras sensações mais intensas que ela lhe provocava quando estavam juntas, se pegando ou apenas jogando conversa fora.
Além disso tudo estava com uma dificuldade imensa de concentrar-se em qualquer coisa que exigisse muito de sua mente. Não conseguiu mais terminar o livro maravilhoso que começara a ler quando estava na casa dos pais ou nem prestar atenção naquela série incrível que tanto lhe prendia antes. Só conseguia ficar no celular, falando com Liz. E quando não conversavam ficava feito boba lendo as mensagens já trocadas e rindo à toa. Não conseguia entender o que ela fizera, como conseguira enfeitiça-la dessa forma, parecia que o tempo todo só conseguia pensar nela, no seu cheiro, em seus toques mais ousados...
As duas se encontraram apenas uma vez naquela semana. Em uma determinada dia, Liz foi até seu apartamento para assistir filmes com ela e Cris. A tarde foi leve e só entre meninas. Cris sempre tentava arrancar algo sobre os relacionamentos de Liz, mas ela conseguia se esquivar das indiretas de forma engraçada e sutil. Lia já estava se sentindo incomodada com a insistência da amiga. Se perguntava se ela realmente não desconfiava de alguma coisa. Sentia que até mesmo Liz já estava ficando constrangida e a chamou para fazerem mais pipoca, enquanto conversavam ouviu que o telefone dela tocou, mas dessa vez não conseguiu prestar atenção à conversa.
- Cris, será que você pode parar com esse interrogatório? Ela não está gostando.
- Sério? – Falou envergonhada. – Nossa, achei que não tinha nada demais. Odeio ser uma metida. Vou parar, prometo.
Assim que voltaram a assistir ao filme, reparou que Liz parecia mais calada do que o normal. Será que ela havia ficado chateada com as perguntas indiscretas da amiga ou algo acontecera. Ela olhava para o telefone com frequência e digitava freneticamente. Será que estava discutindo com alguma de suas ficantes. O pensamento lhe incomodou, mas tratou de deixar pra lá, afinal, ela não tinha o direito de sentir nenhuma dessas coisas.
Na metade do filme Liz anunciou que precisaria ir embora e pediu que Lia a acompanhasse.
- Tchau, Liz. – Despediu-se Cris. – Obrigada pela presença.
- Por nada, Cris. Obrigada pelo convite.
Respondeu apressada e saiu rapidamente. Lia a seguiu porta a fora. Assim que chegaram a garagem do prédio, ela segurou Liz pelo braço e a fez virar-se para lhe encarar antes de entrar em seu carro.
- Algum problema?
- Nada demais. – Liz parecia irritada. E por fim declarou: - Coisa de família.
- Ok. – Resolveu respeitar seu espaço, ela não parecia querer falar sobre isso. – A gente se vê amanhã?
Ela reparou que Liz parecia meio incomodada com a pergunta.
- Te ligo, qualquer coisa. Ok? – Falou um tanto ríspida e entrou no carro.
Lia sentiu como se tivesse levado um tapa na cara. Ela parecia fria e distante. Será que havia feito algo errado? Ficou sem saber como agir.
- Ok. A gente se vê, então. – Sua voz saiu baixa e receosa. Não conseguiu disfarçar.
Assim que estava indo em direção ao elevador ouviu a voz de Liz lhe chamando, seu coração disparou automaticamente. Ela havia saído do carro e vinha em sua direção e quando se aproximou mais a puxou para um beijo.
- Desculpe! – Sussurrou em seus lábios. – Sou uma idiota.
- O que aconteceu? – Perguntou preocupada.
- Nada. - Liz a olhou e segurou seu rosto entre as mãos, olhando em seus olhos. – Você é diferente...
- O quê? – Estava confusa com a mudança de assunto e de atitudes dela. Nunca a vira assim.
- Já disse, eu sou uma idiota. – Ela a beijou delicadamente. – Só não quero que você crie expectativas quanto a nós. Ok?
Então estavam colocando os pingos nos is. Queria mesmo saber o que aquilo seria e pelo visto ela não perdia tempo, com certeza já estava de olho em outras meninas. Uma raiva junto com decepção lhe tomou. Estava com ciúmes, tinha certeza, mas tentou ignorar isso.
- Não vou criar expectativa, Liz. Não se preocupe. Também não quero assumir nada com ninguém. – Respondeu seca.
Liz franziu o cenho e continuou lhe encarando estática.
- Não quer assumir nada como ninguém ou com uma mulher?
- Qual a diferença? – Lia perguntou irritada. Liz soltou seu rosto.
- Nenhuma. Me diz, você quer ficar comigo às escondidas, é isso?
- Ficar às escondidas e não assumir é a mesma coisa, não é? Não é isso que a gente quer? Só curtir...
- Me diz você. É só isso que você realmente quer? – Falou em tom de desafio.
Toda a raiva que Lia um dia sentiu por ela quando se conheceram voltou. Se sentia irritada, mais do que o normal.
- É sim. Só isso, Liz. É nisso que você é boa, não é?
O semblante de Liz ficou sério como nunca vira antes e seus olhos antes doces, pareciam secos e frios.
- Você não sabe nada sobre mim, Liana. – Um arrepio percorreu seu corpo quando ela falou seu nome em um tom tão sério. – Você é hétero, sei que nunca ficou com uma garota antes, não me importo em ser seu laboratório de ciências. Mas não fale do que você não sabe.
Ela se afastou rápido e entrou no carro, deixando Lia desolada e saiu cantando pneu, algumas pessoas que iam passando na hora olharam assustadas. Tratou de se recompor e voltou para o apartamento. Estava mesmo demorando aquilo acontecer. Passaram a tarde tão bem, por que ela teve que estragar tudo? Por quê? Sentia como se a estivesse pressionando e em nenhum momento exigira nada dela. Que idiota!
Se sentia em uma situação difícil. As palavras dela doeram, mesmo que no fundo soubesse que jamais a assumiria, ouvi-la falar sobre expectativas e experiência de uma forma tão egoísta e fria a abalou... sabia que não podia exigir nada dela. Não queria assumir nada, mas tinha que admitir que estava gostando cada vez mais da sua companhia interessante, se sentia balançada. Resolveu voltar para o apartamento pelas escadas, queria tempo para pensar e se recompor para que Cris não percebesse nada.
A tarde havia sido difícil para ela. Não queria mostrar a ninguém a verdadeira natureza de seu envolvimento com Liz, mas ficar a tarde toda perto dela sem poder tocá-la, abraça-la ou beijá-la, foi um teste de auto controle. Se sentia uma idiota, uma boba. Será que deveria se afastar dela? Definitivamente não era uma pessoa de encontros fortuitos, mesmo que quisesse curtir o momento sabia que não conseguiria ficar com Liz sem se apegar a ela. Já estava acontecendo e saber que ela não queria nada a machucava... se sentia perdida. O que deveria fazer?
Fim do capítulo
Espero que gostem e desculpem a demora. rsrsrs
bjs!
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Brescia
Em: 26/05/2019
Oi de novo.
O que a insegurança não faz com as pessoas, as deixa na defensiva e acabam falando algo que irão se arrepender e as deixar mal.
Baci piccola.
Resposta do autor:
É sempre bom tê-la por aqui. Pode comentar o tanto que quiser... Rsrsrs
Insegurança é o pior sentimento mesmo e Lia está cheia dele. Ela é muito imatura e explosiva, não se consegue ter uma conversa franca e calma com ela, como já deve ter percebido, a sorte é que a Liz é muito de boas... até certo ponto!
Bjinhos!!!
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