CapÃtulo 17 Me espera
Carolina recupera por uns instantes a consciência e leva a mão ao rosto tentando tirar algo que estava em sua boca, mas é impedida por um paramédico, tenta olhar em volta e avistar um rosto conhecido e fecha os olhos novamente, vozes ecoam em sua cabeça.
"Pressão arterial caindo, respiração dificultosa, demoraram muito para acha- lá, fora a perda de sangue, a bala está alojada na perna, tem outra na virilha também, vamos colocar ela na maca... um, dois, três..."
Ela abre os olhos novamente ao sentir a dor quando seu corpo se move, escuta finalmente uma voz conhecida, lá está Rafaela, suja de sangue, Carolina não sabe de quem é o sangue, fecha os olhos novamente.
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Tu vai ficar bem princesa, tô aqui...
Carolina perde novamente a consciência e a última coisa que escuta é o ecoar das sirenes.
Dentro da ambulância os médicos lutam para mantê-la viva, a hemorragia a fez perder a consciência e enquanto os médicos verificaram sua pressão pode se ouvir o monitor cardíaco mostrar que não havia mais batimentos em seu coração.
Carolina estava imersa em sua mente, acordou em um lugar tranquilo, estava em pé em frente a sua piscina até que viu aquela conhecida mulher lendo a beira da mesma, ficou observando de longe até que a viu chamar seu nome.
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Carol, vem filha, deixa eu te mostrar uma passagem desse livro que gosto muito.
Carol sem entender como sua mãe podia estar ali sorriu para a mulher, como a muito tempo não sorria, se aproximou e sentou em uma cadeira de frente para ela, segurou a mão de sua mãe e a observava enquanto ela lia aquela frase que não lhe era desconhecida.
"[...] Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra - talvez por isso, quem sabe? [...]."
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Caio Fernando Abreu, não é mãe?
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Que bom que ainda reconhece.
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Reconheço, mas já não sei se acredito tanto em algo assim.
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Filha, tens que....
Carolina abre os olhos e sente o ar tomar conta do seu corpo, ainda sente certo peso nos olhos e os fecha novamente.
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Temos pulso novamente, estamos quase lá, aguenta Carolina. Fica comigo e não dorme.
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Carolina? Carolina?
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Apagou de novo, vamos, desçam ela com cuidado e direto pra sala de cirurgia.
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Rafaela estacionava o carro com pressa na delegacia, ao descer chutou o pneu de seu carro, estava com raiva por ter deixado Carolina, ir atrás do rapaz que fugiu, sem lhe dar o devido apoio que era necessário.
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Se ela morrer vou me culpar o resto da vida! Mas ela não pode morrer, não pode!
Falava sozinha enquanto tirava o colete, se dirigiu até a delegacia e ao entrar avistou Marina que perguntou do paradeiro de sua amiga, que ela sabia que estava com risco de vida, e num impulso ela abraça a loira sem falar nada e deixa o choro molhar sua face.
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Sedativos, o mais rápido possível, vamos entre em cirurgia, ela já perdeu muito sangue.
Carolina ouviu e finalmente apagou e última coisa que viu antes de apagar foi a luz Clara do hospital, a lâmpada forte.
Abriu os olhos novamente e estava em um lugar tão claro quanto a luz do dia, tão claro quanto aquela lâmpada que se lembrava.
Olhou ao longe e apertou os olhos para ver quem fazia sinal para que ela se aproximasse, ela seguiu em direção e ao se aproximar pode ver que era Marina que a recebia com um abraço apertado e um beijo em seus lábios. Sem entender retribuiu o carinho e ficou encarando os olhos da loira que se pôs a falar.
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Amor, vamos logo, já estamos atrasadas, vamos perder o navio.
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Navio?
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É, ué? Tá doida? Nossa lua de mel.
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E o Kiko?
Não conseguia entender o porquê daquela situação e da sua preocupação com o cachorro da loira.
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Vai ficar com a Fran, vamos logo.
Mari a puxou e elas foram em direção a uma luz forte (...)
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Está fribilando... e agora sem pulso de novo, injeção de adrenalina.
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Doutor não sei se ela aguenta outra parada
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Vamos Carolina, tu consegue.
Carolina olhava em volta, se via no espelho, reconhecia o lugar e sentiu um homem a abraçá-la por trás.
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Tá linda meu amor
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Obrigada, Eduardo.
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Vamos jantar, o pai está ansioso.
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Vai na frente, só preciso de mais alguns minutos.
Carolina se olhava no espelho, conseguia entender que aquilo era uma lembrança, nada feliz, de sua história com Eduardo.
Sentia que por ele não havia desejo envolvido, mas ao rever seus pensamentos viu que nunca havia se sentido amada a ponto de ser realmente feliz e realizada naquele relacionamento.
Olhava-se ainda no espelho e criava coragem para sair daquele quarto, conseguia sentir a angústia em seu peito só por lembrar daquele dia.
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Finalmente, conseguimos. Pode terminar de fechar os pontos. Pessoal, a cirurgia foi um sucesso.
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Eu não sei muita coisa Mari.
Falava Rafaela, tentando se acalmar, enquanto elas se encaminharam pro hospital no carro da Fran.
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Era tanto sangue, tanto sangue, que eu não sei.... Porque eu deixei ela ir sozinha?
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A culpa não é tua, não é de ninguém, acontece na profissão de vocês.
A loira tentava acalmar Rafaela, mas sentia que seu peito ia explodir tamanha a aflição. Finalmente Franciele estacionava o carro.
Todas foram até a recepção a procura de notícias.
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Ola, sou amiga da Carolina Leone e queria saber notícias do estado de saúde dela.
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Desculpe moça, mas somente familiares.
Então Marina pulou na frente e começou a falar com a mulher que estava na recepção.
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Olha só, então eu quero saber, sou namorada dela
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Tudo bem, só um minuto.
Fran e Rafaela a olharam e ela disse baixinho para ambas que depois explicava, até que a mulher chama a loira para a sala de espera junto com suas amigas.
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Ela está em cirurgia já faz mais de uma hora, em breve o médico vai vir falar com vocês.
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Tudo bem, obrigada.
A moça se retirou e agora era Rafaela quem falava.
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Já entendi fingiu ser namorada dela para conseguirmos entrar.
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Exatamente.
Disse Marina com pesar na voz, não queria que aquilo fosse mentira.
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Uma hora de cirurgia, deve ser grave... eu disse que era muito sangue.
Disse Rafaela que tentava se conter, mas as lágrimas corriam pelo seu rosto.
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Calma, ela é forte e teimosa, acho que ate a morte tem medo da arrogância dela.
Disse Fran a confortando, fez as meninas darem um sorriso contido, realmente Carol era teimosa demais para morrer assim.
Após mais de vinte minutos agonizantes entra o médico na sala procurando por Marina.
*****
Ainda de olhos fechados, Carol conseguia ouvir tudo a sua volta, mas não conseguia interagir, sentia-se presa em seu próprio corpo, tinha uma mistura de realidade e fantasia em sua mente.
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Pronto, vamos pro quarto agora.
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Essa foi por pouco.
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Realmente, ela foi forte.
Ouviu a enfermeira dizer para a outra.
Não ouvia mais nada, sentia que estava sozinha, viu uma luz em sua mente e caminhou até ela, estava em seu quarto, na sua cama, cantando algo e tentando tirar música no violão enquanto pensava em Marina.
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Sou eu doutor, pode falar. O que aconteceu?
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Agora está tudo bem, ela levou dois tiros, um na virilha e outro na perna esquerda, com a bomba ela foi jogada de encontro ao carro que ela estava em baixo, ela está no quarto e o quadro está estável, podem vê-la se quiserem, estamos esperando para ver se ela acorda.
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Se ela acorda?
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Sim, a princípio o quadro dela é de coma leve, ela pode ouvir o que falamos, só não consegue interagir conosco.
Rafaela engoliu a seco e agradeceu o doutor que se retirou e com aquelas palavras a culpa tomou conta tanto da amiga, tanto da loira que agora continha suas lágrimas.
Respiram fundo e foram vê-la em seu quarto enquanto Franciele as aguardava na sala de espera.
Fim do capítulo
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