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Linha Dubia por Nathy_milk

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Palavras: 9067
Acessos: 3001   |  Postado em: 11/05/2019

Notas iniciais:

Boa tarde pessoal, tudo bom?

Mais um capitulo rumo ao fim. Espero que gostem. Abraços. 

Capítulo 56

Capítulo 56 - Caroline

 

Quando a abri a porta da casa da Fernanda, a casa estava aquecida, contrastanto automaticamente com o frio congelante da rua. A primeira coisa que senti foi o cheiro da comida no forno, não consegui identificar o que era, mas o cheiro é delicioso. A segunda coisa que senti foi o pulo do Pingo nas minhas pernas. Eu ajoelhei comecei a fazer cafuné nele, até ele deitar de costas no chão, com as pernas abertas querendo mais e mais carinho. Levantei e olhei a Fer, ela estava me observando ao fundo, lá da cozinha, sorrindo com a cena e claramente enviando uma mensagem através da roupa que usava. Ela estava vestindo uma calcinha de perninha ou seja lá qual o nome disso, toda florida e um camiseta dela, de banda de rock por cima e mais nada, com o cabelo naquele coque bagunçado que ela faz com o próprio cabelo e a franja de lado.

Coloquei minha mochila em  cima da cadeira da cozinha, enquanto ela voltou ao balcão, mexendo em algo que estava preparando. Tirei meus sapatos, que foram prontamente avaliados e cheirados pelo Pingo e segui em direção a minha musa. Passei meus braços pelo tórax dela, abraçando-a e o rosto foi rapidamente para o pescoço, onde senti o cheiro dela e encostei na pele em um beijo casto e demorado. Enquanto eu fazia isso, meu pensamento foi longe, em um futuro que não sei se um dia existirá, mas a única coisa que faltou nessa cena é uma criança e eu casada com a Fer.

- Não sei o que é mais gostoso, o cheiro da comida ou o seu.

- Devo achar um elogio? - ela falou dando risada e segurando minhas mãos em cima do tórax dela.

- Sim, ou que pelo menos eu estou morrendo de fome.

- Gracinha você -  falou ainda de super bom humor e virando o corpo, ficando de frente pra mim, entre o meu corpo e o balcão. Eu claro que tarada como sou desci as mãos até os glúteos e apertei, enquanto olhava pra ela, esperando alguma reação, mas a pergunta dela, de alguma maneira me assustou - Estar casada é assim?

- Oi?! - realmente me assustei com a pergunta e acabei soltando ela.

- Nada não, desculpa. Não quer ir tomar um banho para comermos? - ela tentou disfarçar um pouco a situação estranha - Temos que conversar algumas coisas.

- Posso ir. Você já tomou banho?

- Sim, já. - Ela virou de volta para ao balcão e eu não queria nenhum clima estranho então abracei ela mais uma vez, com a mão boba fazendo carinho nela.

- Não quer me acompanhar? Banho rápido.

- Melhor não, comida queimada não é uma boa opção. Vai rapidinho. - Sai andando pela casa, procurando as minhas malas, primeiro fui no quarto que meio que é meu, mas não estavam lá, depois fui ao quarto da Fernanda, estavam lá as duas malas, arrumadinhas em um canto do quarto. Eu achei super fofo esse cuidado dela. Abri a mala com minha organização absurda, peguei a toalha do banho e uma muda de roupa, passei de novo pela cozinha, mas ela estava lá fora, mexendo em algo no forno. Tomei um banho rápido, mas relaxante, meu corpo precisava disso, de alguns minutos só nós e a água.

Quando sai do banheiro a comida já estava em cima da mesa, com um cheiro delicioso, eu não tinha nem ideia de que a Fernanda cozinha essas coisas. Coloquei a toalha na parte do fundo.

- Pega alguma coisa aqui na geladeira pra beber Fer?

- Ah, tem vinho aí. Se quiser pode pegar. -  eu peguei uma garrafa elevei para a cozinha, sendo a todo o tempo protegida e seguida pelo cahorro, coloquei a garrafa na mesa. A Fer estava sentada, com uma carinha triste, passei por trás dela e dei um beijo no pescoço.

- O que foi amor? Está com uma carinha estranha.

- Nada, vamos comer antes de conversar. Pelo que te conheço não comeu nada no decorrer do dia não é?

- Acabei só tomando cafe da manha, eu quase não tenho fome. E hoje eu estou absurdamente mais cansada que com fome, a viagem e o fuso horário bagunçaram bem comigo. Apesar que nesse momento especificamente eu estou verde de fome. Vamos ver o que seus dotes culinários prepararam -  fui olhando as vasilhas e falando com ela, na verdade falando sozinha - Humm, carne assada, batatas e um salada. Tá tudo bem bonito. Eu nem sabia que você cozinhava assim.

- É que eu acabo não cozinhando muito no dia a dia.

- Fer, está tudo muito bonito e cheiroso, mas não consigo comer com você assim, com essa carinha triste. Vem cá - segurei a mão dela e levei ela até o sofá - Senta aqui, o que aconteceu?

- Nada - ela falou sem olhar pra mim, com a voz baixinha.

- Eu acho que sei o que foi, e isso foi culpa minha. Vem cá, olha pra mim. - segurei as mãos dela e tentei acertar minha cabeça para igualar o olhar - Acho melhor você olhar pra mim que minhas costas não seguram essa posição muito tempo. Fer, desculpa pela minha reação, eu me assustei quando você perguntou se essa é a sensação de casamento. Aconteceu tanta coisa nesse pequeno espaço de tempo que ainda não conseguimos conversar sobre nós.

- A culpa não é sua, eu que acabei falando demais, eu quis só dizer que eu gostei da sensação. Ah, sei lá, eu nunca vivi isso, achei gostoso a ideia de alguém chegando em casa, o cachorro pulando em você, eu ali cozinhando, esquece, que bobagem.

- Fer, tem noção do quanto é bonito o que você falou? Eu também gostei disso, de chegar, você de calcinha, o pingo pulando, o cheiro de comida. Isso foi muito fofo. Eu só não quero que você se encante muito por isso, esse é o seu espaço, eu vou alugar uma casa pra mim essa semana.

- Não entendo isso, porque tem que morar em outro lugar? Estamos tão bem, tão adaptadas.

- Essa é a sua casa, seu espaço. Eu não posso invadir isso que é seu. Você recebe seus amigo aqui, tem sua rotina, eu não posso me enfiar nisso.

- Eu quero você nessa rotina e eu nem recebo ninguém, não tenho amigos.

- Claro que tem. Tem a moça que olha o Pingo, dos cachorros, têm seus colegas de hospital, tem a Melena. Eu não posso tirar esse espaço e eu não estou pronta para morar com alguém. Pra mim morar junto é algo tão sério, não pode ser algo leviano. Não sei se como namoradas já estamos prontas pra isso.

- Você quer o que... um convite formal?

- É algo que temos que pensar com mais calma, eu não quero ficar nas suas costas, gosto de dividir as contas, sou a doida da organização, ronco a noite. São coisinhas que daqui 2 ou tres semanas você vai estar odiando em mim, se o que temos não for forte o suficiente vai acabar. Por isso acho que precisamos de um tempo de adaptação, eu em uma casa e voce aqui, podemos passar a maior parte do tempo juntas, mas se brigamos teremos cada um seu espaço.

- Não vou te forçar a ficar, mas se quiser pode ficar, o quanto quiser. Pode até ficar com aquele quarto lá do canto como sendo seu espaço, que eu não posso entrar ou mexer. Eu me sinto mais segura com você aqui, me faz bem.

- Eu tenho medo do que isso vai significar com o tempo linda, não sei se estamos prontas para esse passo ainda.

- Você já viveu  isso, tem seus muitos medos, eu entendo, tudo bem. Mas eu não vivi isso, quando você entrou pela porta, com o cachorro pulando em você, a energia que eu tive de sair do ambulatório e vir cozinhar, não sei explicar, são coisas que eu nunca senti e eu gostei de ter isso hoje, gostei de como fiquei animada, com vontade. Você tem seus medos, mas eu tenho minhas expectativas. Você acabou de sair de um casamento de anos, eu sempre soube disso e sempre respeitei, não vai ser agora que vou te forçar a nada, se quiser ficar, tem o quarto como seu espaço, podemos até decorar com suas coisas. Se não quiser ficar, também tem meu respeito.

- Você é linda sabia?! A maneira como me respeita e me quer por perto.

- Eu não sei o que você viveu Carol, e sinceramente, nem quero saber, mas quero viver algo com você. Quando você estiver pronta eu vou estar aqui. Agora, por favor, vamos comer, que vai ficar frio e eu muito brava.

- Nossa, adoro te ver bravinha. Vem cá - puxei ela no sofá mesmo, ela acabou caindo em cima de mim, aproveitei para dar um ou dois beijinhos nela, antes que falasse de novo da comida fria.

- Me solta, vem logo, vai esfriar. Até o cachorro já está comendo. - Levantei rápido do sofá e fui em direção a cozinha, seguindo ela, apertando a barriga por trás, fazendo cócegas, brincando com ela.  - Senta aí, vou colocar comida pra você.

- Fer, você já fez a comida, deixa que eu pelo menos me sirvo. - Enquanto ela se servia, aproveitei para servir vinho pra ela, fazendo a nota mental de comprar umas taças legais de vinho. Assim que coloquei minha primeira garfada na boca, o cachorro que já começou a me pedir comida. Tirando isso o jantar foi tranquilo, praticamente em silêncio, apenas com trocas de olhares leves entre a gente, sem nenhuma pressão, apenas olhares e risadas, ficamos o tempo todo com as pernas encostadas, fazendo carinho, por debaixo da mesa.

- A Marcela falou com você de algumas pacientes cirúrgicas?

- Falou sim, amanha vou ligar no hospital que está solicitando  e ver o que dá pra fazer. A inauguração vai ser quinta feira mesmo?

- Por enquanto sim, amanhã os funcionários novos já vão para o hospital, se familiarizar com as coisas, quarta já terá paciente. Eu só não tenho ideia do que falar no discurso, odeio falar em público.

- Jura? Você fala tão bem.

- Não, falo só o necessário, se puder não falar é melhor. Não tenho aquelas crises de nervosismo nem nada, mas detesto falar pras pessoas. A Marcela que sempre me enfia nessas palestras malucas delas.

- Ela tá mais calma com você? Ontem a noite se você aparecesse ela ia arrancar seu sangue.

- Ela tem razão, eu pisei muito na bola. Eu esqueci de algo muito importante, o que ela falou é verdade, e se ela não estivesse lá, se você não tivesse ajudado. Preciso ser bem mais responsável nas coisas que faço.

- Errou, mas já foi. Não precisa se martirizar por isso. Ela supera.

- É que eu venho cometendo erro após erro, uma hora a Marcela vai cansar e vai largar esse projeto.

- Agora é prestar atenção e não pisar mais na bola. Determina quais são suas prioridades e foca mais nelas, coloca metas. Não sei como você funciona quanto a isso.

- Eu nunca precisei me programar muito, sempre andei como dava, como acontecia.  É estranho agora eu ter datas, ter pessoas me esperando, ter você.

- Eu não sou um compromisso seu, uma obrigação, mas o hospital é. Você criou esse negócio pra ajudar as pessoas, gastar um dinheiro que não é legal com coisas boas. Mas toda ação exige responsabilidades.

- Eu sei, mas não sei lidar com isso. Eu preciso aprender a ser assim, organizada, pontual.

- Se quiser, a escola masoquista de Caroline Braga pode te ajudar a ser organizada, pontual e responsável. Se ensinei o Lucas a fazer isso, dá pra salvar qualquer um.

- Seu irmão não é bagunceiro.

- Agora não, ele era o capeta quando criança. Pensa eu, fazendo ensino médio, criando ele, cuidando de tudo, tive que ensinar o moleque a ser gente. Tem coisa que ele é mais organizado que eu.

- Isso eu duvido muito.

- Fer, você tem o amor pelo que faz, isso é o primeiro passo. Agora, outras coisas vamos acertando com o tempo. Por exemplo, no começo, você faltava quando queria, sem se importar. Agora, mesmo cansada você vai trabalhar, sem pensar em faltar. Isso já é uma mudança.

- Como você faz isso? Ve o lado bom em todo mundo?

- Não sei amor, eu trabalho com paciente terminal, em estágios avançados de câncer e com bebes que nasceram a minutos, tenho que pensar nas coisas boas. Se eu pensar em tudo de ruim que pode acontecer, não vou viver em paz, nunca.

- Eu não sou uma pessoa boa.

- Por que está falando isso Fer? Eu vejo tanta coisa boa em você, tantos pontos positivos. Todos temos defeito, isso não nos faz pessoas ruins.

- Eu faltei ontem a noite, porque eu estava com a Milena. Nem sei como eu falo pra você morar aqui comigo, se ontem eu estava com ela.

- Achei que esse assunto seria só depois de comermos?

- Estou sem fome já. Não desce mais a comida. Não consigo esconder isso de você. Ah, esquece, termina de comer, você não comeu nada o dia todo.

- Esquece a comida, vamos voltar lá pro meu divã, sofá. Não vou conversar isso aqui. Vem e traz o vinho, essa conversa requer vinho. - levantei da mesa, peguei a garrafa dela e segurei a mão, levando mais uma vez até o sofá. - Pronto Fer, vem, senta aqui, mais um gole de vinho e você pode começar a falar. - ela realmente tomou um golão de vinho e começou a falar.

- Cara, Carol, desculpa. Você estava no Brasil, operando o seu rosto e eu estava aqui, a maior parte do tempo com a milena.

- Eu sei disso Fer, não gosto, mas sei. Eu sabia que isso iria acontecer e eu precisava disso.

- Que?! Precisava de que? uma namorada idiota?

- Lembra uma vez que eu te chamei pra voltar pro Brasil comigo?

- Sim.

- E o que você falou?

- Que não iria junto, que você precisava rever aquela imbecil sozinha, para tomar suas decisões.

- Então, era isso que eu precisava de você em relação a Milena.  

- Como assim? Não entendi.

- Não estou dizendo que gosto do fato de você ter ido para Coimbra com ela, nem um pouco.

- “Pera” quem te falou isso?

- Tá na caixinha do bolo, lá na geladeira.

- Que bolo?

- Ah, para. Tem uma caixa de padaria na geladeira, dentro tem um recado agradecendo de você ter ido para coimbra com ela. - A Fernanda levantou na mesma hora e foi até a geladeira, ela estava com uma expressão indecifrável, voltou com a caixa de bolo na mão e apoiou na mesa. Abriu a caixa e procurou no bolo, o tal papel.

- Eu nem abri essa merd*, recebi sexta a tarde, quase na hora de eu sair de casa. Só enfiei na geladeira e nem olhei. Cadê o papel?

- Na tampa Fernanda, preso em uma das abas. - ela abriu o papel que eu deixei da mesma maneira como encontrei ontem a tarde. Ela leu e na hora ficou vermelha, um vermelho que eu não conhecia, de raiva.

- Eu juro que não tinha visto esse bilhete. Recebi essa merd* na sexta, pouquinho antes de sair.

- Fer, respira, senta aqui de novo, vem.

- Eu estou com raiva, eu juro que não tinha visto.

- Eu  sei gostosa. Vem, senta aqui. Eu que abri a caixa ontem, quando passei aqui.

- Se veio aqui, porque estava la no alojamento?

- Eu cheguei no aeroporto e te liguei mil vezes, você não atendia. Peguei um taxi e vim até aqui, quando cheguie entrei em casa e você não estava. Eu procurei comida, achei essa caixa, quando abri vi o bilhete, exatamente como está, coloquei no lugar exato de volta. Nem comi nada, tomei um pouco do seu vinho e depois fui pro alojamento. A casa é sua, não vou ficar sem sua autorização.

- Porque não me contou desse bilhete?

- Eu iria ter essa conversa com você em casa, não no hospital com as pessoas atrapalhando ou ouvindo. Eu queria estar tranquila com você pra conversar.

- Eu não sabia desse bilhete, eu juro Ca.

- Tudo bem, não é só sobre o bilhete que eu quero falar. Calma, bebe mais um pouquinho de vinho e volta a calma que estava. Eu não estou brava, nem por causa do bilhete nem nada, mas quero conversar sobre esses seus dias.

- O que você quer  saber?

- As duas ou tres vezes que você me ligou, sempre falava da Melena. Quando eu cheguei você estava viajando com ela. O que você sentiu? O que decidiu?

- Como assim o que eu decidi?

- Fer, eu não estou brigando com você, jamais. Quando eu voltei pro Brasil, eu precisava decidir algo da minha vida, se eu queria ser feliz como você ou outra pessoa ou ficar pra sempre ali naquela vidinha amarga e presa em alguém que não me amava. Quando eu soube que você tinha ido para o Brasil me ver, ali eu decidi que tinha chance de eu ser feliz, o segundo momento foi quando vi a Cristiane dormindo, bêbada e eu senti apenas pena, minha vontade ali era voltar correndo para o hotel e ficar com você. A minha decisão foi você e não ela, por isso no dia seguinte eu pedi o divórcio. Você estava a anos sem ver a Milena, depois de um fim de relacionamento traumático, sem ponto final. Eu queria você em Portugal sozinha com ela para ter um tempo de decidir isso, se queria algo novo com ela ou se tudo tinha realmente terminado. Eu quero você comigo, mesmo mesmo, mas apenas se estiver certa que acabou com a Milena.

O silêncio pairou na sala, quase que gritando, ela pegou a taça dela, encheu de vinho. Pegou a minha para colocar mais, mas eu agradeci e não aceitei mais uma dose. Depois de mais alguns segundos de silêncio, a Fernanda finalmente começou a falar.

- Eu não sei bem o que você quer ouvir, então eu vou falar o que aconteceu e você decide. Quando estávamos naquela festa, meses atrás, lá na fazenda Ganate e a Milena apareceu, eu me assustei. Eu passei anos tentando esquecer ela e seguir em frente, quando eu finalmente estava me sentindo bem e tinha te conhecido, ela voltou. Eu não sabia bem o que fazer, ela me levou lá pra casa dela e veio conversar comigo, sobre o tempo que ficou longe, o quanto sentiu saudades de mim e tudo mais. Quando eu perguntei porque ela tinha sumido, a resposta foi porque precisava crescer e ir para a Inglaterra. Naquele dia eu bebi igual uma porca, você deve lembrar, não porque ela tinha voltado ou porque me queria de volta, mas porque eu deveria ter ficado lá embaixo com você, cuidando da pessoa que me dava chance de amar de novo. Eu bebi um montão, depois que a conversa com ela acabou, com as bebidas que tinham na casa. Enfim, isso é passado. A Milena é uma pessoa que sabe muito de mim, não tudo, mas muito, dos meus medos, de como cresci, de quem amei, ela está comigo a muitos anos. Mas quando eu namorei ela, eu perdi a minha amiga. Esses dias que eu estive aqui em Portugal, sem você, de alguma forma, a todo momento eu estava presa a ela, ou para pedir ajuda, ou no avião que pegamos juntas. A Milena quer a namorada de volta, e eu quero a amiga de volta, ou seja, não dá, são objetivos diferentes.  Quando ela me chamou para ir para Coimbra, eu pensei que seria uma boa maneira, dois ou três dias juntos, para mostrar pra ela que você é quem eu amo. Fala alguma coisa Caroline.

- Estou ouvindo, não tenho nada pra falar. Continua

- Em Coimbra ela me mostrou um lado dela que me incomodou do começo ao fim. Mas isso não importa muito, o que me importa é que a cada paisagem que eu via, cada comida, cada cartão postal, cada moleque na rua, me fazia pensar em você. Pensar em você no vale do Douro comigo, em você lá no Brasil, em você na cama, em você sorrindo, em como iria me dar bronca. Eu estava viajando com a Milena, mas a única pessoa que eu pensava era você Carol. Aí quando eu cheguei e soube que você estava aqui foi como se em uma seca surgisse uma represa, eu só queria ir lá no alojamento te ver. Assim que eu cheguei e te vi, deitadinha, dormindo, eu quase chorei, uma mistura de saudades com gratidão por você estar lá, com raiva por tudo que fiz. Eu só queria seu colo e te dar colo, te beijar e ter você perto de mim. Eu sei o que eu vivi com ela e sei o significado que ela teve, mas eu não quero a Milena, quero a minha princesa, brigando comigo pela blusa sem dobrar, saindo pra correr no meio do gelo, engordando o cachorro, chegando tarde, com cara de cansada, mas vindo apertar minha bunda e me encher de beijos. Eu te assustei hoje, desculpa, mas é isso que eu quero, essa sensação de casamento, de estar junto.

A Fernanda estava com os olhos vermelhos, quase que chorando quando parou de falar. Ela estava ofegante, como se estivesse doendo falar cada uma daquelas palavras. Eu não sei exatamente o que fazer, mas minha primeira reação foi puxar ela pro meu colo. Eu deitei no sofá e ela deitou em cima de mim, em silêncio ainda, como fazíamos alguns meses atras quando nos conhecemos. Ela apenas ficou lá, sem movimentos, enquanto uma das mãos fazia cafuné no cabelo dela e a outra abraçava ela, nas costas protegendo-a. Minutos depois, ainda deitada em mim, levantou a cabeça, olhando e voltou a falar.

- Carol, acho que preciso falar mais uma coisa.

- Amor, pode falar o que precisar. Não estou brava com você, só não sei exatamente o que fazer.

- Pode continuar com esse cafuné que eu gosto.

- ah, manhosa que só, fala.

- Em nenhum momento eu fiquei  com ela, nada, nem beijo, nem sex*, nem nada. Só conversamos, teve um dia que eu cozinhei pra ela, um outro que comemos fora. Mas eu juro que eu não fiquei.

- E você teve vontade?

- Não, não vou mentir, ela deu em cima mesmo, mas eu não quero isso, sinto falta da minha amiga, só isso.

- Fer, talvez você tenho que em algum momento decidir se vai querer ela com você, mesmo dando em cima ou se prefere paz, sem ela. Não estou te colocando patamar nem te dando ultimato, nem nada. Só te avisando que terá que decidir algo em algum momento.

- E nós duas?

- Por enquanto continuamos como estamos, eu aqui te dando cafuné, você cuidando do meu rosto, me alimentando, nós duas cuidando do cachorro, como sempre fizemos. Respeitando uma a outra. Mas Fer, só mais uma outra coisa, eu respeito a Milena como sua amiga, tudo bem, mas não gosto de você com ela. E se eu precisar cortar o barato dela vou cortar, não tenho paciência com quase ninguém, com a Milena menos ainda.

- Eu sei Carol, você é super calma, mas sabe se posicionar se precisar.

- Sei mesmo e não dou  o que eu tenho tão fácil assim. Acho que você já entendeu isso. Agora mocinha, eu preciso tomar meu remédio pra não inchar mais o rosto e ir dormir, o dia é longo amanhã. Adoraria dormir lá no seu quarto, abraçadinha com você, posso?

- E desde quando você pensa que vai dormir em outro lugar? Eu passei quase duas semanas sem dormir com você, claro que vai dormir lá no meu quarto, comigo. Se quiser, vai indo, só preciso guardar a comida.  - levantamos do sofá, a Fernanda primeiro e eu logo em seguida. - E Caroline…!

- Oi?! -  Ela ainda bem próxima a mim, encostou nosso corpo e depois nossos lábios em um beijo calmo, sem pressa, apenas sentindo o espaço e nossa conexão. Quando me soltou, apenas complementou:

- Isso se eu deixar você dormir. - e saiu andando, na ponta dos pés, rebol*ndo, para a cozinha. Eu não aguentei e dei risada, viver com a Fernanda é algo que nunca vai me deixar na rotina, essa menina consegue ir da brava séria a palhaça sedutora em um piscar de olhos.

Entrei no quarto acompanhada pelo Pingo, que logo subiu na cama. Eu me acomodei, acertei a cabeça no travesseiro e peguei o celular. Sei que aqui não tem sinal, mas dá pra ficar mexendo em alguma coisa. Quando bati o olho no ícone da rede pela primeira vez em Urros, eu vi completo, uma super rede de celular. Até me assustei, desde quando celular funciona aqui? Enfim, aproveitei que tinha sinal e mandei mensagem pro Lucas. Pouco tempo depois a Fer entrou no quarto, pronta para dormir e segurando um saquinho de gelo para eu colocar no rosto, que apesar de ainda inchado estava finalmente melhorando. Ela deitou na cama e com todo o carinho do universo, que eu achei super fofo, colocou o gelo no meu rosto e depois ficou de lado fazendo carinho no meu cabelo.

- Fer, você viu que tem sinal de celular agora?

- Verdade, eu esqueci de te avisar. Agora temos sinal, daqui umas 2 semanas vai dar pra colocar wifi aqui em casa. Maneiro né?! O hospital vai começar a funcionar com internet.

- Foi você que pediu para colocar? Não lembro de você comentando.

- Não, eu estava sem dinheiro pra isso. No mínimo daqui uma ou duas safras para ter o dinheiro. Percebeu também que temos luz agora?

- Verdade, teve ontem e hoje. Tem instalação de luz também?

- Sim, quando deu aquele problema do embargo e tudo, a Mi acabou me ajudando a barganhar com o líder do condado, falamos que se ele não liberasse o hospital e instalasse a rede de luz iriamos tirar as produções de azeite daqui. O cara cedeu - o que me irrita é que a cada 2 frases, a terceira inclui a Milena

- Hum. Ele pagou a rede de internet também?

- Não, esse foi presente das fazendas Almanço. A Mi pagou a instalação em apoio ao hospital.

- Claro que foi em apoio ao hospital - tirei o saquinho de gelo da mão dela e levantei, sentando na cama, movimento seguido pela Fernanda.

- O que foi? Você ficou brava Carol?

- Não é brava, mas é que foda eu conseguir competir com algo assim. Quanto custa uma coisa dessa… uns 200 mil euros?

- A última vez que eu cotei estava por volta de um milhão e meio, gasta muito para trazer de Maçores, lugar mais próximo com internet.

- Cacete, um milhão e meio. Sabe quanto tempo eu levo pra juntar isso? Nem se eu trabalhar uns dois ou tres anos direto, sem gastar com uma agulha, dá esse dinheiro.

- Ela não me deu de presente, é presente pro hospital.

- Claro que é pro hospital. E o hospital é de quem?

- É um projeto social.

- Fernanda, para de ser idiota, o hospital é seu, sendo social ou não. É um presente pra você, não pro hospital.

- Aff, não viaja Ca.

- Para de me chamar de Ca, já fez isso umas 3 ou 4 vezes hoje, Caroline ou Carol, por favor. Acha que a Milena faz o tipo de pessoa que ajuda hospital de pobre, de quem precisa de atendimento social? Ela não faz isso não, sem contar dela dando em cima de você todos esses dias, pegando avião junto, viajando para Coimbra. Se você quer alguém com esse dinheiro, me desculpe, eu não herdei nenhuma fazenda.

- Isso foi bem grosseiro Caroline. Se eu estivesse procurando alguém com dinheiro eu não estaria aqui, morando em uma casa de pedra em uma Vila sem nada, em lugar nenhum. E quando você me conheceu não sabia de nada de mim, me encantei por você, não pela sua conta - parou de falar, eu não abri a boca, estou espumando de raiva na verdade - E outra, essa merd* de dinheiro não é meu, não quero isso, dou pro projeto, para pessoas que precisam. Se eu quisesse presentes caros, eu usava do meu dinheiro mesmo. Odeio esse tipo de comentário.

- Fer pensa o meu lado. Eu vejo alguem te dando um presente desse nível e dando em cima de você, eu não posso fazer isso. Não fiquei nem com o dinheiro da venda do meu carro, vivo com o que o seu projeto me paga.

- De novo, Tá e daí? Quando te beijei lá naquele hospital de Bragança eu perguntei da sua conta? Se eu quisesse saber isso teria perguntado. E o que aconteceu com o dinheiro do seu carro?

- Foi pra Christiane como pagamento pela parte da clínica que ela tem. Consegui a clínica casada com ela, ela tem metade de tudo que é meu. Quando me separei ela ganhou metade do que eu tinha. Depois junto para comprar outro. - ela não respondeu nada, apenas ficou com cara feia, olhando pra porta.- Você quer que eu va dormir em outro lugar?

- Claro que não, para de bobeira. Só fiquei muito irritada. Eu não quero a Milena, se eu quisesse não estaria aqui nessa cama com você, então não surta com as coisas, por favor. Preciso de paz e calma agora, com essa merd* de inauguração eu estou ficando louca, você em pico de ciúmes não vai ajudar. E entendi é Carol e não Ca.

- Detesto Ca. Meu pai me chamava assim as vezes, quando não era socialmente aceito me chamar de Marmota.

- Você sente falta dele?

- Agora não mais, aprendi a viver sem ele. Quando eu mais precisei ele sumiu do mapa.

- Carol, eu preciso te contar uma coisa, já que estamos tendo essa lavação de roupa.

- Fala. Melhor me falar já tudo de uma vez, gasto sabão uma vez só.

- Eu fiz uma coisa errada, tentando ser boa pessoa, mas bem errada.

- O que você fez?

- Eu chamei seu pai pra trabalhar aqui com a gente.

- Você o que? - Eu praticamente gritei isso.

- Calma, não é tão ruim, eu juro. A Marcela vetou a vinda dele.

- Pra que você fez isso Fernanda, não tem o que fazer?

- Era pra ser um presente pra você, fui atrás dele, achei a aldeia que ele estava morando, contei do projeto e convidei ele pra vir. Quando ele soube que você estava envolvida aceitou na hora. A Marcela me contou hoje cedo que vetou a vinda dele, e me deu uma bronca, falou que eu não sabia das coisas, que não posso me intrometer e tudo mais.

- Um presente pra mim? Só se for de grego.

- Você sempre falou tão bem dele, eu achei que realmente seria um presente.

- Jamais. Quando a minha mãe estava doente, terminal, ele sumiu de casa, não segurou a barra, eu que segurei todo o tempo. Depois que ela faleceu, ele sumiu do mapa, deixou uma garota de 15 anos e uma criança de 8, sem ideia de mundo nem nada. Mandava todo mês uma quantia de dinheiro, nos primeiros meses ligava uma vez por semana, nos meses seguintes foi ficando cada vez mais sem ligar e por fim sumiu. Sumiu a uns 8 ou 9 anos, se você não tivesse me falado eu nem sabia que estava vivo. Não quero ver ele nem de ouro. Depois de todo esse tempo eu entendo que ele precisou ir embora, mas eu não aceito o que ele fez, pra mim ele não existiu.

- Desculpa amor. Eu juro que eu queria te fazer uma surpresa, mesmo. Quando a Marcela vetou ele e me deu um toque, aí que parei pra pensar.

- Você não tem culpa, não tem porque se desculpar, não sabia disso. Mas Fer, nem sempre ações boas geram bons resultados.

- Eu só falho com você, uma atrás da outra. Desculpa.

- Esqueci isso ped, eu preciso dormir. Essa cara inchada, a viagem, o dia pesado, tudo junto eu só preciso dormir. Amanhã a gente termina essa DR, pode ser?

- Já acabamos amor, não tem mais o que discutir.

- Ótimo, vou deitar então. Melhor você dormir também, amanhã o dia será pesado - Eu queria mesmo era dormir para que a raiva que eu estou fosse embora, raiva da Milena no pé, raiva disso que a Fernanda aprontou, onde já se viu, trazer o Dr. Braga pro meu dia a dia de novo e o que mais me irrita acima de tudo é essa inocência dela, “ah é um presente para o projeto, ah ela não faz isso por mim”, até parece que a Milena não quer agradar ela a todo custo, só me assusta a chance disso uma hora dar certo.

 

Os dois dias seguintes passaram mais rápido que um furacão. A Fernanda estava tão ansiosa e nervosa com a inauguração oficial do hospital que eu acabei vendo ela apenas a noite, em casa. Ela tentou montar pelo menos uns oito discursos, acreditem, eu nunca vi ela tão agitada assim. Na quinta feira, dia oficial da inauguração, ela praticamente não dormiu, quando eu acordei ela estava na sala, tentando montar mais um discurso.

- Bom dia amor, já levantou? Eu nem percebi quando acordou. - sentei ao lado dela no sofá, dei um beijinho nela e depois fiquei esperando a resposta.

- Ah, não consegui dormir quase nada, estou super nervosa. Não sei o que devo falar lá, eu deveria cancelar essa porcaria toda.

- Para com isso amor, nada de cancelar. Montou esse projeto todo, lindo pra caramba e não vai fazer nem uma festa? Tem que comemorar.

- Tem que comemorar mesmo, mas não precisa de discurso.

- Fer, fala sobre como começou esse sonho,  os obstáculos, como você perseverou, quem te ajudou. É simples, deixa os sentimentos virem à tona.

- Você fala tão bem Carol, poderia fazer o discurso né?!

- Eu não cara pálida, só sou funcionária, a zona toda é sua - a cara de ódio debochado dela foi maravilhosa, eu quase gargalhei na frente dela.

- Ah, diretor clínico deveria discursar sim.

- hahahah, minha função é operar e gerenciar cirurgias, não tenho nada a ver com isso aí não. Mas Fer, eu vou estar lá, olhando pra você o tempo todo. Quando você ficar nervosa, é só falar olhando pra mim.

- Fácil falar, você não vai estar lá em cima. - cheguei pertinho dela, com calma, olhando fundo nos olhos dela e completei:

- Se fizer um discurso bem feito, sem esse medo todo, eu te garanto que eu vou te dar uma boa bonificação depois. - passei a mão no rosto dela, bem sensual. Adoro esse tipo de técnica de estimulação e de ajuda, sex* é um ótimo incentivo.

- Não posso ganhar nenhum incentivo prévio?

- Negativo, sex* agora vai te desconcentrar. E eu só trabalho com fatos, um bom discurso e vai poder fazer o que quiser comigo.

- Mesmo com você me deixando cheia de vontade, não sei se o discurso vai sair direito.

- Chega de drama Fernanda. Vai, levanta daí, toma um banho e se arruma. Com discurso ou não você tem que estar no hospital às 9h - levantei do sofá e segurei a mão dela, puxando. Ela com todo o drama que sabe fazer travou o corpo quase não levantando. Assim que levantou mesmo, dei um abraço gostoso nela, isso me acalma e acho que ela também, porque foi difícil soltar essa menina de mim.  

- Eu vou tomar um banho, não vem junto? Eu juro que me comporto e que vai ser rapidinho. - ela falou isso segurando a minha mão, piscando os olhinhos, quase que me levando a todo custo, mas fui forte, sei que se eu entrar, vai demorar e hoje não podemos ter atrasos.

- Negativo mocinha. Eu preciso arrumar algo para comermos e depois me arrumar. Também tenho uma inauguração para ir. - Quando percebeu que eu estava irredutível, saiu arrastando os pés, fazendo manha, uma atriz nata.

 

Eu aproveitei esse tempo e preparei algumas coisinhas para ela comer, dei comida pro Pingo e fui arrumar a minha roupa para ir na inauguração. Essa cerimônia seria algo mais simbólico mesmo, oficial, já que dentro do hospital já estava praticamente tudo funcionando, inclusive com pacientes já lá dentro. Acabei separando uma calça social cinza com risquinhos na vertical, uma camisa branca elegante, de manga. Peguei uma bota que encaixava bem e alguns adereços. Posso dizer que o hospital não é meu, mas como diretora clínica estar bem vestida é quase que uma obrigação, ainda mais com a quantidade de fotos que será tirada.

- Essa roupa vai ficar otima amor, combina bem com você -  quase me assustei com a Fernanda entrando no quarto, enrolada na toalha, me olhando separar as peças - Eu não sei bem o que vestir, será que aquela bota preta fica boa?

- Fica sim linda. Veste aquela calça que você comprou no aeroporto, que você me mostrou, vai ficar ótima. Olha essa camisa aqui, que eu trouxe, prova ela, pode ser que encaixe certinho. - Primeiro ela saiu da toalha, completamente sem nada de roupa, é claro que fez isso de propósito. Eu até tentei disfarçar meu olhar, mas na verdade sequei ela da ponta do cabelo moreno até a ponta do pé e ela bem percebeu, soltando um sorrisinho bem sarcástico. Escolheu uma lingerie confortável, mas bem bonita. Na frente do espelho colocou a calça e depois a bota, que encaixaram bem, quando colocou a camisa eu ajudei ela a fechar cada um dos botões, tirando uma casquinha dela a cada encaixe. Em seguida, ela arrumou o cabelo com o secador, fazendo a franja, que normalmente fica apenas lateralizada, ganhar volume e uma ondulação deliciosa. Eu ainda não tinha visto ela nesse ritual em nenhum momento, mas confesso que me deu um tesão enorme ver o próprio cuidado dela, a maneira como se arruma delicadamente, como se não fosse aquela pessoa bruta e ranzinza a maior parte do dia.

O caminho entre a casa de pedra e o hospital foi feito no carro da Fernanda, com o som ligado, mas com ela em absoluto silêncio. Estacionamos na frente do pequeno prédio e ela desceu do carro, firme, forte e concentrada. Quando atravessamos a rua, ela respirou fundo e olhou  pra mim, segurou minhas mãos e falou:

- Obrigada por estar aqui comigo e não ter desistido de mim. - eu não soube bem o que responder, apenas sorri pra ela, com o máximo de ternura e energia positiva. A Fernanda apenas acenou a cabeça e, segurando a minha mão, entramos no hospital. Posso dizer que pra mim isso foi uma surpresa, em todos os momentos profissionais da minha vida de casada, a Christiane fazia questão de não andar de mãos dadas, de esconder que éramos um casal, mas aqui, onde somos diretoras e a Fernanda dona desse lugar, ela não exitou por um segundo e me manteve todo o  tempo junto.

O prédio do hospital era composto de dois andares subsolo e mais quatro, onde tinha leitos de internação, centro cirúrgico, unidade intensiva e tudo o necessário para o atendimento de qualidade. No último andar estava o anfiteatro, com cadeiras em um degradê de altura e um palco lá na frente. Pegamos o elevador e assim que a porta se abriu no andar do anfiteatro a Fernanda assumiu  uma postura que eu nunca vi, firme, séria, profissional e absolutamente todo o tempo de mãos dadas comigo. Em cima do palco, mexendo no computador estava a Marcela, extremamente bem vestida também. Eu dei uma olhada rápida em volta, sem reconhecer muita gente, mas pude ver alguns funcionários novos, outros antigos da base de Trás os Montes, pude ver a Dona Antonia sentadinha na primeira fileira.

- Fer, você já pode soltar minha mão, juro que não vou sumir.

- Eu não, se eu solto sua mão, tenho que subir ali - apontou pro palco - e eu não quero.

- Para de bobagem meu amor, você sabe o que falar, treinou esses anos todos sem nem perceber. Sobe lá com a Marcela, eu vou sentar aqui com a Antonia. Pensei que poderíamos almoçar com elas depois, o que acha?

- Claro, vamos ver como as coisas acontecem e aí combinamos depois dessa zona toda.

- Até parece, você está toda orgulhosa do seu trabalho, eu sei disso. Me dá um beijo e para de enrolar - e assim ela fez, me deu um selinho, e seguiu em direção ao palco, antes passou pela Antonia, cumprimentou e continuou indo pro palco.

No caminho entre a porta e o banco que eu vou sentar fui parada por várias pessoas, algumas eu já conhecia do ambulatório ou do projeto e outras nem faço ideia. Uma delas foi um senhor, super bem vestido, que eu já conhecia de algum lugar, eu só não tenho a minima ideia de onde.

- Doutora, como estas? - o senhor veio puxar conversa, um sotaque português super pesado

- Tudo ótimo e o senhor?

- Tudo bem. Não faz ideia de quem eu sou né?!

- Desculpe, o rosto do senhor não me é estranho.

- “Fostes” em uma festa em minha fazenda, na colheita da última safra.

- Nossa, verdade. O senhor é o pai da Milena. Agora sim, lembrei do senhor. Tudo bem?

- Tudo sim menina, “ resolvestes” ficar em Urros mesmo?

- Sim, a proposta do hospital é muito boa, me sinto bem encaixada, acabei resolvendo ficar mesmo.

- A Milena havia contado sobre isso comigo, achei muito bom, precisamos de médicos por aqui. Quando ela pediu para patrocinar a rede de telefone, que o hospital precisava, não pensei duas vezes. Um projeto social desse patamar, as fazendas Almanço precisam estar envolvidas.

- Sim, o auxílio do senhor vai ser muito útil aos pacientes e equipe em geral.

- Não me agradeça menina, eu apenas soltei os euros. Quem insistiu e correu atrás foi a Milena mesmo.

- E ela está por aqui? Veio hoje?

- Não, ela precisou resolver um problema urgente em um escritório nosso que fica em Londres, não consegue chegar a tempo. Eu vim representando as fazendas. Mas sei que ela iria amar estar aqui, quase chorou quando mandei ela a Londres. Ela está tão feliz com esse projeto da Fernanda, são tão amigas.

- Sim, o senhor me dá licença? Preciso ajudar a Fernanda a arrumar a apresentação dela.

-Ah, claro doutora vai lá. Nos vemos depois.

Cara, eu não sei o que é pior nessa história, a Fernanda que acha que foi um favor ou o pai da Milena que pagou por um luxo da filha, apesar que essa ajuda dele foi muito bem vinda no hospital. As vezes eu me pergunto se não estou imaginando coisas e pintando uma maldade na Millena, mais do que ela tem, mas aí quando paro pra pensar, ela é um ser humano ruim. Lembro uma vez, antes mesmo de eu aceitar o trabalho, ela me chamou de canto e falou que iria fazer tudo que precisasse para ter a Fernanda de volta. Vou te dizer pessoal, vindo dela eu não duvido de nada mesmo.

Quando a cerimônia de inauguração começou, a salinha estava cheia, tinha fotógrafos, pessoas pomposas, a Marcela contratou um mestre de cerimônias até, confesso que eu achei super chique. A parte mais difícil de hoje vai entender esse português raiz que eles falam, ainda não estou completamente habituada com isso.

Primeiro o cerimonialista subiu no palco e pediu para nos sentarmos que a coisa toda já iria começar, depois de quase 5 minutos, que realmente começou. Depois de falar diversas coisas como agradecemos a presença de todos, pelo menos umas 3 vezes, ele começou a chamar as pessoas para compor a mesa, sempre seguido de um breve currículo. Chamou a Fernanda, a Marcela, o líder do condado de Urros, um líder comunitário do vilarejo e um outro moço, um dos patrocinadores máximos. Quando a Fernanda subiu, tadinha, ela não consegui nem olhar pro lado, ou subia ou olhava, confesso que eu e a Antônia quase demos risada.

O primeiro discurso foi da MArcela, ela falou sobre como foi difícil tecnicamente iniciar um atendimento médico em um lugar sem estrutura alguma, mas que o desejo da Fernanda em ajudar o próximo foi acima de qualquer dificuldade, fez ela perseverar mesmo nos déficits que encontraram. Falou que nessa jornada ela pode conhecer grandes pessoas e amigos, nessa hora deu uma olhadinha pra Antonia, uma olhadinha que eu até posso chutar um flerte, mas quem sou eu. Agradeceu aos patrocinadores e a todo o apoio nesse período. Foi um discurso rápido, sem muita enrolação.

Depois dela veio o prefeito de Urros, que eu desconhecia e se visse na rua jamais pensaria que era um prefeito. O cara estava com uma camisa que se ele respirasse o botão voava de tão colada na pança de chopp. No decorrer do discurso dele a Fernanda ficou olhando pra baixo, pro chão, como se não quisesse se dar ao trabalho de ouvir as baboseiras dele. Em uma parte do discurso, ele falou o seguinte:

“... Enquanto estava sendo criado, o hospital me permitiu um grande ganho pessoal e como líder dessa comunidade, a cada  patrocinador que passou em meu gabinete para conversar, consegui trazer algo a mais a nosso pequeno vilarejo. O que achei mais incrível é a vontade de conquistar algo, como as pessoas vão aos limites por isso…” e depois continuou falando e falando por mais um tempão. Mas especificamente nessa parte, quando eu ouvi eu procurei, com o olhar, a MArcela estava procurando o meu também, ela acenou a cabeça levemente pro lado e eu entendi que estávamos pensando a mesma coisa, a Milena que armou essa coisa do embargo. O foda disso é que eu não tenho como provar e a Fernanda acredita de pés juntos que a “Mi” nunca faria isso.

O último discurso foi o da minha namorada, quando o cerimonialista chamou ela estava praticamente pálida, ela tomou um gole de água e levantou em direção ao palquinho do discurso. Ela procurou algo na plateia, quando achou o meu rosto abriu um sorriso lindo. Se concentrou e começou a falar:

- Bom dia, agradeço a presença de todos aqui. A alegria que preenche meu peito hoje é de absurda intensidade. Só quem acompanhou de perto todo o trabalho até a inauguração hoje, imagina como é essa alegria. Pensem  como inicialmente foi uma insanidade imaginar colocar em Urros, um hospital que hoje já funciona, atuando como maternidade, pediatria e centro oncológico. Em um local onde nenhuma autoridade nunca se importou com o mínimo de saúde para a população, e que a carência desses recursos era absurda. A ideia desse projeto surgiu quando retornei do Brasil, após concluir meu curso médico e minha especialização em pediatria. um problema familiar fez eu retornar e quando aqui cheguei, percebi o quanto esse espaço era carente e eu, como médica, não poderia deixar de ajudar. A primeira pessoa que procurei foi a Doutora Marcela, que após quase achar que eu era louca, apoiou a ideia. Nossa primeira ação aqui foi comprar a casinha que hoje fica o ambulatório, reformar, instalar o que precisávamos e começar a atender. Com o tempo, a ideia foi crescendo e fomos arrecadando médicos voluntários e posteriormente conseguimos contratar os nossos. Em 2014, percebemos que o atendimento aqui era carente a ponto que um hospital ajudaria muito, não adiantava nós atendermos crianças e idosos aqui, se ao precisar de uma cirurgia eles morriam esperando. As obras se iniciaram no meio de 2014 e de lá pra cá esperamos a cada safra de azeite ou de venda de ovelhas para a ajuda de nossos patrocinadores para colocar essa ideia em ação. Tivemos muitos problemas nesses anos que vieram, com pessoas exigindo dinheiro a mais pelo seu próprio trabalho, outros que queriam vantagens, mas apesar de cada percalço, hoje posso finalmente inaugurar o primeiro hospital de oncologia e maternidade da Vila de Urros, sendo que já estamos em funcionamento. Tivemos apoio de algumas fazendas e empresas da região, as quais eu quero citar aqui nome por nome - ela realmente falou uns 20 nomes - a cada uma de vocês, um grandioso agradecimento e salva de palmas. Obrigada

E com essa salva de palmas para os patrocinadores ela fechou o discurso dela, retornando para a mesa do cerimonial. Ela sentou na mesa e a primeira pessoa que procurou mais uma vez foi eu, sorri pra ela e acenei, como se dissesse acabou, nem doeu, e ao mesmo tempo falando que foi muito bem. Depois do discurso dela, o cerimonialista convidou todos a descerem no térreo onde o último momento da cerimônia iria acontecer. depois de descermos os andares, todos fomos direcionados ao hall de entrada do hospital, ao fundo havia um pano da parede e claramente uma placa embaixo. O cerimonialista falou mais algumas coisas e em seguida a Fernanda, após várias fotografias, tirou a proteção e liberou a placa oficial de inauguração do hospital e maternidade Vila Urros, no pé da plaquinha tinha o símbolo do azeite Ganate, como grande filantropo e patrocinador. Eu não pude opinar, nem sabia da placa, mas pra mim tinha que ter o nome da Fernanda como pessoa e não como empresa.

Quando a inauguração acabou houve vários comprimentos e muitas pessoas falando com a Fernanda e a Marcela, eu fiquei com a Antonia, de lado esperando as duas famosinhas e formosas falarem com os fans.  A Marcela conseguiu se soltar das pessoas antes da Fernanda e veio direto para onde eu a Antonia estavamos. Ela sorriu de um jeito tão fofo e meigo para a Dona Antonia que eu não consegui deixar de sorrir junto, definitivamente rola algo entre as duas, nunca tinha pensado.

- Não faz nenhum comentário Caroline - a Marcela me falou apenas isso, rindo da minha cara de boba com a fofura das duas. Ficamos conversando um tempinho até eu conseguir chegar perto da minha namorada. Quando ela se livrou das pessoas, veio direto pra mim, eu ganhei um abraço tão gostoso que poderia ficar ali por anos, por uma vida toda. Uma das mãos da Fernanda entrou pela base do pescoço e seguiu no cabeça, fazendo um cafuné. Eu aproveitei e falei:

- Parabens gostosa, conseguiu segurar bem o discurso - claro que falei baixinho.

- Você viu? Nem foi tão ruim. Mandei muito bem.

- Vamos almoçar bonitona? estou morrendo de fome.

- Você, com fome? Estranho.

- Não atrapalhando a conversa do casal, mas Fernanda tem o almoço com os patrocinadores - falou a Marcela

- Cacete, essa merd* não vai acabar? Cara, eu que patrocino a maior parte desse hospital, porque tenho que lamber gente mala que me dá esmola. Vai ser onde? Poderia colocar todo mundo pra comer no refeitório

- Bonitona, você paga a maior parte, concordo, mas eles ajudam e precisamos deles, então vamos lamber um pouco. - Marcela completou

- Aff, vai ser onde essa porcaria?

- Aqui no hospital mesmo, naquela sala de reuniões, ao lado do anfiteatro.

- Vamos subir então, detesto essa melação.

- Fer, eu preciso ir junto? - eu perguntei, não sei a que ponto preciso participar.

- Ah meu anjo, você sobe comigo sim senhorita. Eu não vou segurar esses malas sem você, e outra, você é quem eles vão encher o saco sempre, vai precisar conhece-los.- a Fernanda respondeu rindo da minha cara com um tom de deboche, que minha vontade era dar uns petelecos nela.

 

O almoço não foi de todo ruim, estavam nós quatro, o pai da Milena, e mais uns cinco homens de terno, sérios e o líder do condado, agora já usando uma boina de frequentador de boteco. Todo o tempo a conversa foi sobre como o hospital iria trabalhar, expectativa e necessidades. A Fernanda pode detestar a situação, mas soube lidar muito bem com todos, em nenhum momento se exaltou ou mostrou a irritação que estava, manteve a classe e a maturidade que me encanta nela.

Apesar do cansaço e da vontade de que tudo acabasse rápido, a inauguração do hospital não foi ruim, ver a Fer discursando foi uma delícia, a comida do almoço estava ótima e posso dizer que o sex* pós inauguração, com ela mais calma e relaxada, foi uma maravilha. Para o dia seguinte eu já tinha marcado dois partos, a vida seguiu seu  curso normal.

Na sexta a noite a pediatra me chamou para irmos a Maçores, passar o final de semana lá. Eu até arrumei a minha mochila para irmos, mas o celular tocou, com uma gestante que caiu andando a cavalo e que precisava de atendimento. Acabamos ficando em Urros mesmo, mas deu pra ficarmos mais tempo juntinhas, assistindo filme, conversando e comendo. No finalzinho do Domingo, já passava das nove horas da noite, eu já estava deitada, lendo um livro, esperando a Fernanda quando a campainha tocou. Sabe aquela sensação de aperto no peito, de que algo está errado. Fiquei na cama, apenas esperando o desenrolar, vi a sombra da Fernanda saindo da cozinha e indo abrir a porta e  após o barulho do rangido da madeira pesada raspando no chão, uma voz indesejada, mas já bem conhecida falando:

 

- Fefa, como você está linda? Não consegui vir para a inauguração do hospital. Posso entrar? - Sim, senhoras e senhores, Melena, me enchendo a paciência novamente. O que preciso fazer para tirar essa pedra do meu scania?

Fim do capítulo


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Comentários para 56 - Capítulo 56:
rhina
rhina

Em: 03/03/2020

 

Oi

Boa tarde.

Foi tudo lindo na inauguração.

Agora .....Milena de volta.

Segue cenas dos próximos rolos......

Rhina

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Bee20
Bee20

Em: 13/05/2019

Da uma surra na vaca da milena Carol, pleeeeeeeeease autora me diz quando a fernanda vai deixar de ser tão cega em relação a Milena?

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Brescia
Brescia

Em: 12/05/2019

      Boa noite mocinha. 

 

Vc está me fazendo passar raiva,  primeiro a Fé e agora essa malvada,  mas como sei que a Carol é top, fará com que ela tb fique com raiva a colocando no seu devido lugar. 

P.. S: está tão emocionante.  Bravissima !!!

      Baci piccola. 

 

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