Capítulo 34 No Sul
Carmen
Cheguei à Gramado no dia seguinte, estava exausta, a viagem fora longa e cansativa. No aeroporto dois homens altos e fortes me aguardavam.
--Carmen Garcez?
--Sim!
--Eu sou Benjamin e este é Augusto. Estamos aqui a pedido do detetive.
Fiquei um tanto aliviada. Os homens acompanharam-me até uma Hilux preta e em seguida a um hotel. Chegando lá, deixei que meu corpo caísse por alguns minutos sobre a poltrona, enquanto Benjamim sentou-se sobre a cama e Augusto foi até a janela.
--O detetive nos passou algumas informações sobre o tal Fabrício...
Manifestou-se Benjamin, que nesse momento vasculhava uma bolsa de couro.
--Passamos a noite e o dia todo atrás de possíveis esconderijos, onde ele possa estar mantendo a garota em cativeiro.
--Encontraram alguma coisa?
--Nada concreto! Apenas algumas possibilidades.
--Quais?
--Uma cabana na serra, onde ele costumava ir com o pai para caçar, uma casa de sua propriedade em Canela.
--Não! Ele não seria tão previsível.
--Também acho! Mas fora isso não temos nenhuma pista. Nada!
Levantei do sofá, estava perdida, não sabia o que fazer, nem por onde começar. Andei até a janela onde estava Augusto, encostei-me do lado oposto dele, observando o movimento nas ruas.
--Vou até a família dela.
--Não é aconselhável!
--Preciso ir!
--Carmen! Ele pode estar esperando por isso. Talvez esteja vigiando a família. Sabe que o alvo não é a criança e sim você. E outra, não sabemos quantos cúmplices ele tem, nem quem são. Deixe a polícia tomar conta da família Carvalho.
Assenti, porém não aceitava não poder fazer nada no momento. Apanhei o celular e fiz a ligação.
--Carmen, Carmen, Carmen... Estava pensando em você sabia?
Como eu odiava aquela voz, aquele tom irônico, prepotente.
--Onde você está?
--Acha mesmo que eu vou te contar? Sua tola. Já providenciou meus milhões?
--Não posso fazer uma transferência de tal valor assim, tão repentinamente.
--Dê seu jeito! Tem 24 horas.
Estava a ponto de desesperar-me, podia sim providenciar o dinheiro ainda naquele dia, o que não podia era entregar a Fabrício, sem a menor garantia que ele libertaria Emília.
--Por Deus! Você não precisa fazer isso, não com a criança.
-- A sapatão valentona está choramingando?
Engoli meu orgulho, não colocaria a vida de Emília ainda mais em risco do que já estava.
--Você não precisa dela, é a mim que você quer.
--Exato! Quero você, mas quero nossa prostitutazinha também.
--Façamos um acordo.
--Que acordo?
Assim que desliguei o celular, deparei-me com as feições sérias dos dois brutamontes que o detetive havia mandado para me ajudar naquela busca.
--Trouxeram o que pedi?
O grandão moreno, que até então nada havia falado, balbuciou um sim, em meio a um sorriso maldoso, abrindo a gaveta do móvel que estava próximo a ele, mostrando-me o que havia pedido ao detetive.
* * * *
Elisandra
Não consegui dormir um só segundo, não consegui descansar um instante sequer. Estava desesperada, meus irmãos acabaram assustados com a situação, dona Teresa apesar de estar acostumada com as aventuras da filha, também estava inquieta e extremamente preocupada. Maria tomava conta da casa e de todos como podia, enquanto Joaquim e Lúcio comandavam os demais peões, que faziam a segurança da fazenda, todos armados.
Não podia ficar ali, enquanto a mulher que amava estava pondo sua vida em risco, para salvar minha irmãzinha das mãos daquele miserável. Eu iria para o Sul, daria um jeito de passar por Joaquim e iria fazer seja lá o que fosse preciso para ajudar a salvar minha irmã.
Coloquei algumas peças de roupa em uma mochila qualquer, e quando me preparava para sair do casarão quando o celular tocou.
--Alô?
--Amor...
--Carmen?!
Ouvir a voz dela em meio ao desespero que tomava conta de tudo, era um alívio pra minha alma, no entanto nada consegui falar, deixei que o pranto expressasse tudo que sentia naquele momento. Carmen após alguns instantes de silêncio, manifestou-se.
--Acalme-se meu amor, vai ficar tudo bem.
Apesar da segurança e convicção, que sua voz me passava, não conseguia acreditar no que ela me dizia, só ficaria tranqüila estando ao seu lado, seu e de minha família, com Emília em segurança.
--Não chore Lisa, estou cuidando de tudo. Logo, logo Emília estará em casa, a salvo.
--Não quero apenas Emília a salvo, quero você a salvo conosco Carmen.
Silêncio, algo me dizia que Carmen não acreditava nessa possibilidade.
--Carmen?! Você vai ficar bem não vai?
--Prometa pra mim que vai se cuidar Elisandra.
--Carmen?! Você vai voltar?
--Vai ficar tudo bem Lisa. Vou acabar com esse martírio.
--Carmen?! Você vai.
--Te amo!
--Carmen?!
Ela havia desligado, chorei ainda mais diante daquela fuga e daquela promessa, Carmen assim como eu, temia por sua vida. Escrevi em meio ao pranto, um bilhete para dona Teresa, apenas dizendo que iria ver minha família, pra que cuidasse de meus irmãos por mim.
Sai escondido do casarão, Joaquim me viu quando já estava com a camionete em movimento, ele correu atrás dela, gritando pedindo pra que eu parasse, coisa que eu não fiz. Aluguei o mesmo jatinho que havia nos trazido de Dourados, para ir até Gramado.
* * * *
Carmen
Desliguei o celular, contendo o choro que vinha com força, tinha a sensação de que aquilo não acabaria bem pra mim. Augusto e Benjamin mantinham-se calados, olhavam-me com atenção. Joguei-me novamente na poltrona, ignorando o olhar deles. Benjamin levantou-se apanhando uma cadeira, pondo-a de frente a poltrona onde eu estava, ficando cara a cara comigo.
--Ok! Já percebemos que está disposta a tudo pra salvar a garota, mesmo que isso te custe à vida. Agora não sei se você já percebeu que somos mercenários, fazemos qualquer trabalho para quem pagar mais.
Encarei-o com um olhar interrogativo.
--Carmen! O que nos pagará pela nossa ajuda, é muito mais do que ganhamos em um mês de "trabalho". No entanto, um cretino miserável que seqüestra uma garotinha, pra chantagear a ex-namorada e a atual dela, merece uma boa surra, mais que isso, uma morte lenta e dolorosa. O que estou dizendo, é que estamos nessa contigo não só pelo dinheiro, mas pra honrar as calças que vestimos. Homens de verdade não ameaçam garotinhas.
Mantive-me em silêncio, ouvindo tudo que o gringo falava.
--Estaremos escondidos no lugar marcado, na hora marcada. Quando você chegar para fazer a troca, pegaremos esse imbecil quando tivermos certeza que a garota está em segurança.
Então, era aquilo que faríamos, eu iria ao encontro de Fabrício, me deixaria ser apanhada por ele em troca da liberdade de Emília. Augusto e Benjamin tentariam intervir nesse momento, surpreendendo Fabrício impedindo-o que me levasse como refém, no entanto, meus planos não eram simplesmente apanhar Fabrício, e sim por um fim naquele dilema.
A noite fora longa, entre um pesadelo e outro, consegui descansar o mínimo possível para a ação do dia seguinte, ação essa que teria uma surpresa inesperada, que faria com que eu arriscasse o tudo ou nada.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 27/04/2019
É um bom plano.....com.muitos riscos.....mas viável.
No entanto acho que Lisa mesmo sem saber vai contribuir para tornar o plano quase falível e desastroso......
Sua habilidade para escrever é que vai salvar ou não a situação e a história Autora.
Rhina
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