Capítulo 1
Diário Pessoal de Bordo, dia 239 – Retorno.
Passei os últimos 538 dias pensando na Ester. Eu não deveria ter deixado o planeta sem ao menos ter contado tudo que eu sinto. Eu sou uma farsa. Na corporação crio a imagem de mulher forte e decidida, destemida, a que consegue bater e superar todas as metas. Não é por acaso que estou nessa missão, a única mulher numa turma de 15 rapazes, a única que ganhou o direito de ser a capitã dessa missão. Imagina se eles soubessem que posso ser muito capaz no que diz respeito ao trabalho, mas fico gaguejando apenas de olhar para Ester e tentar falar tudo que sinto? Ela é minha melhor amiga desde sempre e além, e desde sempre e além que sou apaixonada por ela.
A terra começa a ficar visível, mas ainda faltam quase 2 meses para aterrissar. Isso é quase nada agora, eu passei todo esse tempo olhando a poeira estelar e pensando nela, no que está fazendo, se está com raiva de mim, se está me esperando. Deixa eu explicar para vocês: estou voltando de Marte, com mais dois subordinados, fizemos uma missão exploratória para procurar indícios de condições favoráveis à vida, além de montar um aparato para transmissão direta para a Terra, possibilitando um melhor estudo dos experimentos que deixamos. Eu passei os últimos 10 anos da minha vida me preparando para isso. E os últimos 20 me percebendo apaixonada pela Ester, mas sem querer perder nossa amizade, é bom saber que ela estará lá sempre. Ainda que nos relacionemos com outras pessoas, o que é torturante. Tudo começou a complicar quando eu contei da missão, eu estava super empolgada e precisava compartilhar isso com ela, mas ela não ficou feliz como eu esperava. Ela ficou com o rosto ‘’congelado’’ e logo depois saiu correndo, sem me falar nada. Só consegui contato com ela 2 meses depois, faltando poucas horas para entrar na sede da NASA e iniciar a missão. Ela finalmente atendeu minha ligação, eu já estava sem esperança alguma. Com a fala acelerada ela informou que precisava me ver, dirigi como uma louca até a casa dela, ela me aguardava no portão, parecia angustiada. A abracei ao mesmo tempo que iniciava a conversa.
- Não aguentava mais de saudade e preocupação com você, Ester. Eu preciso estar na base daqui a pouco.
- Eu não quero que você vá, e se algo der errado na missão? E se os cálculos estiverem errados? Se faltar combustível? Eu não consigo viver num mundo em que você não exista, Maria!
Ela falou tudo de uma vez, enquanto tremia no meu abraço, pude sentir meu ombro ser banhado por lágrimas.
- Calma, pequena, eu sempre volto para você. Não vai se livrar de mim tão fácil.
- Para de brincar, não percebe que estou falando sério?! Eu não sei viver sem você. Sem ver seu sorriso todos os dias. Sem ouvir sua voz, sem sentir seu cheiro. Como posso viver sem a possibilidade de te amar? De viver uma vida com você? Eu passei os últimos meses surtando com isso!
Depois disso, só senti os lábios dela esmagando os meus, exigindo espaço com sua língua, me fazendo suspirar ao mesmo tempo em que me encostava na parede. As mãos começaram um percurso indecente, enquanto sua boca dava atenção ao meu pescoço. Eu estava fora de orbita. Certeza que o espaço fica aquém disso. Ela tirou a minha roupa com a mesma rapidez que ficou nua na minha frente, só então acordei e fiz tudo que sonhei durante anos. A pele quente em contato com a minha, os seios pequenos, exigindo minha atenção, minha boca, mãos. Aos tropeços chegamos ao tapete da sala, nada romântico, mas melhor que qualquer devaneio. O que se seguiu foram momentos de completo prazer e realização. Estávamos a flor da pele, a excitação pingando, recebendo os dedos afoitos. O único som presente era dos nossos gemidos e dos dedos chocando contra o sex*, desesperados. Nada precisava ser dito. O tremor do seu corpo foi o suficiente para me fazer descer e sugar tudo o que seu corpo me dava, seu calor, seu gozo. Inevitavelmente o meu.
Respiramos fundo ao mesmo tempo em que um sorriso se fazia presente, um abraço apertado, necessário. O nosso cheiro impregnado no ar. O universo inteiro presente nessa sala.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, meu celular começou a tocar, era meu chefe, gritando qualquer coisa sobre o meu atraso. Tomei consciência de tudo que tinha deixado atrás da porta, do meu trabalho, da minha missão, os cálculos para o momento exato do alinhamento orbital e a saída do foguete. Me vesti às pressas, tentando não perder nem mais um segundo. Enquanto colocava meu coturno, sem as meias que não achei, Ester me parou.
- Então é isso? Me declaro, trans*mos e você sai correndo, como se eu fosse uma trans* desconhecida? É tudo que pode me dar, Maria? É assim que tudo termina?
- Eu....eu...Ester....Eu te....Eu preciso...Você...Me....Ester...A minha missão...
- Você o quê? Que droga, vai logo! Eu não acredito nisso.
E foi assim que fui empurrada para fora da casa dela, sem tempo algum para me explicar, para falar o que sinto, para externar tudo.
Diário Pessoal de Bordo, dia 299 – Retorno.
Amanhã aterrissamos, eu sempre pensei que quando estivesse no espaço não conseguiria pensar em mais nada além de olhar o universo a minha frente, que ficaria extremamente orgulhosa de mim por ter chegado tão longe. Não nego todo o meu orgulho, a minha emoção quando fui a primeira a pisar no planeta vermelho. Mas durantes todos esses dias, diante de todo o universo, Ester era a única coisa presente em qualquer canto que eu olhasse. Não vejo a hora de encontrá-la. De deixar claro todo o meu amor. Esse é meu último registro no espaço, percorri 100 milhões de quilômetros, só levarei mais 50km para chegar até meu universo particular.
Fim do capítulo
Quase não consigo parar e concluir a semana de desafios, mas aqui está o
O próximo será uma casadinha com esse texto. Será que a Ester esperou a Maria?
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Cristiane Schwinden
Em: 16/05/2019
Olha, esperar 10 anos acho que não, mas né, quem sabe o amor ficou intocado?
Estou na torcida.

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