Capítulo 31 Maresia
Carmen
Chegamos à Dourados durante a noite, apesar de viver em Bonito, uma cidade de beleza rara desde muito pequena, fiquei encantada com a cidade que também possuía uma beleza exótica. O apartamento de Joan, que pertencia a herança de Elisandra, ficava de frente ao mar de águas cristalinas, simplesmente divino.
Como havíamos passado um tempo considerável voando, assim que chegamos o enfermeiro César, que havia viajado conosco, aconselhou-me a descansar. O apartamento era luxuoso, muito bem cuidado, por uma senhora que fora mantida ali, desde os tempos de Joan, confesso ter me sentido deslocada naquele lugar.
Mamãe e Maria foram logo pra cozinha preparar o jantar, aquelas duas não se cansavam. Joaquim ajudado pelos meninos levou as poucas coisas que havíamos trazido, para os respectivos quartos que ocuparíamos, enquanto Lisa e César me acompanharam até o quarto. Não me sentia a vontade com aquele rapaz, era educado demais, simpático demais e principalmente, bonito demais, a minha insegurança era palpável, não gostava da forma que ele olhava pra Lisa.
--Dona Carmen! Está na hora do seus remédios.
Concordei com um aceno de cabeça, enquanto deitava na cama com a mesma roupa que estava, o enfermeiro pegou uma nécessaire onde havia trazido os remédios. Elisandra toda sorridente, desfazia as malas que havia trazido, e que não eram poucas.
--Que lugar magnífico Carmen! Bonito é absurdamente lindo, a praia da Figueira nem se fala, mas isso aqui...
Parou voltando-se de frente pra mim, parada no meio do quarto abriu os braços, como quem quer mostrar o "mundo" ao seu redor, e então completou.
--Isso aqui é inacreditável, não só por ser muito lindo mas por ter esse cheirinho de liberdade, de paz sabe? Pela primeira vez desde que me mudei para o Mato Grosso, que sinto-me verdadeiramente feliz.
Sorri, compartilhava da sua felicidade, entendia perfeitamente como ela estava se sentindo, e apesar de estar em um ambiente totalmente diferente do que estava acostumada, saber que ela estava feliz, também me deixava feliz. No entanto, aquele meu incômodo pelo belo rapaz loiro que ali estava, voltou no momento que notei seu olhar sobre Lisa, acompanhado de um sorriso de canto. Será mesmo que eu não teria sossego nem ali? Resolvi marcar território.
Sentei encostada na cabeceira, e chamei Elisandra para o meu lado com um gesto que ela imediatamente atendeu. Sentando-se ao meu lado na cama, segurei uma de suas mãos levando até os lábios, onde depositei um beijo terno.
--Se depender de mim, essa felicidade vai ser eterna.
Coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, e no momento que notei o olhar de César sobre nós, depositei um beijo delicado nos lábios de Lisa, pra deixar claro que ela era linda sim, era gostosa sim, mas era minha.
--Seus remédios.
Ele estendeu a mão, alcançando-me alguns comprimidos, e em seguida um copo de água a Elisandra, voltando novamente sua atenção, a nécessaire.
Após ter tomado os remédios, César aconselhou-me a descansar um pouco até a hora do jantar, Elisandra havia entrado no banho e eu me recusava a dormir ou sequer fosse, me deitar. Então, o jovem enfermeiro sorriu pra mim, da mesma forma que sorria pra Elisandra e que me despertava um ciúme tremendo, apanhou o celular e após alguns segundos procurando algo nele, andou até mim mostrando-me o visor.
Intrigada com sua atitude, olhei-o primeiro nos olhos, que eram azuis pra ajudar, e em seguida olhei com atenção o que ele mostrava-me. Era uma foto onde ele estava sentado, não soube identificar onde, e atrás dele com os braços rodeando seu pescoço, estava um homem que aparentava ser alguns anos mais velho que ele, tão ou mais bonito que ele próprio. Encarei-o confusa, então ele sorriu e proferiu.
--Meu marido!
Fiquei simplesmente com a cara mais sem graça do mundo. Não podia acreditar que estava pagando aquele mico, além de ter sentido ciúmes do rapaz, que hoje em dia percebo claramente nos seus gestos, ser gay, ainda deixei que transparecesse minha insegurança.
--Eu... Eu não.
--Tudo bem! Ela realmente é linda, assim como você. Formam um belo casal.
Dando-me as costas, ainda antes de deixar o quarto ele completou.
--E sua namorada insistiu por um enfermeiro homem e gay kkkk
Vi a porta se fechar, e continuei ali estarrecida, por isso que Elisandra não havia se importado por tê-la beijado diante dele, o cara era gay.
* * * *
Elisandra
Eu estava radiante, a mulher que amava estava a salvo e se recuperando, meus irmãos estavam muito felizes com a viagem, dona Teresa tinha se tornado uma segunda mãe pra mim, sem mencionar que Joaquim e Maria eram como parte da família. Era muita felicidade, aquele lugar lindo, longe de Fabrício e sua corja, a salvo de qualquer perigo, pelo menos parecia estar.
Sai do banho trajando um short jeans, uma blusinha leve de alcinha e chinelos havaiana mesmo. Meu amor estava acordada, mas ao contrário de antes, estava deitada na cama e não sentada.
--Pensei que estivesse dormindo.
--Estou cansada, mas não com sono.
--Aconteceu alguma coisa?
Carmen estava diferente, parecia intrigada, ou seria envergonhada? Desviou os olhos dos meus, permanecendo calada. Como César não estava no quarto, achei que já era hora de contar sobre a sexualidade do seu enfermeiro, não havia tido tempo e nem oportunidade de mencionar aquele detalhe, lógico que omitiria ter sido uma exigência minha, enfim.
--Bom! Acho que me esqueci de mencionar algo, sem muita relevância mas, é bom que saiba.
--Já sei!
Ham? Como assim sabe? Enfim, prossegui.
--É que seu enfermeiro César...
--É gay! Já sei.
Então era isso?! Ela estava claramente aborrecida com aquele detalhe, só não sabia porque.
--Como sabe?
--Ele me contou! Já que você não o fez.
--Não tive oportunidade.
--E me deixou passar pelo maior vexame.
--Ué?! Vexame por quê?
Carmen calou-se, como quem não quer revelar algo vergonhoso, algumas possibilidades surgiram na minha mente, não contive o riso, gargalhei diante dela, ainda mais diante do seu falso olhar “ofendido".
--Você não fez isso?
Questionei ainda entre risos, era muito bom pra ser verdade. O amor da minha vida, com ciúmes do enfermeiro GAY, que eu havia escolhido por ser GAY, por ciúmes dela, era cômico.
--Já pode parar de rir dona Elisandra.
--Oura meu amooor.
Subi na cama, deitando-me ao seu lado, ficando apoiada nas mãos, depositei beijos por todo seu rosto.
--Coisinha mais linda, minha chileninha com ciúmes.
--Sem graça.
Beijei-a com mais vontade, até nos entregarmos a um beijo apaixonado.
* * * *
Após o jantar, ficamos todos sentados na varanda, aproveitando o calor e a companhia pra por "conversa fora". Após eu ter ajudado Carmen a tomar banho, César trocou os curativos e em seguida foi para seu quarto, enquanto dona Teresa, Joaquim e Maria permaneceram na varanda, meus irmãos já haviam ido dormir á algum tempo, pois estavam cansados, e eu fui ficar com Carmensita.
Apesar da saudade, e do desejo acumulado em ambos os corpos, Carmen e eu não precisávamos trans*r pra matar a saudade, dormimos aconchegada uma na outra, abraçada a suas costas, zelei por seu sono, ao mesmo tempo que me sentia segura com ela.
Fim do capítulo
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