Capítulo 36 Quase lá
Cap. 36: Cara a cara
Elisandra
Não consegui contar a Carmen o que pretendia fazer, certamente ela tentaria me persuadir ou impedir que o fizesse. No entanto, era meu dever, minha obrigação, não dela. Peguei um táxi na esquina de casa, seguindo para o local que Fabrício havia me dado o endereço.
O taxista perguntou se eu realmente queria ficar ali, era próximo a uma boca de fumo afastada do centro da cidade, após pagar a corrida, eu desci, estava nervosa, angustiada e com medo.
Um rapaz aproximou-se de mim, perguntando-me se queria pedra, com certeza acreditaram que eu estava ali para consumir drogas, quando minha resposta foi negativa, ele ficou intrigado e perguntou-me impaciente.
--Se não quer pedra nem farinha, o que a patricinha quer aqui? É da polícia?
Ele aproximava-se ameaçadoramente de mim, no entanto não tive tempo de respondê-lo, pois um furgão preto, parou naquele instante em nossa frente. A porta lateral foi aberta, e de lá desceu um homem negro, não muito grande, mas ainda assim era forte. Logo atrás dele, um segundo homem moreno, com estatura semelhante ao primeiro, vindo em minha direção.
Paralisei, sabia que eram cúmplices de Fabrício e que estavam ali para fazer a troca, o traficante que até então estava ali ao meu lado, percebendo a estranha movimentação saiu rapidamente dali.
Nesse momento, Fabrício apareceu dentro do furgão, segurando Emília pelos braços, ele sorria cinicamente. Os homens seguraram-me pelos punhos, levando-me em sua direção, Fabrício empurrou minha irmã que chorava muito, para fora do furgão.
--EMÍLIA?!
Gritei, angustiada despertei-me daquela situação catatônica que me encontrava, e instintivamente tentei socorrer Emília, que apesar do pranto, parecia estar bem fisicamente. Os homens empurraram-me fortemente para o interior do furgão, pondo-me sentada entre eles.
O furgão arrancou fazendo com que os pneus "cantassem", nesse momento desesperei-me ainda mais, pois ouvi meu nome sendo chamado, e ao olhar para trás através do parabrisa, vi Carmen correndo tentando inutilmente nos alcançar.
--CARMEN?!
Correspondi ao seu chamado, mesmo que ela talvez não pudesse me ouvir, deixei que as lágrimas rolassem pelo meu rosto. O homem negro manifestou-se.
--E a outra? Não vai pegá-la?
--Ela trouxe companhia!
Fora Fabrício quem respondeu, então percebi que um homem socorria Emília, que ainda estava caída na calçada. E um outro homem alto, corria um pouco atrás de Carmen, fiquei ali desesperada observando tudo, até que a pancada veio forte em minha cabeça e assim perdi os sentidos, desmaiando.
* * * *
Carmen
A Hilux "voou" pelas ruas de Gramado, fomos para o local combinado o mais rápido que conseguimos. Porém, chegamos alguns minutos atrasados, o que naquele momento significava tarde demais.
Paramos na rua combinada, porém alguns metros antes do local exato para a troca, pois não queríamos que Fabrício visse que eu havia trazido companhia, e assim pudéssemos capturá-lo. No entanto, o aperto no peito me fazia crer que as coisas não estavam bem, desci da camionete andando pelo meio da rua, subindo a mesma que era em declínio. Augusto e Benjamin, desceram logo depois e ao invés de separarem-se e seguirem o plano, não entendendo minha reação andaram atrás de mim, tentando compreender-me.
--O que está fazendo?
Não dei-me ao trabalho de responder Benjamin, pois conforme ia andando, avistava alguns metros de onde estávamos, uma mulher loira e um rapaz conversando muito próximos. Era Elisandra, assustei-me, pois ali era uma boca de fumo, um lugar perigoso, temi pela aproximação do rapaz. Andei um pouco mais rápido na direção deles, sendo seguida por Augusto e Benjamin, que naquela altura já haviam sacado suas armas, pois perceberam a que eu me dirigia.
No entanto, nesse momento um furgão parou em frente a ela, o rapaz que estava com ela ali, afastou-se rapidamente, quando viu os dois homens que desceram do furgão. Nesse instante eles seguraram Elisandra pelos braços, fazendo com que eu me desesperasse e me pusesse a correr em sua direção, na inútil tentativa de impedir que a levassem.
Emília fora jogada pra fora do furgão, não pude ver por quem, mas provavelmente era por Fabrício. Ao ver que Lisa fora posta no interior do veículo, gritei desesperadamente pelo seu nome, não podia crer que eu havia falhado, havia permitido que ela fosse pega por aquele miserável.
Corri atrás do furgão o mais rápido que consegui, não podia ver no seu interior mas sabia que meu amor estava ali, e eu tinha que salvá-la. Benjamin parou para socorrer Emília, enquanto Augusto seguiu-me por mais alguns metros. Percebi que ele parou de correr, pois quanto mais corríamos mais o furgão se afastava, ainda assim eu não parei. Virei a esquina e continuei correndo, mas meu corpo não conseguia mais corresponder a meu desesperado objetivo de alcançar o furgão. Parei no meio da rua, exausta, ofegante, apoiando-me nos joelhos na tentativa de recuperar o fôlego. Não aceitava tê-la perdido, gritei de raiva, desespero, dor e medo. Nesse instante uma moto em alta velocidade passou cantando pneu por mim, olhei em sua direção e percebi pelas roupas, que se tratava de Augusto, que seguiu pela rua por onde o furgão havia entrado em fuga.
Não podia fazer mais nada ali, estava exausta e a pé, sem a menor idéia de pra onde ele havia levado Elisandra. Então, recolocando os pensamentos em ordem, decidi agir racionalmente. Voltei para onde Benjamin estava, encontrando-o com Emília, que a essa altura estava mais calma.
--Emília? Você está bem? Eles te machucaram?
--Não! Mas dói aqui porque eu caí!
Ela respondeu-me, exibindo as mãos que estavam feridas devido à queda, abaixei-me ficando na altura de seus olhos, abraçando-a logo em seguida. Estava feliz por ver a garota bem, mas com o coração aos pedaços ao saber a que custo aquilo havia sido possível.
--Está tudo bem agora!
--E Lisa? Eles à ela.
--Vou salvá-la, não se preocupe! Vai ficar tudo bem.
--E Augusto?
Benjamin interrompeu o diálogo que eu estava tendo com a garota.
--Os seguiu em uma moto.
Levantei-me ficando de frente pra Benjamim, segurando a mão de Emília, e ignorando totalmente os olhares curiosos das pessoas que haviam presenciado aquela cena.
--Vamos levá-la até os pais! Augusto entrará em contato logo.
Benjamim concordou com um manear de cabeça. Entramos na Hilux e seguimos para a casa dos pais de Emília.
Ao chegar à rua da duplex, avistamos alguns carros de polícia em frente a casa. Paramos na esquina, pois provavelmente eles iriam questionar-nos, sobre como libertamos Emília.
--Emília meu bem! Nós ficamos por aqui. Agora você tem que ir pra casa, e dizer a sua mãe que a tia Carmen foi buscar a Lisa. Diga a ela que sua irmã já, já estará em casa ok?
--Sim, tem polícia ali.
--Tem sim! Eles estão aqui por sua causa, querem o seu bem, pode ir sem medo.
--Tá. Obrigada.
Sorri, ficamos ali até que ela entrasse em casa, para então seguirmos novamente na direção de onde havíamos vindo. Antes de chegarmos até o local onde a troca havia sido feita, o celular de Benjamin tocou.
--Benjamin!
--Ben?! É Augusto! Encontrei o cativeiro!
Então ele havia conseguido, suspirei com a notícia, aliviada e preocupada. Augusto informou-nos o local para onde Fabrício havia levado Lisa, e disse que estava escondido nos aguardando. Seguimos em silêncio, o local era um tanto afastado do centro, numa rua sem o menor movimento, o prédio deveria estar abandonado a anos.
Augusto estava entre algumas árvores e arbustos, o grama estava alta, havia muito mato ao redor do pequeno prédio. Juntamos-nos a ele.
--Eles estão ai dentro! O furgão está nos fundos, vi quando carregaram a garota pra dentro. Não sei qual andar eles estão.
--Ela está ferida?
--Desmaiada! Mas não sei se estava dopada ou ferida.
Miserável, eu mataria Fabrício com toda certeza desse mundo. Ergui minha camisa, apanhando a Glock que estava na minha cintura, havia pedido ao detetive ainda em Dourados, que conseguisse uma arma pra mim e homens para me acompanhar nesse "resgate", destravei antes de prosseguirmos.
--Vamos entrar agora! Ela não pode esperar. Quantos são Augusto?
--Quatro homens e uma mulher!
Não tinha certeza, mas Juliana me veio a cabeça naquele instante.
--Vamos entrar! Precisamos tirá-la daqui agora!
--Certo!
Então entramos, em silêncio, devagar, com todo cuidado para não fazer barulho, denunciando nossa presença e pondo a vida de Lisa em risco.
Fim do capítulo
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