Como de costume, às 8:00 horas cheguei ao trabalho. Estava com um lindo sorriso estampado em meu rosto. Isso chamou a atenção do Arnold.

— Cabelo molhado, roupa que nunca vi você usando e sorriso de canto a canto... Hummm... Acho que alguém resolveu se permitir.

— Sim, resolvi me permitir, amigo — Me sentei na minha cadeira e logo a Priscila apareceu.

—Qual a novidade? — Esse povo era muito curioso.

—A Margareth resolveu tirar o atraso noite passada — Arnold falou e eu o fuzilei com meu olhar.

—Como assim tirar o atraso? — Priscila puxou uma cadeira e se sentou entre Arnold e eu.

—Resolvi dar uma chance para a Mel.

Neste momento, Priscila bateu palminhas.

—Não, minha amiga, você não resolveu dar uma chance para a Mel, vou resolveu se dar uma chance — Arnold comentou e tive que concordar. Eu estava me dando uma chance.

—Que bom, Margareth, a Mel está louca por você. Agora só peço a você o seguinte, não brinque com os sentimentos dela. Nós aqui sabemos o quanto você gosta da dona de gelo.

—Eu não vou brincar com os sentimentos dela, Pri, o que mais quero é que dê certo — Disse enquanto ligava meu computador.

—Bom... Vou ir trabalhar, pois não quero levar uma bronca da Charlotte — Priscila saiu.

—Margareth, você tem certeza que é isso mesmo que você quer? — Arnold indagou e estranhei aquela pergunta. Ele vivia dizendo que eu precisava voltar a me envolver com alguém.

—Tenho, Arnold, eu estou muito bem com a Mel — Disse e forcei um sorriso.

—Humm... Então fico feliz por você minha amiga.

Não demorou muito para eu começar a trabalhar. Ainda no meio do período da manhã, Charlotte reuniu todos os jornalistas da empresa para dizer que não estava muito satisfeita com o trabalho de alguns de nós e que o World não estava vendendo como o esperado.

Enquanto ela falava, eu não conseguia não reparar em cada gesto dela. A forma como ela ajeitava os óculos chamava tanto a minha atenção. Não deveria estar fazendo aquilo, agora eu estava com a Mel, não poderia mais pensar na Charlotte, mas não tinha jeito. Aquela mulher tinha algo que me intrigava.

Enquanto andava por entre os meus colegas, eu notava que ela falava olhando para cada um nos olhos. Essa era a forma que ela usava para intimidar as pessoas.

Charlotte parecia se sentir superior. Talvez ela fosse, usava as roupas das melhores marcas. Vivia impecável usando seu terninho feminino cinza. Seus cabelos negros cacheados pareciam macios e ela era muito bonita. Juntando tudo isso e a voz firme, ela conseguia amedrontar a maioria de nós.

Não vou mentir, passei a maior parte da reunião encarando a Charlotte, nossos olhares às vezes se encontrava, mas para ela, eu era quase a mesma coisa que nada. Me ignorava, não esboçava nenhuma reação quando nossos olhares se encontravam.

— Você deveria parar de encará-la um pouco — Arnold me cutucou.

—Eu sei — Desviei o meu olhar e passei a olhar para o chão.

—Margareth?

Quando ouvi Charlotte me chamando fiquei um tanto sem jeito. Será que eu iria levar uma bronca ali na frente de todo mundo?

—Sim — Eu a encarei e notei que todos olhavam para minha direção.

Charlotte ficou um tempo em silêncio. Esse silêncio exagerado dela significava muitas coisas, e o que as pessoas mais temiam, demissão.

—Preciso que você vá a minha sala no período da tarde— Ela falou calmamente e meu coração ficou nada calmo. Será que ela havia descoberto que eu alimentava um amor platônico por ela?

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela se virou de costas para nós.

—Voltem ao trabalho — Foi a ultima coisa que ouvi.
           

—O que será que ela quer com você, Margareth? — Arnold me perguntou após sentarmos em nossos lugares.

—Não sei, Arnold, pela primeira vez estou com medo — Olhei para a porta da sala de Charlotte e senti minhas mãos começarem a suar.

—Medo do que?

—Dela já estar sabendo...

—Sabendo? —Arnold ficou um tanto confuso com aquela conversar.

—Que eu era apaixonada por ela — Falei e levei as minhas mãos até minha face.

—Que era ou ainda é? Margareth, você disse que ia tentar com a Mel e você continua do mesmo jeito... Só não babou, pois ia dar bandeira demais — Arnold comentou e eu olhei para ele.

—E eu vou tentar, Arnold, mas você sabe, é difícil esquecer alguém.

—Muito difícil... Ainda mais quando a gente continua a alimentar amores pela pessoa — Arnold começou a colocar alguns materiais dentro de uma bolsa.

—Você vai fazer o que agora?

—Vou pra rua... Não sei se você conseguiu ouvir algo que a Charlotte falou, mas ela pediu para eu investigar a respeito do prefeito estar envolvido em caso de corrupção. Você sabe, ela quer sempre ser a primeira. Não quer perder um furo.

—Entendo... Você vai se sair bem nisso.

—É o que espero, Margareth, e a respeito do seu caso... Duvido ela te demitir, você é uma das melhores aqui. O seu grande problema é olhar demais para ela — Arnold se levantou.

Neste momento, o meu celular vibra e ao desativar a tela percebo que é uma mensagem da Mel.

—Já percebeu que ela não merece ser enganada, ne? — Arnold comentou — Pense em vocês duas e pare de olhar para quem não deve, Margareth. Charlotte já tá com outra e mesmo se estivesse só, ela nunca olharia para alguém como nós.

Bom... Ter um amigo como o Arnold era muito bom, pois ele não me iludia, me fazendo quebrar a cara no final, mas a sinceridade dele as vezes me magoava.

Arnold saiu e eu fiquei sentada no meu canto com a mensagem de Mel em mãos.

" Margareth, espero que você esteja tendo um bom dia. Não consigo parar de pensar em nossa noite por nenhum minuto. Estou muito feliz por você ter me dado uma oportunidade. Já estou com saudades de você. Beijos, sua Mel"

Eu sei, sou cretina. A Mel toda fofa comigo e eu ainda olhando para a Charlotte com interesse. Deveria tomar vergonha na cara e respeitar o meu namoro, mas naquele momento, o peso do arrependimento começou a tomar conta de mim. Acho que me pai estava certo, não devia ter agido com a cabeça quente.

 

 

Fim do capítulo