Retornos - Capítulo 26
As semanas seguintes passaram sem muitas mudanças e Melissa via-se dividida entre a delegacia e o hospital, ainda não tinha conseguido entrar no quarto e isso a deixava muito angustiada.
- Eu quero vê-la Jaque, tocá-la, passar a minha força para ela, mostrar que estou ali...
- Ela sabe que você está ali Mel...
- Não sei... essa indefinição acaba comigo... E se ela nunca mais voltar?
- Não pense assim....
- Preciso dela...
- Mel... Você já foi ver os bebês?
- Jaque isso outra vez?
- Como a Annie vai sentir ao saber que você rejeitou seus filhos?
- Eu só não consigo Jaque... é mais forte do que eu...
- A Márcia não deixará de falar para ela sobre isso.
- Eu sei que estou errada, mas não posso ser falsa Jaque... eu não consigo ver... algo trava.
- Mas você sabe que quando eles tiverem alta você os levará para casa... terá que cuidar deles... Mel, não pode fugir da realidade, eu sei que você está preocupada e abalada com a situação da Annie, mas seus filhos estão precisando de você.
- Eu não estou preparada para isso.
- Nunca estamos totalmente preparadas para o as surpresas da vida.... mas você é adulta e é preciso agir como tal.
- Preciso desse tempo Jaque.... preciso que a Annie volte.
Depois de tomar banho e pegar algumas coisas para levar passou pelo quarto dos bebês e parou em frente a porta. Respirou fundo e com a mão trêmula girou a maçaneta e entrou no quarto, acendeu as luzes e viu como estava tudo tão arrumado e lindo. Passou as mãos nos berços, segurou as roupinhas, os sapatinhos e todas as coisas que elas haviam comprado com tanto amor. Não podia ignorar que eles estavam tão perto dela e ao mesmo tão distante... olhar para aquele espaço mostrou o quanto ela estava rejeitando os bebês... tudo aquilo foi montado para eles com muito carinho e amor. Apesar de ser um desejo de Annie as duas planejaram tudo e vivenciaram cada etapa juntas, não dava para agir como se nada tivesse acontecido ou como se não se importasse com os bebês. Annie ficaria muito magoada com essa rejeição. Respirou fundo olhou mais uma vez para aquele quarto arrumado de forma tão aconchegante apagou as luzes e fechou a porta.
Antes de ir ao quarto em que Annie estava Melissa foi até a maternidade passou pelos corredores e foi até a sala em que ficavam os prematuros. O coração estava acelerado e as mãos tremiam. Olhou pelo vidro e os viu na incubadora, eram pequeninos e tão frágeis.... lutando a cada dia para viver. Sentiu uma dor forte no coração ao vê-los tão indefesos e precisando de proteção e amor. As lágrimas molharam o seu rosto.
- Você não pode pegá-los ainda, mas posso te levar lá para você ficar bem pertinho deles – a médica disse aproximando de Melissa.
- Posso?
- Claro que sim.
Após vestir uma roupa específica para entrar no berçário Melissa acompanhou a médica e pode ver com mais detalhes os bebês e não conseguiu segurar a emoção, as lágrimas vieram com força e diferentemente das outras vezes não foram lágrimas de tristeza, mas sim de emoção e alegria. Eles dormiam tranquilamente.
- Esses tubos não machucam? – perguntou à médica.
- Eu sei que parece incomodar, mas eles são essenciais.
- Eles ficarão muito tempo aqui?
- Até ficarem fortes – sorriu – Mas em breve estarão liberados.
- E como será?
- Vocês terão que cuidar deles Melissa... mesmo que a Annie saia do estado de coma ela precisará de muitos cuidados e atenção e não poderá cuidar dos gêmeos. Creio que eles terão alta antes e recomendo que você já comece a se preparar e organizar para cuidar deles.
- Não estou preparada para isso doutora...
- No inicio você irá precisará de enfermeiras e babás, mas logo tudo voltará ao normal. Mas falaremos disso em um outro momento... coloque suas mãos aqui dentro – mostrou o local para Melissa colocar as mãos – Faça um carinho em seus bebês.... vou deixá-la um pouco a mais com eles – sorriu – Estarei lá fora.
Melissa pode tocar pela primeira vez nos bebês e a emoção foi indescritível e teve vontade de pegá-los no colo,cuidar, proteger e ter pertinho dela.
- Desculpe a demora meus amores – falou emocionada – Tive dias difíceis.... a outra mamãe está precisando muuuito da nossa força.... mas tudo ficará bem, eu prometo – sorriu – Aguente firme aí... estou aqui para vocês.... eu amo vocês – disse aliviada – Muito... preciso ir agora... mas volto está bem?
Ficou mais alguns minutos e saiu emocionada, mas estava sentindo-se leve e confiante. Foi até o quarto em que Annie estava e encontrou Jaqueline sentada ao lado da cama.
-Jaque?! Chegou que horas?
- Não tem muito tempo – sorriu – Aí falei para a Márcia ir para casa descansar um pouco que eu ficaria aqui até você chegar.
- Já disse que eu tenho a amiga mais linda do mundo? – falou emocionada.
- Não, não disse.... nem que eu sou a amiga mais fantástica do mundo... a mais linda... e a que você mais ama – sorriu.
- Nem comece ok?! – arqueou a sobrancelha – Nem pode fazer um elogio que a pessoa se acha a última coca-cola do sertão. E eu sei quais foram seus motivos reais - sorriu
- Que bom Mel... nossa que bom - seu sorriso era largo
- Você bateu a cabeça? Está normal? Como assim “que bom”?
- Desde que aconteceu esse acidente não te vejo leve, não te vejo sorrindo, não vejo o seu humor ácido – sorriu – E hoje estou vendo a minha Mel de volta.
- Nem comece – sorriu – Pode ir Jaque... eu fico agora com a Annie.... muito obrigada.
- Eu te faço companhia....
- Não precisa Jaque..... fico com ela – sorriu – Vá descansar, ou melhor, vá ficar com Márcia
- Voltarei amanhã – sorriu – Nós não temos nada Mel, foi só uma curtição.
- Sua garota precisa de você Jaque, vá logo!
Jaqueline estava dentro do carro há aproximadamente meia hora, apesar de querer muito estar com Márcia tinha medo da sua reação, ou melhor, tinha medo da rejeição. Apesar de se mostrar autoconfiante Jaqueline era insegura no quesito relacionamento, por isso que não gostava de se envolver afetivamente.
-
Olá - falou timidamente quando a porta se abriu.
Márcia não disse nada, abriu a porta e virou as costas deixando Jaqueline em pé. Naquele momento ela era um turbilhão de emoções, sua cabeça doía e seus olhos pareciam duas labaredas de fogo. Conseguia se manter forte no hospital, mas ali em sua casa, em sua fortaleza, ela apenas se permitia sofrer.
-Desculpa - Jaqueline disse com a voz suave - eu não deveria ter vindo - estava visivelmente sem jeito
- …
- Eu só queria saber como você estava - sua voz soou preocupada.
Márcia continuava de costas com as mãos apoiadas na borda do sofá e Jaqueline estava se sentindo ridícula naquela situação, definitivamente foi uma péssima ideia ter ido ali.
-
Até mais - disse colocando as mãos no bolso da calça.
-
Espere - saiu como um sussurro - Não vá.
Márcia virou-se para Jaqueline e lágrimas molhavam o seu rosto, estava visivelmente cansada e triste. Jaqueline aproximou-se dela e a envolveu com seus braços, deslizou seus mãos pelos cabelos de Márcia e a abraçou com força.
-
Desculpa - Márcia disse entre lágrimas.
-
Xiii, não diga nada - ainda a abraçava - não precisa dizer nada.
-
N-não poderia te tratar dessa forma - aconchegou-se mais a Jaqueline.
-
Estamos todos a flor da pele.
-
Eu não posso perdê-la - chorava - Eu não posso perdê-la.
-
Não irá - afastou-se para olhar o rosto de Márcia - A Annie é forte.
-
Ela é tudo para mim...eu não tenho mais ninguém… e-eu não sei
-
Não diga nada - tocou suavemente os lábios com os dedos - Ela é teimosa e irá sair dessa já já. E - disse após alguns segundos - Você tem a mim também. Estarei aqui para o que precisar - deu um suave beijo na testa de Márcia.
-
Estou tão cansada
-
Eu sei - a abraçou - eu tenho certeza disso, mas aqui não precisa ser forte. Eu estou aqui com você.
Jaqueline verificou a temperatura da água e chamou Márcia, retirou sua roupa com calma e cuidado. Soltou seus cabelos e retirou a calcinha e o sutiã. Depois, tirou suas roupas também e abriu o chuveiro.
-
Venha - segurou uma das mãos de Márcia - Deixa cuidar de você.
Enquanto a água morna caia pelos ombros de Márcia, Jaqueline massageava seus cabelos suavemente. Enxaguou-os delicadamente e deslizou suas mãos pelos braços ensaboando-os, fez o mesmo com as costas, tronco e pernas, depois, abriu novamente o registro e deixou que a água lavasse e levasse tudo o que estava pesando. Márcia a abraçou e beijou seus lábios com suavidade e agradecimento.
Sairam do box e Jaqueline secou os cabelos de Márcia e fez o mesmo com o seu corpo, a ajudou a vestir a roupa de dormir e deitou-se com ela.
-
Obrigada - saiu como um sussurro.
-
Apenas descanse - a abraçou por trás - Feche os olhos e descanse.
-
Passe a noite comigo… quero acordar ao seu lado.
-
Não irei a lugar algum - beijou os cabelos de Márcia - Estarei aqui quando abrir os olhos - sorriu.
Melissa aproximou-se de Annie e beijou a testa dela suavemente, deslizou as mãos pelo rosto e sentou-se perto dela. Ficou alguns minutos em silêncio e depois segurou uma das mãos de Annie.
- Oi meu amor – beijou a mão – Estou de volta – sorriu – Demorei não foi? Me perdoe... mas passei em nossa casa e fiquei um tempo a mais... estava precisando.... Oh amor volta logo, por favor..... sinto tanto sua falta... quero conversar com você, falar do meu dia, ouvir a sua risada.... sinto tanto a sua falta Annie.... Sabe, hoje fui ver os nossos bebês – falou emocionada – Eles são lindos amor... tão pequeninos, tão frágeis e tão lindos.... parecidos com você – sorriu – Em breve eles irão para casa... para o cantinho que arrumamos com tanto amor.... você precisa acordar meu amor... estamos todos esperando por você. Eu preciso de você e nossos filhos mais ainda... ou você acha que eu irei saber cuidar deles sozinha? Orientar e fazer todas aquelas coisas que as mães fazem? Amor, sou desastre nisso – sorriu – Eles irão precisar da sua doçura, do seu carinho, da sua sensibilidade e da sua firmeza, do seu gênio forte... eu não sei lidar com essas coisas amor... serei uma general – sorriu – Eles são tão lindos amor e...eu... eu nunca imaginei que pudesse amá-los de uma forma tão grande – as lágrimas desceram em seu rosto – Confesso que tive receio de visitá-los... na verdade medo... eu não estava conseguindo aceitar... não conseguia vê-los... mas hoje estive com eles e pude perceber o quanto amo aquelas duas coisinhas lindas – sorriu – Nos ajude amor, volte para nós... volte para os seus filhos... volte para mim... eu não estou mais aguentando ficar sem você...
Melissa inclinou a cabeça, beijou a mão de Annie e quando ela ainda estava com a cabeça inclinada sentiu um toque muito suave em seu polegar afastou rapidamente e viu uma lágrima escorrer pelos olhos de Annie.
- Meu..meu amor..você... – chorava de emoção – Não..não.. não feche os olhos...eu vou...eu não.. médico... fica...
Melissa não sabia se acionava o botão, se saia do quarto para chamar alguém ou se ficava para ter certeza se a Annie tinha realmente acordado. Por via das dúvidas acionou o botão e saiu procurando o médico, não estava cabendo em si de tanta felicidade. A Annie estava de volta.... a sua Annie havia voltado para ela.
Fim do capítulo
Olá, queridas leitoras!
Grandes encontros e reencontros para a Mel!
Obrigada pela leitura e comentários ^ ^ O que fazer quando o coração fica apertado por causa do final da história? rsrsrsrsrsrs é muito bom estar com vocês novamente, sentirei saudades!
Até terça-feira.
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Renata Cassia
Em: 25/04/2019
Boa noite autora. Nossa vc consegue passar tão bem os sentimentos das personagens pra gente . Já chorei lendo muitos capítulos kkkkk. Ansiosa aqui para chorar mais kkkkk mas espero q seja de felicidades. Vou logo sim?? Bjs
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