Às 5:00 horas da tarde, fui para a sala de Charlotte, estava um pouco nervosa. Não era de sentir medo de minha chefe, mas estava achando estranho demais a Charlotte querer falar comigo.

Antes de entrar em sua sala, dei leves batidas na porta e Charlotte autorizou minha entrada.

—A senhora disse que queria falar comigo — Falei ao entrar.

Charlotte estava olhando para alguns papéis em sua mesa, não se importando nem um pouco com minha presença ali.

—Sim — Ela disse sem desviar o olhar dos papéis que estavam sobre a mesa.

Fiquei de pé em frente sua mesa, não sabia bem o que fazer. Na realidade, estava nervosa e com medo do que ela tinha para me dizer.

—Sente-se, Margareth, o que tenho para te dizer não será tão rápido assim — Ela olhou para mim muito séria. É, acho que eu não irei receber uma boa notícia.

Não era de sentir medo de Charlotte, mas pensar na possibilidade de ser demitida me amedrontava. Fui até a cadeira mais próxima sentindo minhas pernas fraquejarem diante de Charlotte.

—O que a senhora tem para me dizer? — Perguntei, pois estava muito ansiosa.

—Deveria se acalmar... Está muito nervosa — Ela voltou a olhar para os papéis. É... Acho que ela vai ignorar a minha pergunta — O senhor Borges gostou de sua matéria — Comentou.

Senhor Borges era o dono do jornal, havia o visto poucas vezes por ali. Era quase como a Charlotte, gostava de nos intimidar, mas saber que ele havia gostado da minha matéria só podia ser um bom sinal, mas como Charlotte tinha mania de acabar com a alegria das pessoas, ela não deu tempo nem para eu ficar mais aliviada.

—Mas mesmo sendo elogiada, percebo que você anda muito desconcentrada, Margareth.

—Desconcentrada? — O que aquilo queria dizer?

Charlotte voltou a me olhar e ajeitou os seus óculos em sua face.

—Eu sei de tudo que acontece aqui, então sei bem o que estou dizendo — Dessa vez ela me olhou de uma forma tão diferente que quase fez faltar ar em meus pulmões. O que ela queria dizer com aquilo de saber de tudo?

—Não! — Disse um pouco alto e ela pareceu estar confusa com minha reação.

—Não o quê?

—Nada... É que eu não ando desconcentrada... É o que acho... Não estou — Quase atropelei as palavras.

—Margareth, se acalme, não te chamei aqui para lhe dar uma bronca.

—Ah... Sim — Passei a respirar mais aliviada e Charlotte abaixou sua cabeça, não sei se era impressão minha, mas notei que ela estava com vontade de rir. Meu coração se alegrou tanto ao pensar nessa possibilidade, mas tive que acabar logo com essa alegria, pois já estava comprometida.

Charlotte ficou um tempo em silêncio e não me olhou durante esse tempo, isso só provava minhas suspeitas, ela não queria passar outra imagem para seus funcionários que não fosse da mulher fria que só conseguia rir na presença de conhecidos.

—O senhor Borges queria lhe convidar para participar do encontro dos melhores jornalistas do país — Bom... Só não tive um treco naquele momento, pois ir a aquele evento era o meu sonho.

—Como assim ele me convidou?

—Você vai me acompanhar, Margareth. Você vai comigo — Após sua fala, Charlotte conectou os nossos olhares. Tentei ver além daqueles olhos castanhos, mas era muito difícil saber o que cada olhar dela queria dizer — Acho bom você ir para casa agora, para avisar ao seu pai e a sua nova namorada de que você amanhã de manhã irá viajar comigo — Charlotte desviou o seu olhar do meu e eu fiquei confusa, como ela sabia da minha nova namorada. Será que ela investigava sobre a minha vida?

—Como...

—Não me faça perguntas. Aqui dentro é difícil eu não saber de algo. Sempre tem um que fala demais — Ela tentou se justificar.

—Ah... Sim — Falei um tanto decepcionada. Queria que ela estivesse investigando a respeito de minha vida. Não deveria estar querendo isso, mas eu queria.

—O carro da empresa vai passar em sua casa as 8:00, espero que até lá você já esteja pronta.

—Vou estar pronta sim, senhora.

—Então até amanhã, Margareth, parabéns pelo namoro. Pode se retirar — Ela começou a anotar algumas coisas em um papel que eu não fazia ideia do que era.

—Obrigada — Agradeci não sei pelo que. Aquele namoro não havia sido uma boa ideia, não agora que eu iria passar alguns dias com Charlotte.

 Levantei da cadeira e fui até a porta da sala. Senti algo diferente quando toquei a maçaneta, tive a impressão de ser observada e ao virar o meu rosto, eu me deparei com o olhar de Charlotte, o que ela estava querendo? O que aquele olhar queria dizer?

Antes que eu pudesse perguntar algo, Charlotte voltou a abaixar a sua cabeça e eu sai.

Depois de alguns minutos, eu me sentei em minha cadeira e fiquei me sentindo perdida.

—Como foi a conversa com a Charlotte? — Arnold perguntou ao surgir de repente.

—Vou para o encontro dos jornalistas com ela — Falei não muito animada.

— Como você pode dizer uma coisa dessas desanimada desse jeito? — Arnold perguntou um pouco intrigado.

—Ela estava diferente, Arnold — Falei ao olhar para Arnold que fechou os seus olhos em seguida.

—Margareth, não me diga que você tá achando que ela gosta de você? Se for isso, você tá viajando muito hoje viu.

—É... Tô viajando muito — Disse um pouco pensativa.

—Como você vai contar para a Mel que você vai viajar com a Charlotte? — Arnold perguntou.

—Não sei... Ainda não pensei nisso.

—Deveria pensar e tentar agir certo nessa viagem. Nada de tentar se aproximar da Charlotte, pois você sabe, isso não te levará a nada.

—Você está certo, Arnold. Agora vou pra casa, preciso ir arrumar minhas malas. Vamos viajar amanhã de manhã — Me levantei da minha cadeira.

—Que estranho — Arnold pareceu confuso.

—Estranho o que?

—Por que vão tão cedo pra lá? O encontro só vai acontecer daqui 3 dias, e a Charlotte costuma ir em cima da hora.

—Não sei... Deve ter alguma coisa antes que lhe interessou — Tentei nem pensar muito nisso, pois o Arnold estava certo, tentar algo com a Charlotte não me levaria a lugar algum.

—Pode ser — Arnold parecia intrigado — Boa viagem então, minha amiga — Levantou e me abraçou.

—brigada, Arnold.

—Tenha juízo, por favor — Ele disse durante o abraço.

Às 7:00 horas da noite, eu cheguei em casa, meu pai já estava se preparando para sair.

—Filha, a janta está pronta e já estou indo — Disse enquanto colocava algumas coisas dentro de uma bolsa.

—Pai, eu tenho uma novidade. Na realidade mais de uma — Falei um pouco sem graça.

—Diga, Margareth — Ele parou o que estava fazendo.

—Amanhã, eu irei viajar. Fui convidada para participar do encontro dos melhores jornalistas do país.

—Nossa, Filha, parabéns — Meu pai veio até mim e me abraçou — Isso era tudo que você queria não é mesmo, mas por que está desanimada?

—Andei agindo errado, pai, e tomei algumas decisões sem pensar — Falei sem graça.

—O que você fez?

—Estou namorando a Mel, queria ter alguém e agora tenho. Só que não consigo me esquecer da Charlotte.

—Filha, venha até aqui — Me levou até o sofá — Eu disse para você não agir com a cabeça quente.

—Eu sei, pai, mas estava me sentindo mal.  A Charlotte havia chegado na empresa naquele dia com outra mulher... E eu percebi que ela nunca iria me notar mesmo. Aí magoada fui me encontrar com a Mel.

—Passou a noite com ela e aceitou o pedido de namoro?

—Foi quase isso. Estava gostando da ideia de ficar com ela. Estava me sentindo bem. Mas...

—Mas o que, filha?

—A Charlotte me deixou confusa. Muito confusa... Ela agiu diferente hoje.

—Será que não foi impressão sua? — Meu pai perguntou e me dei conta que já estava vendo coisas onde não tinha.

—É... Acho que foi isso — Falei e me levantei do sofá.

—Filha, faça o que o seu coração está pedindo. Se você não está completa com essa garota conte isso a ela. Seja sincera — Meu pai também se levantou.

—Acho que você está certo — Abracei o meu pai — Se cuida no trabalho tá. Não corra riscos. E nada de enfrentar ladrões.

—Eu sei me cuidar, filha. Agora se cuida, meu amor, tenha uma boa viagem amanhã. E faça o que você sabe que vai te deixar feliz. Te amo.

—Também te amo, pai, você é tudo que eu tenho — Afundei o meu rosto no ombro de meu pai.

—Digo o mesmo, filha, você é tudo que eu tenho.

Fim do capítulo