Capítulo 33 Pesadelo
Carmen
Não sabia o que fazer, o que pensar ou como consolar Elisandra. Aquele miserável não podia estar fazendo aquilo conosco, era demais até mesmo pra ele, por em risco a vida de uma criança, se rebaixar a tal monstruosidade. Definitivamente, eu iria matá-lo quando colocasse minhas mãos nele.
Elisandra ainda chorava em meus braços, segurei-a pelos ombros, olhei em seus olhos, vendo que ela não tinha condições nenhuma de cuidar daquela situação, tomei a frente.
--Elisandra?! Tente se acalmar ok? Desesperar-se não vai ajudar em nada.
--Me acalmar? Como vou me acalmar Carmen? É minha irmã que está nas mãos daquele doente!
--Eu sei disso. Mas não vai conseguir ajudá-la, chorando e se desesperando.
Escondendo o rosto nas mãos, ela continuou a chorar. Vê-la naquele estado partia meu coração, não conseguia e nem queria imaginar o que o louco do Fabrício faria com Emília, o que sabia é que não ficaria ali parada, esperando pela polícia gaúcha.
--Vista-se Elisandra! Voltará para a fazenda imediatamente.
--O quê? Vou fazer o que na fazenda? Minha irmã está em Gramado, não na fazenda. Acha que vou deixá-la nas mãos dele e esperar que a polícia cuide disso?
--Eu cuido disso!
--Como?
--Elisandra! Você vai voltar agora pra casa com minha mãe e seus irmãos. Ficará a salvo lá, todos os peões tem armas e as sabem usar, irão proteger vocês. Nem mesmo a polícia entrará lá caso você não permita.
--Não vou me esconder!
--Vai sim! Eu vou pro sul cuidar do Fabrício e encontrar sua irmã.
--Não! Não! Eu vou e você fica.
Desisti de tentar dialogar com Elisandra, ela estava nervosa demais e não raciocinava direito. Levantei-me, e rapidamente vesti uma roupa qualquer. Ainda sentia um incômodo onde havia levado o tiro à algumas semanas, mas não dei importância, nada mais importava a não ser a vida de Emília.
Elisandra já não chorava, estava em estado de choque, apenas me observava catatônica, sentada na cama ainda nua. Olhei-a daquela forma, tão frágil, tão menina, um aperto no peito me fez ter certeza que a amava uma vez mais, sua felicidade era meu objetivo de vida, sua felicidade naquele momento era a irmã bem e eu daria essa felicidade a ela, mesmo que isso custasse a minha vida.
Ainda entorpecida, ajudei-a a vestir uma roupa qualquer, e em seguida acordei minha mãe, contando a ela o que havia acontecido, beijei os lábios de Elisandra num ato instintivo, talvez de despedida. Depois de alguns telefonemas, estava com um jatinho alugado, com destino ao sul, assim como um segundo jatinho levaria minha família de volta a Bonito. Informei Joaquim do ocorrido e dei ordens expressas, para protegê-los assim que chegassem em casa.
Sai do apartamento rumo ao aeroporto, com um sentimento de culpa, remorso, saudade. Sentia como se tudo que estivesse acontecendo de ruim na vida de Elisandra, fosse conseqüência das minhas ações, do meu envolvimento com ela. Sentia saudade, saudade de algo que à poucos minutos me pertencia e agora já me parecia tão distante.
No caminho até o aeroporto, liguei para meu detetive particular, fazendo um breve resumo do que havia acontecido.
--Carmen! Não pode ir para o sul! É arriscado demais.
--Arriscado é deixar isso nas mãos da polícia. Fabrício é um louco, pode matá-la a qualquer momento. Não vou conseguir viver com essa culpa.
--Mas a culpa não é sua. Não foi você quem namorou esse cara, não foi você quem pôs ele na vida dessa famìlia. Raciocine.
--É meu dever proteger essa família!
--É dever da polícia e da justiça.
--Justiça? O que a justiça fez até agora em relação ao atentado contra mim? Nada! Absolutamente nada!
--Consegui alguns indícios que apontam pra ele.
--Indícios não vão salvar a garota.
--Carmen! Temos a ligação que ele fez para Elisandra. Isso vai colocá-lo na cadeia, é uma prova muito forte.
--Ela não tem muito tempo.
--Meu Deus! Ele ao menos exigiu alguma coisa?
--Não! Nada!
--Aconselho a entrar em contato.
--O farei. Mas preciso de um favor seu. Sei que tem contatos no sul.
--Do que precisa?
Assim que a ligação foi encerrada, disquei o número do celular de Fabrício, e esperei que atendesse.
--Fabrício Müller!
--O que você quer?
--Ora Ora... Se não é a sapata...
--O que você quer pela garota? Quanto você quer?
--Finalmente alguém que fala minha língua.
--Números Fabrício! Números...
--Não quero dinheiro... Na verdade, não quero só dinheiro.
--E o que quer?
--Primeiro eu quero dez milhões na minha conta... Depois... Bom, depois nós voltamos a nos falar.
--Não tenho dez milhões!
--Não subestime a minha inteligência. Sei que dez milhões não fará nem cócegas na fortuna que você herdou daquele imbecil.
--O que quer depois?
--Quero trocar você pela garota.
Imaginei que ele não fosse querer apenas dinheiro, mas confesso ter me assustado com essa exigência.
--Sabe que a polícia vai encontrá-lo não é?
--Preocupe-se com a grana, porque caso a polícia me encontre antes desse dinheiro chegar até a minha conta, vou ser obrigado a fazer o maior estrago na nossa cunhadinha.
--Não ouse tocar nela! Terá tudo que deseja.
--Assim que eu gosto...
Fabrício desligou o celular, senti o medo invadir minha alma, não por mim, mas por ela. Sabia que ele não queria apenas o dinheiro, ele queria atingir Elisandra, usou a irmã pra isso, usaria a mim pra isso também. Não ligava se pra salvar Emília teria que morrer, o que me preocupava era morrer e a polícia não conseguir pará-lo, e que ele fosse atrás de Lisa. Definitivamente, um de nós não sairia vivo dessa história.
* * * *
Elisandra
Desde a ligação de Fabrício que estava naquele estado, não conseguia digerir todas aquelas informações. Dona Teresa e meus irmãos, arrumaram nossas coisas e meio que me "carregando", me puseram dentro de um táxi rumo ao aeroporto.
Ao chegarmos em Bonito, Joaquim e Lúcio nos esperavam no aeroporto. Durante a viagem até a fazenda, Joaquim dirigia a camionete, enquanto o garoto Lúcio, ia mais a frente em um Jeep.
Não podia crer no que estava acontecendo, minha irmãzinha nas mãos de um doente que um dia dividi a cama, a mulher que eu amava indo a seu encontro, pondo sua vida em risco por mim, por minha família, enquanto eu fugia feito uma covarde. Desesperei-me, chorei compulsivamente nos braços de dona Teresa.
--Não se preocupe minha menina, vai ficar tudo bem.
--Tudo bem? Como? Carmen está arriscando a vida pela minha irmã, como não vou me preocupar? Isso não vai acabar bem.
--Tem razão Lisa! Isso não vai acabar bem pro babaca do Fabrício. Carmen vai matá-lo com as próprias mãos.
Assustada com a frase forte, proferida de forma convicta e impactante por Juanes, levantei a cabeça e encarei-o pelo retrovisor, ele que estava sentado ao lado de Joaquim, também me encarava de forma séria, nem parecia o garoto de dezesseis anos que era.
Depois que chegamos na fazenda, liguei para mamãe na esperança que ela me arrancasse daquele pesadelo, e dissesse que estava tudo bem com Emília e Carmen voltasse logo pra junto de mim. No entanto, as informações que obtive, é que a polícia já estava trabalhando no caso, mas até o momento, não havia nenhuma informação ou pista sobre onde Emília ou Fabrício estavam.
Desliguei o celular, deixando as forças do meu corpo sumirem, cai de joelhos no chão do quarto, fazendo silenciosamente uma prece a Deus, implorando que ele no tirasse de mim, nenhuma das pessoas que amava.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 27/04/2019
Tenso.
Fico pensando ......dinheiro......Carmen. ....tudo para chegar na Lisa.
Mas será que ele.vai cumprir sua parte na troca. .....ele é um estúpido sem noção. ....cheio de raiva e ciúmes. .....com um ressentimento maior que o planeta terra.....
Rhina
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